segunda-feira, 11 de maio de 2009

West Side Story

Há uma grande diferença entre ir a Lisboa ver um jogo de futebol ou um espectáculo, dois dos motivos que me metem a caminho da capital com mais frequência.

A diferença é que os jogos raramente correm bem e os espectáculos quase nunca correm mal.

E este “West side story” filipelaferiano é absolutamente deslumbrante e arrebatador. È tudo bom… os cenários magníficos, a iluminação belíssima e sempre em cima do acontecimento e depois… as coreografias, os cantores, a adaptação, a sala…

É um verdadeiro encanto!

E depois, a história ajuda e muito... Esta lenda de amor, um upgrade do intemporal romance sonhado um dia pelo bardo Shakespeare, entre um homem e uma mulher pertencentes a grupos rivais, deixa-nos sempre arrebatados.

Desta vez não temos Verona mas temos a Nova Iorque do final dos anos 50, com muitos jeans, muita sapatilha All Star, muita brilhantina, muito rock’n’roll e muita violência juvenil a disputar cada metro do bairro, sempre no fio da navalha. De um lado os já nascidos em terras do Tio Sam e do outro os porto-riquenhos que também não são de assoar. Isto promete…

E eu, que sempre sonhei viver naqueles tempos que George Lucas plasmou de forma intocável no seu “American Graffiti” ou o mestre Coppola eternizou no brilhante “Peggy Sue got married”, fico a sonhar alto…

Imaginando-me de blusão de cabedal vermelho, montado na minha Harley reluzente, a chegar triunfal à geladaria da beira da estrada onde as miúdas todas tremem de emoção nos seus vestidinhos azuis de saia rodada, enquanto cochicham e agitam os rabinhos-de-cavalo dourados, suspirando pelo meu convite para o baile de finalistas…

Isto ainda vai sendo das coisas que vamos podendo fazer sem pagar imposto ou ter de bater continência. Sonhemos, então!

Pois perante tudo isto, não podia estar de outra forma que não extasiado e desertinho de saltar lá para o palco e fugir à polícia no meio daquela rapaziada toda.

Este La Féria é magnífico e tudo aquilo que faz brilha como ouro. 5 estrelas, meus amigos. 5 estrelas mesmo!

A minha pequena adorou e apesar de não parar quieta na cadeira, a verdade é que não tirou os olhitos de cima do palco. Se para mim isto tem este impacto… imaginem para ela… o efeito que não terá ao longo da sua vida.

Podemos não ter a Broadway… mas enquanto houver La Feria… a malta está safa.

E é por isso que eu tenho tanta pena de, apesar de toda a divulgação, o autocarro de 43 lugares não ter ido cheio. Eu sei que o momento é de crise, a altura pode não ser a melhor para muitas famílias e compreendo e lamento o aperto, mas o mês de Maio também já é o mês da tradição de Marvão ir ao musical a Lisboa e garanto-vos que 30 euros para se meterem daqui descansadinhos num autocarro que vos levava a Lisboa e trazia de volta a porto seguro, com oportunidade de assistirem a uma obra deste gabarito… não é caro.

Mas bem… é o que há.

Imaginem só quanto não custa uma sessão de um espectáculo destes, contabilizando, quanto mais não seja, os recursos humanos, dos bailarinos aos cantores, passando pela orquestra imensa e toda malta da logística…

Só espero que o motivo tenha sido mesmo a questão económica, porque todos os outros não têm desculpa. E o La Feria tem a particularidade extraordinária de chegar a todos os públicos, sem ser demasiado elitista ou cair no fácil popularucho. É mesmo para todos e quem é que nunca se encantou antes com o tema “Maria”, ou o “América”… nem que fosse no cinema? Agora imaginem ao vivo… é de arrepiar.

Isto não falando em tudo o resto que é tão bom e vem por acréscimo… a agradável companhia na viagem, o banhinho de civilização, a alegria das pequenas a almoçarem no Macdonald’s, as comprinhas, as fresquinhas ali pelos restauradores, a bela da bifana ao final… bem… demais! Dia graaaaande!

Para a próxima… deixem-se de tretas e ALINHEM!

Ser feliz é isto, caraças!


Pois... a gente dantes aborrecia-se nos autocarros... Só havia a paisagem...

Passaste nos castings, filhota?


Outra sala magnífica da baixa alfacinha, o mítico Coliseu dos Recreios onde passei noites inesquecíveis na companhia dos Pogues, Pixies, Nick Cave, Radiohead... enfim...

Há por ali muitos e belíssimas. Como a do Choca... nenhuma.

Até dei um passo atrás quando vi este cartaz. Então não é que eu já estou tão fã do homem e ele agora decide meter mãos à adaptação de uma das minhas histórias de culto? O feiticeiro de Oz? Nem dá para acreditar. Eu... que tenho uma magnânime edição em dvd, especialíssima e de coleccionador, com uma cópia esplendorosa e recheada de extras, com dois discos e uma capa onde os sapatinhos da Dorothy estão em relevo e brilham no escuro? Eu... que me apaixonei por esta aventura com um livro animado que me compraram em Valência quando ainda nem tinha altura para chegar aos balcões dos cafés? Eu quero ir... eu quero ir tanto... Será que falta muito?

150.000? É obra!

Já que não se pode fotografar durante o espectáculo... aqui fica o magnífico tecto do efício Politeama. "Ó pai... porque é que as senhoras estão com as maminhas e o rabo de fora?". "Ó filha... são musas. Musas inspiradoras dos artistas... elas podem estar assim". "Ó pai então e se...". "Ó filha... está caladinha e vira-te para a frente. Vê. Vê."

Ah! Ainda deu tempo para uma gasosa no Hard Rock, também ele fascinante!

Estas paredes, senhores... são as paredes do céu.
Em baixo, um blusão de cabedal que andou a tapar as costinhas do Sid Vicious, mítico baixista dos Sex Pistols, a banda que devolveu a alma ao rock quando inventou o Punk na Inglaterra dos finais dos 70. Agarradíssimo à heroína e sempre perdidinho da vida, fez uma dupla iconográfica com a sua namorada Nancy que foi assassinada no mítico Chelsea Hotel, sendo ele o principal suspeito. Incapaz de lidar com a perda e a culpa, haveria de mandar, tempos depois, um chuto de misericórdia que o levou a fazer estragos para o além. My way...

Um cadillac no tecto? Luxo! Quero!

Os "fab four" na fase inicial que é também a minha favorita. Nos tempos do Shea Stadium e da conquista dos EUA, quando os gritos das fãs abafavam a música por completo. O casaco promocional usado pelos mesmos? Nunca estive tão perto de roubar uma coisa assim a sério.

Adeus ó minha Lisboa... de Alcântara, do Calvário, da Junqueira, da Ajuda, da antiga FIL, do palácio Burnay... e um raio de sol lindíssimo lá ao fundo, rasgando o manto cinza de nuvens carregadas.

PS: Já repararam como eu sou capaz de não falar em futebol? E já não vejo mais jogos até ao fim do campeonato. Meus Deus... quererá isto dizer que estou curado? Aleluia!

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