sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Real desfeita!


Ai eu… que estou cá com uma pilha de nervos que nem m’aguento!

Ai filha… estou tão sentido por não ter sido convidado para o casamento dos príncipes ingleses. Nunca esperei… Sinceramente…

Há dias que não largo a caixa do correio mas… olha… não chegou nada.

E tão amigo que eu era da mãezinha dele. Tchhh… Grandes farras com aquela Diana… Está de Princesa do Povo está… Em bem sei como é que foi com ela… E quando nos juntávamos com a Madre Teresa de Calcutá? Xiii… era a varrer! Umas doidonas, era o que era! Eu é que sei…

Grandes noitadas em disco-nights, grandes festanças no iate do Fayed… E quando a gente fechava piso de cima do Harrods e nos empanturrávamos de caviar e tomávamos banho de Möet et Chandon… Caraças… que saudades.

Com tanta confiança era natural que um gajo criasse expectativas de ir, não acham? Claro!

Não se faz… Eu, que me fartei de chorar e cheirar risquinhos de coca debaixo do piano do Elton John quando foi do funeral dela…

Eu… que lhe dei o número de telemóvel do Robbie Williams para ele o convidar para actuar no copo d’água…

Eu… que convenci a Annie Leibovitz a tirar as fotos…

Eu… que convenci o Corbijn a filmar a cena a preto e branco para dar um ar clássico…

Eu fiquei de fora…

Soube que eles tinham uma lista de prendas para os convidados comprarem ali no Zé Boto, e acho que na Casa Moura também, mas já disse à minha Cris que não lhes vamos oferecer nadinha que isto quem não se sente não é filho de boa gente. Nem sequer um bibelotzinho, um galhito de Barcelos para meterem por cima da televisão com um naperon de renda. Nada!

Andei a comprar um vestidos prás gaiatas, uns sapatinhos de verniz e agora faço-lhe o quê?1?!? Calço-os eu?

Ligou-me à pedaço o Dom Duarte, o pobre, todo aborrecido por também não ir. Mas quando eu lhe dei as queixas começou logo feito parvo a dizer que tem muito mais direito a ir do que eu porque tem sangue azul ou lá o que é. Pfff… Coitadito! Ele já é fanhoso e ao telefone mal se percebe. A chorar baba e a sorver ranho… pior! Tive de lhe pedir desculpa que tinha de desligar porque estava a ficar sem rede e acho que ele nem sequer percebeu que estávamos a falar pelo fixo. Ehhh… totó! Daahhhh!

Olhem… para já, para já… Eu nem me importo de não ir porque eu não gosto lá muito de casamentos porque são só uma seca e este então deve de abusar. Só o trabalho… de estar a aturar aquela pindérica da Victoria Beckham… ou a chata da Rainha Elizabeta. Fujo dela! Dass… Cada seca! E depois… aqueles chapéus horrorosos que não deixam ver nada… As mulheres parecem arbustos com pernas! Que coisa! Ridículo!

E depois demoram montes de tempo a darem o almoço e um gajo cheio de fome e eles com aquela mania de tirarem fotografias no jardim e fotografias na varanda. Só espero que uma gaivota lhes faça um cocó em cima da cabeça que é para aprenderem. O quê? Não há gaivotas em Londres? Uma cegonha, então. Também serve.

Olhem… eu não vou a este casamento mas vou a outros melhores. Tenho uma prima afastada na Baixa da Banheira que vai casar com um Jeová em Julho e ela já me disse que é capaz de me convidar e até posso ficar a dormir lá em casa pelo que poupo montes de dinheiro em pensões. Olaré! Vai buscar!

Casamentos de príncipes o tanas! Toda a gente, excepto a minha Leonor, sabe que não existe essa coisa dos príncipes.

Mas sabem que mais? Já que estou em Londres, vou aproveitar para ligar aos manos Gallagher e ao Shane Mcgowan para saber se ele paga umas pints de Guiness logo à noite! Que se amole! Vai à saúde da realeza! Pariu!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O São Marcos (2011)


Funchal? Não! Santo António...

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O fogo de artíficio visto pela minha Leonor num desenho feito na escolinha esta manhã

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A fabulosa roulote Oásis. Um primor!


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O São Marcos é uma mesa de amigos

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O São Marcos pode ser uma massa frita comida ao sol


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O São Marcos é uma pega destemida





Se há vida para lá das festas de São Marcos? Claro que há. Mas custa imeeenso a encaixar nela.




