sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Separados à nascença


Começo hoje aqui uma rubrica que anda há muito na minha cabeça.

Não por poucas vezes dou por mim a pensar que Fulano cá da minha terra é mesmo a cara de Sicrano que é muito famoso. Pode mesmo então afirmar-se que foram “Separados à Nascença”.

Por um erro qualquer na maternidade, uma fatalidade do destino afastou-os para toda a vida, ou talvez não.

Até hoje.

Na selva de alcatrão


Não é preciso fazer uma viagem muito grande para percebermos que os números da tragédia nas estradas não são ainda maiores por mera casualidade. Basta percorrer umas dezenas de quilómetros e entrar numa via mais rápida para assistirmos in loco às maiores atrocidades possíveis e imaginárias.

Isto a propósito da viagem de ontem a Évora para uma reunião na CCDRA com o Secretário de Estado da Educação. Saí de Marvão com o tempo controlado, hora e meia de viagem, para chegar à hora marcada e não ser surpreendido pelos radares. No percurso, assisti a um autêntico desfile de manobras perigosas, digno de ser filmado.

Logo depois de Estremoz, seguindo pela Nacional, pensei ultrapassar um camião que seguia pachorrento há largos minutos à minha frente e quando ensaiava mentalmente a manobra, sou surpreendido pelo dito cujo que vindo largadíssimo de trás, me passou a alta velocidade.

O dito cujo só podia ser caixeiro-viajante porque o Opel Corsa comercial em estado novo que conduzia não podia pertencer a outra espécie de profissional. Tenho pena de não ter visto bem a sigla de lado na viatura porque era limpinho que jamais voltaria a comprar qualquer produto daquela marca, contribuindo assim para a falência da empresa e evitando que o estafermo continuasse a circular.

Pois este menino, do qual apenas vi a careca, fez nada mais, nada menos que, não uma, não duas, mas sim 3 ultrapassagens em curvas, nas quais entrou completamente fora-de-mão. Por 3 vezes, só 3 milagres evitaram o pior. Uma asneira ainda se aceita, duas é demais e à terceira fiquei a pensar que o homem só podia estar fora de si.

Na primeira, ultrapassou 4 carros de uma assentada e enfiou-se literalmente à frente de uma autocaravana francesa que deve de ter ficado com as melhores recordações rodoviárias do nosso país. Na impossibilidade de travar naquele sítio, os franceses prosseguiram e deram a curva lado a lado, como se fossem numa marcha de Lisboa suicida. Viesse o Clio vermelho do outro lado cinco segundos adiantado e a conversa teria sido outra.

Mas não lhe serviu de lição porque voltou a repetir a gracinha por duas vezes, acelerando em locais onde já era proibido ultrapassar e entrando “à galifão” para o desconhecido, com as duas patas no acelerador.

Era bem abatido. Eu ia a dizer cá para comigo que se a besta aquela tem o azar de bater, ainda se sujeitava a levar dois murros nos cornos assim à taberneiro, de alto a baixo, para aprender a não ser anormal.

Por acaso ou milagre, dependendo do ponto de vista, não aconteceu o pior. Mas imaginem que naquele preciso momento, seguiam do outro lado, o casal de recém-casados que regressavam da lua-de-mel; ou os jovens pais que levavam o rebento recém-nascido para o conforto da sua casinha; ou um transporte escolar cheio de crianças; ou eu e a minha família ou o leitor e a sua. Imaginemos que éramos nós que inocentemente, seguíamos do outro lado e numa fracção de segundos, levamos com aquele animal em cima, sem ter para onde escapar.

Complicado, não é?

Pois eu digo que a Brigada de Trânsito que é a força nacional com especial responsabilidade na circulação rodoviária, em vez de andar à caça da multa fácil e espertalhona, devia de perseguir em carros civis, estes terroristas que andam à solta.

É muito mais fácil e bonito pararem numa rotunda qualquer e luzirem as fardas enquanto controlam o álcool e as pequenas infracções. Não digo que essas diligências não tenham valor. Mas porque não mais carros “à paisana” na estrada para detectarem as grandes infracções que estão ali, à frente dos olhos de todos. Tivesse eu responsabilidade na matéria e juro-vos que aquele assassino ia pagá-las bem caras. Porque custa mesmo muito ver alguém sair impune assim… até um dia!

Mas não foi o único! Nada disso! Ultrapassagens em traços contínuos e daqueles espertalhões que passam por nós sem ter espaço e depois se querem meter por cima das nossas carcaças… são mato.

Cada vez que faço uma viagem maior penso sempre se chegarei inteiro no regresso. Acreditem que não é um preciosismo.

E o grande problema disto tudo, e não quero ser repetitivo, é que a Justiça não funciona. Pura e simplesmente não funciona. E quando o sistema judicial de um país se revela inócuo e pasmacento, não podemos aspirar a que haja outro tipo de reacção que não a displicente por parte dos cidadãos.

E se isto é claro para as crianças, como é que não pode ser claro para nós, adultos. Quantos de nós não vimos já aquele célebre quadro dos pais que ralham ao filho mas nunca chegam à acção e o pirralho faz o que quer? “Ó filho não mexas… ó filho desvia-te… ó filho não sejas mau” e o terrível infante vai semeando das suas porque enquanto não levar uma galheta bem assente no centro da testa não descansa. Aconteceu por vezes e há tempos esta cena na minha casa com filhos de amigos e como os pequenos não faziam caso, eu dava-lhe um belisco às escondidas ou um carolo à “má fila” e os gajos amansavam logo. Era remédio santo. Sem os pais perceberem, claro!

