domingo, 29 de maio de 2011

Disco voador à vista (e como brilha…)



O novo disco dos Clã é uma preciosidade concebida em absoluto estado de graça ou não fossem eles uma das bandas mais talentosas e criativas que este chão luso pariu nas últimas décadas. E só por displicência é que pode ser catalogado como sendo um disco para crianças. Quando muito é um disco para crianças inteligentes e para adultos que cresceram contrariados por não quererem afogar em maturidade a infância que carregam dentro.


É uma obra-prima repleta de músicas que poderiam ser hit singles e é provavelmente o disco perfeito para explicar às crianças toda a força que a música encerra em si. Este pode muito bem ser o disco que os fará perceber que a música é muito mais que um refrão orelhudo que se trauteia no carro a caminho da escola. Por aqui descobre-se que tem esse poder avassalador de nos mostrar mundos novos, de nos fazer olhar para dentro e à volta e perceber coisas que não seriamos capazes de alcançar sem ela.


Eu fiquei rendido aos seus encantos e oxalá vocês também porque aqui tudo é filigrana: letras belíssimas, acutilantes e de encantar (que versam temas como amor, o desemprego ou a homosexualidade); melodias hipnóticas que encaixam à primeira, um som luxuriante… enfim…


Assim… vale a pena ser petiz!


Ps: E eu que cresci com o “Joana come a papa” do Barata Moura… Estes putos são levados ao colo…


On the road again


Quando me apareceu este problema da hérnia discal e percebi que tinha de parar de correr e ser intervencionado, perguntei-me muitas vezes, tantas vezes, se alguma vez voltaria a correr como corria dantes.

A mera hipótese de pensar que a resposta poderia ser não era o suficiente para me angustiar.

E a verdade é que a dúvida persistiu até hoje. Já tinha dado umas corridinhas mas só hoje me estreei num dos meus percursos de então.

Volta pela Praça de Touros, Relva da Asseiceira, Currais Martins, Mãe Velha, Galegos, Monte Baixo, Ponte Velha, Ramila, Bolgão. 12,5km em 1 hora e 14 minutos. Ausência total de dores nas costas e na perna, apenas um ligeiro incómodo no joelho (deve de ser a ferrugem) nos primeiros quilómetros.

Ahhh felicidade…

Os cheiros e a paisagem, as cores da natureza, o nosso corpo posto à prova e um prazer enorme que é grátis, está ao alcance de todos mas mesmo assim é desprezado pela maioria. Apanhei ainda muito calor e uma empreitada destas não se faz sem muito suor e algum sofrimento mas… e o banhinho de água fria no final? E a minizinha gelada antes de jantar? E o serão no sofá a dar descanso ao esqueleto…

Muuuuuito bom!

Até dá vontade de fazer como o Forrest Gump e sair correndo aí pelo mundo fora.

Deus é grande! Não dorme! E de certeza que anda montado numas Lunar Glides como as minhas… parece que vamos numa nuvem…



quarta-feira, 25 de maio de 2011

De toros...

Como disse? (O nosso mundo pela janela mágica)


Pai e filha assistem ao genérico de um programa de televisão sobre a actualidade no TVI 24.

A filha vira-se para o pai e diz: “Sabes o que te digo?”.

“O quê?”.

“O mundo está cada vez pior. É só desgraças. Catástrofes, tornados, inundações, guerras…”.


Acham que é complicado de ouvir? Agora imaginem se fosse com vocês e no momento não vos saísse nadinha para contrapor a análise, talvez embaraçados pela dureza e surpresa do comentário. É daquelas cenas que um gajo pensa que nunca lhe vão acontecer e quando acontecem… fazemos figura de otários e não conseguimos alegar o que quer que seja. Oxalá tenha interpretado o meu silêncio como anuência e não como ignorância. Ao menos servia-me de consolação.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Votar sim... mas... em quem?


Esta história das eleições anda-me a deixar cá todo baralhadinho mesmo. Ora ajudem-me cá.


Eu no Sócrates não voto nem a cacete. Para já, para já, estou farto de ver o homem na televisão e tudo nele me irrita. O nariz parece cada vez maior… o ar é do mais convencido e artificial possível, o discurso é sempre o mesmo nhó-nhó-nhó nhó-nhó-nhó e eu acredito mesmo que ele é o principal responsável pela situação calamitosa em que nos encontramos porque devia ter pedido ajuda aos senhores da Europa muito antes e andou a engonhar tanto que quando acudiram já isto estava de pantanas. O Sócrates é um sabidão, um artista como por cá não houve. Preparara muito bem os discursos e os debates e as conferências e até os comícios têm tanta bandeira que mais parece a vinda de Deus à terra que outra coisa qualquer.