O São Marcos é um festa peculiar. Logo a começar… decorre num período do ano em que o tempo geralmente ainda está instável (quando a cartilha tuga manda que as romarias se amontoem nos meses quentes de Verão). Depois, e isto à parte da componente religiosa que eu respeito e excluo desta abordagem por esse mesmo motivo, eu diria que é uma festa que para alguém que vem de fora poderá parecer… como é que eu digo isto sem ofender… bizarra. Ou melhor: peculiar.



Na edição deste ano, que foi de vacas magras por coincidir com outras romarias ligadas à quadra pascal que nos sugaram alguns divertimentos e atracções, não houve direito a carrinhos de choque e a carrosséis infantis (que deixaram os petizes a suspirar); não houve direito à “Mega-Rulote-Paraíso das Bifanas do Lino”; não houve a grande tourada porque a chuva fez a maldade de desgraçar o piso de uma praça renascida após extraordinários melhoramentos; a cabeça de cartaz dos espectáclos nocturnos era uma artista da vizinha Castelo Branco chamada Suzy (quem?) e até os indianos reduziram a sua representação a um único estaminé que se deve ter fartado de louvar Shiva pelo jackpot nas vendas de t-shirts metaleiras, óculos mafiados e outras bijutarias diversas que a todos nos encantaram.



A festa do São Marcos pode parecer pobre para quem vem de fora mas para nós… é o máximo! E é o máximo porque nos encontramos, porque nos sentamos na praça a beber umas imperiais numa esplanada improvisada junto à barraca dos finalistas, porque vemos quem não víamos há muito e de quem muito gostamos, porque é uma festa da nossa gente, gente da qual daqui a 100 anos provavelmente não deverá restar vivalma.



Podendo admitir que o São Marcos poderá não ter nada para quem vem de fora, ainda assim, o São Marcos tem jogos de futebol com gente da terra, tem tiro ao alvo, tem torneios de malha, tem quermesse, tem uma discoteca sempre cheia, tem actuações com grupos de cá, tem garraiadas onde a bicharada perde a força nos braços de gente de cá, tem um fogo de artificio que manda ventarolas, porra… tem tanta coisa! O São Marcos é a gente de cá a dizer: olhem… nós somos assim… e divertimo-nos imenso!



Para mim, que me esfalfei para estar em quase todo o lado, o ponto alto do São Marcos deste ano foi a estreia da Grupa, um colectivo de música de “Arrebimbómalho” do qual tenho a honra de pertencer, composto por um grupo de amigos que tiveram a loucura suficiente para embarcar nesta aventura musical de se apresentar sem rede perante a terra em peso apesar de só ter feito 3 ensaios. Claro que não faltaram as naturais fífias (de estranhar seria que não as houvesse) mas, digam o que disserem, a verdade é que resultou, animou a malta (que é o que faz falta) e foi de borla, o que é quase impossível nos dias de hoje. E é por isso que eu agradeço a todos os membros o facto de me terem ajudado a concretizar este sonho de toda a vida, à assistência que fez o favor de nos aturar sem arredar pé (e ainda por cima bateu palmas e bailhou) e aos Duros de Domingo que não só ajudaram ao final em apoteose como ainda por cima nos encheram o saco da viola com moedinhas ofertadas pelos presentes. Porra! Foi demais!



Agora, o futuro da Grupa, a Deus e à vontade dos seus elementos pertence. Eu gostava que voasse mas estas empreitadas só avançam com a coragem de todos... Faço votos que não tenho sido um episódio circunstancial. O próximo embate é já no próximo domingo no Dia do Sócio do GDA. A ver vamos…



Quanto ao São Marcos, oxalá para o ano cá estejamos todos, com melhor tempo, mais diversões e… se possível… algum dinheiro na carteira. Se é que eles deixam…



Ah… Já me esquecia, mas pshiuu… não digam a mais ninguém: o fogo de artifício visto do miradouro junto à minha casa é um espectáculo! Loucura!… Parece que estamos na Madeira. Vá… agora contem a toda a gente e depois digam que para o ano não arranjam lugar.



Viva o São Marcos! Viva a gente!






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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Kanimambo (Foi-se um ídolo...)


João Maria Tudela morreu hoje de manhã no hospital de Cascais
22 de Abril de 2011, 14:24

