quarta-feira, 30 de abril de 2008

1 de Maio – Dia do trabalhador



Este blogue também foi criado para dizer as verdades, para apontar aquilo que ninguém quer admitir, mas que todos sabem que é verdade.

Sendo assim,

EU SOU CONTRA QUE NO DIA DO TRABALHADOR, NÃO SE TRABALHE!

Prontos, já está!

O dia do trabalhador é feriado e ninguém trabalha e agora digam-me lá se isto não é um contrasenso escabroso?

Um contrasenso não, isto é de loucos!

Supostamente, no dia do trabalhador devíamos todos orgulharmo-nos de termos um ganha pão e devíamos de torcer a mola até mais não, do nascer do sol até ao anoitecer, sempre com um sorriso nos lábios e se possível a assobiar ao mesmo tempo. Honrávamos assim o trabalho, trabalhando, e dignificando esta actividade.

Mas não. Em vez de formigas, somos cigarras e levamos o dia todo no laréu. Isto faz algum sentido?

É como se no dia da mentira, a malta decidisse só dizer verdades;

Como se no dia da criança, se passasse o dia em actividades nos lares da 3ª idade;

Como se no dia da mulher, fossem os homens a ir aos shows de strip;

Como se no dia da poesia, só lêssemos prosa;

Como se no dia da música, decidíssemos jogar xadrez em silêncio.


Pergunta para queijo: no dia do TRABALHADOR, faz-se o quê? Descansa-se!


Eu, para contrariar esta tendência enganosa, como não vou em carneiradas, já pedi uma picareta emprestada e vou para os montes partir piçarras durante o dia todo. Já tenho o farnel aviado. Só vou parar para tirar uma bucha.

Por isso, sigam o meu exemplo e no dia do trabalhador… VERGUEM A MOLA, VADIOS!

Nota: Se me virem, por acaso, neste dia em casa… é porque vim buscar uns papéis de que me esqueci. Coisa pouca.
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De pé... como as árvores


E prontos… estão encontrados os dois finalistas da Liga dos Campeões.

Foi preciso ir a prolongamento para que o Chelsea conseguisse levar a melhor sobre o poderoso Liverpool, tirando a teima da eliminatória do ano passado.

Os azuis entraram muito fortes e chegaram ao golo por intermédio de Drogba. Os reds ressuscitaram na segunda metade e igualaram por Torres, após uma diagonal fabulosa de Benayoun.

Nos 30 minutos adicionais, os londrinos tomaram vantagem de novo com um golo de Lampard na marcação do castigo máximo que puniu falta flagrante de Hyypia sobre Ballack; e tudo confirmaram com novo tento de Drogba.

Honrando o hino do clube, os de Liverpool nunca baixaram os braços e reduziram já ao cair de pano num grande remate de Babel ao qual Cech não soube corresponder.

A primeira metade foi azul, a segunda vermelha e o tempo extra, uma montanha russa que descambou para onde menos se esperava, sobretudo depois das três perdas flagrantes dos visitantes.

Destas duas horas de puro delírio futebolístico destaco dois momentos que ficam para a história do que vi: o carrinho de joelhos de Drogba após o primeiro golo, deslizando pela relva até bem perto do banco de Benítez, dedicando-lhe a estocada certeira com que o calou, depois das críticas e ataques pessoais da última semana; e a comemoração do golo de Lampard, quando corre para a bandeirola de canto beijando a braçadeira preta que colocou em memória da mãe, recentemente falecida, vítima de pneumonia. De arrepiar.

Menção honrosa para o fiscal de linha que teve tomates para anular o golo de Essien, já em pleno prolongamento e quando estavam ainda iguais. Se fosse português, tinha feito xixi nas calças e metido a bandeirola no respectivo. Muito nível!

Assim sendo, a 21 de Maio, Moscovo vai receber a gala dourada dos melhores do continente, protagonizada por dois clubes ingleses.

De um lado, os meus vermelhos de estimação em terras de sua majestade, com Queiroz, Nani e Ronaldo; do outro, Ricardo Carvalho, o legado de Mourinho e muita garra na primeira final.

Dos dois lados, aquele que sempre foi para mim, mesmo quando o espanhol e o italiano brilhavam, o melhor futebol do mundo. Apesar de cada vez mais calculista, é aquele onde a magia de jogar o jogo pelo prazer do jogo é ainda mais evidente.

Os outros amam que a sua equipa ganhe. Os ingleses amam o jogo. independentemente do resultado.

Pleasure always comes first (o prazer primeiro).

É caso para dizer que mesmo que o desafio seja em terras moscovitas, neste ano, “football’s coming home” (o futebol regressa a casa).

Nesse caso, aqui fica a minha homenagem pelas gratas horas de deleite que me proporcionaram, recordando o hino oficial da selecção inglesa para o Campeonato da Europa de 96.

“Bring it back, boys!” (tragam-na de volta, rapaziada!)

Cheers!

terça-feira, 29 de abril de 2008

São Marcos 2008


No domingo ao fim da tarde, enquanto bebíamos umas fresquinhas na pastelaria do Chocolate e assistíamos à humilhação caseira do Guimarães, ferido de morte por um Porto demolidor, um dos amigos, entre um amendoim e um tremoço, sai-se com uma tirada magistral.

Dizia ele que detestava o domingo de tarde de São Marcos porque tudo aquilo era triste. O anoitecer, o anúncio das derradeiras actuações, até o próprio arraial, eram mais que motivos de nostalgia porque anunciavam o fim da festa.

Não pude deixar de soltar uma gargalhada perante o seu pesar, mas na verdade, o que ele sentia não estava muito longe daquilo que ia dentro de mim, dos restantes convivas, da minha filha e de muitos arenenses, naturais ou adoptados, que assistiam ao encerramento dos festejos.

O engraçado é que as pessoas quando crescem desenvolvem mecanismos mentais para superar as pequenas tristezas da vida e para seguirem em frente. Foi por isso que o desabafo me caiu tão bem, por ser tão sincero e desarmante. Eu podia dizer-lhe que a festa acaba mas a vida continua; que dentro em breve vai haver mais divertimentos, que foi bom ter corrido tudo tão bem, que estamos aqui estamos na Festa da Relva; que até o regresso ao trabalho é bom porque é sinal que o temos… mas não. Calei-me porque o compreendo.

Mas se assim é, que raio há nestas festas de São Marcos para representarem tanto para os seus e as fazerem assim tão especiais?

Para quem vem de fora, podem não passar de 5 ou 6 barracas, de 2 ou 3 carrocéis, uns espectáculos manhosos e pouco mais.

Para nós, são as nossas festas.