Pois a justiça não funciona. Eu estou pronto para ser linchado na praça pública mas aqui digo o que quero e para mim a verdade é esta e não outra. Tomemos o caso dos pedófilos. São apanhados, levam uma pena de 5 ou 6 anos, depois têm redução por bom comportamento, vem cá o Papa e descontam mais uns meses e ao fim de 1 ou 2 anos, estão prontos para contra-atacar.

Se eu mandasse, a pena para os pedófilos e violadores era só uma, caso se tivesse a certeza absoluta da sua culpabilidade: era uma pedra mármore daquelas das mercearias, uma faca bem afiada de talhante, daquelas mais grossinhas, e procedia-se à extracção, a sangue frio, das partes baixas (tintins incluídos), cortando-se o mal pela raiz. Agora vem o coro: “ai que bruto! Isto não é o Afeganistão! Este gajo é um talibã autêntico!”.

Sim, sim, meus amores, isso tudo e muito mais mas vocês podem apostar comigo como os gajos antes de a pregarem outra vez, pensavam duas ou três vezes.

Os processos arrastam-se nos tribunais, apodrecem, prescrevem, vão às urtigas e a malta que se amanhe.

Enquanto não houver mão pesada EFECTIVA, as coisas não avançam. Andamos a brincar aos índios e aos cáubois, como eu fazia com os meus amigos nos canchos da Beirã, em que passávamos tardes inteiras a discutir se um estava morto ou não porque havia sempre quem dissesse que a flecha ou a bala tinham só raspado e não acertado num órgão vital.

A sorte do sacana do Corsa foi não ter parado para verter águas ou para apanhar ar, senão tinha que me ouvir das boas.

Cabeçudo!

Ser mosaico



De manhãzinha, quando ainda me encontrava no aconchego dos lençóis, ouvi os passinhos dela em direcção a mim. Tinha fugido à mãe, que andava à sua procura para a vestir. De sorriso aberto marcado pela brancura dos dentinhos de leite, aninhou-se junto do meu regaço e sorriu vitoriosa por ter ganho mais uns minutos de mimo.

Olhou-me e sussurrou:

“Sabes, pai… eu disse às minhas amigas que tu tens um olho de cada cor… um verde e um azul. Este (apontando) é o verde e este, o da esquerda, é o azul, não é pai?”.

“Ai disseste às tuas amigas? E elas?”.

“Elas ficaram tristes porque os pais delas não têm também os olhos assim. Têm os dois da mesma cor. Iguaizinhos”.

(Silêncio cúmplice)

“Como é que conseguiste fazer essa magia, pai?”.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

1º Encontro de Bloguistas - O Relatório (Im)possível

01. A marcha dos cágados para a Índia, versão Castelhanas


02. Cénário original da novela "O Pantanal"



03. Sem sacrifício... não há progresso!

04. O homem sonha... a obra nasce.

05. Excelente enquadramento. Bom obturador automático. Patrocínio: Fujifilm


06. Encontrámos o cão do Dali

07. E não é que isto é mesmo pertxinho?


08. Nenhum de nós aparece! Podemos seguir viagem!

09. Hola Guapa!



10. O encontro com o elo perdido

Com alguns dias de atraso justificados por compromissos familiares, aqui chega o aguardado, derradeiro e definitivo relato do 1º encontro de bloguistas da “Tasca do Ti Sabi”, realizado no sábado último, dia 24 de Novembro.

Nunca a expressão “poucos, mas bons” me pareceu tão adequada.

Cheguei ao Largo da Igreja de Santo António ainda o sino batia as 10, tal qual conforme o combinado.

À espera, fazendo jus à sua pontualidade britânica, João Bugalhão conversava com uma figura alta e esguia que presumi ser o Luís, seu sobrinho, praticamente da mesma idade mas com a aparência de ser muito mais jovem como tive oportunidade de transmitir a ambos diversas vezes durante o dia, para sorriso desdenhoso de um e inquietude óbvia do outro. Nos minutos seguintes, directamente de Marvão, chegou António Garraio no seu bólide e da Pastelaria São Marcos, o sempre airoso Bonito, também conhecido nas lides artísticas por “Guapo” Dias.

Constatadas as falhas já esperadas do nosso Jorge e da Goyi, ainda demos dez minutos de tolerância ao Clarimundo, não fosse ele mudar a sua ideia inicial de comparecer apenas à segunda parte do programa. Cerradas as fileiras, arrancámos sem mais.

Estava uma manhã linda, com um céu azul imenso a convidar à passeata. Apesar de não estar a chover, para mal dos nossos pecados, o Buga insistiu em contar anedotas e a coisa não correu mal. O Luis é mestre na arte e deu boa réplica. Passamos pela monumental Praça de Toiros local e ganhámos uma velocidade tal na descida para a Relva da Asseiceira que quando passámos pela Tasca do Jaquim Pinheiro só deram por nós quando o vento provocado pela nossa deslocação virou ao contrário o preçário dos gelados Sabiá que ainda hoje continua de patas para o ar.

