sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Eu televejo... o mundo

Das notícias televisivas recentes, muito frescas mesmo (destes últimos dias), eu retiro a seguinte ideia:

Subindo para o morro?

Na Colômbia conseguiram o feito de instalar uma escada rolante dentro de uma favela em Medellin. Estranho não é só o facto de juntarem algo que está ligado ao “luxo” num ambiente que lhe é absolutamente estranho. Bizarro é só olhar e poder ver esta estranhas imagens…


Rei morto, rei posto…

Kim Young Un foi proclamado líder supremo da Coreia do Norte. Filho e sucessor do ditador recentemente falecido, aproveitou o facto da beleza não ser levada em linha de conta e fez-se à coisa, contando para tal com a ajuda de um valentão de um tio que de interesseiro não deve ter nada. O rapaz tem ar de quem passou a vida inteira a dormir a sesta, ó valha-me Deus… Estão bem servidos, estão!


Pessoa errada no sítio errado? Azar do catano…

Um ataque aéreo turco matou, por engano, 35 pessoas que estavam perto da fronteira com o Iraque. As vítimas eram habitantes de uma aldeia que se dedicavam ao contrabando e foram confundidos com rebeldes curdos.


Como é que disse?

Hugo Chavez fez o papel que é seu por natureza e no papel de louco de serviço achou que os Estados Unidos utilizaram o seu papel e influência na medicina para disseminarem uma onda de cancros pelos líderes sul americanos. Foi o Fidel, o Lula e ele também não se está a sentir nada bem…


Metiendo la mano...


A corrupção chega a todo o lado e até o genro do rei de Espanha não se escapa de ser agora acusado de ter “lavado” as mãos. Ao que parece, Iñaki Urdangarin, para além de ser um jovem rapaz, garboso e cheio de estilo que por acaso até se sabia agarrar às bolas de andebol, também era craque a dar “banhada” ao dinheiro e a fazer das suas. A comunicação social espanhola não o larga e já nem a realeza vai estando livre destas coisas dos comuns mortais… Que coisa esta? Quando começa assim…


Para um rapaz que esteve praticamente metade deste ano internado, hospitalizado, longe do mundo… que se quer agarrar à vida e ao que se passa, as notícias não são seguramente o ponto de partida mais indicado. Quando se pretende ser sério e saber o que se passou… mais vale tentar outro meio e ir a um oráculo porque por aqui, por aquilo que chega pela televisão… não se chega lá! Que confusão! Mas quem é que virou isto de pantanas? Ou já estava?

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Sabor a Brasil



Hoje tive o enorme prazer de ter sido convidado pelo amigo Marôco para almoçar com ele, seus convivas e familiares, em sua casa, na quinta situada perto de Castelo de Vide. Habituei-me a conhecer e a admirar o Marôco de toda a vida. Como homem mais velho, mais rodado que eu, a admiração que tinha por ele desde jovem foi crescendo sempre pela sua extraordinária postura perante a vida, pelo seu low-profile, pela sua calma e educação, por saber sempre estar em qualquer sítio. Cresci sempre assim, a aprender admirá-lo e a respeitar e a apreciar tudo o que fazia. Na altura era a paixão pelo fotografia, depois.. o matadouro, as escolas… e depois de tudo, o seu bar na vila tão bem conhecido de todos. O Marôco era e é um senhor e é assim que o vejo: alguém que sabe sempre escolher os seus amigos e que sabe estar. Assim juntou nessa mesa comensal amigos que foi conhecendo ao longo da sua vida e dos quais tive a felicidade de fazer parte. Pessoas ligadas às escolas, aos bancos, à câmara de Castelo de Vide, pessoas da sua família (pais, companheira e filhos), amigos que se reuniram para dar s despedida a este ano que passou e a desejar que este novo seja bem melhor. Foi uma enorme alegria para mim estar assim rodeado de gente tão boa, de volta à vida nesse ambiente tão acolhedor, tão informal e tão confortável. Almoçámos uma feijoada brasileira feita mesmo à moda de lá (por quem sabe) e mais parecia que estávamos no Corcovado, almoçando no areal junto à praia, desfrutando da brisa marítima carioca. Entre histórias e sorrisos, gargalhadas e brincadeiras, passou-se o tempo e fez-se aquilo que eu mais gosto: estar entre gente boa e passar um bom momento. Muito agradável! Muito bom! E eu assim regressei à vida, convivendo entre os meus amigos, sendo feliz na terra do lado, respondendo a tudo quanto me perguntavam, manifestando-me presente sempre que podia, estando vivo! Fui de boleia com um amigo, falando sobre a minha e a sua vida, regressando à naturalidade sem guarda e sem protecção, sentindo-me vivo. De tarde passámos pela Portagem, para um arranjo mecânico na oficina dos manos Mena (António e Zé Maria) e ali vimos a tarde a cair entre conversas com amigos que iam chegando. Valeu tudo muito a pena apesar do tempo que passei de pé(horas…), apesar do frio que caía tarde fora… porque o calor humano a que tive direito, o ânimo que fui recebendo por quem chegava foram enormes e fizeram tudo valer a pena. Depois, no final, fomos ao Zé Calha tomar um café e ver a alegria no cumprimento pessoal dos presentes foi para mim (cada uma sua maneira) arrebatador. Esta alegria imensa de estar de volta ao “meu” concelho, ao “meu” mundo, à “minha” gente… não tem preço! Eu sei que foi tempo a mais, eu sei que a minha patroa Cristina não ficou nada feliz de me ver entrar em casa já de noite, eu sei que ela até tem muita razão…. Mas será que ela (ou eu…) teria ficado tão feliz se tivesse ficado em casa e descansado, dormindo a sesta como me mandam os meus médicos? Pela minha parte, eu sei bem e a resposta está mais do que dada. Adivinhem qual é…


Ps: Eu sei que me comprometi perante a minha mulher que saberia negar todos os convites que me fizerem de almoço porque estou em recuperação, eu sei que os meus amigos compreenderão que eu lhes diga que não, eu sei que temos muito (todo) tempo pela frente, eu sei que teremos muitas oportunidades, eu sei que "há mais dias que chouriços", eu sei isso tudo mas desculpem... esta tinha de a fazer!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Caminhando...



Cá continuamos na luta… porque… acreditem! Nem só convalescença, nem só recuperação, é mesmo uma luta. É mesmo uma grande luta! Acreditem que eu compreendo quem ache isto estranho ou raro. É natural! Mas para quem passou por aquilo que eu passei, quem cruzou estes caminhos tão incertos e tão inóspitos, quem regressou… é tudo muito estranho. O quê é estranho? Tudo! Só o sorriso de uma das nossas filhas é suficiente para nos encher o dia de uma forma que passa de longe o admirável. Só isso… que é uma das muitas coisas de que é feito os nossos dias. Só isso dava para escrever um tratado. Tudo, tudo, tudo é motivo de admiração. Eu sinto-me como seu fosse um alien, como se fosse um ser raro que foi largado neste mundo que era o meu e ao qual falta tudo para se afirmar! Difícil… é tão difícil! Regressar à vida, fazer esta remontada é tudo menos fácil. Hoje consegui ir a pé à Beirã. Neste manhã de sol, decidi que não ia ficar em casa e fiz-me à estrada. As conversas que fui apanhando ao longo da estrada, os amigos (tudo malta mais idosa, de terceira idade) que fui encontrando até lá… era tudo material digno de ser contado em livro. Gosto particularmente de analisar a reacção deles quando me vêem e os comentários após a minha passagem. Por aí vou “tirando” muita coisa também e fazem a análise que eu gosto de ouvir porque fica para mim. Antes da Ranginha deparei-me com um grupo de senhores que estavam a fazer a matança de um porco.


“Viva, bom dia! Como é que se está a portar o animal?”, perguntei.


Eles, depois de me responderem em uníssono e me cumprimentarem, ficaram a comentar sobre quem eu era, sobre o acidente, aquelas coisas do costume, até que ouve um mais afoito que me perguntou: “então agora já não corre?”.


“Está de corridas, está… Agora só andando, só a caminho!”.


E ele, que estava habituado a ver-me por ali passar tanta vez naquele que era um dos meus circuitos de atletismo preferidos da zona, comentou com os amigos após eu passar… “Este era terrível para isso! Nem imaginam a quantidade de vezes que ele por aqui passava a correr nesta estrada…”.


Pois… pensei eu suspirando em silêncio, passava a correr mas agora é difícil e mesmo conseguir ir andando já é muito bom! Aliás, estar cá e ouvi-los já é óptimo, é um extraordinário sinal para mim! Embora reconheça que é muito difícil conseguir que a nossa vida entre nos carris e ganhe a velocidade que pretendemos para ela quando perdemos tempo e não sabemos dar prioridade aquilo que realmente merece o nosso apreço. E há tanta coisa que merece…

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Feliz Natal! (pelos Pogues)



Este dueto entre duas figuras emblemáticas da música e da cultura inglesa é, há muitos anos, uma das minhas canções de Natal preferidas!



