quinta-feira, 29 de maio de 2008

quarta-feira, 28 de maio de 2008

E Maio trouxe Novembro

Marvão visto da Abegoa, hoje às 9 da manhã.
Ou melhor, o que não se via de Marvão.

An island in the mist


Preso no carro pelo dilúvio.


E Maio trouxe Novembro.
Agora o pessoal já vai acreditando que temos andado a abusar. As fábricas, os carros, os aerossóis, o caraças!

Afinal, as alterações climáticas não acontecem apenas nos dvds do Al Gore nem são coisas só dos países que ficam do outro lado do planeta.

Agora já nos vamos convencendo que esta merda está mesmo toda ao contrário.

O mês de Maio que tradicionalmente abre as portas para o Verão de Junho transformou-se agora num Inverno rigoroso.

Quando já apetecem as tardes longas nas esplanadas, as noites quentes de luar, as manhãs viçosas, os dias intermináveis… nevoeiro e mais nevoeiro, cacimba, granizo e aguaceiros, nuvens negras e céus cinzentos.

Nesta fase do ano, olhar a paisagem de Marvão costuma ser como ver uma gigantesca manta de retalhos com quadradinhos de todas as cores espalhados ao longo dos campos. Neste ano, é um cenário verdadeiramente lúgubre, com uns espessos e ameaçadores lençóis de chuva e umas colunas roxas que ligam a terra aos altos mais do que negros.

A janelinha do gabinete que costuma estar aberta para ver os turistas passar? Fechada!

A esplanada por estrear no pátio das traseiras? Encaixotada!

E as t-shirts? E as modas novas para o calor? Coitadinhas… aprisionadas nos armários, a mostrarem a língua às traças que se escondem nas recargas vazias de naftalina.

Uma tristeza! Um desgosto isto, pá!

Anda todágente à nora, sisuda e cabisbaixa, a dizer mal dos astros. Nós, os latinos, que precisamos de sol e luz como alimento para a boquinha, vamos murchando como as flores do quintal, sem vida, sem força, sem alento.

Em vez de sorrisos, olheiras!
Em vez de havainas, botas caneleiras!
Em vez de camisinhas de braceletes, sobretudos!
Em vez de calções, capotes!

Há até quem diga que o próprio Borda D’Água, o gajo que escreve o almanaque dos agricultores, se pendurou dum barrote da cozinha do lume na casa da sogra.

As imperiais e os tremoços bem podem esperar. Isto está mais é para chá e torradas.

E eu feito parvo a pensar e a dizer que estou a pensar fazer a Festa da Castanha na semana que vem. Até que não era mal pensado.

Peço aos Deuses do Olimpo e ao São Anthímio de Azevedo que resolvam esta cegada de uma vez por todas.

Eu faço jus à velha máxima: “se não os consegues vencer…”.

Amanhã vou de gola alta e fato de água.
ESTOU FARTO DA CHUVA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

terça-feira, 27 de maio de 2008

Os Homens do Leme




Para mim, o concerto dos Xutos e Pontapés no dia da cidade foi um acontecimento verdadeiramente histórico.

E vejam bem que eu nem estava para ir. Meteu-se-me na cabeça que tinha nessa Sexta-Feira um jantar há muito agendado que afinal é só nesta próxima semana e estava convencido que não dava para ir.

Mas depois, as coisas encaminharam-se e até já estava disposto marcar presença no Estádio Municipal, quando soube que devido ao mau tempo, o espectáculo tinha sido deslocalizado, digamos assim, para o Centro de Artes do Espectáculo que comporta apenas 500 almas. Em função disto, era necessário e urgente conseguir um ingresso e nestas coisas, dá sempre jeito ter alguém conhecido e quando esse alguém é o agente responsável pela vinda dos Xutos a Portalegre, tanto melhor.

Por esta altura, já não é novidade para ninguém que a música para mim é muito mais que sons agradáveis que me entram no ouvido. A música faz parte integrante da minha vida e eu sem música era como um filme sem banda sonora. Há músicas que me remetem imediatamente para momentos da minha vida e não consigo pensar num tempo do meu viver sem pensar no tema que me acompanhava então.

Os Xutos, são os Xutos e eu acho que, por estranho que me pareça agora, só os tinha visto uma vez ao vivo, precisamente nas Carreiras, quando começaram a ser conhecidos, aí há uns bons 20 anos atrás.

Há duas bandas, duas apenas que eu considero como sendo mesmo minhas contemporâneas, por terem nascido durante a minha existência e por eu as ter sempre acompanhado a par e passo, disco a disco: os U2, que vi em Lisboa durante a Zoo TV Tour, quando renasceram e se reinventaram; e os Xutos e Pontapés.

Devo ter ouvido o Circo de Feras umas boas centenas de vezes, numa altura em que não teria certamente um único pêlo não só na barba, mas no corpo todo. Na fase em que o disco saiu, aquilo para mim era o fim do mundo porque o que aqueles gajos me diziam quando metia a rodela de vinil a tocar na minha velhinha aparelhagem “Namco” era tudo para mim. Ainda hoje tenho em mente o line-up, cada acorde, cada sílaba e cada respiração, cada poema e cada significado. Os Xutos ficaram sempre e para sempre.

Depois do “88”, não estivemos muito mais de acordo, muito menos com alguns êxitos mais recentes como a música da “Tentação” e o “Ai se ele cai”, mas aquela pinta de gajos porreiros, de “Rolling Stones” cá do burgo, sempre me cativou.

Soube que o concerto ia ser meio acústico, dadas as condições da sala, mas nem eu sabia bem para o que ia.

Para já, pareceu-me logo que a transferência de um concerto de Dia da Cidade, gratuito e aberto a toda a população, de um estádio para uma sala muito mais pequena, ia ser uma medida extremamente anti-popular. A malta estava toda com a “pica” de ir curtir para o relvado e de repente, bateu com o nariz na porta, o que não deve ter sido nada agradável, mas para mim, e permitam-me que seja só um pouquinho egoísta, foi mesmo muito bestial.

Quando entrei na sala, ia-me dando uma coisa ruim. A média de idades não deveria ultrapassar os 14 ou 15 anos e aquilo parecia um ninho de adolescentes. Era só putos, meu! Até me passei! Enquanto me encaminhava para o lugar, ainda olhei em redor para ver se reconhecia algum rosto familiar, assim mais da minha geração e por sorte calhou-me um bem ao meu lado, o da minha querida amiga e colega de tempo de Liceu, Cláudia Azedo. E eu disse-lhe, “já vistes bem? Estamos ultra-cotas! Isto é só pardalada, valha-me Deus!”. Mas a coisa andou e aconteceu e o que mais me espantou de tudo foi ver a forma como esta rapaziada que se fartou de pedir autógrafos a uma actriz dos Morangos com Açúcar que estava ali mesmo ao lado, se comportou depois durante o concerto. Aderiram todos de forma massiva, aos pulos e gritos, acompanhando as letras todas, transformando o CAEP numa verdadeira celebração do Rock’n’Roll. Uma festa!!!