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O cantor e apresentador de televisão João Maria Tudela morreu hoje de manhã, no hospital de Cascais, dois dias depois de sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) "fulminante", afirmou à Lusa fonte familiar.
A mulher de João Maria Tudela informou que o AVC ocorreu na quarta-feira, tendo o artista entrado depois em "coma profundo".
Segundo informações do hospital, João Maria Tudela morreu às 09:30 desta manhã.
João Maria Tudela nasceu em Moçambique em 1929 na antiga capital Lourenço Marques, actual Maputo, começando a actuar como solista no Liceu Salazar. Sem saber música tocava vários instrumentos como piano, guitarra, viola e harmónica.
Os seus estudos continuaram em Coimbra antes de voltar a Moçambique, onde trabalhou como comercial em empresas.
Segundo notas biográficas encontradas em vários sites da Internet, Tudela destaca-se nesta altura como jogador de ténis.
Mas continuaria a cantar, sobretudo fado de Coimbra, começando também a ter sucesso na música africana.
Em 1959 surge o primeiro e maior êxito da sua carreira, Kanimambo, que levou Tudela a Portugal, Estados Unidos e América do Sul.
João Maria Tudela afirma-se depois no meio artístico português e soma vários prémios na televisão.
Em 1968, depois de ter cantado "Ao Vento e às Andorinhas" no Festival nacional da Canção, Tudela interpretou um poema de Ary dos Santos e Nuno Nazareth Fernandes intitulado “Cama 4, Sala 5” que foi censurado e o cantor foi proibido de voltar a trabalhar na RTP, decidindo terminar a sua carreira.
Depois do 25 de Abril de 1974, Tudela voltou a participar em programas da RTP e em peças de teatro e noutros espetáculos.
Entre os seus principais êxitos estão: Kanimambo, Hambanine, O Meu Chapéu, Diz que Gostas de Mim, Menina das Tranças, No País do Sol, Soldado Português, Moçambique, Liberdade, Fuzilaram um Homem num País Distante.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Addio, adieu, auf wiedersehen, goodbye


Atenção! Este texto tem asneiras. Se é susceptível… o melhor é passar ao lado… Porque sim!

Isto foi escrito em angústia. Eu avisei!

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Ser do Benfica hoje em dia não é fácil.


E acreditem que eu sei do que falo.

Só assim de memória, e sem ir muito atrás… recordo que eu já levei com o Jordão, eu já levei com o Gomes… já levei com o Jardel, já levei com o Mourinho, já levei com o Liedson… já levei com uma galeria infindável de personagens que parece que desaguaram neste mundo só para me atormentarem.

Agora…

Levar com o Falcão. Levar com o Hulk. Levar com aquele Varela que estava perdido no futebol para toda a vida quando vestia de verde e branco… Levar com o Villas Boas… Levar com… por Deus! o Pinto da Costa… É dose! É um milagre eu estar vivo.

Hoje de manhã, quando falava com o meu colega e amigo João “Finanças”, dizia-lhe que tinha acordado nervoso por causa do jogo. Cada minuto que passava era uma contagem decrescente para o apito inicial. O novelo de angústia adensava-se no estômago a cada segundo que passava . E dizia-lhe também que tinha pena de não poder, de não ser capaz de desfrutar do jogo como desfruto, por exemplo, de um filme. Eu sou incapaz de ver um jogo do Benfica pelo jogo. Eu sou incapaz de desfrutar da partida e do futebol por si só. Quando estamos a perder…

Desço…

Desço…

Desço…

Até aos confins dos infernos.

Quando ganho… exulto… rejubilo e temo que me rebente uma veia na cabeça, infligindo não só a minha morte a quem está à volta, como também sujando todos os azulejos circundantes com esguinchadelas de sangue que jorram dos ouvidos e outros orifícios.

Eu disse ao João que gostava de ver o jogo pelo jogo mas eu tinha um mau presságio. Eu sentia que ia correr mal mesmo quando me ria do prognóstico do genial carteiro Gil que dava “um a zero seco ao glorioso”. Quem me conhece bem… conseguia certamente perceber que o meu sorriso era nervoso. Eu estava com receio que tudo pudesse correr mal.

Para não sofrer tanto, fui-me convencendo de coisas que são verdades insofismáveis e me permitiam sonhar com uma amanhã “pós-eliminação-da-taça”.

Repetia na minha cabeça, em surdina: “Aconteça o que acontecer… nada vai mudar a tua vida. Amanhã… Não acordas mais rico, não acordas mais pobre, não tens um emprego mais bem remunerado, não vais ter uma profissão que te realize mais, não vais de Porsche para Marvão, não… nada! Tudo na mesma! Então… relativiza. Take it slow… Vê de longe…

E assim eu fiz.

Vi o jogo pelo canto do olho, na mesa do fundo da pastelaria, com os minutos a passar entre umas cervejas e uns tremoços e uns amigos e umas conversas sobre música e o ensaio da Grupa que tinha terminado há momentos e o futuro da Grupa que se antevê profícuo e auspicioso.

Enquanto esteve zero a zero e o Benfica aguentou, eu fui aguentando quietinho também, vigiando o perigo à distância, fazendo de conta que ele não existia realmente.