O Natal cantado por estas duas personagens ébrias em despique que se “picam”, que se desqualificam, que se “deitam abaixo” mutuamente é uma música linda porque tem na letra todo o espírito do Natal incluído: é uma noite única em que tudo pode acontecer, até a mais improvável história de amor entre dois improváveis numa noite em que não conseguem dissimular a paixão que os une. Shane McGowan (nascido na noite do dia de Natal de 1957) vocalista mítico da banda de música tradicional “The Pogues” e Kirsty MacColl que esteve casada com o produtor Steve Lillywhite, cantam. Ela, infelizmente desaparecida com 41 anos num acidente de mergulho no mar do México; ele, miraculosamente ainda vivo apesar da vida ébria que leva e de ser um empedernido dos bares de todo o mundo, cantaram este despique natalício que fica para a história como uma das mais belas e improváveis canções de Natal. Lindo demais e que nós, fãs dos Pogues que desde sempre os seguiram, que detêm os discos todos, que os viram tocar no Coliseu dos Recreios numa noite apinhada (lembras-te Chico? Foi há 22 anos…),nunca mais esquecem. A música fica para sempre!



A tentativa que fiz de tradução podem esquecer mas penso que vale para os que têm mais dificuldade com a língua de sua majestade e pelo esforço de digitação!




Festas felizes!




Conto de Fadas de Nova Iorque










Ele: "Era noite de Natal, querida,
No reservatório dos bêbados,
Um velho homem disse-me que: "não verá outro!",
Depois cantou uma canção sobre o raro orvalho da montanha velha,
Eu virei a minha cara e sonhei contigo.
Tenho uma sortuda,
Veio em dezoito para uma,
Tenho a sensação que este ano é para mim e para ti,
Que seja então um Feliz Natal,
Eu amo-te querida,
Consigo ver um tempo melhor,
Em que os nossos sonhos se tornam realidade".

Ela: "Eles têm carros do tamanho de bares,
Têm rios de ouro,
Mas o vento vai bem por dentro de ti,
Não há lugar para os antigos,
Quando pegaste pela primeira vez na minha mão,
Numa véspera gelada de Natal,
Tu prometeste-me que a Broadway estava à minha espera.
Tu eras bonito…"

Ele: "E tu bonita,
A rainha de Nova Iorque"

Os dois: "Quando a banda parou de tocar,
Eles urraram por mais,
Sinatra estava a cantar,
Todos os beberrões cantavam,
Beijámo-nos num canto e dançámos pela noite fora."

Ambos: "Os rapazes do coro da polícia de Nova Iorque,
Estavam a cantar o “Galway Bay”,
E todos os sinos tocavam pelo dia de Natal”.

Ela: “És um preguiçoso, um vadio,
Um monte velho de sucata,
Quando ficas aí, quase morto, uma farripa nessa cama,
És um saco de lixo, um verme,
Um reles maricas de terceira,
Feliz Natal meu rabo,
Peço a Deus que seja o nosso último".

Ambos: "Os rapazes do coro da polícia de Nova Iorque,
Continuam a cantar o “Galway Bay”,
E os sinos continuam a tocar pelo dia de Natal".

Ele: “Eu podia ter sido alguém,
Também podia ter sido qualquer pessoa,
Tu roubaste-me os meus sonhos quando te encontrei pela primeira vez…
Guardei-os para mim, juntei-os aos meus,
Não consigo fazer isto sozinho,
Fiz os meus sonhos à volta de ti”.

Ambos: “Os rapazes do coro da polícia de Nova Iorque,
Continuam a cantar o “Galway Bay”,
E os sinos continuam a tocar pelo dia de Natal”.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Natal (História deste Natal! conforme publicada no Alto Alentejo)

Por me ter sido solicitada pelo meu querido amigo Manuel Isaac, director do jornal, por via telefone, aqui procedo à publicação da minha crónica sobre este Natal conforme saiu no Alto Alentejo, colocada na internet apenas após de ter saído nas bancas, conforme mandam as leis jornalísticas!


Esperando que gostem, desejo a todos um Feliz Natal e um Santo Ano Novo! Mesmo!




História deste Natal


Para um rapaz (inho) nascido e criando por estas paragens, o nosso Alentejo, o nosso interior tem um papel fulcral na concepção da personalidade por mais voltas que se possam dar cá dentro e no nosso planeta. Por mais longe que eu fosse, por mais distante que fosse a viagem, nunca acabei verdadeiramente por sair de cá. Fosse ao topo da Europa, fosse a um continente ao lado, por onde fosse mesmo que fosse apenas na imaginação, nunca se deixava verdadeiramente esta paragem, este sentir, este tanto que nos vai cá dentro. Um alentejano nunca deixa de ser isso mesmo, de ver o mundo sob essa perspectiva única, intrínseca, exclusiva! Um dia, uma senhora do meu concelho que muito estimo e pela qual tenho imensa consideração ensinou-me que desde que sejamos iguais a nós próprios, fiéis ao que acreditamos, nada temos de temer seja qual for a plateia e a importância dos que nos ouvem. O valor dessa autenticidade foi-me explicado com exemplos e de uma forma que me há-de acompanhar sempre, desde então!


Para um menino que foi crescido na freguesia da Beirã, bem coladinho a Espanha, houve valores desde essa tenra idade que foram inculcados e estão vivos ainda hoje! Nos anos 80, sem parabólicas, sem internet, sem comunicação e mass media, com muita dificuldade em aceder aos grandes centros divulgadores, existiam forças e valores que se faziam sentir e se faziam ouvir como nunca. Nesse Portugal rural de então, em que a democracia se encontrava a sedimentar, a força da Igreja era muito sentida, ouvida e seguida a todos os níveis desde muito cedo. As palavras, os ensinamentos que eram passados graciosamente na missa dominical eram por todos escutados e existia um esforço efectivo por torná-los realidade. Fazer bem era uma das missões que aprendíamos em crianças e nos esforçávamos por cumprir porque sabíamos que a recompensa, nem que fosse apenas um sorriso ou um gesto afável, era bem mais reconfortante do que ouvir ralhar ou mesmo um castigo! Eles cumpriam a sua missão de espalhar a boa nova e nós, criancinhas, aprendíamos ali coisas que valiam mesmo a pena e nos esforçávamo-nos para guardar dentro e para todo o sempre.


Mais do que qualquer outro mês, mas até do que Maio, Dezembro era o mês por todos aguardado e muito esperado como sendo um mês em festa: a festa de Jesus, a dos seus ensinamentos para a vida e a de Natal. Festa de todos, festa dos amigos, festa da família, festa de união, uma verdadeira festa em unidade! O Natal começava para nós bem cedo com a apanha do pinheiro, a recolha do musgo nos campos, a decoração geral e minuciosa da igreja… o Natal não era só a festa de um dia… durava um mês todo a preparar e a celebração não tinha comparação possível no ano inteiro. O ar que se respirava e cheirava na igreja nesses dias não tem nem tinha comparação com o do resto do ano. Era um ar de gala.


O Natal que se vivia nesse então era passado para as nossas casas numa escala adaptada ao espaço e ao número de pessoas mas o sentimento era o mesmo! Em casa esforçávamo-nos por ser tudo convenientemente adaptado e aprendemos a saber a lição natalícia na ponta da língua. Há coisa, muitas coisas que guardamos em pequeninos e duram para sempre. O Pedro que se colocava então a ver as faúlhas do lume do galo a subirem para o céu estrelado ainda cá está! É o mesmo! Essa assombração, essa magia tranquilizante ainda hoje se mantém!


Eu acredito no Natal e na sua magia. Sempre acreditei! Vejamos nós o Natal como uma fábula de que o amor é grandioso, que se pode ser rei sem ostentação e luxos, que se pode ser íntegro e verdadeiro, que se pode triunfar valendo só por si, que somos todos iguais, filhos de Deus e a crescer… Tomemos nós uma das versões bíblicas verídicas ou uma das muitas adaptações… o enriquecimento que se obtém é imenso e vale por tudo!


Este Natal, guardou-se e trouxe-me a maior das prendas: o regresso à vida, à minha família, aos meus, a casa, à minha terra depois de um trágico acidente de motorizada que me deixou 3 semanas em coma e me fez lutar (sem eu me aperceber disso mesmo) pela vida. Não pensem que por ser um acidente deste género, teve origem numa mota de uma grande dimensão (afinal era apenas uma Vespa antiga de 50cc.) nem foi muito aparatoso (foi apenas uma queda junto a um cruzamento perto de casa) mas as consequências e o movimento do cérebro dentro do capacete, essas sim, foram mais complicadas. Desde Julho estive sempre internado até agora, Dezembro. Mas graças a Deus e por ser Natal, a altura do regresso não podia ser melhor!


