quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Doente (Pensando em Nemo e em Pessoa…)


Prostrado no meu leito,
Aprisionado neste ninho,
Vejo os dias sucederem-se,
Sempre iguais, de mansinho.

Agrilhoado pela dor,
Submisso à clemência dos meus,
Liberto-me, sonhando acordado,
Imagino-me a cruzar os céus.

Sou um pássaro, uma nuvem,
Um astro, um foguetão,
Um cometa, uma avioneta,
Um relâmpago, um balão.

Do meu quarto saio voando,
Parto rumo ao infinito,
Sobrevoo campos e mares,
Desvendando segredos e mitos.

Quando me sinto mais só,
E a almofada me quer engolir,
Fecho os olhos e imagino,
Rompo os limites, saio a fugir.

Na minha cabeça não há limites,
Dores, febres, desilusão,
Só mil e uma aventuras,
À espera da minha intervenção.

Salvo donzelas,
Decapito dragões,
Descubro tesouros,
Resgato galeões.

Faço piratas reféns,
Instigo rebeliões,
Desbravo novos mundos,
Ajudo a criar nações.

Bruxas, ogres e feiticeiros,
De mim fogem com horror,
Com o meu sabre dourado,
Tudo enfrento sem temor.

E enquanto assim m’entretenho,
Neste faz-de-conta só meu,
Reduzo a minha sentença,
E caio nos braço de Morfeu.

O tempo é a minha salvação,
Mas meu inimigo também,
Por isso o quero como aliado,
Para o mal e para o bem.

Todos dias assim penso,
No momento da minha libertação,
Em que deixarei para trás de vez,
Esta tão pesada reclusão.

1 comentário:

Helena Barreta disse...

Está a ver, o tempo de reclusão serve sempre para alguma coisa. Parabéns, pelos vistos temos poeta. Vá publicando.

Continuação das melhoras.

Um abraço