Os Xutos entraram de mansinho e pareceu-me que lhes custou passar de um concerto “em grande” para uma sala mais pequena. Adoptaram, de facto, o formato meio acústico / meio elétrico e a coisa correu às mil maravilhas.

É um cena do caraças, o dar de caras com estes bacanos que foram e ainda são hoje, autênticos heróis para mim. Ver o Tim (tão gordo), o Zé Pedro (tão calminho e tão sóbrio), o João Cabeleira (ainda e sempre no outro mundo), o Gui (bem velhote) e essa máquina de guerra chamada Kalu, é sempre uma emoção enorme. Aquilo contagia, pá! Eu estava capaz de estar a vida inteira a ver aquele homem a tocar bateria porque fâ-lo com uma recreação e uma paixão tamanha que aquilo é lindo de se ver. Ele desfruta de cada batida como se fosse a última e isso é tão bonito. Um verdadeiro animal de palco, um rocker sagrado.

Quando dou por mim de caras àquela pandilha, é impossível resistir, não bater o pé e cantar aquelas letras que tanto me ensinaram e das quais já nem eu sabia que ainda me recordava. Quando canto com eles e saem das nossas bocas as mesmas palavras, esqueço-me que sou pai e marido e Vice-Presidente de uma Câmara e Funcionário das Finanças. Quando canto e sorrio com eles, sou apenas o Pedro e volto na minha mente ao meu quarto de adolescente, gritando contra as paredes tudo aquilo que eu queria e não percebia e fazia por entender.

Os Xutos são o melhor manual de sobrevivência adolescente escrito em língua portuguesa e é por isso que eles são para esta geração de Moranguitos, aquilo que foram para mim também. Só que na altura, quando tudo aquilo começou, eu estava lá.

O “78/82”, o “Cerco”, o “Circo de Feras” (já em pleno boom) e o “88” (tinha eu 15 anos!), as suas obras lapidares e imaculadas foram pilares elementares da minha puberdade e entrada na idade adulta. Um compêndio de libertação e revolta que ecoava de Lisboa para os jovens de todo o país.

Ainda o tentei desencaminhar, ainda lhe liguei mas não consegui levar comigo o meu Bananita, meu coleguinha que sempre foi também tão fã quanto eu. Ainda me lembro quando fomos à papelaria do Sr. Roque, na Carreira de Cima em Castelo de Vide, andávamos prái no 8º ano, comprar a cassete do “7º Single” onde vinha “A Casinha”, o “Sou bom” e “A minha aventura homossexual com o General Custer”, um instrumental western avacalhado que nos punha os cabelos em pé.

Os Xutos são intemporais e provaram-no no concerto de hoje. Quando cruzamos uma vez os braços e fazemos o sinal do “x” não precisamos de andar assim a vida inteira, mas o mais certo é que a marca nunca mais saia.

O som estava bom, a iluminação idem, o palco simples e sóbrio, o cenário aconchegante, enfim, à maneira.

Dos momentos altos, eu guardo todos os do “Circo” (“Esta Cidade”, “N’América”, “Vida Malvada”, “Circo de Feras”); o “Á minha maneira” (que fez rebentar a sala) e as “Torres da Cinciberlândia” do “88”; o “Homem do Leme” do “Cerco” e o “Remar, Remar”, o hino eterno.

Falhou aquela que é uma das minhas favoritas e que tu pediste em sms, Miguel, mas o “Enquanto a noite caiu” não passou mesmo por ali.

Fazendo as contas, do que eu me vou lembrar daqui a uns anos é da reacção avassaladora da chavalada, aos pulos no 1º balcão, ao ponto de eu estar mesmo a ver que ainda haviam de saltar cá para baixo.

Só para vocês verem a transversalidade da coisa, o meu companheiro de cadeira do lado direito, devia ter para aí uns 6 anos, sabia as músicas quase todas e fartou-se de tocar bateria com as mãos no ar. Eu com 34, ele prái com 5, e a dançarmos os dois lado a lado com o mesmo som. No final, o Kalu ofereceu-lhe as baquetes da bateria e o miúdo passou-se completamente.

Uma festa, uma enorme e intensa festa, foi o que foi!

Epá, f***-se! Valeu mesmo, mesmo, mesmo, muito a pensa.

“Aaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiii a minha vida!”


Sendo o Dia da Cidade e sendo este um dos hinos de rebelião mais impressionantes que os senhores nos ensinaram… “Esta cidade”...






Foi um concerto muito bem frequentado! Senhoras e senhores, por lá encontrei o Jel, o maior humorista português vivo. Um génio! Nem Gatos Fedorentos, nem Herman Josés, nem a merda dos Contemporâneos, nada disso! Mesmo nada disso! Vejam a Sic Radical, vejam “A Luta continua” e vejam o Jel em actuação. Memorável. E eu disse-lhe: “Anda, meu maluco. Estás à espera do quê? Vens para um concerto dos Xutos, o mais certo é seres reconhecido!”. E não é que o rapaz foi ultra-simpático, até me deu o número do telemóvel e ficou já apalavrada uma vinda dos Kalashnikov (a sua banda de hardcore) a Marvão, talvez na festa de Natal da Câmara. Eheh, eh! Até o perú saltava pela janela! Era uma boa maneira de fechar a última organizada por mim…



Disseram-me que alguém o ouviu contar ao Zé Pedro que a personagem que ele faz de drogado vai andar no Rock In Rio a ver da Amy Winehouse! Digam lá se isto não é de génio? Só desta cabeça! Este gajo é maior que o Papa!

Para fechar tudo com chave de ouro, ainda andei metido lá pelo backstage, pela mão da simpática Susaninha, que me encaminhou ao Eduardo, um roadie que é amigo do meu amigo Luís Bugalhão e me está, a sugestão deste último, a ilustrar a história do Beltrão “Cabeça de Limão”. Lembram-se? Pode ser que haja para aí novidades. Como diz o Bonga, “amigo do amigo, amigo é!” e é bem verdade. Pode ser que sim, pode ser que sim. A ver vamos.