Ainda falta muito movimento, muito equilíbrio a este Pedro recuperado que tinha um score de 6 numa escala de 0 a 20 (vim depois eu a saber e a apanhar nas conversas entre os médicos em Lisboa) mas ele está a recuperar nessa imensa caminhada para voltar a estar bem e em forma, disposto a tudo para aproveitar esta oportunidade, este renascimento único, esta nova hipótese na vida. Por isso, para todos os leitores que me seguem com atenção, eu tenho uma lição de vida para vos passar: nunca desistam, acreditem sempre, nunca baixem os braços, puxem sempre por vocês por muito que vos custe e ainda que não saibam qual vai ser o desfecho porque uma coisa é certa: se não forem vocês a puxar… Há que ter força e começar do zero, do nada, reaprender tudo! Só com humildade, só com muita honestidade e espírito de sacrifício se conseguem as coisas grandes que valem mesmo a pena. Aproveitem a força da família, dos amigos, de quem vos ama e vos quer bem para conseguirem potenciá-la ao máximo!


Há viagens, há experiências que valem muito mais a pena se forem assim: conseguidas por todos! Já agora, se não nos virmos até lá: desejo-vos um feliz e santo Natal repleto de tudo o que mais desejam. Que seja um óptimo Natal! Pensem e sintam isso!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Penso, logo... tenho dúvidas!



É muito difícil! Muito difícil! Quase todos os dias me lembro disso e passo sempre, diversas vezes, a pensar nisso. É muito difícil! Esta remontada, esta luta pela vida, o tentar estar ao nível que estava, ao nível de quem nos rodeia e apoio e nos “ampara”, é tudo menos fácil. Quem este onde estive, quem esteve do “outro lado” e voltou tem de ter muito força porque isto é tudo menos fácil e muito menos é simples. E atenção que eu apenas falo daquilo que me apercebo, nem sequer estou a referir-me à saída do coma, à recuperação da parte cerebral que os médicos classificaram como notável (quando me diziam que quem visse o meu TAC não seria capaz de afirmar que eu tinha sofrido um acidente daquelas dimensões e com aquelas consequências cujo traumatismo podia levar ao pior, à morte, ao fim de tudo). Essa parte foi, graças a Deus, louvável e eu sinto-o todos os dias como ninguém e dou muitos agradecimentos por isso!


Eu falo da recuperação física, da recuperação de um braço que ainda me dói como se me tivessem tirado ontem os dois parafusos enormes que o seguravam (e ainda sinto embora não estejam cá); a recuperação de duas pernas que eu sempre tratei tão bem e nas quais fiz tanto desporto, tanta natação, tanta corrida , tanta meia-maratona mas estiveram mais de 4 meses (4 meses! 4 meses! 4 x trinta ou trinta e um dias!) sempre deitadas e esticadas ao comprido. Inertes na cama ou “presas” uma cadeira de rodas em Alcoitão. Difícil! Duro! Tem de se ter uma força de vontade gigantesca, tem de se ser mesmo muito forte e eu dou por mim a pensar por mim como um Super-Homem quando revejo mentalmente tudo o que se passou. A parte dos exercícios, das caminhadas, do esforço que se tem de fazer tem de ser vista mesmo assim: como um esforço, como algo que nós fazemos e cumprimos porque nos faz bem, porque estamos convencidos que assim tornamos mais curto e mais rápido o caminho que temos de andar. Mas não é fácil! Quem é submetido a um exame desta natureza e desta envergadura dá por vezes por si a colocar questões e dúvidas em tudo. Até nas coisas mais simples. Como é que eu que corria duas horas sem parar me sinto agora quando olho para 100 metros e coloco tudo no campo do indefinido?… Do não ser capaz!?! Que repercussões terá isso em mim, como é que eu… que era um homem que podia ir a todo o lado e fazia tudo sozinho (correr, andar, era livre!) me sinto agora quando a preocupação dos que me querem bem me limita em cuidados um simples passeio ao sol de 4 quilómetros à volta da minha terra? Como é que eu vou ser? Será que isto me transforma? Será que isto me muda? Será que isto me altera? Que Pedro é este que está agora a erguer-se de novo? Dúvidas, dúvidas, perguntas muitas, questões para dar e vender! Volto à questão que coloquei no início: que Pedro é este? E eu tenho medo do que pode vir a sair porque de certezas só tenho a cabeça e o intelecto. Tudo o resto são dúvidas! Muitas dúvidas e isso é que me assusta! Eu, que sempre fui um homem prevenido e cheio de certezas, que sempre joguei seguro e pelo seguro vejo-me assim meio perdido num tabuleiro de incertezas e instabilidades que só me preocupam. A saúde, a vida, a finitude de um gajo, as alterações normais da vida ganham à luz deste acidente e as suas repercussões, uma dimensão extraordinária. Tome-se um gajo do tipo normal que de normal nunca teve nada e meta-se neste imbróglio que hão-de ver o resultado! É uma charada e eu peço-vos desculpa porque não posso mesmo falar de mais assunto nenhum senão este que me importa agora tanto e é a minha vida! É a vida que me preocupa, é a minha vida e isso sobrepõe-se a tudo o resto! O Eusébio está internado e a lutar contra uma grave pneumonia? É assunto que merece o devido destaque mas tem de dar a vez! O Passos Coelho reuniu-se com o Seguro e passaram a tarde a jogar à bisca lambida e a recordar os engates que faziam quando eram líderes das juventudes partidária nacionais? Merece o seu destaque. Teria o seu lugar no blogue mas não agora! Querem cortar feriados, querem tirar alguns dias de férias, tudo isso vai aqui ser devidamente discutido e analisado mas… não agora que o homem não pode consumir-se nessas preocupações, nessas “miudezas”, nesses assuntos que costumam ser o prato forte do dia aqui mas não neste momento quando valores mais altos se levantam! Há que definir prioridades! Por muito que eu gostasse (que gostava e gosto!) de tocar guitarra, nunca mais lhe peguei e sei que vai tardar até ter coragem de lhe pegar porque… valores mais altos se levantam. O que é que um gajo pode fazer ou a que é que ele pode aspirar se tem dificuldades a caminhar com equilíbrio, a andar em linha recta, a meter um pé à frente do outro? Tem de se ter calma! Não se pode vacilar, não se pode baixar o nível, não se pode deixar descambar a sessão e ir tranquilamente, passo a passo, deixando que as coisas voltem a ocupar o seu devido lugar. Grande lição esta! Aprender na pele a ser mais humilde, aprender a ter mais calma, aprender a ser mais tolerante, aprender tudo, tudo com muito custo, muito sacrifício, tentando sempre descobrir qual foi a vontade, a intenção de Deus ao poupar-nos a vida. Descobrir a intenção divina, a orientação que nos preside a vida é um segredo que sempre me intrigou mas que agora tem uma dimensão extraordinária e uma proporções imensas à luz destes acontecimentos.



Avancemos pois, diariamente, entre as caminhadas, os exercícios, a natação e demais ocupações mas sempre, sempre, sempre, cogitando e deixando que esta massa cinzenta que nos cobre a cúpula interna corporal trabalhe e nos ajude dando-nos razões para tudo, venham elas à hora que vierem, seja de madrugada ou de noite porque fazem sempre falta e a ajuda é enorme. Explicações precisam-se!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Dando o litro



A manhã foi passada em exercício duro e intenso. Para mim, isto agora significa (mais do que nunca…) mexer! Caminhadas por caminhos sinuosos e empedrados? Exercícios nada fáceis e sobre as pernas no campo de futebol? Testes diversos ao equilíbrio e em pé? Tudo isto pode parecer pouco mas a minha manhã foi passada assim! Não há cá televisões e sofás, não há cá comodismo e desfaçatez! Tudo na linha, tudo a mexer! Já ontem, depois de muito ter subido e descido as escadas do estádio municipal de Portalegre, de muito ter nadado e feito muito exercício nas piscinas dos Assentos, depois de ter passado a manhã naquele reboliço todo, ainda arranjei força para ao final da tarde ter ido sozinho, repito… sozinho, à estrada do Valongo percorrer uma distância de quatro quilómetros e meio para lá e outros tantos para cá, num total de 3 horas, fazendo um total de 9 quilómetros! Se é assim, como é de facto, que posso eu responder quando me perguntam se estou melhor se digo sempre que… “estou a trabalhar para ficar bom, para recuperar a minha forma e o meu estado?”. Já estou longe na idade a ter pretensões de ser o Sport Billy cá do bairro. Essa já lá vai… Mas depois de ter estado tantos meses parado, de ter estado tanto tempo internado, já que tenho disponibilidade, vontade e tantos amigos que me ajudam, que opção tenho eu ao meu alcance mais válida senão esta a de fazer a minha recuperação, a minha fisioterapia, o meu desporto da melhor maneira que me é possível?