O PS até tem gajos bons e a maioria está deserta de se ver livre dele só que têm medo de o dizer. O gajo diz que é feroz e deve ter 7 vidas como os gatos. Eu adoro quando ele se irrita. Adoro. Tenho uma fotografia dele no meu açucareiro por causa das formigas. No Sócrates não.

Também não voto no Paulinho das Feiras porque esse… a mim não me engana. O real sacana é vivaço e sabe muito. Eu lembro-me bem dele no Independente e o gajo não dá ponto sem nó. Criou um boneco que tem margem de actuação e diz, não aquilo em que acredita mas aquilo que as pessoas querem que ele diga. E… agora que reparo nisso… não são todos assim?

Não voto nos comunistas. Não voto no Jerónimo. O gajo até parece ser fixe para avô ou para jogar umas suecadas e mamar uns tintos carrascões de penálti na tasca da esquina mas no governo não. Eu até acho que os comunistas nunca tiveram ambição de formar governo. Eles são mesmo assim. Esquisitos, prontos!

Não voto no Bloco de Esquerda. Eu até curto o Louçã mas não vou naquela onda dos gajos agora, tipo fashion esquerdistas. Tios revolucionários que vestem Boss. Nahhh. Eu curtia era quando eles faziam graffitis nos sítios mais improváveis e distribuíam cacetes nos comícios. Agora armados em finórios não gramo tanto.

E prontos… toda a gente sabe que eu é mais PSD mas sempre na ala mais à esquerda da direita. Eu não sou de esquerda porque acho que isto vai ser sempre assim. Não tenho aquele ideal de mudar o mundo porque eu sei que o mundo não se muda assim por dá cá aquela palha. Já sou crescidinho e no Pai Natal nunca acreditei muito. Agora… não me venham é com totós de pullover aos ombros com o bracinho no ar a cantarem o “Paz, pão, povo e liberdade”. Ouve lá… Abomino. Eu curto ser o mais à esquerda da direita possível porque dá para desancar mas também dá para atinar e pelo menos é realista.

Eu ainda não vi bem o debate. Vi só aos bocadinhos e gravei para ver com calma pelo que não me elucidou muito mas o Passos, pá… o Passos… o tipo ainda se me afigura como aquelas matrioskas russas, uma espécie de Kinder surpresa político e eu ainda não sei qual é o brinquedo que traz dentro. Às vezes parece-me que o gajo até tem algum estofo, mas depois há outras que larga umas asneiradas que me deixam preocupado. Será mesmo este o tipo que eu quero à frente do destino do meu país? Não será inexperiente? Não será muito novo? O que é que ele já fez por nós? O que é que ele já fez por ele na vida?

Hummm… não sei.

Eu em casa não fico. Sempre votei. Acho que o direito ao voto foi conquistado com o esforço, o suor e até a vida de tantos homens e mulheres que não posso deixar de os honrar com esse gesto. Votar sempre hei-de votar.

Também posso votar em branco mas passar para o lado e assobiar num momento tão crítico não me parece nada justo. Nada mesmo. Isso não. Está fora de questão.

E prontos… fico aqui neste chove e não molha que me irrita porque eu sou um gajo que gosta de ter as ideias claras e sabe sempre o que há-de fazer em qualquer situação que seja.

Se ao menos pudesse votar no Villas Boas…

Ele de política também deve dar uns toques…

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Adeus, até um dia…


A caminhada do Porto na conquista desta Liga Europa foi segura, confiante, sem sobressaltos e isenta de qualquer contestação. Sem espinhas.

Ao vê-los subir a escadaria para levantarem o troféu, senti-me como o rapazinho que vê a namorada de toda a vida caminhar para o altar para se casar com outro filha da puta qualquer que não ele. O sentimento nem sequer é o de “podia ser eu”. O sentimento é o de “devia de ser eu”.

Eu nunca vou perdoar ao Benfica o facto de ter desperdiçado esta oportunidade única de conquistar tão cobiçado troféu europeu, ainda por cima de forma tão perdulária, tão infeliz, tão submissa… com uma derrota por um golinho frente ao Braga. Ao Braga, meu Deus do céu… apenas ao Braga…

Eu não sou daqueles que querem que o seu clube ganhe sempre até porque se isso acontecesse, as vitórias tornar-se-iam banais, obrigatórias e sem sabor. O que eu não admito é que o meu clube não honre a história e os adeptos e não lute até ao limite das suas forças para levar a sua avante. Este Benfica é um fantasma do Benfica da época passada. Oxalá reencarne a tempo e horas de nos dar umas alegrias que bem precisamos.