Mais à frente, cortámos não para os Aires mas para as Castelhanas e aí apreciámos a beleza empedrada da nossa região. Eu digo que isto aqui há muitos milhões de anos devia ser o fundo do mar. Só pode… para haver tanto calhau.

Enquanto seguimos o alcatrão do Governo Bugalho, a coisa escapou. O pior foi quando a estrada desembocou num caminho, bem perto do rio. Vendo a Espanha ali tão próxima, a escassos metros, na outra margem, começaram a surgir as teorias de onde estariam localizadas as pedras do pontão que nos permitiriam atravessar às águas. As silvas e o mato e os ramos dos arbustos eram tantos que a expedição se esquartejou. O desnorte foi total e cada um seguiu para seu lado, tendo eu ficado agarradinho ao Bugalhão a tremer de medo e de frio.

A natureza da nossa expedição já tinha espicaçado as mentes mais cinéfilas, que se recordaram das semelhanças com o visionário filme do John Boorman, “Deliverance”, por nós conhecido como “Fim de Semana Alucinante” em português, e “El Rio”, em castelhano, pelo Garraio. Para quem não conhece, conta a história de uns amigos que se fazem ao mato pela diversão e depois tudo aquilo corre muito mal. Esperemos que não se torne real!

Cada um desenrascou-se como pode. Uns foram para o “Moinho da Negra”, outros, rio abaixo, outros em frente, outros atrás, mas a verdade é que passámos todos. Uns mais sequitos que outros, mas passámos!

Se até ali tardámos 45 minutos de caminho, perdemos outros tantos para dar com a rota.

Se bem se lembram, a conversa toda da caminhada ser por aqui tem a ver com a famigerada ponte que ligará Marvão a Valência e nos salvará a todos do ostracismo social e da penúria económica.

O nosso amigo Bonito, defensor acérrimo da ideia inicial do Sr. Sequeira, experimentou satisfeito a sensação única de estar a fazer história e foi um prazer ver o homem a olhar para a paisagem, sorrindo, como se ela já lá estivesse.

Como o verdadeiro homem não é o que come o mel mas o que come as abelhas, fizemo-nos ao caminho e em vez de voltarmos para trás, seguimos em frente, até Valência, mesmo sem a certeza de termos quem nos trouxesse de volta.

Houve tempo para fotografias, para analisar os diferentes aproveitamentos dos fundos comunitários de um e do outro lado da fronteira e para suar muito.

Por estas alturas, já devem saber que nos enganámos e demos uma volta tão grande que quase chegávamos a Santiago de Compostela. Depois de muito palmilhar e eu a dizer que eram muito mais que 12 quilómetros e ninguém me fazia caso, lá vimos as torres de Valência.

Como prova de que o mundo é pequeno e de que sempre que vamos ao estrangeiro encontramos um compatriota, lá encontrei a minha amiga Ti Maria, minha ilustre colega nos tempos da Opel, que colhia azeitona na companhia do seu marido. Cansados de tanto andar, julguei-me traído pela vista e pensei estar a ter uma miragem quando a avistei e pensei para comigo “o raio desta espanhola é mesmo parecida com a Ti Maria da Opel!”. Como já estava para tudo, arrisquei: “então o que é que vossemecê anda para aqui a fazer?”. E ela “Ai! o meu Pedrinho”, e conhecendo o resto da canalha, disse: “e este, e aquele e o outro”, distribuindo beijos que nos deram alento para o resto da jornada.

Bem haja o Bruno Moura que com irrepreensível profissionalismo me atendeu o telefone mesmo sendo um sábado e fez o favor de nos apanhar.

Ainda tivemos tempo para uma foto, uma geladinha no Ibérica e para encontrarmos o nosso elo perdido, a única mulher que se atrevia a estar presente e que reclamou por não levarmos nenhuma quando era ela que ali devia de estar: Goyi. Muito simpática e bem disposta, ainda trocou impressões connosco, reconhecendo-nos de imediato. Temos de voltar a ver-nos.

A viagem de regresso foi bem mais fácil embora a bandeirada fosse proibitiva. Não quero parecer ingrato mas achei um pouco… dispendioso, embora por cortesia nada tivéssemos comentado. Confesso que só tinha andado de táxi em Lisboa e esperava que por aqui o pagamento fosse em função dos quilómetros e não do tempo, maneiras que…foi um pouco. Imagino que numa viagem daqui para Lisboa, um gajo chegue lá mirrado… Mas bem, avancemos.

Chegados ao Poejo fomos dar com o nosso Clarimundo em grande pose James Bond, bebendo um Martini ao balcão. Assim que nos vislumbrou mandou sair as viaturas do INEM acampadas na Avenida por já serem desnecessárias.

Como já eram quase as duas horas e não houve tempo para banhos nem modernices, avançámos logo para o cerne da questão.

A sala é convidativa, o atendimento esmerado e o repasto digno dos maiores elogios. Entrámos com uma sopinha de cação, bem avinagrada, com fatias de pão frito que estava de morrer e chorar por mais. Para segundo, optámos unanimemente por deixar de parte o borrego encomendado pelo nosso Buga (é comida de velho!) e avançámos para umas migazinhas com carnes fritas de alto nível. Diz que o vinho estava bom, as imperiais tb e as Sagres Zero na ponta da unha! (sinais dos tempos!). Os doces foram o corolário dourado e o desfecho esperado: umas delícias de castanha e um pudim flan mesmo muito caseiro a saber a ovinhos frescos. Muito bom.