Ai mãe, fui-me deitar tão regaladinho que parecia que me tinha saído a taluda.

Que belo serão!

Viva as Festas da Cidade! Viva!
Viva o Senhor Presidente Mata Cáceres e toda a sua Vereação! Viva!
Viva o CAEP! Viva!
Viva os Xutos e Pontapés! Viva!
Viva a Boa Gente de Portalegre! Viva!
Viva a minha cidade e o Liceu onde estudei! Viva!
Viva a árvore do Plátano e a Loja do Chinês! Viva!
Viva o Quiosque do Rossio e o Jardim da Corredoura! Viva!
Viva a Barraca do Lino que estava lá á porta do CAEP a vender cachorros! Viva!
Viva o Parque de Estacionamento aberto toda a noite! Viva!
Viva eu e viva tu e viva todos quantos estamos! Viva!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Correndo

Pôr-do-Sol frente à minha casa, em foto captada no final da corrida


Há dias, enquanto corria, lembrei-me que gostava de explicar às pessoas como me sinto feliz ao correr.

Gostava de explicar como me sinto vivo quando corro, com o coração a bombar na garganta e o sangue a percorrer o corpo todo.

Eu queria mesmo era que os outros experimentassem, nem que fosse por uns minutos, a alegria de percorrer os trilhos da minha terra, ao pôr-do-sol, com uma banda sonora de luxo nos ouvidos.

Ver o que eu vejo, ir onde eu vou, ouvir a música que eu ouço.

A felicidade sem grandes carros, grandes festas, sem grandes nada! Só uma sapatilhas confortáveis e muita força de vontade.

A televisão deu há uns anos um anúncio da Nike que me caiu no goto: mostrava pessoas correndo nos mais diversos cenários, apenas e só correndo e no final dizia: “You did a run today? Or you didn’t?”. (Fizeste uma corridinha hoje? Ou não?)


No fundo, a coisa nesta fase para mim, depois de quase um ano a treinar no mínimo 3 vezes por semana, de dia e de noite, no calor abrasador e no frio de rachar, ao sol e à chuva; resume-se a isto: Corri hoje? Ou não corri?

Para mim, correr, mais que um desporto, é um acto de afirmação e liberdade.

Querem vir comigo?


PS: Acompanham-nos os MGMT com a faixa “Kids”, do disco “Oracular Spectacular”, um dos registos absolutos do ano na minha selecção. Música do Séc. XXI, simplesmente brilhante.



terça-feira, 20 de maio de 2008

Let’s get physical!


Começam hoje as aulas de Aeróbica da Associação de Cultura e Acção Social de Marvão, que irão decorrer todas as semanas, às terças e sextas, das 19.30h às 20.30h, na Piscina Municipal Coberta de Santo António das Areias.

E é bem verdade que se alguma coisa mudou de há quase três anos para cá, muito tem também a ver com isto, com o facto de as pessoas de todas as idades do concelho e não só, terem agora ao seu dispor, um consideravelmente vasto leque de ofertas válidas para ocupar os seus tempos livres, com a prática de actividades saudáveis e pedagógicas.

Agora temos o Judo, a Dança Contemporânea, a Natação e o Teatro para os mais novos, para além das já existentes Escola de Música e o Futebol do GDA; o Yoga (às 2ªs e 5ªs) e a Aeróbica para o pessoal mais jovem e para os adultos, para além da já existente Ginástica Aquática. Muito por onde escolher, em diversos horários adaptados, para que não haja desculpas.

Por 20 euróis, que qualquer um está sem eles, todos podem ficar em forma com as 8 aulinhas por mês. Se fizerem bem as contas, são 2 moedas de euro mais uma de meio por lição, o que não é nada se atendermos a que dão direito a uma sala com todas as condições, espelhos incluídos, e direito ao duchezinho retemperador no final.

A senhora professora, com mais de 10 anos de experiência, dá-nos garantias de continuidade e estou certo que vai tudo ser um sucesso. As inscrições já vão nas 16 e tenho a certeza que vão aumentar à medida que o tempo passe.

E é bom isto, porque assim, fazendo desporto, evitamos as consultas nos médicos e até anda tudo com outro sorrisinho estampado no rosto.

Eu, desta vez, e até porque o público é exclusivamente feminino, vou dar a vez à esposa e vou ficar em casa com a cria. Mas se tudo fosse como no video do Eric Prydz, “ai mãezinha!”, nem que eu pagasse a uma babysitter, mas quem não falhava sei eu quem era…

“e 1, e 2, e 1 e 2 e 3 e 4… e 1, e 2, e 1 e 2 e 3 e 4…”



segunda-feira, 19 de maio de 2008

Histeria Lagarteira

Imagem que recebi via mms do meu irmão, com a legenda “A Taça é nossa!”.

É preciso estômago para aturar isto! Não basta já ter feito sócio o meu afilhado, à traição!


Eu devo mesmo ser um grande benfiquista e não digo isto apenas pela paixão que sei que sinto cá dentro, mas também pela reacção que o meu fervor clubístico desperta nos outros, sobretudo nos adeptos de clubes adversários do meu.

Tudo isto a propósito da vitória do Sporting na final da Taça de Portugal. Eu não sei o que é que deu na lagartada que decidiram todos fazer paragem obrigatória na caravana à minha porta. Eram não mais que dois ou três gatos pingados, ainda por cima espaçados entre si, mas fizeram com que isto aqui ao meu portão parecesse a casa da Santa da Ladeira…

Tocavam as buzinas, gritavam pelo Sporting, chamavam por mim, desafiando-me.

Eh,eh.

É claro que nem sequer me dei ao trabalho de ver quem era, mas imagino bem quem pudesse ter sido.

Totós!

E não me venham com a conversa de “ah, se fosses tu fazias o mesmo” porque em nenhum dos títulos que ganhámos recentemente (campeonato e taça), me meti feito parvo a tocar a buzina à porta de outros.

E o melhor disto tudo é que o jogo nem sequer era nada connosco, o que adensa ainda mais o mistério e causa verdadeira estranheza.

O Churchill, puta sabida, dizia que queria os amigos perto mas os inimigos mais perto ainda, para saber o que andavam a tramar. Eu até acho bonita esta manifestação digamos que… de respeito por parte da outra rapaziada. Que vos aproveite bem.

O jogo, à excepção do prolongamento, até foi uma bela merda. Uma verdadeira seca. Zero a zero no final dos 90. Se fosse com o Benfica, aquilo havia de ser golos a torto e a direito, nem que fosse na nossa baliza, mas ao menos a malta animava.