Mas o Porto ontem não teve tarefa fácil. O Domingos pode ser jovem mas é uma puta sabida, muito rodada e experiente enquanto jogador e a prova mais do que evidente que desde que se esteja atento nos treinos e nos jogos e se saiba “beber” da cultura táctica dos diversos treinadores que se vão encontrando ao longo da carreira, um jogador pode sempre dar um grande treinador. Armou muito bem a equipa, soube não dar espaços e esteve quase perfeito, como ele sempre disse que queria estar. Faltou o quase e esse quase esteve nos pés de Mossoró que isolado não soube fazer mais que rematar ao alcance de Helton. É no momento da verdade que se vêem os grandes craques e Falcão (tinha de ser!) mais uma vez não desperdiçou, aproveitando uma das raras falhas da defesa bracarense.

O lance é todo ele lindíssimo. A forma como Guarín ganha espaço ao defesa que tem pela frente, o centro teleguiado ao melhor estilo míssil terra-ar e depois o bailado mortífero daquele que é provavelmente o avançado mais quente do momento. Eu não sei como é que viram o lance nas vossas televisões mas na minha, a movimentação de Falcão foi em câmara lenta com rotação de 360º como no Matrix. A forma como se desmarcou e pediu a bola, o tempo de salto, a elevação, a maneira como se colocou a jeito para cabecear e finalmente, a cabeçada que desferiu, pujante e certeira, com selo inequívoco de golo. O guarda-redes bracarense nada podia fazer. O que tem de ser tem muita força.

Mas eu tb não queria que o Braga ganhasse. Por mim, perdiam os dois ou ganhavam os árbitros ou coisa que o valha. O Braga já foi uma equipa nossa amiga, no tempo do Ricardo Rocha, quando trocávamos jogadores e assim. Agora, depois do Papa do Norte se ter zangado com o Pimenta Machado e se ter virado para o clube da cidade dos arcebispos, os gajos ficaram-nos com um pó que até faz impressão. Nem uns, nem outros… Isto custa que eu sei lá e sendo merecido ainda pior porque ficamos sem margem de manobra para dizer seja o que for.

Foi um bom jogo, muito táctico, bem disputado, com o árbitro a proteger os mais fortes (a perdoar-lhes diversas faltas na entrada da área, a poupar o segundo amarelo claríssimo e a expulsão de Sapunaru, enfim…), que passou uma excelente imagem do futebol português conseguido graças ao talento de muito poucos portugueses mas que se amole. Antes assim que pior.

E o que eu dava para ter estado ali metido na bancada VIP detrás do Platini para dar um calduço no Pinto da Costa quando o gajo lá passasse. Xiiii… Maldade minha. Eles, todos eles (direcção, equipa técnica, jogadores, sócios, adeptos e simpatizantes) merecem o momento por mais que isso me custe a mim. Que desfrutem bem dele que eu cá fico mais enfiado no puff da sala que eu sei lá.

“Mas o que é que ele tem?”, perguntou a minha Leonor com ar preocupado por me ver assim. “O teu pai está cada vez pior. Agora já não sofre só quando o Benfica empata ou perde. Chateia-se também quando os outros ganham…”.

Eu hein? Pfff… Coisinhas…

Agora só peço nas minhas orações que um sheik árabe ou um multimilionário russo ou um barão da droga qualquer venha cá com um sacalhão cheio de dinheiro, faça um lote e arremate aquela merda toda… Hulks, Falcões, Villas Boas… tudo de canoa! Só espero que a Europa do futebol não fique especada a dormir e os venha buscar porque já toda a gente percebeu que são do outro mundo. E não é que eu não consigo não gostar deles? Eu… que odiava o Paulinho Santos e outros que tais… com estes fico sem reacção.

Que venham, em força e já, buscá-los a todos e se possível que levem o velho também e deixem cá a namoradinha brasileira que é uma gracinha.

A mim não me custa que o Porto fique com os cofres cheios. Eu custa-me é que eles ganhem sempre.

Tanto…

segunda-feira, 16 de maio de 2011

É oficial...