No São Marcos há marroquinos e indianos que vendem “riloges” de imitação, óculos escuros da Channel, t-shirts do Wrestling e do Rock, cintos e cães electrónicos que ladram e abanam o rabo a 5 euros; há barracas de algodão doce, pipocas, gelados de gelo e massa frita ou “berronhol”; há a roulotte do Lino Bar, catedral móvel da imperial e das melhores bifanas do mundo; há uma pista de carrinhos de choque para crianças; há um carrossel que roda e mais roda sem parar; há uma barraquinha da quermesse onde as pessoas dão o que não querem e não conseguem já arrumar em casa; há barracas de rifas onde saem sempre peluches felosos; há carrinhos de choque para a malta de barba rija; há tendas de produtores de vinhos locais e de finalistas e há muita coisa por descobrir.

Acham pouco?
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Isto tudo numa praça e pouco mais.

No São Marcos o pessoal aperalta-se, veste ropitas novas, desfaz a barba e engraxa os sapatos, veste cuecas e meias por estrear, deita-se e levanta-se bem disposto.

No São Marcos as pessoas saem à rua e falam uns com os outros, bebem uns copos a mais, convivem mais e matam saudades dos que regressam à terra de propósito por esta altura.

Este foi o melhor São Marcos dos últimos anos, pelo menos para mim, porque foi caseirinho e feito com a prata da casa e foi assim quase que em família.
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Na quinta-feira, dia 24, perdi a “fashion night” organizada pelos finalistas da escola porque fizeram o favor de marcar mais uma Assembleia Municipal para essa hora. Quatro longas horas de debate afastaram-me de onde queria estar e de ver o primeiro desfile da vida da pequena em troca de quase nada. Começou mal.


Sexta-feira foi dia de comemorações, com a manhã hasteando a bandeira em Marvão, não faltando a banda, a música, muitos discursos e um beberete com a população. À tarde, houve missa e procissão fazendo gincana por entre os vendedores. O bezerro não apareceu, ou pelo menos não o vi, e os puristas torceram o nariz.



Antes do espectáculo da Escola de Música da Associação Cultural a que presido, no palco central, o Professor de Música propôs-me a actuação de uma banda “a precisar de rodagem” para animar os presentes enquanto os nossos alunos chegavam. Eu disse-lhe que sim, “mas ó professor, veja lá o que é que tocam! Olhe que aquilo a essa hora é assim pessoal da mais idade…”. “Ah, não tenha problema, ó Vereador, aquilo é assim música conhecida”. Eu fiquei tranquilo mas por pouco tempo, sobretudo quando vejo um jovem de cabelos pelos ombros a carregar com uns amplificadores. Assim que o vocalista se chegou à frente, anunciou uma cover dos Red Hot Chilli Peppers e eu vi logo que a coisa estava boa para assar! Eu a ranger os dentes na esplanada do Lino e o pessoal a bater em retirada assim para longe para não levar com um riff de guitarra dos Scorpions em cima, ó valha-me Deus.

Vá lá que aquilo não durou muito e a coisa acalmou com a chegada dos clarinetes a assobiarem o “Obla-di, Obla-da” dos Beatles. Aaaaaaaaaahh. Assim está melhor.

A noite foi de nervos e de glória com a primeira actuação dos dois grupos de teatro da Associação de Cultura e Acção Social de Marvão. A sala cheia e eu com um nervoso miudinho a tomar conta de todo o organismo. Estava pior que a bicha do La Feria neste papel de produtor. Foram muitos meses, muitas horas de trabalho e eu só me lembrava do único ensaio completo a que assisti, em que parecia que ninguém sabia o papel, numa autêntica cena para os apanhados. Aquilo perturbou-me de tal maneira que passei a noite a sonhar que lhes gritava os papéis e eles a rirem-se uns para os outros. Graças a Deus correu tudo bem e vivemos todos os presentes, uma noite mágica daquelas que havemos sempre de recordar. Os miúdos todos ao melhor nível e as pessoas a saírem no final com “aquele” sorriso que compensa tudo para trás.


Sábado foi dia de festa brava com o festival taurino e a noite de flamenco e sevilhanas. A Praça estava cheia, a tarde magnífica, os cavaleiros de primeira água, a banda certinha e redobrada em pasodobles… tudo 5 estrelas. Falharam as vaquinhas da ganadaria “Casa da Avó” que tem de lhes começar a deitar mais alpista porque assim com esta ração nunca chegam a marrar. Os forcados protagonizaram boas pegas e o que se evitava era a verdadeira cena de pancadaria final que quase transformou a praça num estádio de futebol. Após a última lide, quando o forcado da cara brindou a última pega à assistência, para gaúdio dos presentes, o médico da corrida fez sinal (e bem!) ao director para não autorizar a pega porque um ferro ameaçador, cravado bem no lombo do animal, ameaçava por em risco a integridade dos homens da jaqueta. A nega provocou a revolta dos mesmos e tudo se complicou quando dois ou três que estavam à paisana na bancada instigaram a revolta ao saltarem para o redondel, evitando a entrada do touro e das chocas nos curros. Armou-se a confusão geral com o pessoal de apoio da Casa do Povo e tudo descambou para uma cena de soco e empurrão que ninguém conseguiu conter, enquanto os resistentes tentavam pegar o cornudo debaixo de um coro de assobios. Foi a nódoazita no melhor pano e a segunda tourada da tarde.

A noite foi de consagração com umas sevilhanas de Barrancos, bem mexidas e bonitas a abrirem o espectáculo de José Lito Maia, memorável a todos os títulos. Desde os fados mais carnais aos ritmos mais ciganos, José Lito, o Elvis do flamenco, a todos tocou com a magia da sua arte. Eu, que já tinha há meses o “Vamos pra Barbacena” como toque no telemóvel, também não resisti aos ritmos bem esgalhados e tive de me conter para não chorar, berrar e arrancar os cabelos como se estivesse num concerto dos Beatles. Na sessão de autógrafos, prometeu-me os cds que aguardo com expectativa. “Po shôtore: do Jeselito, com amizádi!”.



O grande e único José Lito performa um medley bem gitano ao vivo no GDA


Domingo houve milha e caminhada com perto de 400 almas a fazerem desporto pelas nossas ruas e veredas. A coisa meteu almoço no pavilhão e serviu de ponte para o jogo com os infantis do Sporting que, depois de estarem a perder por dois a zero, ainda deram a volta ao marcador e nos pintaram a Taça do Município. Foi pena. Se tivéssemos ganho, a taça revertia para a instituição e já tinha que dar para o ano. Assim, há mesmo que comprar outra… Soube só depois que andava lá um escurinho que era filho do Jardel. Se me tivesse apercebido antes, tinha-lhe pedido o telefone da mamã Karen só para lhe dizer que gosto muito do “Futebol de Saltos Altos” e de mais alguns dos seus atributos…


Reparem só na pontaria do atirador...