A tarde prolongou-se numa tertúlia animada com cafés e digestivos, cigarros americanos e umas águas com e sem gás. Houve tempo para anedotas, para teorias da conspiração, para apontamentos e reflexões, para a polémica e uma ou outra discussão.

Conhecemos melhor o Luís que se revelou um excelente conversador e um convincente contador de histórias; e conhecemo-nos melhor uns aos outros, em histórias passadas e relatos do que há-de vir.

No fim de tudo estávamos exaustos mas contentes e desertinhos de voltarmos à aventura.

Apesar de não haver data nem percurso, já estão abertas as inscrições para a próxima.

Bem hajam, companheiros!

As lições do patrão


O último disco do Bruce Springsteen tem tocado até à exaustão no meu ipod enquanto corro na escuridão da estrada. Tem-me feito companhia, bem juntinho ao meu ouvido e eu corro mas parece que não estou a correr. Parece que vou num imenso teledisco, numa viagem que me domina e me controla. Marco o passo com o ritmo da bateria, trepido com o som das guitarras e deixo-me levar pela força das suas palavras.

Nunca fui grande fã, mas não há dúvida que este é o grande disco por que muitos esperávamos há muitos anos.

A minha relação com o Boss sempre teve altos e baixos. Conheci-o no estrondo do “Born in he USA” mas cedo me deixei enfeitiçar pela magia do belíssimo “The River” e pelo enigmático e poético “Nebraska”. Ouvi-o muito, muito, nas longas tardes e noites de Verão e Inverno na casa do meu primo Quim Carita.

Depois larguei-o na fase “Human Touch” / “Lucky Town”, quando estava na moda e foi foleiro. Redescobri-o no electrizante “Plugged” para a MTV e no inusitado “The Ghost of Tom Joad”, inspirado na personagem do livro de Steinbeck. A partir daí, parece que o homem se virou para as suas raízes, para a pureza da primeira hora e criou dois grandes discos, “Devils and Dust” e o bestial “Seeger Sessions” que já faziam antever que coisa grande vinha a caminho.

“Magic” é um Springsteen vintage, o Springsteen que como reza a lenda, foi visto um dia pelo repórter como “o futuro do Rock’n’roll”, o Springsteen que se assume como herdeiro directo e vulto maior desde Dylan, na construção da consciência sonora americana, amaldiçoada e redimida pela viola e pela harmónica.

Magic tem tudo o que de bom um dia fez. Tem harmonias vocais à Beach Boys, guitarras à Byrds, a excelência da sua poética e a mão no coração dos States.

O homem é grande, o homem irradia pinta e estilo e classe inebriante.

Quem me dera rescrever o passado e voltar a poder ouvi-lo no concerto que me passou ao lado em 94.

Entretanto, há sempre estas 12 balas de consolo.

A CANÇÃO DE TERRY

Esta canção foi lançada como o 12º tema de “Magic”. Não foi listada na contracapa do cd ou em qualquer outra parte do booklet. Surge como “faixa-escondida” depois de uma pausa digital de 10 segundos que segue a música 11 – “Devil’s Arcade”.

Grande companheiro e amigo muito próximo de Bruce, Terry Magovern faleceu a 30 de Julho de 2007. Magovern começou a trabalhar para o Boss em 1987 como assistente pessoal, mas eram amigos desde 1972.

O funeral de Terry teve lugar na Igreja Metodista Unida de Red Bank, no dia 2 de Agosto. Durante o memorial, Bruce tocou pela primeira vez esta música que tinha sido escrita no dia antes. No seu discurso explicou que olhou para todas as músicas que já tinha feito e tentou escolher uma que fosse apropriada para o Terry. Descobriu que essa ainda não tinha sido criada. Foi tocada com guitarra e harmónica e continha um verso extra que não consta da gravação oficial que dizia “Podemos reconstruir as nossas gloriosas torres mas não podemos reconstruir a alma”.

As gravações de “Magic” foram feitas entre Março e Maio deste ano.

A canção de Terry foi acrescentada em Agosto.

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Terry's song (trad. livre da minha autoria)

Eles construíram o Titanic para ser único, mas muitos navios dominaram os mares;
Construíram a Torre Eiffel para ser una mas podiam construir outra se quisessem;
O Taj Mahal, as pirâmides do Egipto, são únicos, suponho eu;
Mas quando te fizeram a ti, irmão, partiram o molde.

Agora o mundo está cheio de maravilhas debaixo do sol rasante;
E às vezes há uma coisa que chega e tens a certeza que é única;
A Mona Lisa, a estátua de David, a Capela Sistina, Jesus, Maria e José;
Mas quando te fizeram a ti, irmão, partiram o molde.

Quando te fizeram a ti, irmão, transformaram o pó em ouro,
Quando te fizeram a ti, irmão, partiram o molde.