E inequívoco! Depois de assistir a isto não restam dúvidas: Paulo Futre foi não só um dos mais talentosos futebolistas que tive a sorte de ver jogar como é o gajo mais fixe de Portugal. Não dá hipótese! Ora atentem...

sábado, 14 de maio de 2011

Qual arte?


Esta “cagada” foi vendida na quarta-feira por 27 milhões de euros e acho que o feito ilustra bem o actual estado da arte e o mundo louco em que vivemos.

Esta simples composição de quatro fotografias que constituem um auto-retrato do “artista” enquanto jovem alcançou o feito de valer o impossível.

Andy Warhol foi de facto um “artista”, no meu modesto entender, não tanto pela qualidade da arte que foi capaz de produzir em vida mas antes pela forma como a conseguiu aproximar das massas, tornando-a popular e ao alcance de todos. Warhol soube ter a extravagância necessária, soube fazer a leitura correcta dos tempos, soube rodear-se das pessoas certas e inovando q.b., tornou-se no mito que a morte se encarregou de adensar.

Grande parte do seu trabalho foi isto… fotografias que coloriu… recortes que multiplicou e uma ou outra pintura quase que decalcada. Não há, na história da arte, outro exemplo tão evidente do conto do rei que ia nú no cortejo.

Eu acho isto uma vergonha. Pior que isso…um ultraje! E podem começar a atirar pedras que eu quero mandar fazer um muro de granito dos antigos na parte de trás do quintal. Agradeço.

Nunca tive aspirações a ser crítico de arte, nem de perto nem de longe. Mas sou um entusiasta da pintura e tenho obviamente as minhas preferências. Gosto de coleccionar literatura sobre o tema e tem graça que ultimamente até tenho lido todas as noites à minha Leonor antes dela adormecer, um capítulo de uma história da pintura para crianças muito engraçada que lhe comprei há dias. Ela também já vai tendo os seus gostos e os “Elvis” do Warhol foram das coisas mais difíceis de lhe passar enquanto arte. É natural. Se eu a compreendo.

Um auto-retrato com quatro carantonhas do Warhol, de gabardine e óculos escuros, umas com a cabeça direita e duas com ela a tombar para cada um dos lados e dá cá 27 milhões de euros. Dasss…. Aposto que o comprador mijou a cama de contente nesta noite. Vai-se fartar de engatar miúdas com ele. Quando o virem pendurado por cima de televisão… Grrraaauuu!

Caraças pá! Um Van Gogh, um Picasso, um Dali, um Rembrandt, um Renoir, um Goya, um Botticelli, um Vermeer… qualquer um serve desde que tenha tido a destreza e a ousadia de tocar o divino ao ter a ideia de criar uma obra única e irrepetível a partir de uma tela branca e um punhado de tintas.

Agora um freak em Nova Iorque a mirar-nos de soslaio em quatro fotos pintadas a azul. Por esta módica quantia…

Ohhh pahhhh… f***-se! Por favor…


Se estas fotografias nem para o passe da Carris dão.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

A fanfarra (dos BVM) já soa!


Numa passeio familiar pós-jantar, elas de carrinho e bicicleta, nós, os velhotes, a “penantes” para ajudar a desmoer as migas, damos, com grata surpresa, com um ensaio da novíssima fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Marvão que se preparava para a (presumo que) estreia no próximo domingo, durante as cerimónias do seu aniversário.

Eu sabia que era uma aspiração antiga da corporação pelo que foi com enorme prazer que fui atrás dos sons e dei com aquilo, ainda por cima quando ensaiavam uma música que para mim há-de sempre ser o genérico da série Dallas. Ca-te-go-ria!

Tudo malta da terra e olhem que não estavam mal, não senhor! Certinhos no compasso e nas manobras, não tão perfeitos na parte dos sopros mas com enorme margem de progressão que ainda falta muito tempo para o dia grande e no futuro certamente irão ficar mais do que no ponto.

A mim, a força de vontade das pessoas comove-me. Não ao ponto de ir às lágrimas que isto não está para pieguices, mas toca-me profundamente. Ver aqueles jovens, rapazes, raparigas e uma turba de petizes, a ensaiarem em plena rua praticamente sem luz ou assistência deixou-me sinceramente sensibilizado.