O golo do Motuinho atou-me um fio de nylon aos tin-tins e trouxe-me de volta à terra. “Isto vai piorar”. Meteu-se-me um cabrão dum amendoim ou um tremoço ou que raio de merda era aquela na garganta que tive de me meter no bólide e rumar a casa.

No caminho eu só dizia para mim: “Mais não… mais não…” mas nem isso fez com que o resultado fosse outro quando mudei o canal da televisão. Porto com 2, Benfica com nenhum. E depois há aquele Falcão, sempre ele, e um remate de merda que bate na perna errada e vai morrer nas redes do fundo da baliza, rindo-se de um Júlio César que mais parecia uma marionete partida ao meio.

A vida é lixada.

De que é que me valeu a cabeçada do Javi que não entrou por milímetros, o falhanço flagrante do Cardozo, o penálti terrivelmente mal marcado que ainda por cima não existiu? Que pode tudo isso contra o resto mesmo que o resto seja um golo do Hulk em claríssimo fora-de-jogo?

Que pode tudo isso contra as forças do universo que conjecturam contra o meu benfiquismo e se unem numa conspiração cosmológica contra mim? Nada!

Foi como tinha de ser.

O Benfica de hoje, que até foi competente durante a primeira parte, transformou-se na segunda, assim que lhe bateram o pé, num bando de putas amedrontadas que tremiam ao mínimo movimento.

De um lado… a força, a convicção, o querer, a organização, a camaradagem, a blindagem, o trabalho, a iniciativa, a garra, o futebol…

Do outro… olha… do outro…. Nada. Nem jogadores, nem adeptos, nem aquele monte da merda do Jesus que eu já nem posso ver o homem. Como é que é possível eu ter estado apaixonado por ele e agora ir ao vómito de cada vez que ajeita a peruca?

O Porto voltou a encavar-nos à grande e à francesa na nossa própria casa e já vai fazendo parte do calendário esta coisa de nos virem gozar em solo sagrado.

Foderam-nos o campeonato. Foderam-nos a taça que já tínhamos por garantida e eu tenho bilhete para o Braga e-já-não-estou-com-esperança-nenhuma-porque-mesmo-que-a-gente-passe… isso mesmo! O Porto fode-nos na final da Liga Europa! Não há outra forma de dizer a coisa.

Estou cansado, quero dormir e acordar num mundo ou num país em que o desporto nacional seja o Curling e eu vibre com gordinhas enfiadas em “sacos-cama-para-vestir” que esfregam o chão para uma peça redonda não bater noutra.

Eu sofro tanto com isto tudo. Isto custa-me tanto…

Isto é triste. Isto é infeliz e eu tenho saudades do Bento, e do Chalana, e do Pietra, e do Álvaro, e do Alves, e… dessa malta toda. Que vai ser de nós e do país com esta chuva toda, e o FMI e o Benfica a perder?

Adeus grelhadores. Adeus palhinhas. Adeus eucaliptos do Jamor. Adeus cavalinhos da GNR. Adeus gente boa que por ali passa e eu não vou rever neste ano.

Eu não ligo nada ao futebol. O futebol é, para mim, um entretém.

Eu fartei-me de dizer para mim próprio nos minutos de desconto… “Se houver Deus… a gente marca um golo… a gente marca um golo… a gente marca um golo… mas… não! Ainda não foi desta e nunca foi". Eu sei que há Deus mas não devia estar para aqui virado.

Ser benfiquista, hoje em dia, não é fácil e eu imagino amanhã…

segunda-feira, 18 de abril de 2011

E para desanuviar... Pé no acelerador!

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Para mim, mais do que qualquer outro ícone da sagrada galeria da história da música, mais até do que Keith Richards (sacrilégio!), Lemmy Kilmister, o mítico vocalista/baixista dos Motörhead é o Rock’n’Roll em corpo de gente. Tudo nele é Rock’n’Roll. A pose, o estilo, a atitude, a forma de vida… as botas de cabedal pelo joelho feitas à medida, as indumentárias sempre negras escolhidas a dedo, os adereços, o corte de barba/bigode, os longos cabelos negros, os chapéus sulistas… tudo nele é perfeito. E que dizer da voz rouca e arrastada? Que dizer da forma absolutamente única como “malha” os seus baixos Rickenbacker que encaixam nele como uma espada num temível viking? Que mais dizer deste gigante que espalha coolness pelo mundo há mais de 30 anos enquanto evangeliza as massas, sempre movido a Marlboro reds e Jacks’n’coke (uísquies com cola)? Fogo! Demais… Eu se o visse em carne e osso acho que ficava sem fala por um mês.