Dizem que não o podes levar contigo, mas acho que estão enganados;
Pois tudo o que eu sei é que acordei esta manhã e algo grande tinha partido;
Partido para o éter negro onde ainda és jovem, forte e frio;
Tal como quando te fizeram, irmão, quando partiram o molde.

Agora a tua morte está sobre nós e devolveremos as tuas cinzas à terra;
Eu sei que te reconfortará saber que tens sido abençoado e amaldiçoado;
Mas o AMOR é um poder maior que a morte, tal como as canções e as histórias contadas;
E quando ela te fez, irmão, partiu o molde.

Essa atitude é um poder mais forte que a morte, viva e ardendo na pedra fria;
Quando te fizeram, irmão…



E PARA TERMINAR...
Para os fãs, uma pérola descoberta há dias e que comprova que o Lavoisier era muy fino. Na verdade, nada se perde, tudo se transforma no grande circulo que é a vida. A música não foge à regra. Os Arcade Fire, uma das grandes bandas alternativas do momento junta-se em palco ao velhinho para tocarem juntos um dos temas do aclamado “Neon Bible” que assenta que nem uma luva ao patrão, como se fosse dele.




Eu compreendo a excitação do bacano que gravou isto na sua máquina digital. Realmente, é de gritos. Desfrutem!

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

...



Todas as noites penso que quero ser uma pessoa melhor. Todas a noites rezo para ser uma pessoa melhor.

Hoje, como tantas vezes ultimamente, quando chegou a hora de dormir, subi as escadas com ela às cavalitas nos ombros, como tanto gosta.

Quando já deitados, bem juntinhos e de olhos nos olhos, perguntei-lhe: “hoje foste feliz?”.

“Hoje fiz tudo o que eu queria, pai. Tomei um banhinho de espuma e comi espetadas”.

Às vezes pergunto-me se serei merecedor da graça demolidora do seu amor.

O nosso piquenique


Com a abnegada colaboração de alguns “postistas”, parece que no próximo sábado, ou seja, depois de amanhã, vamos mesmo sentar-nos e conversar. Sentar-nos, conversar, comer e beber e conviver e até caminhar, legitimando com o desporto, o farto repasto que se seguirá.

Pelo feedback que me chega, provavelmente não vamos encher um pavilhão mas acho que não é isso que se pretende.

À sempre uma certa vergonha, uma certa desconfiança e há-de haver alguns que apesar da vontade de irem, acabarão por ficar apenas por essa efémera vontade.

Como me dizia muita vez “quem está, está. Quem vai, vai!” e só os que se dignarem a aparecer acabam por realmente contar para o caso.

Para mim, para além da emoção de poder conhecer em carne e osso aqueles com quem convivo apenas neste mundo virtual, há um sentimento de agradecimento por quem teve, adoptou ou acalentou a ideia.

Tal como prometido, aqui deixo uma última chamada para os mais resistentes, para que se juntem a nós, se soltem e desfrutem.

Em rodapé, o programa final pelo organizador-mor.

Nós depois daremos conta do resto.

Graaaande abraaaaaço!

PROGRAMA DEFINITIVO- 10 Horas: Concentração no Largo de S. Marcos em Santo António das Areias e inicio da Passeata até ao local da Ponte Virtual das Castelhanas. Após visita ao local, regresso pelo Pego Ferreiro até ao local da partida. Após banho retemperador (a responsabilidade é do dono da Tasca) partida para o local da “almoçarada”. (Se estiver a chover, esta actividade será substituída por um “sarau de anedotas” em local a designar e em cada um dos participantes, terá de contar no mínimo 2 anedotas 2).- 13 Horas: Início da “função alimentícia” no Restaurante o “Poejo” em Santo António das Areias. Nota: A organização não se responsabiliza por qualquer incidente durante as actividades.Lembro que até ao momento estou a contar com os seguintes “bloguistas”:- Pedro Sobreiro- Fernando Bonito- João Bugalhão- Luís Bugalhão- Govy- Clarimundo Lança- GarraioPS – Peço a todos os interessados que ainda queiram participar, o favor de me contactarem e aos já inscritos se houver alguma alteração, o mesmo…João Bugalhão



Nota do redactor:

PS: Ah! Esta história das anedotas só pode ser a brincar. Caso chova, proponho um banho retemperador nas águas tépidas da Piscina Municipal, um baile de máscaras matinal ou uma corrida de carrinhos de rolamentos pela avenida abaixo. Jogar ao alho ou soltar os pintainhos que vão estar à venda no mercado nessa manhã também podia ser bem engraçado mas isso depois era capaz de dar chatices com a Guarda e esqueçam…

O Anthímio de Azevedo ligou-me agora. Disse-me que o São Pedro lhe apareceu em sonhos, numa pista de carros de choque e lhe disse que ia estar um clima primaveril. Sempre há passeio!

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

O catorze................................ e meio!

Eu, a cavalo do catorze...e meio!
Bem apropriada, a foto. O meu agradecimento à vizinha Henriqueta Bonacho, por ter guardado esta inédita durante mais de 30 anos e pela gentil oferta de ontem.


Há dias, em conversa cá de casa, a Cris disse-me: “tens de escrever lá no blogue se a prova te correu bem ou não. Fui a Castelo de Vide e a Filipa, a filha do Manel Maresia que trabalha no Pingo Doce perguntou-me por ti e como é que tinha sido o exame. Disse-me, “o Pedro nunca mais disse nada sobre a prova, a gente também gosta de saber, não é?”.