A fanfarra do Bombeiros Voluntários de Marvão pode não ser a melhor fanfarra do mundo, a mais certinha, a mais afinada, a mais prestigiada. Como os Bombeiros Voluntários de Marvão podem não ser os melhores bombeiros do mundo. Mas são homens e mulheres que prescindem do seu tempo livre para ajudar o próximo. São homens e mulheres que deixam de estar com as suas famílias para darem atenção aos outros. Seja a apagar incêndios ou a zelar pela nossa segurança, seja a apoiar doentes e sinistrados, eles são muitas vezes os heróis anónimos que (quase) ninguém reconhece e ainda arranjam tempo para ensaiar a sua novíssima fanfarra.

Os Bombeiros de Marvão e a fanfarra dos Bombeiros de Marvão podem não ser os melhores do mundo. Mas para mim são.


PS: Muitos parabéns, felicidades, força e anos de vida.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Portugal, West coast of Europe



Não me considero assim um daqueles tugas marialvas que metem Portugal à frente de tudo o resto, mas sou um português consciente do nosso valor e tenho orgulho sincero em ter nascido neste país. E é por isso que me custa, de uma maneira inexplicável, quando vejo os jornalistazinhos a correr atrás dos membros da troika que vieram sanear as nossas contas, à espera que balbuciem qualquer coisa de inteligível.

Uns a disparar perguntas em suplício e eles a sorrir com desdém, fugindo dos carros para as casas e das casas para os carros, olhando de soslaio nos entretantos como se fossemos de uma classe inferior.

E eu pergunto-me: mas o que é que estes gajos (sobretudo aquele careca altarrão com ar sinistro e cara de vilão da Star Trek) têm a mais que nós? Como é que conseguem decifrar num ou dois meses aquilo que faz falta ao país para se endireitar, e nós não? Será que são mais inteligentes? Mais evoluídos? Porque é que este plano de salvação lhes sai a eles de uma assentada e a nós nem por isso?

Encontrando a minha resposta para esta pergunta, acabo por descobrir a verdadeira razão para todo este descalabro financeiro que nos deixou atolados numa dívida mais infinita e eternamente imersos num défice de pesadelo: eles conseguem porque eles não nos conhecem de lado nenhum e cortam a direito. Eles conseguem porque não cedem a lobbies, grupos ou pressões. Eles conseguem porque fazem o que têm a fazer. É este o único e derradeiro motivo porque Portugal está como está: porque não tem políticos, sejam da esquerda ou da direita, do centro ou dos extremos, que consigam este distanciamento que lhes permita fazer aquilo que tem de ser feito e não aquilo que A, B ou C quer que eles façam.

E é uma pena que assim seja.

Atentem bem (e assim só de cabeça, porque nunca é demais falar nisto):

- Portugal tem uma situação geográfica no mundo absolutamente estratégica: na ponta ocidental da Europa, mirando as Américas, dispondo ainda de valiosas ilhas no coração do Atlântico;

- Temos uma costa deslumbrante com um potencial turístico e económico sem igual que nos garante não só um sem-fim de praias fabulosas como também o acesso a uma zona de pescas de excelência;

- Temos o melhor clima da Europa, com sol durante todo o ano e temperaturas que permitem aos mais encalorados andar de t-shirt na rua o ano inteiro;

- Temos solos magníficos onde é possível produzir tudo aquilo que a terra dá;

- Temos rios que abastecem todo o país, temos barragens, temos água com fartura;

- Temos uma extraordinária rede viária de Norte a Sul do país que nos permite deslocar com comodidade e rapidez;

- Somos dos países mais antigos da Europa. Temos tanta história como os outros todos juntos ou quase;

- Temos genuinidade, temos cultura e tradições. Temos uma gastronomia riquíssima. Sabemos fazer quase tudo bem;

- Somos bons de bola, sabemos cantar o fado, somos desenrascados e espertalhões. Temos montanhas de telemóveis para falarmos uns com os outros.

- Temos a bravura de muitos povos a correr-nos nas veias. Nós desbravámos o mundo. Chegámos a cortá-lo ao meio como se fosse um melão e demos a parte das pevides aos espanhóis;

- Somos gajos porreiros e onde quer que a gente vá no mundo encontramos sempre um português de bigode a sorrir mesmo que seja uma mulher transmontana;

- Quando vamos trabalhar para fora, respeitamos a cultura que nos acolhe e somos humildes e competentes. Quem nos recebe gosta de nós. Até os franciús!

E então…

Se temos tanta coisa boa… porque raio isto não avança?