Que Pedro Sobreiro é este então que continua a ficar todo feliz quando pessoas que o conhecem desde sempre lhe dizem que continua o mesmo, que está tal e qual, que nem se nota que teve um acidente tão grave? Fica feliz! Em primeiro lugar, pela amável declaração que fazem mas também porque faz questão e trabalha mesmo para que nada se note. Sente diferente o quê, então? Muita coisa, tanta coisa! A habituação a este novo estado é gradual e exige enorme esforço e entrega pessoal. Por vezes é a cabeça que apesar de continuar intocável (ainda bem!) opta por se armar em parva e esquisita quando há muita gente, muita confusão, espaços avantajados… quase que a pedir descanso e calma. Outras vezes é o corpo que dá sinais de ter estado tanto tempo parado e estranha tanto movimento, tanta actividade física, tanto solicitação. Por vezes dói o braço cujo cotovelo calcificou e não estica nem dobra. Estando sempre na mesma posição, não penteia nem faz a barba, custa a escovar os dentes e a vestir e a tomar banho e, e… custa fazer tudo porque ele foi mandado e está habituado a não ser utilizado, a dar a vez ao colega esquerdo quando seja para tomar refeições, a comer a sopa ou levar os alimentos à boca. Ter um braço que não se pode trabalhar nem mexer incomoda… porque sendo assim só se fica com o apoio do colega esquerdo. Falei em dentes? Os dentes… toda a dentição inferior está cá e os médicos fizeram um excelente trabalho porque os deixaram praticamente todos no sítio, com ligeiríssimas diferenças que não são visíveis à vista desarmada mas para mim que sou o dono e os conheço como ninguém, a sensação que tenho é que os dente tendo sido mexidos… não são meus! Eu sei que isto não corresponde à realidade (e ainda bem) mas eu sinto os dentes de baixo como se não fossem meus. Certa vez numa consulta de Lisboa em São José, a minha Cristina perguntou ao médico se se passava alguma coisa com os dentes porque eu, de vezes, denotava algumas queixas dos mesmos. “Os dentes dele?!?!”, perguntou o médico, “você nem imagina como este homem trazia a boca!” e eu pensei que o mais certo era ter ido em mísero estado. E disse ele… “Eu até tive uma discussão porque não deixei que lhe metessem aparelhos e disse que queria que os dentes dele ficassem impecáveis, porque eu sempre disse que este homem ia ficar bom e ia recuperar apesar de ter um índice de sobrevivência e uma probabilidades tão baixas. O que lhe aconteceu foi mesmo um milagre e eu sou testemunha disso”. Assim fiquei contente com os dentes e convicto que com o tempo vai passar esta impressão de que não são meus, sobretudo quando a meteorologia ou as refeições exigem um esforço suplementar da sua parte. Coisas diferentes e que ficaram deficitárias ou necessitam de uma revisão suplementar… a vista que não está tão nítida e denota claramente uma revisão das optimetrias, a atenção e já agora a memória recente, o equilíbrio físico e ocular, a concentração… coisas a mais para quem esteve mais de 4 meses parado e quer como tudo e como ninguém, voltar a estar na mesma, a estar em alta. Que grande caminho… Que longo é e se eu faço tudo o que está ao meu alcance para o alcançar. Como me costumam dizer muito agora… “elas para se darem em num instante… não custam, nem demoram nada mas para recuperar e voltar ao normal…”. Ensinar a missa ao padre… Se eu o sei…. E bem! O que não se pode é… (isso nunca!) baixar os braços nem dar parte de fraco! Resistir!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

De arrumos! (para quem esteve tanto tempo fora)



Difícil! O que é que é muito difícil? Tudo! O regresso, o retorno, a parte que nos toda é tudo menos fácil. Por mais que se tente explicar ou dizer, por mais que se faça, por mais compreensivos que sejam os interlocutores… esta é uma verdade inquestionável! É óbvio que tudo isto é possível porque Deus nos deu mais uma oportunidade, porque Deus foi benévolo e nos quis de volta (e nós ficamos a saber isso e bem) mas tendo quase tudo (e eu tenho a graça de ter praticamente tudo aquilo quero bem incluindo família, amigos, a minha vida de volta incluindo trabalho e casa), mas… ainda assim… falta a parte de leão e essa é para nós, fica a nosso cargo e se não formos nós a agarrarmo-nos a ela com unhas e dentes, ninguém mais o fará.


Perante tudo isto, perante o cansaço (físico) e o medo (latente, dos outros, do mundo…) que se apoderam de nós, o mais fácil é deixarmos que a “concha” se feche e deixarmo-nos ficar assim protegidos, alheados de tudo. Há que resistir e nunca a palavra resistência teve para mim tanta força ou quis dizer tanta coisa poderosa! Porque levantar-me e fazer tudo aquilo que me faz falta para eu me sentir bem? Porquê levantar-me? Porquê escolher uma de entre (que nos parecem tantas) roupas? Porquê fazer a barba com a canhota se com a direita já é tão difícil e complicado? Porquê este esforço e esta compreensão em tentar acompanhar o ritmo dos que vivem connosco mesmo que tenham a vivacidade de terem apenas 1 ano? Porquê tudo isto que dá tanto trabalho e nós nos esforçamos assim tanto para alcançar porque achamos que sim e porque merece a pena? Porque sim!

Quem é que percebe realmente que nós temos as pernas a fraquejar, bamboleantes de terem estado tanto tempo acamadas e em repouso quando estamos de pé? Será que se vê? Será que se nota quando tentamos andar ou somos apenas nós que o sentimos? Essas dúvidas todas, multiplicadas por mil assolam a cabeça em bombardeio constante perante uma situação destes.

E os outros? Compreender-nos-ão? Aceitarão o que lhes dizemos? Serão tolerantes? Se sim, até quando? Sempre?

Dúvidas, dúvidas, perguntas ininterruptas que não param de matraquilhar quem se sente assim, num regresso, rejuvenescendo, regressando à vida.

Às vezes, quem me conhece bem e gosta de mim pergunta-me se sei porque estou com um determinado ar… se estou pensativo… se estou a meditar… se estou cabisbaixo… o que é que me apoquenta? E eu sorrio apenas, tranquilizando-os, deixando-os calmos, dizendo-lhes que estou apenas a pensar, a usar a cabeça, que estou apenas a raciocinar apesar de ter o ar mais natural do mundo e de ter agora tanto, tanto, tanto em que pensar . Neste recentemente houve muitos médicos que me garantiram que a extraordinária reacção cerebral que eu tive neste acidente se deveu ao facto de ter usado muito o cérebro durante a vida, de o ter em permanente actividade, de ele ser muito utilizado e por ter sido assim… quando ele foi chamado soube dizer que estava presente e respondeu. Se tive sempre muita coisa e muito gosto em pensar, que dizer agora que eu tenho tanta coisa, tanto assunto, tanta matéria que está mesmo à espera que eu me debruce sobre ela? É um manancial que até dá gosto de pensar nele sobretudo se me lembrar dos meses que passaram e da quantidade de coisas que há à espera de serem pensadas, no mundo e na minha e na minha vida pessoal. Tanto, tanto, tanto…

Ontem, depois de almoço nos sógrinhos (excelente, como sempre!), vim a casa com a minha patroa Cristina e como não sou (nem nunca fui!) cachopo para estar sentadinho no sofá a ver televisão, nem para estar a dormir a sesta, olhei para a estante de dvds das minhas pequenas e pensei: “aquilo tem de levar mão!”, tal era a desorganização de títulos que por ali andava! Dvds originais da Disney misturados com dvds menores, dvds da Pixar que eu muito prezo e estimo (os melhores! Tenho-os todos!) misturados com dvds de 3ª linha para público infantis, tudo misturado, tudo à molhada quando era eu que habitualmente me encarregava da catalogação de aquilo tudo. Havia secções para tudo, espaço para as colecções estarem arrumadas, sítio para os encontrar em segundos, tudo no seu sítio como eu habitualmente fazia. Não havia dvd que eu não encontrasse logo de imediato. Como eu gostava de passar para elas e de lhes ensinar a terem os seus dvds como os pai tem os dele: organizados, perfeitamente arrumados como ainda continuam os meus! Mas aquela era a colecção que os pais foram comprando para 2 criancinhas, desarrumadas (de lugar!) como só ela sabem ser e é difícil explicar a duas bebés de quase 2 e 10 anos como é importante ter tudo no sítio, sobretudo quando se trata de coisas tão fundamentais como o cinema de que são donas e têm em casa! Ideia pensada, nada mais havia se não meter mão à obra, sobretudo depois de ter estado quase 5 meses fora de casa quando nem eu nem elas esperavam! Tentar eu bem tentei e se me esforcei e de que maneira tentando refazer as colunas por estúdio que produziu, colunas por importância. Não valeu de nada e acabou literalmente por ficar tudo como estava porque a meio das arrumações… fui pensando naquilo e percebi que se estavam assim era porque elas achavam que até podem estar fora do lugar mas se estão aparentemente arrumados para quem chega, estão bem! Desde que estejam limpos, arrumados na prateleira de forma ordeira, desde que devidamente protegidos e estimados, para elas estão perfeitos que é a forma correcta de elas as terem e os estimarem.