Quem me conhece de verdade, verdadinha, sabe que vou fazer isto sem qualquer tipo de segundas intenções, mas vou mesmo falar sobre o assunto. Vou fazê-lo por todos aqueles que, como a Filipa, se preocuparam comigo. Vou fazê-lo por aqueles que me incentivaram, que me apoiaram no messenger, que me enviaram um e-mail ou um sms, que me fizeram um telefonema, que me deixaram um comentário no blogue ou apenas torceram por mim em pensamento.

As notas saíram hoje. Passei com 14,5. Um 14,5 com sabor a 20.

Pago uma cerveja para comemorarmos. Quem estiver interessado, basta chegar ao pé de mim e dizer-me, “eu quero beber uma à pala do 14,5”, seguido da expressão-chave, “granda fezada!” e já está!

O motivo merece.
Um abraço a todos.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

A tua Guerra (como nunca a vimos)

1. Nota no verso: Um bocadinho triste, mas é só para a fotografia ficar melhor. Cá ando com as minhas velhas patilhas…


2. Nota no verso: E esta pega de cernelha? É pena é já estar morto. Beijos. Dai.


3. Nota no verso: Regresso ao quartel de uma patrulha ao Quanza. Que tal a careca?
4. Nota no verso: Desafio de futebol do meu pelotão contra a formação em Vila Gamito no dia de Natal. Desta vez fui o árbitro.


5. Nota no verso: O meu amigo funcionário da fronteira do Malawi quis tirar uma foto comigo e aqui está o resultado. Beijos para os meus santos pais e Cali. Dai.

6. Nota no verso: Quando voltar vou levar uma para ir para o circo. Esta ainda é pequenininha… mas já mete respeito! Por aqui há muitas. Para os meus queridos todos.

7. Nota no verso: De quem nunca vos esquece. O caõzinho é um dos meus amigos cá do sítio. É um pastor alemão.

8. Nota no verso: Não há azar! Aqui não há crocodilos!


9. Nota no verso: Careca e triste por não te ter junto a mim. Um beijo do teu Dai.

Eu já sabia há muito que essa maravilha da natureza e da portugalidade chamada Catarina Furtado não tinha sido a única obra de arte produzida por Joaquim Furtado.

Jornalista de craveira de uma geração que inclui nomes-mestres como José Barata Feyo ou Miguel Sousa Tavares, primou sempre pela qualidade e pelo rigor, tendo-se destacado por cultivar a discrição. Conheci o seu trabalho há muitos anos quando uns livros de grandes reportagens aterraram lá em casa pela mão da minha mãe. Estes jornalistas aventureiros e socialmente empenhados tiveram a sua quota-parte de responsabilidade pelo percurso de estudos que viria a escolher depois.

Tudo isto a propósito da série documental “A Guerra”, da qual toda a gente já ouviu falar. Depois de alguns episódios, não restam dúvidas de que estamos perante um trabalho portentoso, de uma qualidade sem par, que pratica a excelência de um serviço público de televisão como não estamos habituados há muito.

Depois de ocupar lugares de destaque na RTP, à qual esteve desde sempre ligado, voltou a exercer em pleno dedicando-se aquele que pode muito bem vir a ser o trabalho de uma vida. Foram 8 anos de investigação e recolha, muitos milhares de quilómetros de fitas, centenas e centenas de horas de entrevistas e um notável trabalho de articulação que nos é agora oferecido a troco de nada. Basta carregar no botãozinho e ver.

Na verdade, a fórmula já foi inventada há muito e bebe directamente da escola da BBC e do célebre “60 segundos” (actualmente no SIC Notícias). Nada de novo por aí. Mas o exercício é cumprido à letra e passa, na minha cotação privada, com louvor e distinção.

Denota-se a preocupação de separar os episódios por temas aglutinadores, não se cingindo à mera escala cronológica, ajudando assim a criar uma memória colectiva da vivência da vida ultramarina que extravasa em muito o título escolhido. Estamos perante um território que vai muito para além do conflito armado.

E depois temos a visão das diferentes partes que se conjugam, cruzam e questionam, arredando as visões moralistas e colonialistas, abrindo a cada um o seu próprio espaço de opinião.

Contudo e apesar de tudo o que se possa dizer, pode ainda ser cedo demais.

As longas e profundas feridas abertas por uma guerra que rasgou um século e deixou em carne viva a nossa memória colectiva ainda estão longe de estarem saradas. Há ainda muito corpo por enterrar, muita memória latente, muita dor e muita lágrima encoberta.

Compreendo o frenesim dos ex-combatentes que trouxeram o assunto para as conversas de café e correm para casa para não perder nem um segundo… mas para muitos deles, será o regresso a um lugar inóspito da sua vivência que poderá acordar fantasmas.

O stress de guerra existe de verdade e tive oportunidade de falar com alguns ex-combatentes que sabem que sofrem mas não conseguem encontrar a coragem de dizer o porquê desse sofrimento que os persegue. Pode ainda não ser momento para eles também.

E depois há sempre um medo fratricida, de ver ali exposto como nunca, o lado mais negro do nosso sentir lusitano.

