segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Até a Vitória nos levam…



Todos nós estávamos preparados para já em Janeiro perdermos o David Luíz… talvez o Coentrão… ou até, caso Deus ouvisse as nossas preces e fosse misericordioso, o Cardozo (de preferência para ceder o lugar a um avançado de jeito, como o Falcão, por exemplo…), agora…

Perder a águia Vitória em Dezembro? A escassos dias do Natal? É duro…

Ainda por cima desta forma… tão pouco digna… tão desfasada do nível e da história do nosso clube.

E assim ficaram, de boca aberta, olhando em vão os céus, as cerca de 40.000 almas que no passado sábado se deslocaram à Luz para assistirem ao embate com o Rio Ave, a contar para o campeonato nacional. É caso para dizer que entraram todos a perder. Quando soou o apito inicial já tinham sido privados de um dos momentos mais altos de cada jogo em casa, e isto sem direito a desconto no ingresso, vale de compras na Megastore ou passagem pela casa de partida. Custa…

O voo da Águia Vitória é um daqueles momentos capazes de arrepiar qualquer um, por mais anti-benfiquista que seja. Imaginem então o que significa para nós… Que prazer… o de a poder ver mergulhar do seu pedestal e deslizar, naquele seu voo suave, circular e hipnótico, como que saudando as bancadas, catalisando todas as atenções até pousar em glória no nosso símbolo de sempre. Que poder, o seu… o de conseguir silenciar por completo um estádio inteiro, colá-lo a si e incendiá-lo numa explosão de alegria e cor, deixando-o em êxtase no final de cada actuação.

E isto acontece porque sempre que voava, a Vitória congregava nela toda a mística do Benfica que por muito que custe a alguns, ainda É o maior clube português (em títulos conquistados, em número de sócios, em história e em valor). A Vitória levava-nos com ela… Quem nunca sonhou, ao vê-la planar, que seguia nas suas asas, podendo assim desfrutar daquela que será certamente, a mais imponente perspectiva da nossa catedral?

Ao que parece, Juan Barnabé, o seu proprietário e treinador, deu o passo maior que a perna e vai pagar por isso. Eu sei que ler isto pode parecer estranho mas eu também ajudei a que assim fosse. Quando visitei pela primeira vez o interior da Catedral e o Museu do Benfica, a convite do Grupo Desportivo Arenense (acompanhando as escolinhas) e na qualidade de Vereador do Desporto, tive oportunidade de conhecer Barnabé e de também tirar algumas fotos com ele e a “nossa” Vitória. Recordo-me de o ter felicitado pela alegria que transmitia aos sócios e por também ele ser já uma referência do clube. Reparei então como este comentário, que imaginei comum e até corriqueiro, o fez olhar fixamente para mim, com um espanto que se foi condensando em emoção no seu olhar. Não sei se foi a primeira vez que o ouviu, mas que causou frisson, disso não tenho a menor dúvida (ofereceu-me as fotos autografadas que cobrava bem caro) e a certeza tive-a meses depois, quando voltei à Luz acompanhado pelas minhas pequenas. Barnabé estava numa sessão de autógrafos, desta vez na Loja do Benfica e reconheceu-me no meia da assistência. Levantou-se de imediato, propositadamente e veio-me cumprimentar. Cumprimento de circunstância, trivial, mas que me que me retornou por completo a gentileza do meu gesto inicial.

Eu sei que as versões sobre o que aconteceu no passado sábado são contraditórias. O tratador diz-se pressionado e maltratado mas a leitura oficial parece ter provas físicas do contrário. Se assim for, concordo com o director de comunicação quando afirmou que ninguém está acima da instituição. Assino por baixo e sublinho. Mas também penso que se a direcção estava descontente com algumas atitudes do espanhol, nomeadamente com o facto de ter retirado ao Benfica a exclusividade do “número” ao oferecer os préstimos da sua empresa a outros clubes que também têm uma águia no símbolo (como a Lazio de Roma e o Flamengo), poderia tê-lo manifestado de uma forma mais elegante e consentânea com a nossa linhagem.

O assunto resolvido com cortesia e discrição, em tempo oportuno, possibilitaria a contratação de um outro tratador (quem não se lembra do Paixão, o precursor da ideia?) e de uma outra águia (Barnabé tem diversas… a Vitória é uma personagem) e evitaria as cenas lamentáveis que deliciaram os nossos detractores, plasmadas em fotos na 1ª página de alguns desportivos e em tempo de antena nas televisões nacionais para lavagem de roupa suja.

Pelo que se pode comprovar por este artigo, nem o facto de serem símbolos do clube faz com que as águias (e os seus tratadores) sejam tratados de forma mais condigna. Afinal, a novela de Barnabé é um déjà vu. Lá diz o povo… “Quem com ferros mata, com ferros morre”.
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PS: Se eu mandasse, durante este tempo em que sócios e adeptos estarão privados do “show” da mais nobre inquilina da catedral, o “número” deveria ser protagonizado por outras aves raras que por lá andam que, quais Ícaros, seriam obrigados a saltar do alto do 3º anel com umas asinhas de cera, bem mais consentâneas com a prestação da equipa na actual época. O mais certo era derreterem antes de chegarem ao sol (leia-se campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga, Liga Europa). Enfim...

1 comentário:

Helena Barreta disse...

Não sei quem tem razão, mas estou consigo, estes assuntos deveriam ser tratados dentro do clube.

Um abraço