E é por ser tão fã que exultei quando soube que tinha sido recentemente lançado um filme sobre esta personagem única. Claro que não descansei enquanto não lhe meti a vista em cima! E que documentário, meu Deus… Eu gostava de ter tido uma câmara para filmar a minha cara de felicidade durante as duas horas de duração deste tratado único. Bom demais…

São quase 120 minutos de Lemmy puro e duro, nú e cru, numa viagem única ao coração do Rock. Todas as facetas, todas as visões, ambições e militâncias aprecem aqui expostas de uma forma que eleva a sua vida a forma de arte. A galeria de ilustres que se prostram a seus pés é tão vasta que chega a ser comovente.

Lemmy ao vivo, Lemmy a compôr, Lemmy a vaguear, Lemmy a jogar, Lemmy e as mulheres, Lemmy a descascar batatas, Lemmy e a sua colecção de punhais nazis, Lemmy e a sua casa, Lemmy e o seu filho, Lemmy a disparar um tanque de guerra. É um Lemmy total e o subtítulo não podia ser outro: “49% motherfucker, 51% Son of a bitch”.

Para guardar religiosamente ao lado do “The filth and the fury” (Sex Pistols) e “Joe Strummer: The future is unwritten”, que com ele passam a constituir a trilogia sagrada para quem quer entender todo o poder e a força do Rock’n’Roll.

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METE MAIS ALTOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!!

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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Delfino da Graça Bento Amaro. O Chefe.


Frei Luca Pacioli (1495) de autor desconhecido




Naquela altura eu estava a trabalhar em Castelo Branco como chefe de vendas da Opel, um emprego ao qual tinha concorrido num ímpeto, ao responder a um anúncio de jornal, depois de saber que me tinham “feito a folha” num concurso para a Câmara Municipal de Marvão. Desiludido, mandei tudo às urtigas e fui.


Eram 80 km para lá, 80 km para cá, muitos kms por lá feitos em serviço… era levantar de madrugada, era chegar à noitinha, extenuado, deserto de cama… Era duro mas era melhor do que a humilhação “caseira” que me empurrou para esta travessia do deserto.



Isto até um feliz dia… em que a minha Cris ligou a dizer que me tinham chamado das Finanças. A aprovação no concurso feito dois anos antes produzia finalmente efeitos. Se me tivessem dito, no dia em que acabei o curso, cheio de sonhos e ilusões, que iria trabalhar nas Finanças… o mais certo era ter-me mandado para baixo do “15”, o eléctrico que passava lá na Junqueira mesmo em frente aos ISCSP mas… que fazer? Como eu costumo dizer… a vida é complicada demais para vir sem um livrinho de intruções e o dinheiro faz falta a toda a gente... Pelo menos era seguro (parecia então) e mais perto de casa... de forma que nem pensei duas vezes.



E se eu tinha a impressão mais cinzenta possível do que seria trabalhar nas Finanças… O funcionalismo público já por si me entediava. As Finanças então… Devia ser só gravatas e números e secretárias repletas de pilhas de papéis… Medo!



Mesmo assim rumei a Nisa, ao serviço onde tinha sido colocado como estagiário.



Se já ia com uma ideia pré-concebida, ao olhar para o edifício tudo se tornou cristal clear como dizem os ingleses. Aquilo era um caixote cor de papelão bordado com ninhos de andorinha. As escadas de granito conduziam a um 1º andar encimado por uma porta que rangia. Entrei. Atendeu-me o meu querido (na altura ainda não era) Marquês.



- Eu sou o estagiário, disse.



- Vou já chamar o Chefe. Um momento.



E do gabinete saiu o Chefe… uma figura de baixa estatura, meia idade, calça creme ligeiramente à boca de sino com um impecável vinco ao meio, camisa branca, gravata cinza, blazer azul, sapato castanho envernizado, cabelo farto e amanhado para a direita. Estendeu-me a mãe direita e disse-me: “Venha daí”.



E eu lá fui, atrás dele, atravessando a repartição que naquela altura me pareceu um pavilhão imenso polvilhado por olhares que me pareceram mirar de alto a baixo. Diga-se de passagem que o caso não era para menos. Eu, no lugar deles, faria o mesmo. E no trajecto lá me fui assoreganhando, fazendo o meu melhor sorriso em jeito de apresentação. A minha mania de querer agradar…



O Chefe foi do mais cordato e gentil possível. Quis, naturalmente, saber de mim e deu-me alguns conselhos de primeira hora que procurei seguir à risca. A empatia foi imediata. Era impossível resistir ao seu charme e graça natural.



- Sabe que hoje é dia de compadres? Tomamos um café à saúde disso?



- Ehhh… sim. Acho que sim. (Como se fosse possível recusar uma gentileza destas a um chefe logo o primeiro embate).