Ao ver aquelas imagens, ao aprender esta História de Portugal que apenas conhecia das imagens dos livros de estudo e do arquivo familiar, convivo pela primeira vez com um período com que jamais contactei nos bancos de escola. Se agora pode ser cedo, nos oitentas ainda ninguém ousava falar.

À medida que os segundos passam, um misto de vergonha e de revolta amargam-me a boca. Foi tudo duro demais. Foi tanta coisa má demais que o fim só podia ser este e não outro.

Para mim, foi sobretudo o primeiro verdadeiro contacto com uma realidade que tantas vezes quis saber pela boca de quem me era querido e lá esteve e do qual pouco ou nada pude arrancar. Às vezes, num jantar ou noutro de família, lá saia uma memória que de pronto se desvanecia em novelo na garganta e se esfumava nos olhos rasos.

Devem ser umas terras magníficas, aquelas. Deve ser um clima magnífico e umas gentes de encantar. Devem ter sido uns tempos terríveis para viver.

Muitos partiram sem saber para o que iam. Muitos sabiam que jamais regressariam. Para uns foi uma festa, com marisco e muita cerveja e boas colocações. Para outros foi um autêntico Vietname, uma cruz gravada a fogo para o resto da vida.

Ao recordar, uns choram e outros riem e nós, que nascemos fora de tempo para saber o que realmente se passou, passamos a poder saber de que massa somos feitos e o porquê de tanta coisa que só agora se tornou clara.

Assim sim, vale a pena pagar a taxa.

PS: Eu sei que tu também ias adorar tanto, João.

O prestígio dos heróis anónimos


Faz agora cinco anos que ondas negras vestiram de luto a costa galega, impondo um velório ambiental que se arrasta penosamente até aos nossos dias.

As entranhas tóxicas do Prestige envenenaram de morte as praias tão frias quanto belas que se estendem do topo norte de Portugal ao Sul de França.

Milhares de aves e peixes sucumbiram de imediato e muitos outros depois, não resistindo ao terrível impacto na cadeia alimentar e no ecossistema.

Nos dias que se seguiram, milhares de ambientalistas e populares acudiram, dando aquilo que tinham e que não tinham para minorar os estragos.

Perante a incapacidade dos planos de respostas oficiais, estes anónimos foram os verdadeiros heróis deste drama singular.

Mal equipados, munidos apenas de fatos pouco adequados, luvas e galochas; não temeram as recomendações e enfrentaram um mal que era então maior.

Sabe-se hoje que as máscaras que usaram não eram as apropriadas. Sabe-se hoje que inalaram substâncias tóxicas e altamente cancerígenas, que foram envenenados pelo fuel-óleo.

Sabem agora que mal conseguem respirar de noite, sabem agora que sucumbem a cancros tão letais quanto repentinos, sabem agora das possíveis alterações genéticas, sabem agora que aquele gesto pode ter-lhes custado a vida.

Eu… não consigo imaginar acto mais nobre e mais valioso e não consigo perceber o silêncio surdo dos governos.

Porque não implementar um programa de apoio, de indemnizações, de triagem dos casos mais graves?

Será que este Estado que todos nós criámos, portugueses e espanhóis; será que esta casa imensa que somos todos nós não estará lá também para nos apoiar quando precisamos e a ele acudimos?

Será que esse ente supremo e imaterial tomou a forma de uma concha que só serve para quem lá está?

A muitos desses corajosos anónimos nada mais restará que o conforto da sua consciência.

A brisa suave que embala as ondas e aconchega as rochas negras dessa costa fria e silenciosa, há-de clamar sempre por eles em sussurro… eternamente reconhecida.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Coisas que eu amo profundamente



A cena do Rei Juan Carlos a mandar calar o Hugo Chávez é de antologia. Digna do melhor. Isto a mim dá-me mais graça que o Gato Fedorento, devo dizer. É de partir o caco a rir.

A cena da América Latina com Espanha há-de ser sempre a mesma e em tudo similar à nossa com os povos colonizados de África. Podemos ser todos crescidinhos e fingir o protocolo sentados a uma mesa mas o mais certo é que as coisas descambem. Uns ainda pensam que mandam, os outros não conseguem esquecer a porrada que levaram. Está-lhe nos genes. Assim, era mais que visto.

O Chávez, truculento como sempre, esqueceu-se que estava a ladrar para os que já foram donos. O rei, perdeu o tino e disse-lhe: “cala-te lá, ó rapazinho!”. Lindo!

Grande nota para o Zapatero que esteve com um nível impressionante.

O Daniel Ortega é que não tinha nada que chatear o velhinho outra vez que ele já tem com que se coçar. Não lhe basta já a nora mais nova que é uma biscarreta de primeira e parece que quer mandar em meio mundo lá na Zarzuela; e o maluco do genro mais velho, completamente abrasado, senão ainda isto…

Fez bem, levantou-se com quem vai ali fazer uma mijinha e até mais loguinho.

Muito, muito bom.

Back from the Living Dead!


Back from the living dead que é como quem diz, finalmente livre outra vez, cacete!

Foram umas semanas muito duras, estas últimas. A todos os níveis. O estar afastado do meio profissional há dois anos e a constante mutação da legislação, o facto de um grande evento da minha vida actual estar a correr em paralelo… o ter de passar os dias sozinho… a pressão da responsabilidade… o ter de voltar a ser posto à prova mais uma vez… não foi fácil, mas bem ou mal, o compromisso foi assumido e está feito.