A matinée da discoteca, ao contrário das noites antes, esteve fraca, a garraiada esteve animada e a noite fria mas com bons espectáculos: o Cantareias cumpriu e viajou pelo seu popular repertório com muita gente a acompanhar as letras e as melodias, o Rancho esteve certeiro e com muitos pares em palco num sinal de renovação e pujança. Nota muito positiva para o novo speaker, o Pedro Jesus, ainda com pouca experiência mas com muita alma. Foi uma prestação competente e animada dos dois embaixadores culturais do concelho.
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Os CantAreias cantam Santo António
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O famoso "Tacão e Bico" pelo Ranho Folclórico da Casa do Povo de Santo António das Areias

O arraial que fechou os festejos foi belo mas muito de perto. A cachopa ao meu lado dizia que mais parecia “a guerra dos Iraques” e tinha razão. Aquilo mandava faísca de tal maneira próxima que o pessoal correu todo para os cafés para se abrigar. No rescaldo que sempre faço, para o ano, levo uma proposta de lançamento a partir da Praça de Touros. Assim vemos todos e temos menos hipóteses de ir para casa com um morteiro enfiado no rabo!

Eu, para manter a tradição, ainda comprei uma massa frita que aqueci no microondas e acompanhei com leite morninho. Ai bom! Xixi, cama.

Foi um São Marcos a seco e foi tão bonito.

A gente quando não bebe tem menos alegria mas vê tudo tão mais nítido.

Tens razão Rui, isto no fim dá sempre pena.

Para o ano, se Deus quiser, há mais!
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Nota final de felicitações para todas as instituições da terra que se uniram para juntas, fazerem umas festas inesquecíveis. Parabéns à Junta de Freguesia, ao Grupo Desportivo Arenense e sobretudo à equipa da Casa da Povo, que felicito na pessoa da sua incansável presidente, Cristina Novo, sempre na linha da frente, somando sucessos que dignificam a localidade e o concelho.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

EXCLUSIVO! Revista RABOS já nas bancas!

(clique para ampliar)


Nota do editor: Beijo grande à minha querida amiga Emília Mena. Estava-se mesmo a ver, não estava?

terça-feira, 22 de abril de 2008

O Colapso


Na escola ensinaram-me que as instituições são uma realidade que prevalece ao longo das gerações.

Para se ser uma instituição, não basta a designação no nome, é preciso que os anos passem e ela permaneça, como elemento lapidar de uma sociedade.

E as sociedades precisam de instituições como de pão para a boca porque elas são a argamassa que sustenta todo o edifício.

As instituições são um garante de estabilidade, são elementos reguladores do mecanismo social central, são o que fica para lá das convulsões.

Neste preciso momento, duas instituições com as quais me identifico e às quais me sinto umbilicalmente ligado, o Sport Lisboa e Benfica e o Partido Social Democrata, atravessam períodos negros e bastante conturbados da sua história.

O Benfica, incapaz de combater com os argumentos de outros tempos a hegemonia que sopra de norte, é hoje um pálido reflexo do clube que me habituei a adorar. Sem voz de comando, sem uma direcção firme e convicta, sem estratégias para o futuro, sem espinha vertebral interna, é hoje um navio à deriva. A equipa de futebol sénior, aquela que há-de sempre ser o seu rosto, é hoje uma pandilha de almas penadas que vegeta sem rei nem roque, semeando a desilusão por onde quer que passa. Depois de rios de dinheiro gastos em contratações de pura comédia, olhamos para as chuteiras rotas com as mãos cheias de nada, sonhando com o passado e querendo fugir para não ter de aturar o que se avizinha

O PSD, a um ano da ida às urnas, enrola-se aos pés do PS de Sócrates como se fosse um gatinho de estimação, entregando literalmente o ouro ao bandido, revelando-se incapaz de dar resposta cabal, vítima de uma luta fratricida pelo poder interno. Quando era altura de escolher quem é que se chegava à frente para lutar com o calmeirão do bairro, atiraram-se todos para o chão, fingindo-se mortos, à espera que lhe assinassem a derrota na secretaria. Voltas e mais voltas dará na campa o que resta do pequeno grande Sá Carneiro perante tamanha devassa e desorientação. Depois dos três reinados de Cavaco, do interregno guterrista, da reconquista e fuga europeia de Durão, do delírio Santanista e da hegemonia Socrática, resta-nos o vazio.

Não servindo o pequenote esforço do não maior Marques Mendes, saiu-nos na rifa um Presidente de comédia que nem sequer o rabo metia no parlamento. Tocaram os sinos a rebate para o baile dos barões, famintos de carne fresca e hei-nos na rua a tocar acordeão de óculos escuros com a lata à frente.

A esta altura, meia dúzia de canastrões teorizam o inexplicável com a natural sobranceira nos ecrãs do 1º canal.

Vergonha.

Primeiro ensinaram-me que as instituições são aquilo a que nos podemos agarrar quando nos falta o resto.

E agora fazem-me isto…

Com tanta desgraça junta, só me falta chegar a casa depois de um dia de trabalho e apanhar a minha mulher sentada na cozinha a fumar um SG Gigante.

Ele há cada uma…

domingo, 20 de abril de 2008

No Olimpo do Humor


Os Monty Python foram a mais demolidora máquina de fazer rir alguma vez criada.

O riso percorreu um longo caminho desde que o homem primitivo deixou acidentalmente cair sobre o dedo mindinho do pé, o seixo rolado com que rasgava a carne da presa recém abatida, provocando uma reacção inusitada nos companheiros que o rodeavam. Toda essa linha evolutiva que atravessou eras e civilizações culminou neste grupo de 5 jovens britânicos que no final dos anos 60, princípios dos 70, revolucionaram para todo o sempre os mecanismos que conduzem à gargalhada.

Quem vive actualmente do humor, seja em que parte do mundo for, presta sempre homenagem a esta trupe fabulosa de cada vez que lhes perguntam qual a sua referência e maior fonte de inspiração.

Herman José; os Gato Fedorento, toda a equipa das produções fictícias que está por detrás de grande parte do humor que se faz hoje no nosso país (seja no Contra-Informação ou no humor radiofónico); o Jel e os loucos da “Luta Continua”; os cabecilhas do stand up comedy e todos aqueles que têm o riso na profissão, lhes prestam com frequência vassalagem.

Mas o prestígio dos magistrais Python está longe de se esgotar na Europa. Do outro lado do atlântico, gerações de cómicos inspiraram-se e reinventam-se na eterna inspiração das suas obras: Matt Groening, criador da saga dos Simpsons (RTP2); Jerry Seinfeld (SIC Radical); Conan O’Brien (SIC Radical); Matt Stone e Trey Parker, pais da série South Park (SIC Radical), todos eles veneram o legado que nos deixaram.

Todo este burburinho porque John Cleese, Michael Palin, Graham Chapman, Eric Idle e Terry Jones decidiram um dia partir literalmente a louça toda no canal estatal BBC, quando montaram o seu “Circo Voador” que alguns de nós pudemos admirar há muitos, muitos anos atrás na RTP, a horas, claro está, bem proibitivas.