Isto não avança, no meu entender, porque os políticos não estão à altura do resto do cabaz. Os nossos políticos pensam primeiro neles e em agradar a quem os elege do que em fazer o que faz falta ao país. Os nossos políticos têm vistas curtas e as mãos largas. Os nossos políticos abusam dos pequeninos que financiam esta farsa toda e vivem uma existência faustosa “a cavalo” neles. Os nossos políticos não são estadistas, são caciques. Os nossos políticos, SALVO RARÍSSIMAS EXCEPÇÕES que as admito mas se devem contar pelos dedos de uma mão (o Alberto João Jardim, o Isaltino Morais, a Fátima Felgueiras, o Avelino Ferreira Torres e mais um ou dois), conjugam mais o verbo mamar do que dar.

E assim sendo, enquanto tivermos esta “tampa” que não nos permita respirar, não iremos muito mais longe.

Afinal parece que o FMI acha que nem sequer é preciso virar as coisas do avesso para isto se endireitar nos carris. Para já, não nos limpam aquele balão de oxigénio que nos dá para ir corar a uma praínha qualquer; nem nos tiram o incentivo às prendas para os filhotes no Natal, nem nos vão desempregar a todos, nem nos deixam na penúria. Eu, que tenho duas pequenitas lá em casa que vão certamente ter uma vida mais complicada que a minha e são a minha grande preocupação, faço votos sinceros que o FMI e o BCE e Troika aquela toda fiquem o tempo que for preciso para MORALIZAREM O SISTEMA, e meterem tudo a bailar pela mesma batuta desde o cima até cá a baixo (que a arraia miúda já está farta de levar porrada). Oxalá acabem com as distribuições de lucros e de prémios milionários, com os empregos para os boys, com as parcerias fictícias e as corrupções e as jogadas de bastidores e as injustiças e essa merda toda até que nos dê gosto a todos outra vez de viver neste país.

É que Portugal é bom demais para continuar numa tão má.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Dublin por um canudo (fica tão longe…)


E prontos… ardeu a tenda.

E nem sequer foram precisas cavalgadas heróicas, jogadas mirabolantes, golos do outro mundo. Bastou uma cabeçada do Custódio (quem? Nem imaginava que ainda fosse vivo…) que saltou completamente solto em territórios que deveriam ser proibidos numa equipa que se preze, para derrubar o Benfica.

E que triste Benfica este… Sem chama, sem brio, sem garra, sem guarda-redes, sem defesa, sem avançados, sem magia no meio-campo, sem trabalho, sem futebol, sem nada… Este Benfica de Jesus é um Benfica de fim de linha que foi bom enquanto durou mas agora não é mais do que uma alma penada que vagueia sem destino. Faço votos sinceros que a direcção do clube faça um esforço para compreender aquilo que os sócios e adeptos já percebemos há muito: é tempo de mudar.

Para já, é tempo de mudar de treinador, quanto antes, que este já deu o que tinha a dar ao clube. Eu não acredito que os jogadores tenham desaprendido de jogar num ano e assim sou levado a crer que o grande problema do Benfica reside na questão motivacional. Mas alguém acredita que esta versão cataléptica do Jorge Jesus consiga dinamitar uma equipa para a vitória? Ele não consegue nem convencer uma velhinha a atravessar a estrada, quanto mais… Mas onde é que está o velho Jesus do ano passado, que gritava, que esbracejava, que “jogava” na linha como se estivesse lá dentro, que era mais um a empurrar o onze para a vitória? Desse… nada! Resta uma versão zombie de uma carcaça que se arrasta sem querer ou convicção. Sem estratégia, sem alma, sem nada! Já podes ir andando para o raio que ta parta!

Ninguém me tira da cabeça que o Pinto da Costa, quando o andou a namorar no Verão passado para ir para o Porto, me drogou o homem, ou pior! Foi à bruxa do Oliveira e lhe fez uma macumba. Deram-me cabo dele… Tadinho. Anda que também vais bem para a Turquia ou mais longe ainda, onde não haja câmaras de televisão e eu não te possa ver mais.

Depois é tempo de mudar de jogadores e eu aquele monte da merda daquele Cardozo já nem o posso ver, pá! Gastaste os bónus! Ardeste! Mas como é que podem chamar avançado a um cabide com pernas que me anda ali um jogo inteiro sem ganhar uma bola, sem fazer uma finta, sem esboçar um lance de ataque que seja, sem fazer nadinha? Irra, pá! Não há paciência… Foste!