Como a minha filha me expulsou de casa, até fui ver o desafio no ninho do inimigo, bem no meio da lagartada, mas sem sequer abrir bico. É importante notar que não levei comigo nenhum artefacto provocatório, nada de cores garridas, nem equipamentos ou logos que pudessem ferir susceptibilidades. Fui de uma correcção louvável mas mesmo assim, não me escapei disto.

Vejam bem que até visionei a partida acompanhado do lagarto do meu irmão e nunca sequer disse nada, caraças! e vai na volta. Se tenho sabido… bem os tinha f****o a todos!

Pois bem, a essa meia dúzia de lagartos que andam para aí aos gritos: “Aproveitem-na bem, pá! Metam-na no tal sítio bem aconchegadinha! Olhem que pode muito bem ser a última!”.


PS: Eu até fiquei contente que o Porto tivesse perdido. Adorei ver o Lucho, o Bruno Alves e o Bosingwa a chorarem. Foi lindo! Mas se tivessem perdido as duas equipas, não tinha vindo mal nenhum ao mundo.

Vai uma tocha, Zé?


A semana que passou foi rica em acontecimentos nacionais e catástrofes internacionais mas de tudo o que eu vi nas notícias, do que mais gostei, para além da máscara de Carnaval que a Manuel Moura Guedes usa nesta nova encarnação televisiva, foi do episódio do cigarro do Sócrates.

O Sócrates é realmente um tipo fora-de-série e eu até compreendo que os líderes do PSD se auto-aniquilem perante ele. Não deve ser fácil ser oposição com este gajo.

Dizem as crónicas que quando atravessava o Atlântico ruma à Venezuela, o nosso Zé decidiu acender “uma baja” e “esbajear” um cigarrãozão em pleno voo. O rapaz é bem disposto, o rapaz estava à vontade e ia-se lá agora importar que a bordo seguissem também jornalistas e empresários que podiam não achar piada nenhuma a esta libertinagem? Mas o povo é velhaco, a coisa correu mal e alguém deu “com a boca no trombone” colocando o nosso PM em maus lençóis.

Agora vejam bem a ingratidão da coisa! O nosso Zé deu boleia àquela rapaziada toda para que pudessem fazer pela vida, noticiando ou negociando, e os grandes cabrões cuspiram na mão que lhes deu de comer.

Não se faz!

Apanhado neste imbróglio que a muitos assustaria, o nosso Zé jogou com a habitual tranquilidade e foi com cara de menino de coro e com a sua habitual naturalidade que fez o “mea culpa”. Bateu com a mãozita no peito, pediu perdão e deu a estocada final:

Como quem disse, “vejam bem esta pardalada a incomodar-me por causa dos cigarros”, chegou-se aos micros e anunciou: “Caros Portugueses, garanto-vos que nunca mais voltarei a fazer o mesmo porque decidi deixar de fumar”.

Vejam bem o nível! Ai querem guerra? Então fiquem com os cigarros todos! Bem José!

E fez mais! Dias depois, quando chegou com duas horas de atraso a um encontro de militantes socialistas em Braga, por ter passado pelas urgências do Hospital de Santo António no Porto a causa de um estado febril provocado por sintomas pré-gripais; usou uma ironia de fino recorte dizendo que o caso não era de cuidados e que também podiam descansar, uma vez que não se tratava de alguma síndrome de abstinência relativamente ao facto de há cinco dias não fumar.

Espertalhão, o bicho! Fica lá a remoê-las e quando pode, ferra a picada.

O gajo está forte e resiste e da maneira como corre, dificilmente sairá do poleiro como o Salazar. Este é muito pouco provável que caia da cadeira e nem nós queremos isso.

Há que saber lidar com ele, não fazer cedências e muito menos menosprezá-lo porque sabe bem o que anda cá a fazer.
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Bestial o cartoon de António Jorge Gonçalves para o Inimigo Público nº 243

Mamando o ouro negro com a "baja" detrás das costas...

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Tu... Leonor


A ideia deste vídeo surgiu-me da primeiríssima vez que ouvi esta música.

Era a primeira audição do novíssimo e brilhante disco da estreante Adele e eu tinha acabado de subir aquilo que eu chamo “a barreira” da Nave, um troço mais inclinado de um dos meus percursos.

Depois daquele duro desafio, quando retomava os níveis e recuperava a respiração, surgiu-me esta melodia belíssima e comecei a ver as imagens a desfilarem na minha frente. Pensei, “esta é a música perfeita para uma declaração de amor”. Parecia encaixar.

Andei dias e dias a matutar na ideia até que chegou a hora de mergulhar nos muitos, muitos gigas de fotos organizados por pastas ordenadas sequencialmente. Foi difícil a selecção de entre tantos momentos bons. Depois, de um monte saíram algumas e dali foram apuradas outras e acabou por ser uma escolha do momento, irrepetível portanto.

Acho que nem eu estava preparado para o resultado final que vi no escurinho da sala, com as mãos a tremer.

Não é fácil dizermos a alguém o quanto a amamos quando o amor é tão grande. Parece que há uma parte de nós que lhe custa sair, expor-se e deixar de ser só nossa.

Quis fazer uma prenda que tu pudesses ver e rever as vezes que quisesses quando compreenderes melhor o que está por trás. Agora, dizes-me só que a música é triste.

Não é querida. Afinal, até é bem alegre. E tem tudo a ver.

Já bem bastam as declarações que quis fazer e a vida não deixou.

Agora, hei-de sempre fazer todas as que puder. Sempre!

E esta é para ti.




É um crime perder “O Crime”




Continuo a minha missão de espalhar pelo mundo a palavra do jornal “O Crime”.

“O Crime” é cultura, “O Crime” é jornalismo de primeira água, “O Crime” contêm notícias de categoria e é uma excelente companhia para o seu dia-a-dia.

É certo que a leitura d’ “O Crime” não dispensa a consulta de outras publicações que o complementam, mas em nenhuma delas pode o leitor encontrar tão gostosa prosa.

“O Crime” é o meu refúgio, o meu álibi e já justificava uma cadeira no doutoramento em Comunicação Social de qualquer universidade que se preze.

Ahhh, “O Crime” é muito bom e este número 1345 é particularmente sumarento.

Em primeiro lugar porque traz na 1ª página, um destaque no topo para o Padre Frederico, essa mistura de vilão de banda desenhada com o Benny Hill que já faz parte do imaginário de qualquer amante do CSI. O reverendo acusa a Judite no caso Maddie e faz ele próprio uma análise capaz de deixar o Moita Flores de queixo “à banda”.