Atravessámos a estrada e entrámos na Colmeia que vim depois a saber que em Nisa era conhecida como a 2ª Repartição de Finanças. Ainda hoje não percebo porquê.



Ao balcão, ainda a estudar-me, fez-me uma pergunta que haveria de ficar para todo o sempre como a pergunta fetiche (repetida à exaustão) de uma private joke minha e do estagiário que haveria de chegar dias depois, o meu querido amigo (que adoro como irmão) Rui Miguel Caixado Pescada (já o era antes de o ser…) Ribeirinho Pinheiro:



- Então diga-me cá uma coisa, ó Pedro Alexandre (tratava-me sempre pelos dois nomes)… Sabe quem foi Frei Luca Pacioli?



- Não faço a mínima ideia, Sr. Delfino.



- Ah… (suspirou com ar de descanso por saber que eu não estava ao seu nível e disse sorrindo): Frei Luca Pacioli foi o inventor das “partidas dobradas” que é o princípio básico da contabilidade moderna: diz que quem deve tem a haver.



- Sim senhor…- , registei com agrado. Já não me esqueço (mal sabia eu…)



Depois… conquistou-me de uma forma que me deixou sem defesas. Apresentou-me aos colegas, convidou-me a almoçar em sua casa (onde iria voltar inúmeras vezes pelo mesmo motivo e onde conheci a encantadora Dona Antónia que nos tratou sempre como filhos), e… a cereja em cima do bolo… nessa tarde, levou-me aos serviços públicos de Nisa (tribunal, GNR. etc.) onde me apresentou pessoalmente a toda a gente. Uma coisa à antiga, à séria… que eu adorei.



O Chefe Delfino entrou muito novo para as Finanças e cedo chegou a chefe porque era inteligente, culto, bem falante e trabalhador. Era um homem encantador, com um charme natural incrível. Mas o Chefe Delfino era também um homem atormentado pelo passado e sobretudo pela guerra colonial, por tudo aquilo que por lá viveu. Por vezes parecia que apesar da sua natural boa disposição, havia uma nuvem negra por cima da sua cabeça e isso fazia com que fosse depressivo, com que atravessasse períodos menos bons e procurasse o pior refúgio para afogar a dor.



Eu acho que de certa forma, sempre foi incompreendido apesar do esforço titânico dos que lhe eram mais próximos e o amavam para o entenderem. Ele, que era muito crente e religioso, vivia numa espécie de permanente via sacra interior.



Quando o conheci já estava muito próximo de se aposentar e a sua dedicação à causa fiscal não tinha o mesmo fulgor do início da sua carreira. Nessa fase era apenas uma presença. Para mim e para o Rui, uma presença agradabilíssima.



A coisa mais extraordinária nele era o sentido de humor. Acho que nunca na vida me ri tanto com ninguém como me ri com ele. Talvez apenas com o meu pai… mas o Sr. Delfino fazia e dizia coisas que me levavam às lágrimas. Tantas vezes, diversas vezes durante o dia.



Ainda hoje, quando me junto com o Pescada nalguma patuscada somos capazes de estar horas só a recordar episódios, frases e tiradas do Chefe Delfino. Éramos fãs. Mesmo! Como nos estávamos sempre a rir com ele, por vezes até temia que pudessem pensar que estávamos a gozar mas nada poderia ser mais errado. O respeito era enorme.



Em Nisa a coisa resultou e eu acomodei-me porque ali encontrei o mais fantástico ambiente de trabalho que tive em toda a minha vida. Cada funcionário era uma personagem (eu incluído, claro!). Ríamos tanto uns com os outros que aquilo às vezes mais parecia o cenário de uma sitcom americana ao melhor estilo “The Office”.



Quando me chamavam ao telefone eu sabia ao que ia.



- Pedro… é o chefe…


- Tou? Sr. Delfino?


- Está a ouvir, ó Pedro Alexandre… É capaz de me vir buscar cá a casa?


- Claro que vou, chefe. Em 5 minutos estou aí.



E eu adorava quando desligava e começavam todos em coro a gozar: “Vai, Ambrósio, vai… Não te atrases… Leva o chapeuzinho de motorista…”.


Se aquilo para mim era uma festa…



Não resisto a contar duas histórias que ajudam a traçar o perfil…



O chefe chegava sempre mais tarde, a meio da manhã. Certo dia, por volta das 10h, depois de algum pessoal ter passado uma hora inteirinha a cortar-lhe na casaca por alguns acontecimentos do dia anterior… saiu do gabinete que continuava às escuras como se estivesse vazio, impávido e sereno, com o ar mais enxuto do mundo e sem ninguém esperar, disse com a maior das descontracções: “Ó estagiários… vamos beber um cafezinho?”. Tinha jogado na antecipação e estado a ouvir tudo. Nem um comentário...



