segunda-feira, 11 de julho de 2011

De volta ao burgo (com o Algarve revisitado)


É nesta semaninha passada em família, com o rabo enfiado no areal e os pezinhos a serem banhados pelas ondas, que melhor me apercebo da dramática relatividade do tempo. Como voa…


Passa-se um ano inteiro a sonhar com este interregno de tudo e ainda mal avistámos o mar… já estamos arrumar para partir de volta.


A estadia deste indígena por terras do Algarve, para além de ser um bálsamo revigorante para o que resta do ano, é também por mim aproveitada para tirar o pulso à portugalidade. Não se pode propriamente falar num banho de civilização (longe disso!), mas passar os dias a observar as centenas (milhares?) de tugas que torram nas toalhas ou se meneiam em passeios à beira-mar constitui uma oportunidade única de estudo da fauna autóctone deste nosso bizarro país.


No Verão constato as modas, os novos “hypes”, as expressões recém-criadas, as tendências das conversas, as taras e manias. No Verão… tiro o pulso ao Zé Povinho.


E este ano pode muito bem ser catalogado do ano em que “A crise tudo levou”. Perante a contingência deste cataclismo, divido os portugueses em 3 grupos distintos: os que, por motivos diversos e fatalidades variadas (perda de emprego, incumprimentos) já levaram com a crise em cima e deixaram assim (infelizmente) de ter possibilidade de passarem umas férias na praia; os que vivem na fartura e não só ignoram a crise como se chegam até a aproveitar dela para facturar mais algum (que os há…); e um terceiro grupo que sofre por antecipação mas que por ter tido a graça de conseguir manter as fontes de rendimento familiar ainda vai desfrutando da vida, a medo, poupando onde pode, mas sem ter bem real noção do que é que lhe pode/vai acontecer.


O que eu notei mesmo foi que havia muito menos gente, muito mais geleiras e lancheiras, que não há jogos/modas supérfluas a registar e que as filas desapareceram dos restaurantes da moda ou de referência, o que não é mau de todo, pelo menos na óptica do utente.


Comprova-se uma máxima minha: não podemos de deixar de fazer as coisas por causa da crise. Temos é de aprender a fazê-las de forma menos dispendiosa. Exemplo: a imperial na esplanada do “Costa do Vau” com vista para o areal valia 1 euro e 30. Carote, certo? Certo! Mas se se atravessasse a estrada para o “Património” já se podia dar mergulhos numa caneca de lager XL por apenas 1 euro, numa maravilhosa happy hour que estica das 9h da manhã às 7h da tarde. Capicce?


Depois… a dose de sardinha assada na “Dona Barca” (a melhor de Portimão!), bem debaixo da ponte velha, já com batata e salada incluída estava a menos de 5 euros, porra! Não é caro! 5 euros dá para andar para aí 2 minutos de carrinhos de choque no São Marcos… E o que é melhor, o que é? Não brinquem… Claro que o jarro do tinto é pago à parte mas é melhor que nada.


Na esplanada do Chimarrão há um rodízio de carnes que enche o prato por menos de 4 euros e 4 euros é quanto vale o “full english breakfast” capaz de deixar qualquer um empanturrado onde nem sequer faltam salsichas do tamanho de pilas de burro. À fartazana!


A bola de Berlim, essa suprema instituição balnear, estava a 1 euro na menina da buzina (Fónki, Fónki…), com a grave possibilidade de um gajo morrer sufocado ao tentar tragar uma massa tão trabuca sem um pouco de creme para ajudar a escorregar. Já as bolinhas com o glorioso creme no bar de apoio de praia (que pareciam rir-se para mim lá da vitrina, com o creminho a escorre-lhe pelos lados, como que a dizerem-me “come-me, come-me… devora-me otra vez…”… CUSTAVAM O MESMÍSSIMO EURO! Agora acabem-me com elas que nunca mais vos conto nada.