Quem fizer a limpeza, faça favor de não se esquecer do resto que por lá anda a passear as chuteiras e eu até tenho medo de dizer quem porque às tantas não fica lá nenhum. É que o Coentrão vai-se embora, não sei se já sabiam…

Tenho para mim como certo que quando uma pessoa crê que há uma força divina que comanda a nossa existência, seja ela de que credo for, quando pede alguma coisa nunca deve pedir algo concreto mas sim o melhor para si e isto porque muitas vezes, tantas vezes, o que pensamos ser melhor para nós pode não o ser. Quantas vezes a vida nos dá provas disso? Por isso mesmo, não sei se serve de prémio de consolação mas acreditem que o Braga nos fez um favor. Este Benfica estava talhado para chegar à final e vir de lá com a canastra cheia, com uma humilhação daquelas que demoram gerações a sarar e nunca mais se apagam da história. Este Benfica estava mesmo a meter-se a jeito para apanhar meia dúzia ou mais, num escândalo ao jeito do de Vigo.

Acreditem que é melhor assim. Prá puta que os pariu! Eles deviam era ter levado uma surra no balneário. Ter lá 5 ou 6 maduros no final do jogo com um chicote e espetar-lhes uma tareia à antiga. Cambada de cabrões! Eles nem sonham o que nos fazem sofrer.

É claro que perante tanta apatia, tanto laxismo, nem a sorte quis ajudar e até as bolas que podiam ter decidido o jogo morreram no poste. O destino não quis nada connosco.

Eu, para esta época estou vacinado. Não faço intenção de ver nem mais um jogo e vou pedir ao menino Jesus que na próxima época me meta uma equipa novinha no sapatinho, com um técnico em condições e tudo que isto quem não chora, não mama.

Fico sinceramente feliz por ver duas equipas portuguesas na final da Liga Europa e acho que ambas merecem tanto lá estar que nem consigo torcer por uma em detrimento da outra. Todos nós sabemos que o Braga não vai ter tarefa fácil porque este Porto está demolidor e tem mais estofo de Champions do que de outra coisa qualquer, mas um jogo é um jogo e qualquer um pode ganhar. Faço votos que seja um jogo limpo, bem disputado, sem casos de arbitragem, e que honre o nosso melhor futebol.

Eles que festejem e façam a festa que eu cá vou ficando enfiado no sofá a roer-me de inveja.

Ai… que dói tanto… tanto… tanto…


PS: Tenho de ligar ao Bono e à rapaziada a dizer que já não vou… Chuinf…

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A Grupa! está na rua!


A Grupa! colectivo de música “pop-rock-pimba alternativo-arrebimbómalho” de que tenho o distinto orgulho de fazer parte, está na rua! E por estar na rua, marcou presença no Dia do Sócio do GDA (1 de Maio), mais uma extraordinária iniciativa deste fantástica Direcção do nosso clube que nos entreteu durante todo o dia de domingo com jogos de bola, feijoadas, jogos de malha e de sueca, setas, matraquilhos, snooker, dardos e bilhar… tudo a fazer lembrar os tempos antigos em que ali passávamos a maior parte do nosso tempo livre, entre dois dedos de conversa e uma minis geladas. Categoria!

Como sabíamos que na plateia estaria muita gente que assistiu à actuação de estreia no São Marcos e não quisemos maçar, não nos acomodámos e avançámos para músicas novas numa clara atitude “à Grupa!” porque o sonho da Grupa! não é tocar bem. O sonho da Grupa! é fazer a festa e as pessoas felizes nem que seja por um instante. De resto, não trocava nenhum membro da Grupa! por qualquer outro executante por mais exímio que fosse porque os membros da Grupa! antes de serem músicos e artistas são amigos que apenas se querem divertir.

A actuação não correu pelo melhor nem foi tão bem sucedida como a primeira, sabemos bem, mas também esteve longe de estar mal. Faltaram-nos dois elementos fundamentais na manobra sonora atacante da Grupa! (o nosso Prof. Filipe na viola e o Bruno no acordeão) e faltou-nos também a aparelhagem que pedimos mas nunca chegou. Cedo percebemos que tocar numa sala daquelas dimensões, com a pardalada mais novas aos gritos e com muito ruído de fundo, é tarefa hercúlea mas quem é que disse que a Grupa! quer facilidades? Mas alguma vez a Grupa! deixa de tocar por não ter microfones?!?!? Pelo amor de Deus! A Grupa! toca sempre desde que haja um que ainda consiga respirar mesmo que os outros estejam todos desmaiados no chão de uma adega qualquer.

“Assim comá assim” ainda não foi desta que nos partiram garrafas na cabeça, nem nos atiraram fruta podre, nem terminou tudo num arraial de pancadaria mas nós sabemos que por lá passaremos. Não há banda que se preze que não tenha passado por cenas deste género. Faz parte do corpo teórico de formação de ser um Rock Star.