Outra vez, numa noite por altura das festas de Verão de Nisa, teve uma discussão com o Sr. Carita, o nosso colega mais conhecido na vila pela alcunha de “Tonho Espanhol”. No dia seguinte chegou à repartição bem mais cedo do que era habitual para nos dar queixa da ocorrência. Irritado, disse: “Eu sou chefe e vou castigá-lo. Mesmo agora lhe vou tirar a máquina de escrever que ele tanto gosta por ter o teclado AZERT”. Pegou na máquina e a muito custo levou-a para o gabinete onde a confiscou no pequeno sofá que ali tinha. De seguida foi à casa de banho, com ar triunfante pelo feito. Nesse entretanto chegou o nosso colega Marquês, indisposto pela intensidade das festas e decidido a sentar-se um pouco no sofá do chefe, deu com a máquina do colega Carita que naturalmente repôs no local habitual. Agora imaginem a cara do chefe quando saiu da casa de banho e viu a máquina de regresso à secretária como por dotes de magia… Imperdível! “Já aqui está? Esta FDP?”.



A última vez que estivemos juntos foi há uns dois anos atrás, quando o convenci a vir almoçar comigo ao Sever, ele e a Dona Antónia. Passámos uma tarde muito agradável. Trouxe-os a minha casa. Estive para o ir visitar à Psiquiatria quando esteve internado há uns meses atrás mas preferi não ver naquela situação de debilidade. Ia ser duro para os dois. A esposa lembrou-me isso no dia do funeral: “Ainda bem que não o viram ultimamente quando ele estava mais em baixo. Ele gostava tanto de vocês que até lhe ia custar que o vissem assim…”.



De maneira que é dessa outra forma que eu o vou lembrar... como ele era... de Raybantes verdes, cigarro ao canto da boca, no seu impecável blazer azul com o alfinete do clube Lions, a beber um branco traçado natural com gasosa fresca… como se estivesse a dizer-me (como tanta vez o fez…), “Está a ouvir, ó Pedro Alexandre, sente-se aí e converse comigo”.



Saudades, chefe. Quem me dera ter conseguido arranjar tempo para ir ter consigo mas a vida é mesmo assim. Quem é que nos havia de dizer que partia tão cedo… Deixa-se andar mas nestas alturas… há sempre vagar. E eu lamento tanto...



Quanto ao frei Luca Pacioli, na chegada do meu colega estagiário, um ou dois dias depois de mim, ouvi precisamente no mesmo balcão, a tal pergunta da praxe:



“Ó Rui Miguel. Sabe quem foi Frei Luca Pacioli?”


“Não faço a mínima ideia, Sr. Delfino”.


E… virando-se para mim…


“E você sabe quem foi, ó Pedro Alexandre?”


“Se eu sei, chefe? Claro que sei! Foi um frade italiano que inventou as partidas dobradas, o princípio básico da contabilidade moderna. Como é que eu não ia saber isso?”.


E ele, boquiaberto, virou-se para o Rui e disse baixinho: “Está a ouvir? Este individuo tem uma cultura extraordinária!”.



Até sempre, amigo!



No baptizado do Dani, o filho do nosso amigo Jaquim da Colmeia.


Da esquerda para a direita: Binau, Professor, Paulinho Borrego, Chefe Delfino com os meus óculos de sol e numa pose insuperável, eu com os óculos dele, Carlinhos Ribeirinho e Carita (Tonho Espanhol)

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Numa festa dos meus anos na mercearia das minhas tias, há uns bons 10 anos atrás

Da esq. para dir.:

Sr. Manuel, Paulinho Borrego, João Alexandre, Manuel Coelho, Xico da Blúsia (Lourenço Costa), Miguel Sobreiro, Pedro Coelho, João Abelho Jr., Luís Barradas, Rui Pousadas, Carlos Pereira, Eu, João Manuel Lança, João Abelho Sr., Cremilde Sobreiro, Marquês (Meu Tonhe Jakim), Clarimundo Lança, Carlinhos Ribeirinho, Chefe Delfino, Joaquim da Colmeia, Ti Bia e Alzira Sobreiro... numa tarde memorável!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Em directo da Igreja Universal do Reino Socialista

Porreiro, pá!

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Política tranvestida de circo mediático era mesmo o que precisávamos numa altura destas...

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Assustador...
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Améééééénnnn...
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Quantos são? (Na sua melhor versão ROCKY IV)

- Senhor Socialista 1 (O insular) - Isto não me cheira...

Senhor Socialista 2 (O alfacinha) - Eu cá bebo para esquecer.