Sem tomar qualquer tipo de precaução e sem guardar a mais mínima distância de segurança, estas soberbas inteligências humorísticas apontaram sobre a conservadora sociedade britânica e dispararam em todos os sentidos. Da igreja à família, da política à justiça, das tradições ao futebol, nada, nada mesmo escapou à sua abordagem cáustica.

Senhores de um humor que ia do mais simples ao cerebral, sempre com uma forte veia intelectual, coroaram-se a eles próprios num pedestal bem oposto ao imediatismo grosseiro de um Benny Hill ou do universalismo actual de um Mister Bean.

Os Monty Python eram muitas vezes incómodos, sádicos, perturbadores e personificaram a verdadeira e última provocação.

O seu legado passou também pelos filmes com clássicos absolutos como “O Sentido da Vida”, a “Vida de Brian” ou “Em busca do Cálice Sagrado”, jóias que não podem faltar na dvdteca ideal de quem ama uma boa gargalhada e os meus exemplares estão sempre em lugar de destaque.

Assim, como podem calcular, a expectativa para o espectáculo de ontem à noite no Centro de Artes de Portalegre, cada vez mais a NOSSA sala, era enorme.

O facto de ter sido adaptado para a nossa língua mãe por Nuno Markl, esse, o que mordeu o cão e um dos adoradores-mor dos génios britânicos descansou-me à partida. O espectáculo trazia no currículo excelentes críticas da sua estada no Casino da capital e da sua digressão nacional e a prova evidente disso mesmo era uma assistência a roçar o pleno se é que não estava mesmo no limite.

Para falar depressa e bem, o show vale cada cêntimo dos 15 euros cobrados. A selecção de sketches é irrepreensível, o ritmo é estonteante e hipnótico, o recurso às aplicações multimédia muito bem encaixado e as interpretações muito próximas da perfeição.

António Feio passa muito bem e brilha no quadro do produtor maniento que detesta a graxa dos argumentistas; Bruno Nogueira, claramente fora do seu registo preferencial é competente qb, sempre em postura low-profile; Jorge Mourato esforça-se para estar ao nível do nome dos colegas e sai-se muito bem, brilhando mesmo no número musical dos operários da construção civil; José Pedro Gomes está ao seu melhor nível e arrasa na velhinha do concurso da “Marretada na cabeça” e no Papa que reclama a “Última Ceia”; mas é Miguel Guilherme, cada vez mais soberbo actor e reafirmando-se como genial comediante que leva os louros da glória. Simplesmente perfeito! Sempre com um feeling, um ritmo, um balanço de quem está como peixe na água, num universo que é também o seu, eleva-se acima de todos e carrega os textos e as interpretações mais exigentes e mais rentáveis como são o comprador do papagaio morto, o Miguel Ângelo gay que insiste em 4 Cristos e dezenas de discípulos na última refeição do Messias, ou o homem que dizia os “k” mas não dizia os “C”, no qual ridiculariza os turistas portugueses num retrato delicioso que o leva à loucura pela sala fora.

“Os melhores sketches dos Monty Python” são perto de duas horas de viagem na montanha russa que é o legado deste grupo inesquecível. Para mim, chegava a cena da piada mortal que de tão boa que era bastava para fazer morrer de rir quem a lesse... De ir à lágrimas…

Mas entre muitos outros momentos, ficaram ainda gravados com chave de ouro, o desabafo dos magistrados travestis ao chegar a casa; a esquadra da polícia em que os agentes só ouviam em timbres diferentes; o agente funerário canibal que propõe ao jovem um assado do corpo da falecida mãe e os fora-da-lei que só agiam dentro da lei.

Certamente, muitos saíram com a sensação de que esperavam terem-se rido mais mas essa possível desilusão só se pode explicar a quem avança com determinadas expectativas para um tipo de humor completamente imprevisível e desvairado.

No cimo do cimo do bolo, dois momentos que foram de absoluta e profunda magia e reparei que em qualquer um deles provavelmente nem me ri mas apenas sorri perante a divinal criatividade subversiva, num sorriso que para mim vale muitas mil gargalhadas que às vezes dou ao desbarato: o regresso do filho do dramaturgo ao lar depois de ter renegado as suas origens e ter ido trabalhar para uma mina; e a cena dos ricaços que fantasiam e mentem sobre a miséria do seu passado, entre flutes de champanhe, cada um tentando ir mais longe que o outro na dureza da sua condição.

Génio absoluto!

E então é assim, meus amigos, se vão na linha dos Malucos do Riso, do Fernando Rocha ou do Camilo, fujam daqui que isto não está para brincadeiras.

Se por outro lado querem assistir ao melhor humor de sempre, numa produção que certamente orgulharia os próprios criadores, não percam este barco que o mais certo é ir ao fundo.

Nota final de agradecimento, com um abraço, para as companhias do serão, cada vez mais próximas e agradáveis. Bem hajam pela vossa amizade e boa disposição.

Apontamento breve mas reconhecido ao bar Tapas, no renovado mercado municipal, elegante e cheio de vida, que conhecemos segundo indicação e deferência do meu amigo Luís Martins da Renault, o decano dos vendedores de automóveis na cidade e o charme em pessoa. Ora aqui está uma bela proposta gastronómica com óptimo ar e decoração, e melhores petiscos por preços nada proibitivos. Um sítio onde se pode estar, comer e conversar como a capital de distrito já merecia há muito. 4 estrelas no guia Michelin-Sabi, com grande margem de progressão. Sorte para a rapaziada jovem que apostou e já ganhou.

Ó pessoal: quando é que há outro?

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Serenata à Chuva


E se porventura alguém algum dia vos avançar aquela léria de não perceber o que é que os homens vêem no futebol e de que tudo não passa de 22 idiotas a correrem atrás de uma bola…

Expliquem-lhe que as coisas não são bem assim.

A magia do futebol e a razão porque é uma das mais belas invenções dos deuses (e não dos homens!) está bem viva em jogos como o desta noite.

Mostrem-lhe isto que é capaz de chegar.

Ganharam bem.

Não há coisa mais triste do que quando um homem ou uma equipa se acobardam, se reduzem, se encolhem até à humilhação. Deveriam ter sabido cair de pé, honrando a glória das camisolas que envergam e não como cobardolas atarantados.

Para mim, esfumaram-se as hipóteses de poder estar naquela que é a festa mais linda do futebol português e de acabar o ano com algum consolo clubístico, festejando na final entre os assadores de sardinhas e as sandes de barbela com pêlos.

Agora, já sabemos quem é a equipa que vai perder a taça para o Porto no Jamor.