Muito espectacular também é a entrevista com um especialista do mundo do sexo que diz que as universitárias portuguesas vão facturar imenso em Pequim. João Alves da Costa, de 59 anos, autor de obras incontornáveis como “Portugal erótico” e “Mil lésbicas submarinas” fala-nos das orgias olímpicas e do dvd sensação que vai lançar com contactos de 92 mil acompanhantes sexuais de luxo do mundo inteiro. Fabuloso! Vou já ali encomendar!

Na página anterior, a história de Manuel Rodrigues, de 80 anos, morador do Bairro da Boavista, que não conseguia resistir à tentação e acumulou 20 toneladas de lixo em casa que levavam os vizinhos à loucura. O velhinho não podia passar por um engaço de maçã na rua que não tivesse de o levar para enfeitar a sala. “Havia ratazanas do tamanho de gatos”, confessou uma moradora, dando pistas para uma reportagem especial dedicada ao sobrenatural. Bem merece!

Vividamente real também a história da rede de funerárias nos Estados Unidos que roubava órgãos dos defuntos e os vendiam à peça. Grande peça de Emanuel Câmara.

E nas centrais, a estrela da companhia, a cerejinha no cimo do pastel, a reportagem de Luzinete Melo sobre a reencarnação, onde desmistifica aquilo que os nossos famosos foram em vidas anteriores. Ali pode saber que Cristiano Ronaldo foi uma pastora em Inglaterra, Luís Filipe Vieira foi uma serva das forças ocultas; o Pinto da Costa, uma cozinheira em Sumatra; o José Sócrates, um astrólogo na Ucrânia; a Manuela Ferreira Leite, um padre na Ucrânia; o Santana Lopes, um domador na Índia, o Herman José, um carrasco na Mongólia e o Tony Carreira, uma filósofa no Irão, como transparece aliás, das letras das suas canções mais orelhudas.

Ao ler isto, eu próprio tive uma revelação de que noutra encarnação fui o Sandokan porque levo a noite a sonhar com tigres da Malásia e com o Kabir Bedi de cuecas a cantar ópera.

“O Crime”…espectacular!

Da próxima vez, deite fora o Expresso e o Público e os demais pasquins da praça e converta-se à literatura de qualidade.

Uma nota final para o correio do leitor que é respondido pela boazona da Maria Odete, especialista de tudo e doutora em nada. A leitora Dulce Correia, de Cascais, escreveu que “o meu marido quer que lhe bata” (não disse foi onde e no quê, mas bem…) e a nossa Maria Odete respondeu-lhe à letra: “Vá com ele a um especialista mas enquanto aguarda… chegue-lhe a sério. Ao menos ele gosta e a minha amiga aproveita!”. Muito bom! Ninguém mais dá conselhos assim.

“O Crime” vale mesmo muito a pena.

Corra antes que esgote!

domingo, 11 de maio de 2008

Agora e sempre... o único e irrepetível Maestro


Nesta noite em que a época acabou na desgraça há já muito esperada, resta-nos prestar a devida guarda de honra ao nosso maestro que ainda assim conseguiu encher a catedral para a mais que merecida vénia.

O teu sorriso de menino…

Um senhor. Um cavalheiro. Um estratega brilhante e um prodígio com a redondinha nos pés.
Um gigantesco embaixador do Glorioso e um orgulho para a família benfiquista.

As tuas lágrimas contidas e emocionadas foram as nossas também.

Soubeste sempre, sempre estar à altura.
És grande!

Como dizia a faixa, e bem, “Obrigado pelo passado, pelo presente e pelo futuro”…

E tanta esperança que nós depositamos em ti para o que há-de vir.

Que Deus te abençoe sempre, campeão!

A vida por um canudo


Uma página da revista do semanário SOL que consegue meter dentro de uma frase muito daquilo que se pode dizer e pensar sobre os limites da sobrevivência e sobre a ambiguidade do conceito de felicidade.

Para o Miguel, um tubo serve…

Eu gostava de saber o que é que pensam disto, os yuppies que vivem nos apartamentos de muitos milhares do Parque das Nações, os que acumulam volvos e “bms” na garagem, só vestem fatos feitos por medida, coleccionam os gadgets da moda, vivem rodeados de alta tecnologia e fazem sempre férias no estrangeiro e ainda assim, se afogam em tranquilizantes e vivem em piloto-automático, sem conseguirem ser felizes por um segundo.

Novo fôlego


Fui convidado para ser mandatário concelhio da candidatura da Dr.ª Manuela Ferreira Leite à presidência do Partido Social Democrata e foi nessa qualidade que me desloquei ao Museu das Tapeçarias de Portalegre, para assistir à sessão pública de Sexta-Feira.

Quando já no átrio, uma menina de óculos de massa preta acompanhada de um cameraman pergunta-me o porquê do meu apoio e eu digo-lhe que a Dr.ª Ferreira Leite é, de todos os candidatos, a única que confere ao partido a credibilidade necessária para poder fazer frente à hegemonia socialista.

Depois do óbvio erro de casting de Menezes, depois da cinzenta prestação de Marques Mendes, depois do delírio Santanista e da fuga de Barroso, o partido precisava de alguém assim como de pão para a boca.

O seu precioso legado governativo, a intocável honestidade, o profundo sentido de estado, a imagem de seriedade e o enorme pragmatismo promoveram-na ao estatuto de potencial salvadora não só de um partido em escombros mas também do próprio país.

Muitos perguntarão ainda, mas que raio faz este gajo ali.

A minha relação com o PSD é de toda a vida e esta paixão, como as próprias devoções clubísticas, foi-me passada no seio familiar, sobretudo pela minha querida tia Cali que sempre acalentou uma admiração muito particular pelo partido.

Lembro-me bem do Sá Carneiro, lembro-me bem das notícias na noite da sua morte, lembro-me bem da Aliança Democrática com o CDS e o PPM, e desde então, eu e o partido, temos sido contemporâneos e crescemos lado a lado.

Recordo-me dos autocolantes do Mota Pinto, do Balsemão e da louca campanha às Presidenciais do Freitas do Amaral. Curiosamente, no período dourado do Cavaquismo, foi quando menos me senti próximo e quando andei mais arredado pelos lados mais à esquerda. Hoje sei olhar para trás e ver a importância do toque do professor que teve a particularidade mudar radicalmente a face do país.

Depois veio o Guterres, bom no início, justificando a transição, terrível no final. Após a célebre caída nas autárquicas parecia que voltaríamos ao de cima mas tudo foi por água abaixo com as deambulações que todos conhecemos de ginjeira.