Reconheço que estar só foi complicado. Por outro lado, o distanciamento do normal dia-a-dia foi um facto extremamente positivo.

Vivemos em contra-relógio, passamos os dias a correr e nem sempre temos esta possibilidade de nos afastarmos do que é habitual, da nossa rotina e reflectirmos.

Ninguém gosta de tirar férias para estudar intensivamente mas valeu a pena e haverá certamente ilações a tomar em linha de conta no futuro.

Já tinha saudades desta minha modesta casinha e é bom estar de volta.

De conversa com os companheiros, tomando uma cerveja no período de descompressão, o meu alpalhoeiro de estimação disse-me que eu sou “esfinzado”. “Tu és esfinzado”, arrematou com certeza e agradeci a tradução em simultâneo. Ser “Esfinzado” em alpalhôez, ou seja, o dialecto de Alpalhão”, significa ser preocupado demais, nervoso demais, ansioso demais. Nem lhe respondi e se calhar ainda estou para perceber porquê. Se calhar o homem tem razão. Reconheço que não sou uma das pessoas que sabe viver melhor. Gostava de ter calma e de me saber passear pela vida como alguns amigos que prezo e conheço. Se mandasse em mim a 100%, talvez fosse mais tranquilo, mais confiante, mais seguro, mais frio e racional.

Eu sou daqueles que quando cheira a esturro no convés, já eu estou a estudar o plano de emergência.

Talvez devesse escutar mais os mais velhos, os mais sabidos, os que me dizem para levar a coisa com calma.

Mas sou tremendamente exigente, sobretudo comigo mesmo. Habituei-me desde os primeiros tempos de escola a puxar pelo canastro e a definir um parâmetro de satisfação que não me dá descanso. Não é fácil estarmos constantemente a submeter-nos à prova… a sermos juízes em causa própria.

E depois há um tremendo sabor a injustiça quando temos de passar por baterias de testes absolutamente inéditas na Função Pública em Portugal. Não há classe nem condição onde os funcionários tenham de passar por tamanho grau de exigência para subir de nível. Perdoem-me a imodéstia (e sei que isto vai dar guerra!) mas não vejo os professores, os polícias, os funcionários judiciais, os funcionários das Conservatórias, os funcionários das autarquias, os enfermeiros, os soldados das forças de segurança, os médicos, os militares, os funcionários das alfândegas, os taxistas, as peixeiras, os toureiros, os amola-tesouras, terem que passar por esta bateria constante de questões.

Neste caso, eram sete códigos, sete… e quarenta perguntas para serem respondidas em hora e meia. 40 perguntas para 150 minutos, dá pouco mais que 3 minutos e meio para cada uma, se dermos um tempinho para preencher a folha de respostas. 3 minutos para alguns enunciados de meia página que carecem de interpretação, domínio de localização nos diplomas legais, cálculos e fintas a rasteiras que surgem pelo meio. Não é fácil mas já está e agora seja o que Deus quiser.

O homem está de volta e a tasca está reaberta outra vez.

Peço desculpa pela falta de atenção nestes dias. A primeira rodada é minha e tenho ali uns pipis de molho que estão uma perdição.

Já agora, digo-vos que em Lisboa reparei que o Natal agora chega em Agosto e isto é mesmo de loucos. Dizer que o tempo está virado do contrário é já hoje um tremendo lugar comum. Dantes em Santo António, havia ali o velhote das bombas, o Ti Manel das Gasolinas, que ainda nós não tínhamos saído do carro e já ele dizia “então, chove ou não chove?”. Se ainda estivesse ao serviço estava amolado… há muito que tinha perdido o motivo de conversa. Digo eu que todos já sabemos que hoje não há estações. A Primavera e as florzinhas, o Verão e as praias, o Outono e a queda da folha e das chuvas, o Inverno do frio e da neve já são coisas do antigamente. Agora temos um Agosto em que temos de andar de capote e um Outubro em que andamos de braceletes. Tá normal. Agora esta do Natal chegar 2 meses antes é fabulosa.

O meu vizinho Mário, o carteiro, bateu-me há dias aqui no vidro com ar maroto, para me entregar o folheto dos brinquedos do Jumbo. Riu-se assim com ar travesso como quem diz “vá, toma lá. Agora desenrasca-te”. A publicação já passou pelo “lápis azul” da descendência. Em quase todos as páginas há 3 ou 4 produtos com uma cruz em cima e eu nem sequer quero pensar no que é que aquilo quer dizer.

Em Lisboa o Natal está em peso: luzes nas ruas, promoções nas grandes superfícies, sininhos e enfeites, som ambiente e os Pais Natal a chegarem.

O grande problema é que com as coisas a sucederem-se tão depressa… os anos vão passando… o cabelo clareando… mas o Tejo é sempre novo! (é assim? O meu sogro a cantar isto é digno de cd!).

Bom, o que eu sei é que para o ano vou tentar comprar um fatinho de banho para a praia de cor vermelha com as bainhas brancas. Assim, quando chegar o Natal, só tenho de comprar o gorro e o algodão para as barbas.

Ho! Ho! Ho!