PS: Ao intervalo, consolava eu o lagarto do meu irmão que desesperava via sms, dizendo-lhe que ainda faltava muito por jogar. Parecia que estava a adivinhar um desfecho deste calibre. Posso não ser o Rui Santos mas já vou tendo o cú russo…

Real Tertúlia do Camarão de Marvam – Acta de Abrile


Aos queinze dhias du mês de Abrile du ano do graça do sinhor de dhois mile oito, raeuniu nu senecke-bhar “O Adro” en Samto Amtónio das Areias, a Real Tertúlia do Camarão de Marvam que come é de habitude, congregou os comensais para degustarem os crustáceos vulgharmente daesignados por camarõns e beberricarem sumes dhe cevada.

Em sassão oerganizada por Dom Carlos Pereira, da fameília do próprio D. Nuno Àlvares e por Dom Faernando Andrade, da Casa dos fidalgos de Andrade, compareceram todos os membros à excepçam de Dom Juan Carlos Saulo que se encontrava em seu castillo comemorando mais um cumpleanhos, o treinta e quatro.

Não se registharam multas nem atrasus poreque todos eles os outros membros chigarham a horas e thodos se trajavam com a tixérte identeficativa e o que restava pagou a bula.

As hostilidades abrirem às sete dhepois do mediodia e encerraram perto da medianote.

Dos crustáceos se mamaram os cozidus, os fritus e os grelhadus.

Cada um desembolsou os habituais treze reais.

O serãm terminado foi com preces e amenas comversaçons.

Da esquerda para a dereta e de trás para avante: Barradas, Andrade, Adelino (convidado), Conchinha (convidado), Sabi, Carlos, Coelho. À frente, Bonito, Carpa, Bananitas e Carequinha.


Que sejam estas as balas que atravessam os nossos corpos.

O invólucro do pedido da Bula


A bula, ela própria.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Um domingo qualquer

Acordei às 7 e pouco, quando as primeiras claridades da manhã se infiltravam no quarto pelas frestas das janelas mal fechadas e no preciso momento em que a pequena mergulhava naquilo a que chama o leito conjugal, ou seja, bem no meio de nós. Os cães da vizinhança ladravam assustados em uivos agudos e aquele inusitado e desafinado coro matinal perturbou-me o descanso. Dei voltas mas tardava em dormir, até que de levezinho, peguei no sono e … que sono maravilhoso foi.
Aprendi com a minha treinadora mental e com os livros do Freud, muita coisa sobre os sonhos e guardei para mim que são uma espécie de trituradora Moulinex onde nós colocamos em pedaços os nossos medos, ambições, aflições e episódios mais marcantes do dia e depois do um, dois, três, saem essas visões nocturnas.

Doeu-me muito que o Rockfest tivesse sido cortado do orçamento camarário sem que eu pudesse proferir as alegações de defesa que vinha treinando ao longo do último ano. Acabou-se e prontos. Euros para isso, zero! Para isso ou para essa que era a única grande festa para os jovens realizada no concelho. Quando tanto se fala nos velhinhos, que tanto merecem, eu quero mas é malta nova que essa é que traz vida mas desta vez, ficámos sem pio. Jamais atirarei a toalha ao tapete e acho que neste último round, sou capaz de ter um “gancho” escondido que ainda poderá fazer possível a terceira edição do festival de música rock de Marvão. Pensando e mastigando e preocupando-me com isto, matutei tanto que a coisa chegou à almofada.

De forma que hoje, neste domingo qualquer, estava eu a querer dormir quando acordo mesmo em pleno Verão, numa encosta virada para a Portagem, a saber pela muita malta nova que chegava de todos os lados e mais algum, que havia mesmo um grande festival de Verão.

“Mas como? E onde?” perguntava eu atónito, alegando não ter visto um cartaz que fosse. Segui a fila da populaça que mais parecia um carreiro de formigas e cheguei ao recinto, enorme e cheio de pó, com um palco fabuloso à frente do qual descansavam os mais variados espécimes da juventude moderna. Aquilo era brincos, piercings e rastas, tatuagens e penteados de toda a maneira e feitio, numa boa onda incrível e eu completamente extasiado, sem conseguir descobrir como tudo aquilo tinha sido possível. Perguntei pelo campismo e vi magotes de jovens com grades de minis geladas a tiracolo e miúdas bem giras, semi-desnudas a montarem a tenda debaixo de uma pereiras. Ao canto, alguns jovens matavam umas cobras e uns lagartos que assustavam a vizinhança, mas não sem eu os ter avisado que isto era Parque Natural e não podíamos permitir maus-tratos aos bichinhos.

Um cheiro intenso a rosmaninho e a eucalipto anunciavam a festa. Perguntei quem eram os cabeças-de-cartaz e quase caí de cú quando me disseram que era o Jimi Hendrix e a sua “Band of Gypsys”. Brutal! Passei-me completamente e pensei logo em ligar para casa a dizer não só não ia jantar como também não ia dormir nos próximos sei-lá-quantos-dias, até aquilo acabar, vá! Ena meu, que alegria, a comer aquela euforia toda e a encontrar pessoal amigo e tantos desconhecidos que já haveriam de ser cá da casa quando tudo levantasse arrais.


Dizia para comigo, “eu sabia! Eu sabia que isto ia pegar”.

Foi então que decidi ir falar com a organização para os felicitar e colocar os préstimos da câmara ao dispor. As minhas demandas encaminharam-me para um quiosque no meio do mato, pintado de todas as cores, com muitos hippies à porta, todos eles com ar amigável. Lá dentro, apresentaram-me ao responsável que era um tipo muita grande que falava ao telefone sem parar. Eu a dar-lhe os parabéns e a dizer-lhe que estava tudo maravilhoso e que para mim aquilo vá, era um sonho… e o gajo nada! Vai de falar ao telefone, a marcar com este e a desmarcar com aquele e eram só grandes nomes (para quem consegue ressuscitar o pai Jimmy, nada é impossível!). Como a conversa não dava atilho, lembrei-me de ir beber uma mini (com álcool, claro!) na taberna que tinha nascido a uns metros dali de um dia para o outro. No caminho, tropecei num pedregulho e quando levantei a cabeça vi a cara da minha filha a um palmo de distância, a dizer “pai, acorda!” e quando olhei para o lado já só vi os cortinados. Ainda meti a mão no bolso do pijama, numa vaga esperança de encontrar os bilhetes que tinha acabado de comprar mas nada. Nem o troco, sequer! Logo agora que estava tudo tão bom…

Eu tiro o tubo!