Eu… mais uma vez, tive que me render à evidência e dar o braço a torcer a esta verdade insofismável da vida como me tenho dado a muitas ultimamente: quando se tem 2 crianças bebés em casa, a arrumação sequencial das coisas sejam elas dvds, brinquedos, vestidos, bonecas ou o que quer que seja… são ela que definem! De pouco vale que para nós adultos esteja fora de sítio desde que esteja lá, no lugar! Que mais dá se está na fila errada, mais para cima se ela não compreendem e se para elas está bem? Lição aprendida para este “obcecado” com arrumações à sua maneira quando o que tem de aprender é a estar como os outros, a estar bem com a visão diferente da coisas quando elas faz sentido!

Como outra: eu estava habituado a nunca deixar as crónicas ao meio! Nunca descansada enquanto não as terminava. Esta... que começou a ser escrita ontem de tarde antes de ter tido a felicidade de ir cantar os parabéns ao clube da minha terra na sua sede (Parabéns GDA!) e que felicidade por ter podido estar ali presente, era para ter ficado pronta ontem. Mas meteu-se a noite, as minhas criancinhas quiseram a minha atenção e o meu lugar era junto delas porque para quem lê… que mais dá isso desde a ideia esteja lá e consiga tudo o que quer?

A vida… é uma grande e constante lição em permanente mutação que nunca pára de nos surpreender!

Aprendamos pois que o saber nunca é demais e é coisa que continua a não ocupar lugar! Ainda bem!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

To speak your mind out! (Dizer o que te vai na gana!)

Imagem do Speaker’s Corner em Hyde Park, Londres. Mais um colega! (só que este tem menos audiência!)



Um grande salto este meu… que me levou ao desconhecido sem me deixar recordações do outro lado. Por muito que me perguntem as pessoas, lembranças do coma não tenho nem a primeira o que tem de ser necessariamente um sinal positivo porque aplica-se mesmo a velha máxima: “no news are good news”. Nem visões apocalípticas, nem revelações, nem nada!, o que tem de ser necessariamente bom porque a sensação era a de estar bem, era a de estar a dormir tranquilamente. Os dias agora em casa são passados entre exercícios diversos, caminhadas de quilómetros, natação, esforços múltiplos porque para sestas e descansos não há pachorra! Para aí já dei! Esforço-me imenso diariamente para recuperar a minha forma física porque sei e sinto que tenho ainda muito para andar até poder estar aproximado ao nível em que estava. O difícil é quando um homem independente que estava possibilitado de tudo e de chegar a todo o lado se vê assim, de um momento para o outro, aprisionado numa redoma que o limita! Querer fazer e pedirem-lhe que não vá sozinho, que não faça, que tenha cuidado, que não ficam em descanso se fizer o que tem vontade porque os riscos estão sempre aí e são muitos! Quando somos pequeninos, é muito habitual ouvirmos que não, que não podemos, que não nos possibilitam. Quando se tem quase 40 anos é bem diferente porque o sentimento é também outro! Ninguém está preparado para isto, para esta volta enorme, para reaprender praticamente do zero. Tudo tem de ser muito bem pensado ao milímetro. Aquilo que parecia fácil, aquilo que era pêra doce, aquilo que não custava mesmo nada tem de ser muito bem medido sob pena da ficar mal na fotografia, que é coisa que ninguém quer, muito menos quem passou por um aperto destes! E assim vamos levando os dias, sempre apoiados e com a ajuda de amigos que se prontificam disponibilizando o seu contributo e o seu apoio.


De resto, o vosso escriba tem os mesmos gostos de sempre que se mantêm inalterados porque aí não deixou que lhe mexessem! Os gostos que sempre alimentaram este blogue, as paixões que são óbvias e se conseguem imaginar através da leitura não mudaram nada! Podiam mexer em todo o lado mas aí não que o fusível apitava e tocava o alarme. O que falta para esse regresso ser em pleno é que valores mais altos se levantaram e havendo esta questão óbvia de recuperação para analisar, sobrepõe-se a todas as outras. Demos-lhe tempo, então. O seu a seu tempo virá!


Bem hajam vocês, seguidores, fiéis, leitores que nunca abandonaram o barco e me fizeram compreender por A+B que este blogue é mesmo o tal espaço, o local certo para me poder desbocar e deitar cá para fora aquilo que me vai cá dentro sem pressões, sem controles, sem censuras e /ou limitações. E quanto não vale isso, ter um Speaker’s Corner assim virtual e tão bem concorrido? Vale tudo! Ainda bem que me lembrei da password!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Voltar à água




Hoje foi para mim um dia de recuperação muito feliz: pela primeira vez desde Julho fui à piscina! Para quem faz natação há mais de uma década, regularmente, todas as semanas por várias vezes, quem tem o hábito de se ver no meio aquático e não passa sem ele, regressar à piscina foi um achado! É certo que tive de me deslocar aos Assentos em Portalegre, aproveitando as sinergias e o apoio que me era concedido e garantido, mas mais vale tarde do que nunca! Já não era sem tempo e nem vou aqui falar na tristeza que é ter uma piscina municipal junto de casa sem estar em funcionamento, nem aqui vou falar no complicado que foi entrar e aceder a uma piscina situada numa capital de distrito porque o que interessa é que o homem regressou (finalmente!) ao meio aquático. Saudades (muitas!) do calor e daquele bafo quente, saudades de tudo! Apesar de nunca ter estado na piscina em questão, senti-me em casa. Lá entrei, com cada passo controlado como habitualmente e cumprindo os movimentos orientados pelo meu amável treinador Bugalhão. Para um homem que tanto imaginou e sonhou com este momento, ter tardado tanto fez-me pensar no estado e no andamento das coisas. A água era o meu meio! Se eu me sentia bem e controlava todos os estados e todos os movimentos… Estar assim limitado e de regresso fez-me voltar ao ponto da situação e aperceber-me do estado das coisas. A vontade do Pedro era nadar mais de 1 hora sem parar, era percorrer todos os estilos, era ir ao crawl, à mariposa, às costas, aos bruços… era desfrutar e regressar ao de sempre, mas… como na corrida que eu adoro tanto, a paragem física fez-se sentir e aos limitações também. Quem me viu deu-me os parabéns, disse-me que nem se notava que aconteceu o que tinha sucedido, mas eu… que sou o meu melhor e mais austero juiz, senti bem que foi uma paragem muito grande e do quanto tenho para recuperar até me conseguir aproximar da forma absolutamente meteórica como eu me sentia em forma sobretudo estando na água! Desde aquele então, perdi quase 10 kg (menos de 75 kg. agora!), sinto que as pernas estão muito sólidas e duras, perdi mobilidade e elasticidade, emperrei! Por mais que eu queira, por muita que seja a vontade de voltar e de me superar, a vontade tem de se refreada porque a pressa é inimiga do bem. Tenho de (mais uma vez!) aprender a não ser exigente demais comigo mesmo, a dar tempo ao tempo, a recuperar tudo lentamente (trabalhando árduo para isso mesmo), a sonhar que só assim se pode esperar que volte tudo à forma que eu queria. E quero! Esta é uma prova de resistência, um teste de tenacidade, uma medição às reais capacidades que eu quero triunfar e da qual quero ter o melhor resultado possível! Para quem corria uma meia maratona (21Km!), é muito difícil olhar para 500 metros e pensar se será capaz… Para quem nadava tanto… tanto… e se sentia tão bem… estar tantos meses longe, parado, afastado do meio é natural que faça repensar tudo e colocar questões. Dúvidas agora há muitas mas só agarrado às certezas se pode sonhar com passos maiores, com um regresso em força que tanto se quer mas se sente muito difícil e trabalhoso.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Leonor Lança Sobreiro... Uma década de Leonor!

(Fotos tiradas hoje de manhã !)



10 anos… Poder celebrar uma década de existência é um marco na vida de alguém, inesquecível sempre, sobretudo quando se teve um ano tão atribulado! Uma data memorável para a vida da Leonor e para a de toda a família, sobretudo para mim que tenho a oportunidade única de estar perto dela, de a cheirar na cama, de lhe arranjar as torradinhas para o pequeno almoço, de lhe aquecer o leitinho com chocolate, de a ajudar a vestir, de lhe pentear os cabelinhos (tão lindos!),de lhe tirar uma foto que quero que guarde para toda a vida! Uma oportunidade de glória que se guarda para sempre, para ela e para nós!



Ainda me recordo bem como tudo foi há 10 anos atrás. Lembro-me dos nervos, das hesitações, da incerteza de tudo, lembro-me como se fosse hoje! Depois… de tanto penar e esperar, bem ao final do dia… depois de um Benfica com o Santa Clara que o médico fez questão de ver, lá veio ela! (Assistindo eu a tudo, tudinho, mas tendo que bater eu bem o pé para que assim me deixassem ver num quarto minúsculo e num hospital em obras!!) O momento em que ela desaguou, a cara da tranquilidade da mãe após o parto, o abrir de uma nova temporada e de um novo ciclo ficam para sempre!