Em termos locais, apoiei sempre Presidente Andrade, trabalhei imenso na candidatura de Joaquim Barbas em 2002, e candidatei-me como independente com o actual presidente, tendo chegado à Vice-Presidência com 32 anos.

Quando passou um ano da eleição, nesse preciso dia, tomei uma decisão: telefonei ao nosso Cabo-Chefe Simão, pedi-lhe uma ficha de inscrição e tornei-me militante. Reflecti muito sobre isso e decidi que dali não havia volta a dar e era hora de oficializar este casamento.

Apesar de não me rever nas manobras e jogadas actuais da Concelhia, mantenho-me como ser pensante e militante de pleno direito, com as quotas em dia, vivendo o meu partido com consciência.

Persiste hoje em dia uma ideia extremamente estereotipada daquilo que é ser de direita e de esquerda.

Eu digo que quando de extremos, tão má é uma como é outra e para tal basta metermos o Hitler de um lado do balancé e o Estaline do outro e estamos conversados.

Como as políticas estão hoje tão esbatidas, eu prefiro falar em social democracia e digo sempre que o MEU PSD, O MEU PSD, não é o do Alberto João Jardim, nem o do Isaltino Morais, nem o do Valentim Loureiro.

O MEU PSD é o PSD do Sá Carneiro, é aquele que é fiel à lógica inicial e tive hoje a certeza, é também o PSD da Manuela Ferreira Leite.

Num tom quase em família e com o sentido prático que lhe é de resto unanimemente reconhecido, provou a todos os presentes que quase enchiam o Auditório, porque razão o futura laranja passa inevitavelmente por ela.

Depois de analisar o crítico cenário político interno em que nos encontramos, enunciou as razões porque decidiu avançar e qual a linha orientadora da sua actuação, não contrária mas sim divergente da dos restantes candidatos.

A melhor notícia é que com Ferreira Leite, o PSD regressa ao espírito inicial e à pureza da Social Democracia, com a visão de um Estado longínquo do actual totalitarismo, que sabe incentivar e respeitar a iniciativa privada indispensável para uma economia florescente, que se preocupa sobretudo com os mais carenciados e os mais desfavorecidos.

Com Manuela Ferreira Leite o PSD afirma-se como um partido inter-classista, transversal a todos os extractos e a todas as facções da sociedade, repudiando visões de elites e minorias e bebendo da força de todos os que se congregam à sua volta.

Com este novo “velho” PSD, o indivíduo volta a estar no centro das políticas e o bem- estar do País sobrepõe-se a todas as outras realidades.

No contacto directo com a assistência, reconheceu que os governos, todos os Governos falharam nas políticas de gestão do território que resultaram nas actuais assimetrias; assegurou que caso vença irá trabalhar com todos os que estiverem disponíveis e que a solução de uma empreitada desta ordem de grandeza só se faz com equipas bem preparadas e motivadas.

Como corolário, uma frase que me ficou: “eu quero provar, nem que seja para experimentar, que também se ganham eleições dizendo sempre a verdade!”.

A sua frágil fisionomia solta uma mulher de garra e verdade que vai certamente, quando por sua conta e risco, dar muito que falar.

Nota de destaque para a apresentação brilhante de um António Borges pleno de carisma e confiança, com uma segurança contagiante apesar do aparatoso acidente de automóvel de que fora vítima nessa tarde, digno de deixar qualquer um a abanar mas que mal passou por ele. Notável!

Quanto a ti, será que é desta, Manuela? Será que é desta, PSD?

Ronaldo entorna o caldo


O episódio do Ronaldo com os travecas é pura delícia e merece uma chamada de atenção.

Quando a fama, a velocidade e a técnica, os amigos e os milhões se vão, fica o vazio.

Agora que só o cabelo e a barriga crescem e tudo o resto desce a pique, o craque bateu no fundo.

Operado em Fevereiro a uma lesão no joelho que o há-de “pôr-de-molho” durante 9 longos meses, o tareco procurou diversão para “levantar o astral” e vai daí, decidiu levar consigo as três bonequinhas que trazia debaixo de asa na boîte da barra do Tijuca onde passou a noite. Quando já no Motel, o homem solta a fera, manda-se à febras e quase morre de susto quando descobre que são “de chicote”.

Realmente não se faz! No meio de tanta desgraça, um gajo procura um aconchego e saem-lhe três carapaus destes na rifa quando a coisa estava meio encaminhada para o “bem bom”.

Decidido a levar avante o descontentamento, vira-se às majoretes e desanca-as num ensaio de porrada que só não vai mais longe porque as “meninas” saem em fila pirilau e passo de corrida em direcção à delegacia mais próxima.

“Tô contigo, ó rapaiz! Pensi que nem tudo é mau, pôxa! Afinau, você continua no Milan e a garota essa não podji engravidá! Não vai têr filho ilegítimo, não!”.

PS: Com uma carinha destas… as cervejas tinham mesmo de ser muitas!

sexta-feira, 9 de maio de 2008

A promessa


Prometi-lhe que acontecesse o que acontecesse, era eu quem a ia buscar hoje à escola.

Eu sabia que jamais se iria esquecer.

Foi por isso que não me surpreendi quando o telemóvel acusou o toque da Secretaria, ainda antes das 5 e meia.

“Está Pedro? Olhe… ela diz que é o pai que a vem buscar. Pediu-me para lhe ligar… Diz que hoje não é a avó… é o pai. E como não se cala… é que o professor de ginástica faltou e ela já está despachada…”.

“Vou num momento”.

Quando cheguei, estava deitada na portaria, abraçada à amiga Beatriz, debaixo de um casaco, fingindo que estavam a dormir. Eu entrei na dança e foi com uma gargalhada das duas que lhes descobri a careca.

Já no carro, perguntou-me, “onde é que vamos?”.

“Tu é que sabes. Foi por isso que te vim buscar”.

Primeiro era andar de bicicleta mas como já não tem as rodinhas pequenas e desequilibra… passou a ser a trotinete, mas depois cansa muito e acabou por ser só… andar.

“Hoje não vamos para ao miradouro”, disse-lhe, “hoje vamos para o outro lado, para o lado da natureza” e enfiámo-nos por um trilho que está ao fundo do bairro e em breves segundos nos despejou em pleno campo, num território de grilos e perdizes que fugiam assustadas com a nossa presença.

“Eu nem sabia que isto estava aqui…Mas o que é que queres dizer com ser só natureza, pai?”.