Para me esquecer do desalento, dirigi-me para a cozinha onde lhe preparei o “pequeno-almoço-de-princesa-nº 2” que inclui duas torradas de pão de forma com manteiga de vaca e uma chávena de mokambo meio escurinha e bem quentinha. Quando estava meio da coisa, começo a ouvir um “cccccccchhhhhhhhhhhhhh” muito intenso e eu assim a pensar, “ena pai, o que chove!”. Confirmando pela janela, vi o céu limpo e nada! O “cccccccchhhhhhhhhhhhhh” tinha de ser de outro lado qualquer. Como me parecia água, fui ver se era do autoclismo mas não me pude demorar com as averiguações porque já tinha a torradeira aos gritos. Digo, bem, primeiro entrego a merenda e depois já vejo. Foram os minutos que demoraram esse “já vejo” que me amolaram. Seguindo o barulhinho, pensei num bicharoco dentro do armário, mas não, olha, tinha sido um tubo da água que rebentou e já me tinha o móvel com perfumes, pentes, lenços de papel e outras miudezas a boiarem como se estivessem a bordo do Titanic. Bem engraçado! Primeiro levo uma nega do festival e meia-hora depois estou armado em Super Mário 2, de cú para o ar a tentar estancar a hemorrogia aquela que eu nunca pensei que um tubo tão pequenino pudesse levar tanta água. A hora que se seguiu, a salvar o que pudesse como o Noé e a tentar retirar a torneira também foi uma maneira bem engraçada de começar o último dia do fim-de-semana. A bacia, ainda lá está, esventrada, à espera de levar a prótese que lhe falta.

Para mim, foi a prova que confirma um dos meus maiores medos, o de um dia sair da minha casa, deixar lá todos os meus pertences e não encontrar nada ao regressar. Estes acidentes naturais, tipo fogos, inundações e afins, trespassam a minha mente todos os dias, no milésimo de segundo em que rodo a chave antes de sair. Se em vez de ter sido agora, tivesse sido quando estivesse a trabalhar, o desfecho podia ser bem diferente e isto sim que assusta, só de pensar.

Sentinela!



Por falar em figuras bíblicas, ao chegar ao pé da viatura, reparei que as últimas mudanças bruscas de temperatura trouxeram não só a geada de volta, mas também os seus primos jeovás, como os que deixaram no vidro de trás, o último exemplar da “Sentinela”, datado de 1 de Abril de 2008. Bela publicação esta! Na primeira página perguntava a letras garrafais, “O que é o Armagedom?” e eu pensei para comigo que não sabia bem o que será mas que a minha manhã deveria de estar a ser bem parecida. Perdi algum tempo a ver aquilo e está engraçada. Nela aprendi as palavras sábias, “Procurai a justiça, procurai a mansidão”, exortadas pelo profeta Sofonias (Sofonias 2:3), numa altura em que o profeta perdia incompreensivelmente por 3 bolas a duas quando jogava em casa, perante os seus adeptos e toda a torcida local.

Agora que penso nisso, nunca compreendi porque é que estes Jeovás são tão perseguidos, os pobres, quando também gostam do Jesus. Estou capaz de escrever para a Rua Conde Barão, 511, P-2645-109 Alcabideche, a ver se me podem explicar. Isto se não incomodar muito, é claro.


A Pequim 2008


Na Beirã, no Torneio de Malha organizado pela Associação BTT “ Rota das Antas” e pelos Jogos Tradicionais, confirmo que a Malha deveria de ser um desporto olímpico, quanto mais não seja, pelo facto de cada vez que se avança numa eliminatória, vencedores e vencidos se deslocarem ao balcão do bar montado a escassos metros para juntos, malharem uma rodada de minis ou de calmeirões de vinho tinto e uma bifana com mostarda partidinha em 4. Não é adorável? Não consigo imaginar uma outra modalidade passível de conseguir ajudar a fazer as pazes entre a China e o Tibete. Os monges, depois de derrubarem o último “chito” com uma malha certeira, convidariam os soldados do território dominante a beberem “saké” e a comerem uma carpa crua esquartejada em pedacinhos. Às vezes, os grandes males, têm tão pequenas soluções…

No tapete…


Por falar em Jogos Olímpicos, gostei de assistir aos últimos combates do Europeu de Judo que decorreu em Lisboa, no Pavilhão Atlântico.

Não gostei foi de ver o Laurentino Dias a entregar as medalhas de uma cerimónia tão solene, assim em mangas de camisa. Eu que não sou propriamente um adepto de protocolos, não gostei de ver mas prontos, são modernices. O chefe dele, aquele que tem nome de filósofo e não gosta que a malta nova ande com acessórios metálicos, também não devida de permitir estas confianças, mas ninguém é perfeito.

Vi as senhoras a lutarem e prova final dos homens com uns bisontes que pesavam mais de 100 quilos e devem de comer para aí uns 300 papossecos com marmelada ao pequeno-almoço. Devem ter sido criados a peito até aos 9 anos porque se um daqueles me caísse em cima, eu tinha o ataque de asma do século e só saía de lá enfiado num saco preto. Mas é giro. Cada combate dura quatro minutos e tal, desses todos, gastam 3 agarrados, a rosnar um para o outro e de repente, há o que mete o pé e lá vai o outro de cangalhas. Pensei que a nossa sociedade é injusta. Castigamos os colegas da minha filha que andam na escola a rasteirarem os companheiros e damos medalhas de ouro a estes que levam o tempo todo a fazer o mesmo, ainda por cima de pijama e em público. Vá-se lá perceber…

No entanto, não há coisa que me comova mais que ver um atleta a ouvir o hino no pódio, de medalha ao peito, enquanto é hasteada a bandeira do seu país. Não é por nada mas se repararem bem, na expressão do olhar que fazem nesse instante, vêem-se as horas de treino e os sacrifícios todos evaporarem-se numa lágrima fugidia que transforma a expressão num sorriso de “valeu a pena!”.

É bonito.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Morreram gordinhos…


Os lagartitos já dançaram.

Faltou-lhes garra e atitude, genica para resolver o jogo nos primeiros 45.

É verdade que se podem queixar da falta de sorte, sobretudo no barrote de cabeça do “Levezinho” ao poste e nas 3 ou 4 bolas que rasaram a baliza escocesa.

Depois os outros, mais duros, mais trabucos, mais limitados, mais caceteiros, foram lá abaixo no contra-ataque e comeram-lhe os pintainhos. Hipnotizaram-nos, fizeram-se falsos lentos e na primeira oportunidade, roeram-lhe a corda.

Ao cair do pano, um perda de bola incrível, uma inacreditavelmente óbvia jogada individual e a estocada final.

Hoje, eu estava a torcer pelos lagartos e até acho que trabalharam mais que o Glasgow para vencer a partida.

Logo hoje, que eu torci por eles… perderam.

Também digo, não é grande mal que venha ao mundo.

Cheers!

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Toma lá, dá cá!


O nosso país é profícuo em gajos que se armam ao pingarelho, a pensarem que sabem tudo sobre todos.

É por isso que eu não gosto do Professor Marcelo. O gajo até pode saber muito, mas aquele ar de sabichão, de olhos esbugalhados, a falar aos gritos como se estivesse a ter uma síncope cardíaca, tira-lhe toda a credibilidade.

