sábado, 18 de abril de 2009

A contas com o passado

A tragédia da ponte de entre-os-rios foi há 8 anos.
Um dossier bastante completo sobre o assunto feito pelo jornal Público está disponível aqui.

E houve uma noite em que aqueles que mais amavam deixaram de existir como num passe de magia negra… engolidos pelo alcatrão que cedeu… aprisionados numa câmara de tortura feita de ferros torcidos e betão armado… condenados à corrente violenta de um rio louco que lhes serviu de tumba.

Tudo isto depois de um dia feliz, de excursão, feito de risos e alegria, quando a tragédia era tudo menos previsível.

Mas espreitava-os no escuro, a escassos metros de casa, do seu lar, de um porto seguro.

Os familiares, depois de chorarem a perda, passaram muitas horas a olhar para as águas cinzentas, a tentar compreender como é que aquele amigo de toda a vida se agigantou e transformou num monstro violento que nessa noite de fúria imensa lhes roubou todos os seus de uma só assentada.

Como foi possível? Perguntavam em silêncio, vezes seguidas sem conta, ansiando e suspirando por um corpo que pudessem velar e honrar e depositar em descanso num sítio certo.

Depois de aprenderem a viver com essa dor lancinante que lhe turvava a felicidade dos anos futuros, deram voz à ânsia humana de vingança, à procura de alguém que personificasse a culpa.

Mas a justiça dos homens, feita por eles e por eles gerida e manipulada, fechou-lhes a porta na cara.

E agora essa mesma justiça vem-lhes pedir contas em facturas de milhares de euros em custas que ajudem a pagar o trabalho que sabiam que iria ter um resultado viciado.

Eles, de novo mergulhados neste drama que jamais os deixará descansados, dizem às televisões, de semblante triste, que não pagam.

Eu…

Digo..

Que esta coisas, para além de me encherem de vergonha de ser português, só me dão vontade de partir para a luta armada.

Será que em todo o edifício judicial português não há uma única pessoa de bom senso capaz de perceber que estas coisas pura e simplesmente não se fazem? Não há uma amnistia, um perdão, uma concessão, um regime de excepção, uma atenção para estes homens e mulheres e crianças até?

Pena…

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