Reparei então que se desviava de todos os insectos que lhe apareciam à frente e que parava desconfiada de cada vez que saía um ruído estranho da vegetação. Quando tinha a idade dela, este mundo era o meu. Como tudo mudou, no espaço de uma geração.

Subimos às pedras, ladrámos aos cães presos no terreno do Caldeira e expliquei-lhe outra vez porque é que devemos sempre caminhar pelo lado esquerdo da via.

“Epá, tu falas a toda a gente! Conheces todos os que passam por nós?”.

“Eu sou daqui. Nasci cá. Vivi sempre aqui. É natural que conheça as pessoas, não achas?”.



“Então?!? Não falaste a este que passou?”.

“Este não é de cá. Deve de ser viajante…”.




Rimos já não sei do quê, expliquei-lhe o que era um estaleiro e parámos junto a um pequeno canavial. Parei para a apanhar uma cana. Apercebi-me naquele preciso momento que há muitos anos que não tinha assim uma cana na mão.

Lembrei-me que na minha infância, as canas representavam para nós o mesmo que os búfalos para os índios: eram pura e simplesmente a base de tudo. Os búfalos eram sagrados porque eram simultaneamente a base da alimentação, a matéria-prima para o vestuário e para a construção das habitações, o genérico primordial da medicina e ainda os fornecedores de elementos para adorno e para artefactos bélicos.

Eram os búfalos para os nativos e as canas para nós. Com as canas construíamos as barracas nos altos das pedras, com as canas fazíamos os arcos e as flechas com que brincávamos nas acácias, e com as folhas das canas inventávamos armaduras e capacetes. Com elas até fazíamos apitos, como se lembrou o Luís Barradas que passou por nós então de bicicleta. È verdade… disso já nem eu me recordava.

Para ela a cana era um nada, mas mesmo assim lhe descasquei uma que trouxe pelo bairro fora, como se fosse uma bandeira.

Conversámos muito de muita coisa e eu tive pena que não pudesse ser assim todos os dias.

Em casa preparei-lhe um banhinho morno de espuma cheirosa e deixei-a estar de molho quanto tempo quis. Sequei-a com cuidado para não a magoar na ferida minúscula que fez com uma folha na sala de aula. Passei-lhe creme hidratante pelo corpito ainda de bebé e vesti-lhe um pijama verde às bonecas. Sequei-lhe o cabelo como nas cabeleireiras, penteei-o com uma escova suave e pensei o quanto adoro poder tomar conta dela assim.



Nas notícias da televisão, ouvi o relato do depoimento que o assassino da Mari Luz, a ciganita de Huelva, fez em tribunal. Santiago del Valle, de 52 anos, contou como aliciou a pequena com um ursinho de peluche branco que atirou propositadamente para a rua. Confessou como foi incapaz de lidar com o desejo, como não resistiu à menina, como a chamou para o seu apartamento com um olhar de promessa de algo mais. Quem poderia saber então, se mais um peluche, um chocolate ou uma guloseima?

Ouvi então também a história que inventou para se ilibar, alegando que a pequenita teria perdido o equilíbrio e caíra inanimada no fundo do corrimão.

Qualquer atenuante que pudesse daqui advir esfumou-se quando relatou friamente, a forma como a meteu num carro de supermercado, como a tapou com um casaco e a levou até o esgoto das redondezas para onde a atirou, sem esboçar a mais menor reacção emocional.

30 anos de prisão é pouco. 30 anos é muito pouco tempo para tanta maldade. Nesses 30 anos que podem sempre ser menos por bom comportamento, por atenuantes diversas, até mesmo por uma visita papal ao país, Santiago vai poder comer, beber, dormir, ler, levar uma vida normal suportada pelos impostos dos contribuintes espanhóis que se horrorizaram com os seus actos.

Como pai, digo que para um crime destes não há perdão possível.

Perante um crime destes, o mundo torna-se pequeno demais para o progenitor e o criminoso e um tem de desaparecer.

Como pai, arrepiando a minha consciência por segundos pela terrífica suposição do “se fosse comigo” digo com certeza que quando nos roubam a razão de viver, nada nos resta senão fazer pelas nossas mãos aquilo que sabemos que o sistema judicial jamais fará: justiça.

Não descansaria um segundo que fosse, até que lhe rebentasse de vez os miolos com um tiro certeiro.

Direito ao inferno, de onde nunca haveria de ter saído.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Caminhando com o povo

Sobreiros... presentes!


As recomendações à partida, pelo amigo Costa

O desmembramento do pelotão

O staff em plena actuação

Pelos confins de Marvão


O Chico da Salsicha

Um elenco de luxo

Belas...

A equipa da Relva / L.A. Pecol - Alumínios

O patriarca Conchinha e o Visconde dos Vales

Uma roda de tintinhos

Ao ataque!

Os mecas...

Tentação...

O pedreirinho em acção

O desporto em geral e as caminhadas muito em particular estão na moda. Na parte norte do concelho, a Casa do Povo de Santo António das Areias tem apostado em grande neste tipo de eventos e tem somado sucessos incontestáveis.

Depois da 1ª pela Nave e da 2ª pela estrada dos Aires, neste domingo realizou-se a 3ª caminhada pelos lados da Ramila e Fonte Souto, com bastante aceitação já que segundo os números oficiais, passaram bem das 100, as almas que alinharam na expedição neste fantástico domingo primaveril.

Como já vai sendo habitual, não faltou nadinha e esteve tudo a preceito. O percurso não era exigente, não faltou a aguinha e a fruta a meio da marcha e terminou tudo em beleza.

Eu, o meu querido amigo Nuno Pires e o meu estimado sogro, esticámos a corda e fizemos o percurso maior, subindo pelas vinhas da Fonte Souto e em boa hora porque as vistas mereceram o esforço e o repasto assim ainda soube melhor.

A conversa, entre muitas outras coisas, lá teve que descambar para a inevitável desgraça do clube do nosso coração que carpimos pelas calçadas e trilhos de terra batida.

A empreitada culminou num mega-churrasco na Quinta da família Conchinha que gentilmente abriu as portas a todos num gesto de bem receber, confirmando que aquele espaço é de convívio e só fica completo quando se enche de amigos.

E que bem souberam a farinheira frita e os enchidos à chegada, quando o cheirinho dos grelhados já fazia crescer água na boca. Houve bela sopinha, a bela da bifana e a entremeada, a salsicha e a salada, as bebidas fresquinhas, os tintinhos e as imperiais que saiam em catadupa da máquina bem calibrada. Nem sequer faltou o docinho para os mais gulosos e o cafezinho para arrematar.