Longe vai a criancinha que tanto nos habituou. Longe vai a minha menina! A Leonor está hoje a caminhar a passos largos para a adolescência, para querer ser uma cachopa, uma senhorinha que quer deixar marca por onde passa. Os pais, esses… velhotes… têm como missão serem os apoios, serem o garante de tudo, serem a certeza que a ampara. E nós cá estamos, para tudo aquilo que ela queira e seja preciso, na retaguarda dando apoio!


Espero que para ela seja um grande dia, inesquecível! Cheio de amigos, cheio de pessoas que ela ama e de prendas! A minha é estar cá, poder desfrutar dela, assistir a tudo isto que é uma grande felicidade, uma grande alegria para quem correu o risco de ver tudo de tão longe.


O Natal começa bem cedo para nesta família! Com dias assim de grandes e cheios e repletos de tudo o que é de bom… é fácil ser-se feliz! Que seja um dia feliz de anos, minha querida filha! Que seja tudo de bom, repleto do que mais gostas e mais desejas junto dos teus que estão todos a trabalhar para que tenhas um dia inesquecível ! Assim seja!


Desfruta bem! O dia é teu, filha!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Mantendo (recuperando) o equilíbrio



Comovido por toda a imensidão de forças (tantas, tantas… um abraço sentido, um agradecimento e uma homenagem a todas e a cada uma) que me têm chegado das mais diferentes formas (via este blogue, via facebook, por toda a internet, por mensagens ou chamadas de telemóvel ou até pessoalmente), não resisto a fazer o ponto da situação e vos dar conhecimento de como vai a coisa. Um fenómeno destes como o que eu vivi não se explica em meia dúzia de linhas e tem diversas cambiantes e perspectivas de ser visto. Pegue-se num homem que está em plena flor da idade, que se sente no seu apogeu (físico, intelectual) e submeta-se a uma prova destas…. que o deixa em coma, que o leva ao limite entre a vida e a morte, que o deixa a viver quase 5 meses (!!!) em hospitais e analise-se a coisa… é obra! Só o viver em Alcoitão dava para fazer uma análise rebuscada das coisas pegando no tipo de médicos e tratamentos, nos profissionais e exercícios, nas equipas dos mais diferentes pessoas que trabalhavam connosco, nos doentes que estavam nos mais diversos estágios dependendo do tipo de acidente (internou ou externo), nas recuperações em si… enfim… Eu falei em Alcoitão? E que dizer de Portalegre, de Lisboa? Dos diversos hospitais, das muitas pessoas que trabalharam connosco? Dava mesmo vontade de plasmar tudo num documento para a posteridade e mesmo assim ficaria de dizer muita coisa que no papel não chegaria à realidade. Não há nada que viver as coisas por dentro!!!


Sendo assim e perante isto, que homem é este que se encontra ao computador esforçando-se (fisicamente) para vos levar aquilo que sente por dentro? É um homem que ficou muito mudado por todos os factos que sacudiram a sua vida e o transformaram por dentro e eu aqui tenho de lembrar as palavras da Psicóloga que sempre trabalhou comigo neste último hospital e sempre me recordava… “Pedro, ouça-me bem : (abrindo os olhos e fazendo-se ouvir claro) escreva aquilo que lhe digo e nunca deixe que o queiram convencer do contrário: a sua cabeça está perfeita, intocável, permanece igual!”. Todas as convicções, todos os valores, todas as crenças se mantiveram e continuavam! Inalterado, pois, fiquei eu respirando profundamente com mais alívio. Eu sempre acreditei nisso mas é diferente ouvi-lo de quem está habilitado a dizê-lo, sobretudo quando o pode fazer por sua vontade e sem qualquer tipo de limitações. É muito bom ouvi-lo! Nem mais inteligente, nem mais parvo. Igual ao que era é, para mim e depois de tudo… altamente estimulante!


As limitações são sobretudo (e eu sinto-as… e de que maneira!) físicas. E eu aqui nem falo do braço direito que calcificou no cotovelo e não dobra que me limita sempre. Eu falo sobretudo na falta de equilíbrio de quem passou pelo que passou e sobretudo esteve tanto tempo deitado, prostrado numa cama! Tempo a mais! Eu quero mexer-me depressa… tanta vontade de correr… mas as pernas estão encortiçadas, duras, parecem-me como madeiros, feitas de vidro…


Dá-me a sensação que o mundo e as pessoas cá de fora processam tudo de uma forma muito acelerada. Das conversas às opiniões, dos gestos aos processos… tudo se passa depressa demais sobretudo para quem está habituado a viver estes últimos tempos em hospitais, falando para pessoas cuidadosas que nos tratam com esmero e cuidado devido, dando-nos tudo (coisas materiais) o que necessitamos. Aqui passa-se tudo muito rápido! Tudo leva o seu tempo, tudo A SEU TEMPO se consegue! Até as minha duas pequenas estão mexidas que só elas é que sabem! Lidando com as coisas e a realidade é que se pode recuperar!


Cá vou eu, então, esforçando-me por ir fazendo as coisas como sempre… caminhando os meus quilómetros, fazendo a minha ginástica, chegando a tudo quanto posso e me é solicitado, não deixando ninguém ficar para trás, zangada ou indignada com a minha atitude. Ver toda a minha gente feliz e contente é o que me dá verdadeira alegria, como isto: poderem saber mais de mim e não estarem tanto tempo à espera como antes! (mesmo que as duas princesas pequenas estejam literalmente a dominar completamente as atenções da minha sala, à minha volta neste dia feriado graças aos conjurados!)


Fiquem bem! Que seja um grande Dezembro!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

De volta à vida!



121 dias! 121 dias se passaram desde a última vez que por aqui estive, que aqui deixei aquelas que foram as minhas últimas palavras neste blogue e eu então estava tão loooonge de pensar que assim fosse. O que se passou entretanto foi um turbilhão de emoções e de sentimentos, de acontecimentos e situações em hospitais que me marcaram de uma forma tremenda enquanto ser humano. Ninguém estava à espera e preparado para aquele acidente na Vespa e menos de certeza estava eu! Pode parecer para quem ouve ou lê pela primeira vez que um acidente de mota é algo comum que acontece todos os dias, mas não no meu caso! Eu estive literalmente, graças a uma lesão cerebral difusa que então se deu e me levou ao coma, às portas da morte! Foram 3 semanas em coma e o que se passou desde então e é algo que se eu o permitisse dava para escrever não um mas vários livros, dedicados aos vários aspectos da coisa: a família, os amigos, os médicos, os enfermeiros, Marvão e quem me quer bem tinham de ter o seu mais do que merecido espaço nesse livro. Eu costumava dizer por hábito que tinha dois pais, um pai e uma mãe, mas agora estou vivo e respiro porque muita gente minha amiga assim o quis e se esforçou por isso. Desde os socorristas e os bombeiros que me salvaram, aos médicos que me socorreram, às extraordinárias equipas médicas que me trataram, aos inúmeros amigos e queridos que chegaram a mim, e, por último mas em primeiro lugar, à família que esteve SEMPRE presente! Desde a pessoa que se lembrou de mim e fez força para que tudo corresse bem à pessoa que rezou para que tudo corresse pelo melhor, toda essa gente foi importante e decisiva no desfecho feliz deste episódio. E que episódio… o mais importante e decisivo da minha vida, que Graças a Deus correu bem, correu pelo melhor!

O destaque emocional e pessoal vai para todos, todos aqueles que me sentiram falta e me estimam com particular destaque para a minha esposa Cristina Lança, as minhas duas filhas Leonor e Alice porque foi por elas que regressei! Quero também agradecer à família na qual nasci (Mano! Já soube das tuas lágrimas e não esqueço! Mãe, tias (que voltaram a ir a Lisboa seguindo-me!, tios, primas, primos) e aquela que ganhei com o casamento (pais sogros, grandes cunhados, todos) pelo seu papel decisivo na minha vida! Foram mesmo importantes, TODOS! Sem vocês eu não era nada! Já tinham um lugar de destaque no Pedro Sobreiro mas o de agora é insuperável! Estou vivo e a mexer graças a Deus, graças a todos! Família, Amigos, Treinador pessoal Bugalhão, Médicos tiveram em mim um peso e uma força fundamental

Quero daqui mandar uma abraço apertado, pessoal, único e de agradecimento para todos os que se revêem na minha mensagem! Um abraço sentido!

Sabendo eu que sabe a quem me dirijo, faço questão de não nomear ninguém em particular sabem a minha maneira de ser e eu estou-vos profundamente grato. Da pessoa que me lembrou em memória e desejou que eu voltasse a ser quem era, à pessoa que abdicou de algo e alterou o seu conforto e o seu dia a dia para me dar afecto e calor humano… Bem haja! Viagens à capital para ir buscar-me ou levar-me, um telefonema, uma mensagem no telemóvel, uma preocupação, uma chamada ao telefone, uma voz ao ouvido… foram gestos e acontecimentos que JAMAIS esquecerei! JAMAIS! Ficam guardados em mim PARA SEMPRE! Muito obrigado!