Registei também que os bikinis das senhoras estão cada vez mais pequeninos, ao ponto de qualquer dia correrem o risco de se desintegrarem, ou serem comestíveis, ou eu sei lá. A mim não me faz impressão nenhuma, digo-vos já. Até acho bem. Só acho é que quando as mãezinhas se inclinarem para a frente para levantarem os bebés, ou para tirarem o bronzeador da mala, e “especarem” os rabos de perna aberta com gente atrás, deviam ter instalado no rabo um dispositivo como o das carrinhas de 3.500 quilos quando fazem marcha-atrás (aquele PI-PI-PI-PI-PI) para avisarem a malta e a gente olhar para o lado. Até me admira como não ficou lá nenhum esticado com um enfarte... Haviam de ver os velhotes todos a dizerem que têm de mudar a pilha ao pacemaker. Ai não… não queiram…


Ter uma tatuagem deixou de ser uma cena de estilosa para ser do mais pimba que pode haver. Calma… I still love as duas princesinhas que voam livres no meu peito, como não abandonei os planos para próximas inscrições, nem deixei de gravar o “Miami Inc.” com medo de perder algum episódio. O mesmo não poderá certamente dizer o resto da malta que encarneirou por fazer sempre as mesmas tatuagens. Para mim: há quem tenha tatoos (personalizados, diferentes) e os outros. E quem são os outros? Os outros são os decalcados. Todos os que por aí respiram com uma destas: arame farpado, índios, lobos, águias, o nome dos filhos ou… (medo!) da mulher, um golfinho a mergulhar ao pôr-do-sol (vómito…), caracteres chineses, símbolos de clubes de futebol, focinhos de cães ou gatos e por aí fora… estão condenados a 3 coisas: ou continuam a levar com o riso de quem olha, ou começam um mealheiro para fazerem uma remoção a laser no Natal, ou vão à drogaria aviar meia dúzia de folhas de lixa e começam a limpeza a sangue-frio numa de “do it yourself”.


Neste Verão, o tempo esteve uma merda e eu fartei-me de rir da velhota algarvia que esteve durante uns bons 10 minutos a falar sozinha na paragem do autocarro em frente ao apartamento onde eu estava, a mandar o Verão literalmente para o caralho só porque ainda não trouxe calor. Naquele precioso monólogo, ela, na sua imensa sabedoria popular, falou de tudo um pouco... dos malefícios do efeito-estufa ao degelo dos calotes polares, das temperaturas de torrar de antigamente ao “chove-não-molha” actual, da crise, da falta de dinheiro, da falta de turistas, do governo e demais coisas da, cito, “puta que pariu”. Ainda lhe gritei “CONCORDO!” da varanda mas acho que ela já estava meio mouca. E pitosga. Fartei-me de lhe dizer adeus quando já estava sentada no vai-vem e ela nem esboçou o mais mínimo movimento a não ser um bater de placa nervoso. Mulher do catano!


É certo que esteve sempre sol e ameno e a minha Cris ficou toda contente porque a menina assim não apanhou calor nenhum. Mas e eu?!? Eu queria era ferro e fogo e ondas de 5 metros para fazer muitas carreirinhas… mas disso nada… Desolação. O mar como uma imensa piscina de água gelada onde o pessoal ia fazer xixi. E nada mais…


E assim se passaram… estes belos 9 dias… na doce rotina da corrida-de-1-hora-pelo-areal-às-8h-da-manhã-seguida-de-café-mais-bola-com-creme-mais-jornais-mais-mergulhos-mais-contruções-na-areia-mais-almoçarada-mais-sesta-mais-mergulhos-até-anoitecer-mais-jantarada-mais-passeio-na-rocha-ou-Shopping. Desconfio que se me saísse o milhões haveria de organizar os meus dias com uma simplicidade desarmante. Ser-se feliz até é simples e eu fui muito nestes dias se bem que coabitar com 3 mulheres; sendo que uma é pré-adolescente precoce (que critica e questiona e refila por tudo e por nada), outra que só tem 1 ano e meio mas é um autêntico compêndio ambulante de terrorismo infantil e outra que é mãe e tenta meter tudo na ordem (eu incluído); não é nada fácil. Mas eu gosto assim… Aliás… eu adoro.


Já digo como a Leonor que começa a perguntar antes da Ribeira de Nisa se “já chegámos ao Algarve?”.


Diz-me Deus… Ainda falta muito para o ano?

1 comentário:

Helena Barreta disse...

É verdade, tanto esperamos e tantos são os planos para quando estivermos de férias e vai-se a ver acabam num instante.

O cabeçalho está giríssimo. E a foto também.

Um abraço