Se fosse da minha turma no Liceu… fazia questão de não lhe falar e jamais me sentaria ao seu lado. O gajo leva os dias a mandar gafanhotos.

Durante o meu curso, não raras vezes me ensinaram que a verdade dos factos até é bastante simples e facilmente desmontável.

Quero eu dizer com isto que é muito provável que ouçamos uma boa análise social ao balcão da Tasca do Papagaio, num bairro social qualquer, numa converseta de fim de tarde de um grupo de operários da construção civil, enquanto “malham” mais uma grade de minis e arrematam umas “punhetas de bacalhau”. É bem provável que os ouçamos dizer algo que é muito verdade e que faz todo o sentido. Às vezes até é mais provável ouvir ali verdade, que num desses programas de televisão onde alguns urubus vão passear as novas plumagens.

As coisas são simples e até uma criança as entende.

Na 1ª página do insuspeito Expresso deste sábado, diz assim: “Coelho deu à Mota-Engil os maiores negócios das SCUT.

Não há ilegalidade, mas há muita promiscuidade. A construtora passa a ter dois ex-ministros e um ex-secretário de Estado das Obras Públicas na direcção.

Jorge Coelho está a dias de se tornar presidente da maior construtora portuguesa, empresa com que negociou, enquanto ministro, concessões superiores a mil milhões de euros.

João Cravinho, também ex-ministro das Obras Públicas do PS, sem querer particularizar o caso, considera intolerável que quem define parcerias com privadas, vá depois gerir esses interesses. Mas a Mota-Engil é uma empresa de ex-governantes”.

Meus amigos, Portugal no seu melhor!

Já dizia o velhinho Lincon “Podes enganar todos durante algum tempo; ou enganar alguns, o tempo todo; mas não podes enganar todos, o tempo todo”.

Mistérios insondáveis dos nossos tempos: os japoneses


De quando em quando, em Marvão, surgem catadupas de japoneses.

Muito frágeis, muito pequeninos, muito pálidos, muito velhinhos e vestidos com cores garridas, surgem silenciosos assim aos magotes e espalham-se por cada recanto da nossa vila.

Já me apercebi que aparecem mais nos dias de nevoeiro.

Como nunca os vi chegar de autocarro, de táxi ou avião, sou levado a pensar que brotam assim do subsolo depois de atravessarem a terra inteira, só para visitarem a nossa vila.

E a minha pergunta é:

Se o Japão é um dos países mais industrializados do mundo, se é uma das maiores potências planetárias no que diz respeito às novas tecnologias, se é provavelmente um dos sítios onde se podem comprar os últimos gadgets aos preços da uva mijona, o que significa que qualquer um pode ter uma máquina fotográfica Nikon topo de gama em cada janela do apartamento…

PORQUE RAIO É QUE OS GAJOS LEVAM OS DIAS SENTADOS EM BANQUINHOS A DESENHAREM AS RUAS EM FOLHINHAS BRANCAS SEM DIZEREM NADA O DIA INTEIRO COMO SE FOSSEM ESTÁTUAS EM VEZ DE TIRAREM UM FOTOGRAFIA E PASSEAREM?!?!?!?!?!??!?!?

Se Cristo regressasse à terra… esta era uma das perguntas óbvias na conferência de imprensa, no novo aeroporto de Alcochete.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Glória e Devoção (no Paraíso do Rock)


Uma série de compromissos inadiáveis, de marcações há muito combinadas e de programas circunstanciais atrasaram este texto num total de horas suficientes para preencherem 3 dias.

Apesar do delay, prometi a mim próprio que esta memória não havia de me escapar e deveria sobreviver nem que fosse para plasmar para a posteridade a magnificência deste notável episódio que tive a honra de presenciar.

Tudo isto acerca do concerto de Sexta-Feira no Centro de Artes do Espectáculo de Portalegre, integrado na tournée nacional dos Wraygunn, promovendo o seu último trabalho, “Shangri-La”.

Para reencontrar o fio que me há-de levar a esta meada dourada, viajo no tempo e recordo o percurso de regresso a casa, ainda mal refeito das tantas emoções vividas.

Aqueles que fizeram a si próprios o favor de não perder este programa, compreender-me-ão certamente quando digo que aquele ovni que trespassou as nossas vidas não foi um concerto mas antes mais uma celebração da música em todo o seu deslumbrante e infinito esplendor.

Começo com um postulado incontornável: os Wraygunn são a mais diabólica e demolidora máquina de rock’n’roll que estas terras lusas pariram um dia e se algumas dúvidas restassem, dissiparam-se por completo naquela noite.

A sala estava envergonhada e longe de lotada o que me fez lamentar por saber que na minha cidade natal e na região circundante, nem sempre sabemos merecer aquilo a que temos direito.

Paulo Furtado, vocalista e mentor, fundador dos extintos e já míticos Tédio Boys, também conhecido como o “Lendário Homem-Tigre” (traduzindo o intraduzível), entrou sorrateiro e abriu caminho aos comparsas que se lhe juntaram numa entrada de luxo com “Gambling Man”. Dirigindo-se aos presentes, libertou-nos das amarras e da tortura de permanecermos sentados e convidou-nos a tomar a dianteira, quebrando o gelo e todos os protocolos.

Os bem esgalhados “Keep on Prayin’” e “Love is My New Drug” desfilaram já a escassos centímetros dos nossos olhos, com a respiração e a trepidação ao rubro. Os espasmos sónicos deram então lugar ao belíssimo “Hula Hoop Woman” que me foi dedicado num gesto que muito me honrou e se explica pela ligação que a banda tem a Marvão, onde compôs este seu último trabalho, numa resposta a um convite /desafio que lhes lancei quando foram cabeças-de-cartaz do primeiro “Marvão Rockfest”.

De seguida, Selma Uamusse disse “No more, My Lord”, numa interpretação de arrepiar, sobretudo quando assim tão perto, espalhando pela sala uma vibração gospel directa do delta do Mississipi. “Everything’s Gonna Be Ok”, “She’s a Go-Go Dancer” (o hit dançável) e o emblemático “Drunk or Stoned” incendiaram os mais renitentes e por esta altura, mesmo os mais envergonhados, mal podiam aceitar a sua condição sentada.

De seguida, desfilou “Lady Luck” e durante “ Work me Out”, o momento da noite… A rapaziada da organização não parava quieta porque a proximidade e a vibração do pessoal junto ao palco estavam a desconjuntar a parte da frente da boca de cena. Quanto mais teimavam em encaixar os suportes de madeira, mais depressa eles tombavam para a frente até que um mais afoito, foi encostando a malta aos assentos, interditando a presença na parte frontal. Furtado, como um verdadeiro mestre de cerimónias, interrompe a locomotiva sonora e questiona o excesso de zelo do funcionário:

“O que é que se passa?”, perguntou perante a gargalhada geral.