Regressar ao Hospital de São José em Lisboa e ver o contentamento e os olhos húmidos daqueles (tantos profissionais!) embargados pela emoção ao me verem disse –me tudo! Eles que são homens e mulheres duros, preparados para tudo, prontos para o pior… ficarem assim emocionados de me verem… deixa-me sem palavras! “Volte sempre Pedro… Gostámos tanto de o ver… vamos já ligar à colega ou ao colega … que não está e não o viu. De certeza que vai ficar feliz!”.


Bem hajam! Assim me sinto eu: desejoso de falar com todos e cada um e lhe agradecer… a todos os familiares, amigos, médicos… A TODO E CADA UM! COMO SE ASSIM O FIZESSE!

Muito obrigado! Vivo por vós!


PS: Um abraço final para todos os leitores deste blogue que nunca desistiram de voltar a tê-lo como seu!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A doer


Chegou a hora da verdade.


Neste defeso, o meu Benfica esturrou a fortuna de que não dispunha em jogadores.


O meu Benfica comprou como se não houvesse amanhã.


O meu Benfica é (doa a quem doer, custe a quem custar) um clube de referência no futebol mundial.


O meu Benfica tem património, tem historial, tem prestígio e tem sócios fervorosos que o apoiam e patrocinam. É o clube português com mais sócios e creio que o segundo no mundo inteiro.


O meu Benfica está recheado de estrelas e talentos mas não sei se terá uma equipa.


O meu Benfica tem muita coisa e até tem a besta de um treinador que não é capaz de assumir o favoritismo quando disputa uma eliminatória de acesso à Champions contra um clube turco de nome impossível.


E eu pergunto: “Ó minha grande merda: se não és favorito contra estes, estás aí a fazer o quê? E se jogasses contra um Real, um Barça, um Chelsea ou um Manchester?”.


Sinceramente, nunca vi tamanha auto-declaração de incompetência.


Por mim… podias ir e era já!


Tristeza…


PS: Sim… eu sei… eu já fui muito fã do homem mas as paixões também acabam, sabiam? Quando eu era fã, ele costumava dizer (de dentes cerrados) que sabia que ia ser campeão porque os jogadores com ele iam correr o dobro e dar o litro a valer. E agora? Isto? Por favor… Saí-me da frente, opá!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Back to (forever) black


Era um desfecho mais do que previsível mas nem por isso menos trágico e doloroso para todos os amantes do seu talento absolutamente único e irrepetível. Amy Winehouse era muito mais que um vozeirão singular. Era uma compositora prodigiosa, uma performer de excelência e uma figura icónica da galeria rock’n’roll, mais uma que pagou com a própria vida por reger a sua existência pelo duro lifestyle ditado pela cartilha do género.


É uma pena e uma perda imensa mas foi feita a sua vontade. Ela, que tanta vez cantou que não tinha 70 dias disponíveis para a “rehab” imposta pelos pais, até na morte foi fiel às leis do rock ao sucumbir perante a velha máxima: “Better to burn out than to fade away”.


A dura verdade é que há muito pouco glamour quando o álcool e as drogas deixam de funcionar como estimulantes à criatividade e ganham terreno, passando a ser carrascos de uma existência que fica refém do vício. Este cocktail explosivo levou-nos o Hendrix, o Morrison, a Joplin, o Jones, o Cobain e agora a Amy… tantos… todos eles com 27 anos apenas e chega a dar arrepios só de pensar no tanto que nos poderiam ter dado se fossem vivos. Imaginem a desbunda que seria uma jam session com esta rapaziada…


Naquele corpo esquálido e trôpego, viviam a soul e o blues, a pop e o rock, os mandamentos e os trejeitos, a pose e o savoir-faire e tudo isso se perdeu de uma assentada. Privados de podermos saber mais e melhor dela, haveremos sempre de ter como consolo os seus dois trabalhos, os concertos e as actuações que agora consolidarão o mito e adensarão a lenda.


Paz à sua alma.


Que descanse agora, de vez, que bem merece.



quarta-feira, 20 de julho de 2011

Meco, sol... e Rock'n'Roll


Ai eu… Deixem-me cá ver se arranjo fôlego para contar como foi tudo… que tudo foi tão bom.


Já não ia a um festival desde o primeiro Sudoeste, há uns bons 15 anos atrás e a expectativa, guindada pela qualidade das bandas, não podia ser maior. Muita coisa, tanta coisa mudou em mim desde então (casei, fui pai duas vezes, assentei praça num emprego) mas acho que o espírito, esse, continua o mesmo, sempre refém do rock’n’roll. Graças a Deus! E foi assim que entrei em transe assim que avistei as milhares de tendas, os milhares de carro, os milhares de jovens que envoltos em nuvens de pó se encaminhavam para o festival. Coisa linda de ser ver... Tanta saúde, tanta maralha bem disposta… coisa de nível! O meu amigo Ramos que sempre disse que toda a gente na vida deveria de ir a um concerto de rock, mudou logo a frase para “toda a gente deveria de ir a um festival”. Muito boa onda, grandes vibrações e tudo a curtir a sua numa de paz e união. Muito bom!


Twingo... o bólide oficial do festival! Supersónico!

Medo...

Não cabe? Cabe, cabe!

Armando (literalmente) barraca!



Ao relento já não dormimos...




A fila para os duches era sempre muita engraçada...




Como a nossa ideia era não perder pitada dos concertos, fomos cumpridores e orientamos sempre as nossas vidinhas para à hora de abertura das hostilidades já estarmos o mais próximo possível da boca de cena. Uma vez que havia 3 palcos a bombar som em simultâneo fizemos as nossas (difíceis) escolhas e vimos com bom agrado o concerto do Sean Riley que não esteve brilhante mas cumpriu. Nestas cenas, a candeia que vai à frente faz sempre as vezes de cobaia e ele bem que se pode queixar do som de merda e das constantes quebras de electricidade que lhe cortaram o pio por diversas vezes. Mas nem por isso se deixou intimidar… aproveitou para se meter com a rapaziada, distribuir abraços pelos fãs, enfim… entreteve e passou à prova oral.



Os Walkmen provaram que são grande banda e que podem dar muito… mas não ali. Homenagem viva aos Smiths e à mais nobre linhagem da pop feita com guitarras rendilhadas, provaram que podem resultar em grande numa Aula Magna ou quando muito, num coliseu, jogando em casa para os fãs mas num festival… passaram ao lado apesar do esforço sobre-humano do vocalista que berrou a alma para fora e do baterista que impressionou pelo prazer que tirava daquilo. Dava gosto ver o homem recriar-se. MAS não chegou…





Os Kooks foram a grande surpresa da noite. O vocalista, um misto de Mick Jagger e Jim Morrison, não parou um segundo e ganhou a assistência desde o primeiríssimo minuto. Eu fiquei deveras espantado quando constatei a enorme legião de fãs presente, sobretudo espanhóis, que entoavam todas as canções com um fervor que impressionou a própria banda. Conhecia os dois discos e nunca fiquei fã daquela pop teenager indolente mas a verdade é que gostei muito do espectáculo.



A actuação de Beirut foi, quanto a mim, um tremendo erro de casting. Depois da devassa veio a mansidão e por segundos temi que a malta começasse a cair adormecida para o lado. Num festival, o que o meu people quer é festa e se possível, sempre a subir. Música rócócó com secções de metais e acordeão é coisa para afugentar as hostes. Eu nem desgosto do projecto e até sou capaz de levar com ele assim numa esplanada ao cair de tarde mas ali… zero! Uma maçada a esquecer.


Pois… e assim chegámos ao grande momento da noite, a actuação dos Arctic Monkeys, que foi tudo aquilo que eu esperava: demolidora! A minha alma continua a ficar parva de cada vez que penso como é que quatro putos conseguem fazer uma avalanche sonora daquelas. Convém recordar os mais distraídos que esta banda foi a grande responsável pelo boom do myspace e uma das primeiras a dar uma machadada de morte na obsoleta indústria discográfica quando provou que as bandas precisam muito mais da internet do que dela. Já eram enormes antes de editar e quando editaram bateram todos os recordes de vendas na Grã-Bretanha. Conseguiram a proeza de fazer um grande segundo disco, de não caírem ao terceiro e depois… bem, depois enrolaram-se com os Queens of the Stone Age e perceberam na pele que andar metido com malta da pesada… é pesado! Amadureceram o som, tornaram-se mais densos e hipnóticos e chegaram ao Super Bock com o novíssimo disco pronto a bombar. Percorreram todo o seu espólio musical, deram-lhe duro e cru e eu adorei. Eles também adoraram e até o esfíngico e taciturno Alex Turner não se cansou de elogiar o público português, de cantar “Portugal” e até mandar beijinhos (?!?!?) no final. Foi um fechar o dia com chave de ouro. Depois de quase 8 horas a malhar, bater com os costados no chão duro da nossa “tenda, doce tenda” foi prémio mais que merecido.



