segunda-feira, 3 de maio de 2010

Tripas envenenadas à moda do Porto


Pois é…

Foi uma pena, foi o que foi!

Uma pena…

Eu não sou daqueles que adoptaram o discurso do “é o menos…”, do “não faz mal”, do “assim até é preferível porque fazemos a festa em casa, com os nossos sócios e adeptos”, do “perder nas Antas é normal…”.

E não sou porque este era claramente O JOGO para ganhar. O passado recente e sobretudo a extraordinária época desportiva que vivemos neste último ano mereciam um Benfica vingador, capaz de se sagrar campeão no Dragão, em pleno olho do furacão, na sede do território inimigo. Os adeptos mereciam um Benfica guerreiro, ofensivo, determinado, um Benfica campeão, um Benfica à Benfica. E não o tiveram…

Foi por isso que me custou tanto ter de perder assim.

É certo que não deve ser fácil jogar num ambiente daqueles e não estou propriamente a referir-me ao fervor clubístico dos adeptos mas a tudo o que se passou antes e durante o jogo. Quando o autocarro que transportava a comitiva foi apedrejado nas barbas das autoridades, apesar da forte escolta policial (com consequências que poderiam ter sido dramáticas em caso de despiste), todos nós percebemos que para aqueles bárbaros que não amam e não respeitam o futebol mas antes a violência, que seguem o clube com a fixação cega de um talibã, valia tudo para intimidar e hostilizar os adversários.

Para esses selvagens e para a grande generalidade dos adeptos do Porto, não se tratou apenas de um jogo. Para eles o futebol é apenas um instrumento para a demarcação do seu território, é uma arma de arremesso e não uma paixão. É por isso que eu acho incompreensível que haja adeptos do Porto nascidos e criados noutros pontos do país, sem qualquer ligação ou afinidade à região. Para mim, ver um alentejano ou um algarvio do Porto é um contra-senso tão grande como ver um preto nazi. Ponto final.

Aimar e Kardek foram atingidos por estilhaços de vidros apedrejados no percurso entre o hotel e o estádio. O jogo aconteceu num ambiente de guerrilha digno de um país de terceiro mundo. Durante o desafio choveram very-lights, bolas de golfe, isqueiros, moedas e até telemóveis arremessados em catadupa das bancadas. As televisões chegaram até a mostrar com clareza a agressão explícita de um energúmeno que atingiu Jorge Jesus no banco.

Ressalvo que tudo isto não são desculpas. São constatações.

Apesar de todo este cenário, sendo conhecedor do brio profissional e do extraordinário valor dos jogadores, técnicos e dirigentes do meu clube, não esperava outra coisa que não uma resposta categórica em sede própria e é por isso que eu não perdoo a falta de ambição, querer e raça do Benfica de ontem. O Benfica não entrou para ganhar o jogo, não entrou para disputar o jogo pelo jogo. Chegou tarde à bola, deixou-se antecipar, não lutou pelos ressaltos, deu espaço, deixou o Porto jogar, foi displicente (falha escandalosa de Javi Garcia na cara do golo), foi perdulário, foi amorfo…

Depois de sofrer um golo concedido de forma infantil (Bruno Alves salta sem marcação no coração da área), fez o mais difícil quando empatou (outra vez Luisão, nosso grande capitão, a dar o grito do Ipiranga) para depois deitar tudo a perder quando deixou Farías surgir isolado depois de dois cortes falhados.

A expulsão de Fucile foi uma janela de esperança. Faltava meia hora (muito tempo para um dérbi), dispúnhamos de mais um homem no terreno e precisávamos de apenas um golo para nos sagrarmos campeões. Tínhamos de ser inteligentes. Não fomos. Falhámos porque nos deixámos asfixiar pela ansiedade, porque nos faltou clarividência, porque quisemos fazer tudo tão depressa que nada nos saiu. Como “quem não mata, morre”, na ânsia do golo, acabámos feridos de morte por um golaço de Belluschi (o que é, é!). Guarín já tinha avisado quando repetiu a bola na barra de Di Maria. Desta foi de vez. Do jogo, pouco mais haveria a contar.

Jesus também falhou… falhou na abordagem ao jogo; na mobilização psicológica; tardou nas substituições; insistiu em jogadores com prestações deficitárias (Saviola sem ritmo depois de paragem forçada, Cardozo apático e com rendimento zero); acusou a pressão e deixou transparecer esse sentimento para a cabine e para o exterior. Desta vez, não foi o líder que tão bem nos tem sabido guiar. Aquela de ao intervalo dizer que tínhamos não apenas 45 minutos, mas 45 + 90 minutos para ganhar o campeonato… não lembra… ao Menino Jesus! É por isso que só UM é que já é “o especial”, “the special one” e “il speciale” e será em breve “el especial” à frente dos galácticos, quando juntar ao seu palmarés de campeão português, inglês e italiano… também o de campeão espanhol.

E não me venham os puristas defendê-lo dizendo que com esta afirmação, Jesus pretendia apenas retirar pressão à equipa e deixá-la jogar à vontade. Quem não quer pressão vai fazer crochet para o banco do jardim ou reuniões da tupperware! O futebol não é para meninas!!! Foi mau, Jorginho! Desta vez estiveste mal!

Hoje ninguém contesta a vitória do Porto mas tivesse Olegário Benquerença assinalado os 2 penálties claríssimos a favor do Benfica e hoje a conversa seria outra! Se o árbitro da partida tivesse estado à altura quando Maxi Pereira caiu derrubado por Álvaro Pereira ou quando Hulk cortou um livre directo com a mão, ambos lances em plena área, outro galo cantaria. E que dizer dos “cartões amarelos fantasma” mostrados a jogadores que estavam em risco do 5º (Fábio Coentrão, Javi e Di Maria) e de falharem o último e agora sim, decisivo jogo da Luz?

Mas enfim… é o que há!

Só nos resta uma última coisa a fazer: ganhar ao Rio Ave, se possível com uma goleada e dedicar o título ao Pedroto!
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E o dia tinha começado tããããõ bem, no quintal do meu vizinho Barradas, com a primeira cerimónia oficial do hastear da bandeira no seu novo mastro (salvo seja), com direito a toda a pompa e circunstância, hino incluído…


E as nossas crianças a cantarem o “Sou Benfica”…


Quem é que nos haveria de dizer...

E agora? Quem é que me atura até domingo?

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