“Não podem estar aqui”, respondeu o moço, atrapalhado.

“Ai não? Então e porquê?”.

“Olhe, porque há aqui uns motores debaixo e isto está sempre a cair…”

“Ai sim? Não podem estar aí, é?”

“Não”.

“Então bute cá pra cima!” e lá vai a malta toda pró meio dos músicos dançar e cantar e gritar as “Love Letters From a Muthafucka” como eu nunca as sonhei.

No meio de toda aquela loucura, quando provavelmente já havia mais gente em cima do palco que nas cadeiras, Furtado pede um uísque que lhe sirvo sem gelo e partilha a garrafa de Jameson (patrocinador oficial), com o gang em volta. Por esta altura, pisando cabos, pergunto ao baixista Sérgio Cardoso se estou ali bem, ao que me responde “Tu? Estás! E eu? Estou bem?”, deixando-me mesmo sem resposta. Com órgãos, vozes, pratos, guitarras, congas e baterias em alta velocidade, sinto-me como um puto na entrada da Disneylândia e mal me consigo manter firme de tanto andamento.

Descemos de novo para uma “All Night Long” que foi mesmo de extensa desbunda com Furtado a saltar do palco, a dançar entre a maralha, a inventar solos dedilhados, a trepar por cima das cadeiras até à mesa de som e a regressar em voo ao palco para terminar em glória bem no alto do equipamento, onde emborcou de penálti o que restava na garrafa.

As palmas e os assobias pediram um encore que começou com umas fantasmagóricas e hipnotizantes “Rusty Ways”, desfiou o “Ain’t it Nice?” de abertura de “Shangri-la” e terminou em apoteose com “You Really Got Me”, um original dos Kinks, de 1964 que foi a cereja que coroou este delicioso bolo de creme e natas.

Fuckin’ Amazing!

Subi as escadas com as pernas ainda a darem de si mas a tempo de assistir à sessão de Dj de Furtado e Francisco Correia, o manipulador sonoro de serviço, na qual desfilaram glórias desta música tão velha mas sempre eternamente nova. Tempo para Cash, Chuck Berry e outras lendas já finadas que não entram nos gostos refinados das batucadas que agora tomaram conta das pistas de dança.

Notas soltas mas imprescindíveis para a fabulosa secção rítmica de Pedro Pinto (sempre simpático, afável e humilde) e João Doce (o meu muy estimado quinto, também nascido em 73 e que não esqueceu o champanhe que bebemos na Portagem, creio que no seu aniversário!); e “last but not least” para as poderosas Selma e Raquel Ralha com uma voz, um classe, um estilo e uma qualidade absolutamente esmagadoras. Talento e sensualidade de fazerem corar qualquer Bond girl. Delirantes!

E assim, fazendo aqui um pouco o papel de Victor Gomes, dos Gatos Negros, o cicerone para o vídeo de “Go-Go Dancer”… e assim, dizia eu, meninos e meninas, se escreve esta página gloriosa dos serões musicais da nossa cidade.

Meus estimados, valeu mesmo tanto a pena.

Aos Wraygunn, digo aquilo que escrevi há dias num sms ao Paulo, quando pela primeira vez tive o disco nas minhas mãos: “Muita força, muita luz e que a estrela-guia do Rock vos proteja sempre porque vocês merecem!”

Hell Yeah!


Nota: Só para verem o nível... a pérola que é o spot promocional da tournée 2008. Muito à frente!

terça-feira, 1 de abril de 2008

Caso “Dámutélémóbele!”

Olhá belha! A belha bai cair! Altamiente!

O país indigna-se com o caso da jovem aluna da Carolina Michaelis que não deixa a setôra sacar-lhe o telemóvel.

Hordas de indignados semeiam ondas de crispação por todo o país.

Eu cá… de quem tenho mesmo pena, não é da cachopa, nem da docente, mas sim da tia-avó da menina que lhe ofereceu no Natal passado, o dito aparelho que esteve na origem desta enorme confusão.

A senhora, uma solteirona que vive sozinha para os lados dos Olivais e trabalha como telefonista numa firma de pisa-papéis, andou a amealhar aquilo que não lhe sobrava do parco salário que aufere mensalmente para dar à afilhada aquilo que ela mais queria, e sai-lhe isto na rifa. Tantos meses de privação, tantas tardes sem lanchar o pastelinho de nata e o galão que tanto a consolavam (à falta de outra coisa mais… carnal) e rifam-lhe uma desfeita destas.

Inconsolável, imersa no desgosto que a sufocava de emoção, decidiu meter-se debaixo do eléctrico. Não um daqueles que ainda circulam, pitorescos, pelos carris das ruas da capital, mas antes do Sr. Eléctrico, o viúvo proprietário de uma drogaria que vive no andar de cima. Como pesa 135 quilos em cada pata… o resultado deve de ser o mesmo que se se metesse debaixo de um dos verdadeiros.

Paz à sua alma…

Nota do redactor: A mim, choca-me tanta hipocrisia. Não percebo o alarido. Há 20 anos atrás… há 20 anos atrás, em 1988, quando os Xutos lançaram um álbum com esse mesmo nome e eu contava 14 catorze Primaveras, já nós trancávamos algumas professoras nas salas durante a hora de almoço, para ver se acalmavam do stress dos últimos 45 minutos, as pobres coitadas…

Duas décadas volvidas, vejam só onde nós estamos.

Ai a vida, a vida…

Mas se já nos anos 50 assim era. Será que nunca ninguém viu o “Blackboard Jungle” na vida? Pelô amô di Deussss! Está lá tudinho!


Calma rapaziada…

O “generation gap” é o mesmo, só que desta vez é mais… tecnológico.

Como o choque do nosso Sócrates.

Sosseguem que isto, digo-vos eu, não é para tanto.
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Nota 2: O video sem cortes e censura, puro e duro, impróprio para cardíacos.
E para maiores de 18.
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Top Disco: Video Kids - Woodpeckers from space


A minha vida mudou desde que reencontrei o Engenheiro Sousa Veloso no anúncio da Compal.

O homem não me sai da cabeça e até em sonhos o revejo, caminhando por entre campos cheios de árvores de fruto, declamando-me palavras sábias que me ensinam, por exemplo, qual a melhor altura para plantar betenrrabas.

Eu sei que isto pode ser princípio de Alzheimer ou qualquer coisa ainda mais pior má, eu sei lá, mas isto deu-me a ideia de uma nova rubrica, o “Top Disco”, onde iremos recordar os vídeos que fazem a banda sonora da nossa vida.

Não imagino melhor item de abertura que o fabuloso “Woodpeckers from Space” dos Video Kids. Nos anos 80, a ganza era pouca mas de altíssima qualidade e de Marrocos. Só assim se explica…

Quem é que ainda se lembra disto??????????