Dormir em festivais (com discotecas ao lado a funcionar até às 7h e muita maluco por ali à solta) não é fácil mas deu para carregar baterias e às 10h já estávamos de pé a caminho da famosa praia do Meco onde avistámos muito pouco nudista mas muito pessoal do festival que invadiu completamente o areal. Deu para umas bujecas, umas sandocas para recompor, algum passeios e às 6h lá estávamos abancados no acampamento dos índios para o nosso almoço/reforço/preparação para mais uma bateria de concertos.





Foto de família já com o Damião (a personagem que o meu puto encarna nestas andanças)

Impecável, a recolha dos lixos


Ontem salgados... hoje grão e amanhã... o quê? Feijão?


O Noiserv é muito bom cachopinho, muito talentoso, mas muito paradinho para um sítio daqueles. Enxotou-nos assim para o palco EDP onde curtimos os espanhóis L. A. que não vão mudar a história da música mas pelo menos não chatearam. Foi engraçado.




O B Fachada esteve bemzoca no seu estilo indolente e provocador. O rapaz é muito bom e é com toda a certeza o mais qualificado talento tuga para inscrever o seu nome na notável galeria de cantautores nacionais onde brilham de Palmas e Godinhos. Passou-se bem.



Seguiu-se o grande Tigerman e eu tenho de confessar que para mim, é o Elvis no céu e este homem na terra. Ele é uma enciclopédia andante de rock’n’roll e sabe-a toda. Toda! Virtuoso na guitarra, instigador na bateria que esgalha com os pés, subversivo nas vozes e nas bocas e completamente dominador na forma que se relaciona com o público. This dude really knows how to rock a crowd! Incomodado pelo barulho que interferia vindo de outros palcos, deu à mesa a ordem por que todos esparávamos: “Mete essa merda no máximo. Se queimar… queimou!”. E prontos… meteu-nos no bolso. É claro que a seguir, quando pediu para o ajudarmos a levantar a maior nuvem de pó do festival ao som de uma cavalgada psicótica, ninguém ficou indiferente, nem eu que estava à rasquinha do meu joelho (acho que da gota…). A mochada, o pontapé, o empurrão e a confusão foi tão grande que acho que a nuvem bateu a do vulcão da Islândia. Sempre esperei que me cancelassem o voo. No final, entregou o ouro ao bandido: “Muito obrigado. Acreditem que vocês hoje fizeram um homem muito feliz!”. Ficámos pagos. Ele faz-nos sempre felizes a nós.


Damião numa pose muito cool, aqui depois de ter andado na mochada e servido de carpete para 300


Dali foi correr para o palco principal para a muita aguardada actuação dos Portished que cumpriu na íntegra. Competência extrema, um grande som e uma senhora Beth Gibbons cuja voz arrepia até as pedras da calçada. Vê-la cantar a “Wandering star”, sentadinha, de perna trocada, com os cabelos ruivos a serem embalados pelo vento passou a ser a visão mais aproximada de um anjo perdido que alguma vez tive na vida. Cantar assim, como se não houvesse amanhã, como se cada palavra fosse uma peça preciosa e única de um puzzle indecifrável, é desígnio que só está ao alcance de alguns raros eleitos. Comprei o disco quando saiu, na Flock, em 94. 17 anos depois cumpriu-se a profecia. Só por isso, já valeu a pena.




Os Arcade Fire eram “a” banda que eu queria mesmo ver e foi um êxtase total. Tudo perfeito como no céu. A encenação, a disposição em palco, as projecções, a atitude, as vozes, a execução instrumental, o alinhamento… tudo perfeito! Ver estas 8 personagens actuarem em palco é como assistir a uma doce orgia em que toda a gente sabe precisamente aquilo que tem de fazer para ter e dar o máximo prazer aos outros. É uma autêntica locomotiva que avança desgovernada em nossa direcção. Um festim. Impossível controlar o olhar, tantos são os pontos que chamam a nossa atenção. Não há, definitivamente, banda no mundo como esta. Se os discos são maiores que a vida, épicos de proporções bíblicas… os concertos são a consagração que jamais se poderá esquecer. Foi único para nós e certamente para eles também: “Please, Portugal, please… teach other countries how to make great crowds”. Podes ter muitas que contem em uníssono cada verso… mas com este fervor… não acredito que tenhas muitas mais… Mágico!




A farda de serviço não deixava dúvidas. A festa tinha sido rijinha...

Damião sonhou que tinha tomado duche mas depois acordou

E crescia... crescia... crescia...

O Super Twingo também queria banhinho mas...


O último dia foi passado entre a lagoa e a praia, já com cansaço dos dois últimos dias a deixar fortes mazelas no físico, mas mesmo assim com muita vontade de fazer uma ponta final em grande.




Junto à magnífica lagoa do Meco molhámos nossas gargantas e com caracóis nossa fome matámos


Disseste feijão? Cá está o gajo!

Almôndegas enlatadas com ervilhas?

Só descem com um tintinho!

Olaré!


Espreitámos os X-Wife que estiveram em bom plano, vimos os Junip no palco pequeno sentadinhos debaixo de um pinheiro e não pudemos perder a actuação do mítico Ian Brown. Para mim, que sempre venerei os Stone Roses, que amo de paixão os seus dois únicos discos, que tinha o bilhete comprado em 90 ou 91 estiveram para vir a Portugal e cancelaram o concerto à última da hora… ver este homem, só vê-lo cantar e dançar… é uma coisa do outro mundo. É certo que está abrasadíssimo, que o tempo não foi macio com ele, mas continua a dominar e de que maneira. O maior!





Dali fui meter o visto ao Slash, outra lenda viva que admiro desde sempre, e gostei muito do que vi, apesar de só ter conseguido ver de bem longe… que meter o pé na frente era então impossível. Mas ainda bem que foi assim porque desta forma pude apreciar como era imensa a multidão de fãs que lotava por completo o recinto. Slash é maestro numa virtuosa máquina de rock onde pontuam os melhores e mais rodados músicos da cena. Resultado: perfeito! Ali não falta nada, nem os grandes êxitos dos Guns executados com mestria para deleite de todos. Imaginem o que é ouvir Night train, Sweet child O’mine ou Paradise City num sítio daqueles…


Os Strokes chegaram e fizeram como na música “Take it ou leave it”! Baixaram o trem das luzes por cima das cabeças, adornaram o palco com neons fluorescentes a criar vórtice, chegaram e dominaram por completo. Parecia que estávamos numa espelunca qualquer em Nova Iorque. Tiveram uma actuação virtuosa e irrepreensível. Não falhou ali uma nota. Espectacular. Eu temi que pudessem cair na pretensão de enveredarem pelo domínio do seu último mas não tão conseguido disco. Felizmente não o fizeram e não faltaram as grande malhas como “Last night”, “Reptilia”, “Hard to explain” ou “NYC cops” entre tantas, tantas outras. Não há banda mais cool. Eu adoro aquele diálogo constante entre as duas guitarras, o baixo certinho e grave, a batida e aquela pose blasé do Casablancas, como se fosse uma estrela residente num bar de alterne de terceira linha. Isto são putas batidas, sabidas e finíssimas. They sure know how to rock. Encores? Nem vê-los. Chegar, ver e vencer. Perante… e segundo as palavras do próprio: “one of the best crowds we ever had”. Não é lindo?





Damião na sua última aparição, aqui curtindo a bom valer quando a 30 metros de altitude

Pontos fortes: A localização do festival na lindíssima zona do Meco, a decoração do espaço, a qualidade das bandas (soberba!), a pontualidade dos concertos (ao minuto!).


Pontos fracos: o pó (tanto, tanto, tanto…), a falta de arruamentos e iluminação no campismo, a total inexistência de recolha de lixo que se acumulava em pilhas, a falta de caixotes de lixo no campismo, a falta de mais zonas de chuveiros sobretudo junto à tenda.


E para terminar… dois agradecimentos (tinha de ser!):


O primeiro para a minha Cristina que me passou a guia de marcha e aguentou o barco e as duas crias sozinha para que eu cumprisse este sonho. Eu sei que não é fácil ficar por nossa conta, sobretudo durante tantos dias e é por isso que dou ainda mais valor. Um obrigado mesmo do fundo do coração.


O outro vai para os meus três companheiros: Ramos, Bento e Sabi Júnior que ajudaram a que tudo fosse ainda mais especial. Que grande parceirada… o que a gente se riu e divertiu e que bem passámos o tempo. 5 estrelas! Do melhor! Jamais esquecerei esta jornada e como dizia o tal amigo… “Nunca deixem acabar isto!”.


Abração!