Na continuação, houve convívio e animação, a piscina para a garotada e as histórias fabulosas do Ti Mané Batista, o “Pedreirinho da Asseiceira”, o “Governador Civil da Relva” como bem o baptizaram, que na sua inesgotável alegria de viver, a todos contagiou com as rocambolescas histórias da sua juventude. Inesquecível a aventura em que parou a banda nas festas de São Pedro.

Já descia o sol quando me fiz à estrada, percorrendo solitário as veredas que me levariam a casa, cumprindo o objectivo estabelecido inicialmente de fazer tudo a penates.

O vento quente do fim da tarde e os grilos que cantavam nas redondezas fizeram-me companhia, no regresso deste mais que agradável convívio.

Mais uma vez, parabéns e bem hajam.

Foi mesmo muita bom.

Tradicional, este Baile das Rosas

Os mestres de cerimónia


A panorâmica geral

A mulher arenense mostrou a sua graça


Houve tempo para discursos...


E para muita animação


Sim, é certo… o baile das rosas já não tem a magia de outros tempos e nem sequer é preciso recuar muito atrás porque até eu os vi com grande brilho e não foi há assim tantos anos.

Vem à baila a que já vai sendo a conversa curriqueira: “há pouca gente…” e eu respondo entre dentes para os meus botões: “pudera, se somos tão poucos como é que hão-de aparecer muitos?”.

No último “Guia Autárquico” do jornal Público, já vimos abaixo dos 3.800 habitantes e baixando, como os preços nos saldos do Conde Barão. Nada a fazer excepto milagres e esses já vimos que também são poucos e cada vez menos.

Nos temos áureos, os bailes da rosa eram grandes bailações e por ali se esboçaram acesos namoricos e algumas cenas de pancadaria que abrilhantavam sempre o cartel, sobretudo a horas mais avançadas, quando o álcool esquentava os ânimos.

No momento mais alto, os homens compravam no palco a rosa que ofertavam à companheira e depois dançavam noite dentro, com a florzinha segura pelas mãos unidas no calor da noite. Bem romântico…

Neste sábado, a casa não esteve cheia mas esteve composta. Por volta da meia-noite, quando o ritual florístico se cumpriu, até parecia que tínhamos recuado no tempo.

A malta é que acaba por ser sempre a mesma, outra vez aqueles que mesmo que lhes custe deixar o conforto do lar, acabam por participar e contribuir para manter a chama viva.

Os animadores de serviço, os sempre bem dispostos e competentes “Abílio e Carrilho”, percorreram estilos e modas quase em ritmo “non stop” para ver se o pessoal não esmorecia e conseguiram-no.

Deu-se um pezinho de dança, viu-se como param as modas, beberam-se umas fresquinhas na Odete, a pardalada brincou e rodopiou até cair de cú e “esteve-se bem”, como diz agora a malta nova.

Nota muito positiva para as decoradoras do palco que estava lindíssimo, para o GDA que insistiu na tradição e para todos os presentes.

A luta pela não descida de divisão do concelho também se joga aqui, fazendo por cumprir a tradição.
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sábado, 3 de maio de 2008

Pela boca morre o peixe…


Estava deitada no sofá, vendo um dvd dos seus, quando cheguei a casa vindo da corrida do final de tarde.

Debrucei-me e dei-lhe muitos beijinhos na carita rosada.

“Paixão da minha vida…”.

“Ó pai… estás sempre a dizer isso porquê?”.

“Ó querida, porque te amo, te adoro… não sabes que eu faço tudo por ti?”.

“Fazes tudo por mim?”.

“Tudo, tudo, tudo!”.

“Então, hás-de fazer-me os trabalhos de casa”.



(e juro por Deus que é verdade)

Top Disco: Nena - 99 Red Ballons


A primeira vez que vi a Nena coincidiu com a primeira vez que me senti mesmo homem. Foi também a primeira vez que senti que um dia havia de engravidar alguém. Tinha 10 anos.

Ainda hoje me aparece fugazmente em sonhos e ainda hoje não consigo explicar o que vejo na mulher mas não lhe consigo resistir. Não sei se são os olhos, as argolas de prata, o penteado ou a penugem debaixo dos braços mas há algo ali de puro fascínio feminino.

Reparem no vídeo e na forma como dança ao som do baixo, meneando as ancas dentro das calcinhas de cabedal preto, batendo os pezinhos e desafiando os colegas. Eu não me aguentaria um segundo…

A Nena era sempre capa da Bravo que eu comprava nas papelarias da Carreira de Cima. A Bravo era uma revista alemã da qual não conseguíamos compreender uma beata mas isso não importava nada desde que trouxesse os posters e os autocolantes. Eu tinha um da Nena no quarto, bem gigante e antes de adormecer, aqueles lábios carnudos e vermelhos dirigiam-se a mim e beijavam-me como prelúdio dos sonhos mais cor-de-rosa.

Se aquela mulher me aparecesse à frente nessa altura, eu tinha largado a escola e fugido com ela para o rio como os casais faziam na altura quando os pais não aprovavam o namoro. Fugiam, desapareciam durante dois ou três dias e depois casavam-se. Era tipo uma prova de sobrevivência. Se fugissem e não morressem de fome ou frio, ganhavam o direito a casar. Puro Neolítico!

A Nena, a Nena, a Nena… Acho que quem de nós tinha o disco era o meu amigo Zé do Pop que nessa altura ainda não tinha assim sido baptizado pelo meu pai. Nessa altura era só Zé Dias e eu invejava-o não só por este disco mas também porque tinha o “Amadeus” do Falco. Outra pérola absoluta embora eu, entre a Nena e o Falco, porra! Era sem espinhas!

Os anos 80 eram assim… absolutamente irrepetíveis e só nos anos 80 era possível que uma música sobre 99 balões vermelhos rebentasse com todos os tops da Europa. Na altura eu não percebia um camandro da letra mas o que interessava mesmo era o ritmo. E que linha de baixo! Que sintetizador! Descobri anos depois que aquilo tinha a ver com a guerra nuclear e mais não sei quê mas isso em nada acrescentou à história.

A Nena, a Kim Wilde (boa!) e a Samantha Fox (bellíssima!) foram as tigresas da minha pré-adolescência.

Volúpia e desejo.

Gggggggggggrrrrrrrraaaaaaaaaaauuuuuuuuu!

O senhor esteja convosco e que nunca vos falte nada.

Maravilhosas!

Neste fim-de-semana… Top Disco com “Nena” e “99 Red Ballons”.

Salut! Les copins.