sábado, 8 de dezembro de 2007

Momentos... de Marvão





Não pertenço definitivamente ao grupo de pessoas que comenta com frequência “ai Marvão é tão bonito e não sei quê mas nós somos de cá e nem reparamos…”.

Eu reparo e muito e esforço-me por reparar e apreciar cada vez mais.

Costumo dizer para mim próprio que ver a paisagem a partir de Marvão é como ver o mar ou olhar para as chamas de uma fogueira. Pode parecer igual para muitos mas a mim não me cansa. Há sempre pormenores, nuances, variações que hipnotizam.

Olhando a paisagem de Marvão, há sempre uma nova roupagem na vegetação, um campo recém-cultivado, uma nuvem com formas curiosas, uma coluna de fumo que sai de uma chaminé, uma luz de um carro que passa, um pormenor que faz tudo parecer tão diferente.

As nuvens e o nevoeiro já foram, por inúmeras vezes, protagonistas de cenários fabulosos e quase irreais, sobretudo quando muito baixos e muito densos, dando a sensação que Marvão era um enorme navio que vagueava perdido num oceano inóspito e deserto.

Já tive diversas oportunidades de assistir a essa maravilha da natureza mas nunca com os contornos do que constatei nesta semana.

Tenho a sorte de trabalhar num dos gabinetes que terá certamente uma das vistas mais impressionantes de Portugal. Reconheço que sou um bafejado pela sorte por não passar os dias enfiado numa cave na Buraca, num apartamento qualquer no Dafundo ou numa loja de uma grande superfície comercial, com dias inteiros sem ver a luz do dia. A mim, basta-me ir à varanda para respirar o ar mais puro e vislumbrar um quadro vivo de valor incalculável: o pico de São Mamede, a Barragem da Apartadura, todo o vale da Aramenha, a Portagem, Campo de Golfe, Escusa, escarpa em frente, Castelo de Vide e às vezes, nos dias mais límpidos, Barragem da Póvoa e Nisa.

Sei que nesta altura do ano, o sol que me bate de frente, se põe precisamente ali ao meu lado, por volta das 17.15h e foi por isso que estranhei tanto que num dia límpido se fizesse, de repente de noite, quase meia-hora antes.

Curioso, desloquei-me à vidraça e o que vi, foi simplesmente assombroso.

Uma nebulosidade de tonalidade púrpura aproximava-se de nós, como se fosse um mar revolto que nos quisesse abalroar. A espessura das nuvens, carregadas, lembrava as ondas na zona de rebentação, prestes a engolir-nos. A estranheza da cena adensava-se pelo facto de por cima de nós reinar um céu completamente limpo quando a escassos quilómetros toda a área estava coberta por esta compacta camada de condensação.

È nestas alturas que lamento não ter tirado o tal curso de fotografia com que sonho há anos, é nestes momentos que me culpo de não ter uma máquina melhor à mão, é nestes momentos que me recrimino por não saber pintar e cristalizar aquele momento para todo o sempre.

Isto foi o que pude arranjar e acho que dá para ilustrar e dar um cheirinho a quem não pode ver in loco.

Eu, não podia perder mais tempo, fui a correr buscar as barbatanas, que a bandeira estava vermelha e a coisa prometia…

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