domingo, 10 de fevereiro de 2008

O Folião do Marvão - Os Metralhas, Circo Cardinas e o Enterro
















Realmente, já tinha saudades disto mas a ausência parece-me que está mais que justificada: foi um Carnaval rijo, pessoal!

Festa é festa e mal havia tempo para descansar, quanto mais para escrever…

Mas agora, no rescaldo da coisa, olho para trás e vejo que há mesmo muitos motivos para sorrir.

Santo António das Areias, 10 de Fevereiro de 2008

Composição

O meu Carnaval

O meu Carnaval foi bem divertido, o gajo.

No meu Carnaval, eu e os meus amigos rimo-nos muito uns com os outros e com as parvoeiras que fazíamos e com os restantes meninos também. No Carnaval sentimo-nos todos mais libertos e bem dispostos e capazes de pensar que o que interessa é estarmos bem.

Eu aqui há uns anos não ligava muito ao Carnaval.

Quer dizer, quando eu era pequeno, vestia-me como todos os outros e íamos passear para a Carreira de Cima de onde regressávamos cheios de frio e algo desiludidos por não termos visto aquilo que queríamos.

Depois cresci e deixei de achar assim piada às coisas do entrudo. Cheguei mesmo a pensar nos totós que eram os crescidos quando se vestiam nesta altura, de médicos, marinheiros, mulheres e vampiros. Achava que isso já não era coisa para a idade deles.

Mas depois, como pela boca morre o peixe, começaram a haver outra vez bailes e desfiles na minha terra e eu também me juntei à coisa. E correu bem aquilo, pá! Pelo menos a gente gostava e isso era o mais importante.

Comecei num grupo pequeno que contava já com foliões de larga experiência nestas andanças e depois fizemos algumas contratações de luxo que habitualmente desfilavam na vila e a coisa ficou no ponto.

Agora temos um grupo definido, ao qual se juntaram mais alguns companheiros e digamos que levamos a brincadeira muito a sério na medida em que fazemos reuniões e trabalhamos muito para que depois corra tudo como esperamos.

Agora, como o Carnaval cá do sítio já tem muita graça, passou a ter também muita gente e os senhores dos cafés dizem que gostam disso. È porreirinho porque a malta assim brinca cá em casa, não anda às voltas em sítios onde não conhece ninguém a fazer figura de parolo.

Este nosso Carnaval é bom porque não ligamos a danças sincronizadas e a vestidos caros. Aqui é assim do género “meia bola e força” e corre tudo muito melhor.

No meu Carnaval houve muitos grupos que desfilaram, muitos mascarados por todo o lado, houve chuva e desfiles e bailes e discotecas e alegria e boa onda.

Eu até podia contar mais coisas mas não vale a pena porque no fim apareceu lá um bispo para o enterrar que fez uns versos que dizem mais ou menos como tudo foi e como ele os deitou fora, eu corri a apanhá-los e agora deixo-os aqui.

Eu agora já gosto muito do Carnaval e até digo que o Carnaval é como o Soares aqui há uns anos: é fixe! (e eu gosto muito!).

PS: E mesmo que não vá ninguém ver não faz mal porque quem brinca, brinca para ele mesmo e não para os outros verem. Se vierem, melhor, mas não é por haver mais ou menos gente que a coisa corre bem ou mal. Nós é que sabemos!

E reza assim,
Nesta 3ª edição,
Do nosso lindo Carnaval,
Muita folia e divertimento,
Como nunca houve igual.

Esta é uma festa do povo,
Da nossa comunidade,
Pequena, mas feita com gosto
E com muita originalidade.

Batemos por muitos a concorrência,
O Crato, Elvas, Castelo de Vide e o tripeiro,
Já estamos mesmo ao nível,
Do Carnaval do Rio de Janeiro.

Só nos faltam as mulatas,
Com os rabinhos a dar a dar,
Mas houve por aí umas galinhas,
Que deixaram muitos a salivar.

Começámos na 6ª feira,
Com o desfile das escolinhas,
Desfilaram as professoras, as empregadas,
E também as criancinhas.
(e eu gosto tanto de criancinhas!)

No sábado abriu o batuque,
Que não chamou muita gente,
Mas mesmo assim apareceu,
O pessoal mais resistente.

No domingo houve chuva a cântaros,
Que deixou a barragem rasa,
Mas mesmo assim não conseguiu,
Que ficássemos em casa.

Com bom tempo todos desfilam,
Disto estamos nós seguros,
Agora com frio e água,
Só desfilam os mais duros. (como nós!)

Tivemos índios e cáubois,
Guardas civis e os Metralhas,
Um grande grupo de Elvis,
As “St.º António Stars” e mais alguns canalhas.

O Bar do Tirolês foi de luxo,
Trajado e decorado a rigor,
Mas com uma invernada destas,
Não vendeu nem um licor.

O baile de segunda esteve bem,
Houve muitos mascarados,
Travecas e um casamento,
E mais alguns saca-rabos.

Na terça foi em grande,
Ruas cheias, praça apinhada,
Acertámos em cheio no coração,
De adultos e criançada.

Galinhas loucas aos gritos,
Galos gigantes, ovos pelo ar,
Hippies num descapotável,
Apinhado e a fumegar. (coisas esquisitas)

Até uma criancinha,
Nasceu em pleno desfile,
O pai, o grupo da Relva,
A mãe, uma idosa de perfil. (que já foi pedreira!)

Da Beirã veio um carro,
Um Motocultivador,
Com um motorista engraçado,
E uns mosqueteiros cheios de calor.

Tivemos um circo nunca visto,
Repleto de artistas de gabarito,
Palhaços, acrobatas, mágicos e ciclistas,
Encantadores, um índio, um preto, um escarapão, uma pomba e um coelhito.

Num espectáculo inédito,
Encantou a multidão,
Com números de qualidade,
E sem cobrar um tostão.
(mas mesmo assim juntamos umas massitas para uns copitos!)

Pela 1ª vez houve jantar,
Que reuniu os foliões.
A mesa conversaram,
Sobre fatos e actuações.

E eis que nos encontramos,
Nesta ponta final,
Em que encerramos com chave de ouro,
O nosso Carnaval.

Aqui todos reunidos,
Teremos de constatar,
Já que o gozámos,
Temos de o enterrar.

Todos os convivas chorando,
As viúvas, as carpideiras,
As criancinhas, a assistência,
As antológicas bubedeiras.

O nosso folião bateu a bota,
Deu o peido-mestre, esticou as muletas,
Vai prá “Quinta dos Pés Juntos”,
Pró “Jardim das Tabuletas”.

Pegando-lhe fogo despedimo-nos,
Deste nosso querido “Hermano”,
Adeus, adeus Folião,
Volta sempre, até pró ano.

Que Deus o tenha em descanso,
Muitos anos sem nós.

Amén

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