Senhor Socialista 3 (O delfim) - Eu rezo para que ele vá... de vez... depressinha fáxavor!

Tou sim? É da Telepizza? São duas familiares e uma cola jumbo! Hoje é dia de festa!

Pensavam que ia ser fácil? Naaaaaa....

Adivinhem quem vai voltar?

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Ó sócio! Não me f**as! Estou concentradíssimo!

Será impressão minha ou...


O PSD está mesmo a "meter-se a jeito" para ganhar as próximas eleições?

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PSD quer deslocar funcionários públicos à força

«Uma pessoa pode ir da Guarda trabalhar para Trás-os-Montes»


2011-04-04 10:15 · · O PSD quer obrigar funcionários do Estado a mudarem de emprego, mesmo que seja para um concelho longe daquele onde vivem actualmente.

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Agora, os funcionários não são obrigados a aceitar a mobilidade quando o novo posto estiver para além dos concelhos limítrofes, mas o PSD quer mudar isso, quando chegar ao Governo.

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A racionalização da Administração Pública é uma das metas do PSD e acabar com o limite legal que permite aos trabalhadores recusarem a mobilidade sempre que o novo serviço esteja fora dos concelhos limítrofes é o trunfo que o partido tem na manga, segundo avançou o vice-presidente dos sociais-democratas, Diogo Leite de Campos, ao «Diário de Notícias».

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«Uma pessoa pode ir de Faro para Trás-os-Montes», exemplifica o fiscalista.

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Em contrapartida, o PSD promete ajudas à mudança de casa, à inscrição dos filhos na escola e garantias bancárias à compra de habitação.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Com um nó na garganta (outro no estômago e outro na alma)


A reportagem era sobre a forma como famílias de diferentes níveis sociais estão a lidar com a crise e esta mulher, apesar da situação em que ainda se encontra, não teve problemas em dar a cara.



Nunca tinha vivido bem mas também nunca tinha precisado da ajuda de ninguém. Sempre soube viver com os seus rendimentos. Antes das coisas começarem a correr mal tinham casa e carro mas depois ele perdeu o emprego e o dela foi a seguir. O rendimento social garantido pelo Estado foi um importante balão de oxigénio mas já se sabia que não ia durar para sempre.



A situação foi piorando até ao limiar do insustentável. Viu-se obrigada a vender tudo o que podia ser vendido para tentar angariar algum que fosse dando para seguir em frente.



- “Até as aliança vendi…”, confessou com um sorriso triste. “Mas os votos podem sempre ser renovados… e alianças como aquelas há muitas... quando a coisa melhorar compramos outras. Tenho pena é dos brincos que o meu avô me deu (e o seu semblante esmoreceu)...




É que ele já não está cá para me poder dar outros…”.



Abriu uma prateleira da cozinha e mostrou os ingredientes iguais de todos os dias com os quais tenta sempre inventar refeições diferentes. “Carne e peixe nem vê-los. Em dias especiais lá sai uma lata de salsichas com ovos mexidos ou uma latinha de atum das que vou buscar ao Banco Alimentar”.



“O meu grande medo é perder a nossa casa. Se nos levarem a casa vai ser muito difícil… Não sei o que vai ser de nós… mas eu tenho esperança que vou conseguir renegociar a dívida”.



E sorriram para a câmara… os três… ela, o marido e o filho, todos sentadinhos num banco do jardim, aproveitando um tímido sol primaveril que é das poucas coisas que ainda não pagam imposto por cá.



“Temos muito cuidado em não passar as nossas preocupações para o nosso filho. As crianças não têm culpa e tem tudo de ser explicado de uma maneira muito soft. Ele tem noção das dificuldades mas tentamos não o fazer refém dos nossos problemas. Tentamos-lhe incutir que é preciso ter fé e esperança no futuro”.



E agora digo eu, Pedro Sobreiro, que neste mundo sempre houve desigualdades e pobreza, sempre houve fome e gente a viver com muitas dificuldades. O infeliz upgrade dos nossos dias é que muitas das pessoas que hoje se encontram nessa situação foram pessoas que sempre trabalharam e tiveram uma vida desafogada e agora tombaram aos pés de uma crise sem quartel. “Ter e deixar de ter” deve ser muito mais difícil do que “nunca ter tido”.



“You’ll never miss what you never had”, dizem eles, com toda a razão.



Estamos todos no fio da navalha, por mais absurdo que isso nos possa parecer.



Não meio de toda esta injustiça, de toda esta desgraça, são estes heróis e estas heroínas anónimos(as) e emergentes que me fazem acreditar que um dia, por muito longínquo que seja, ainda vamos todos dar a volta por cima.