Que a Grupa! não é melhor banda do mundo sabemos nós, mas que se diverte como ninguém, disso também temos nós a certeza. Agora é tempo de recato e de ensaios que queremos aparecer em força no Verão, nem que seja a pedir esmola no Metro ou a tocar só para as acácias da Barragem da Póvoa. A Grupa! quer lá saber! A Grupa! quer é festa e garanto-vos que houve ali momentos que com o som afinadinho tinham sido de antologia. Enfim… Para a próxima será melhor.

Ficam dois videos para a posteridade cujo registo agradeço aos nossos amigos Bento Mota e Cláudio Gordo (Bananitas), o nosso Supervisor multimédia; que dedico a todos os homens e mulheres de boa vontade que assistiram à nossa actuação com respeito, um sorriso nos lábios e o natural fair-play que se deve ter para um projecto de banda que contava então apenas com 7 dias.

A Grupa! está na rua! Viva a Grupa!

terça-feira, 3 de maio de 2011

I did a run today


E 289 dias depois… voltei a correr... passados seis meses da última cirurgia, conforme conselho médico.

Ontem sonhei com isto. De verdade. Sonhei que queria correr mas as pernas pesavam toneladas, o caminho era tortuoso e eu sofria porque não conseguia dar passo.

Hoje, depois de chegar do serviço… a tarde convidava e eu calcei as sapatilhas.

Quando cheguei ao portão deu-me um flash e em minutos revisitei o sofrimento físico dos últimos meses. A tarde em que chorei sozinho porque as dores não deixavam seguir em frente. O calvário de testes, exames, tratamentos e medicamentos. A dura notícia da inevitabilidade da operação. O esforço por resistir. A angústia da primeira cirurgia. As noites de convalescença longe de todos. A triste dependência quando acamado. O drama da segunda cirurgia. Os meses preso à cama. A insegurança do regresso à normalidade. A perseverança na recuperação. O esforço e o querer… e este dia onde voltei a estar só eu e a estrada à minha frente.

E voltar depois de tanto tempo… foi uma sensação indescritível.

Há qualquer coisa no correr que não se explica. É preciso haver uma estranha dedicação para perceber esta magia de nos deslocarmos assim por nós próprios e irmos até onde a vontade e o fôlego nos deixam. “Correr para onde?”, perguntam alguns. “Apenas correr”, respondo eu.

Um tímido sol primaveril banhava a paisagem de dourado. A brisa suave embalava tudo à minha volta e assim fui, desbravando aquele entorno, deixando-me envolver pelos odores e pelas perspectivas, maravilhado como se fosse a primeira vez.

E depois… sentir o castigo do corpo, o prazer do esforço, o suor a correr pela fronte… coisas que não se têm quando se está confinado ao azul da piscina, ao silêncio da água.

Se eu tinha saudades…

E é nestes momentos que me lembro do tal anúncio da Nike que descrevia na perfeição o cerne da questão da corrida: homens e mulheres a correrem numa cidade cinzenta à chuva, pelas ruas e avenidas, pelos jardins e pelas praças e uma pergunta desafiadora no final: “You did a run today… or you didn’t”? (Fizeste uma corrida hoje… ou não?). E é isso: ou se fez, ou não se fez e parece impossível como é que uma coisa que grátis, maravilhosamente libertadora e fantástica para a saúde, é desprezada pela grande parte da população. Uma pena… é o que é. Nem sabem o que perdem…

Foram só 6 kms e meio… em 36 minutos e 26 segundos… calminho… coisa pouca para o nível que tinha quando parei mas quase uma maratona para quem chegou a pensar tantas vezes se voltaria um dia a ter o prazer de sair assim correndo sem rota ou destino pré-definido. E o mais importante de tudo: sem dores e com uma vontade enorme de lhe dar mais e mais e mais.

É tão fácil ser-se feliz… e correndo chega-se muito mais depressa.

Vamos a isso?

PS: Júnior, agora que lhe tomaste o gosto… estou à tua espera… Quando te apanhares nos meus trilhos até te passas! E em plena Rocha à beira-mar. Ohhh… magnifique! Vai treinando...


segunda-feira, 2 de maio de 2011

Eu ontem sonhei com a Ashley Graham






Estávamos na Roma Antiga e eu ali exposto para venda na banca de um mercador de escravos.

Ela chegou, imponente e fresca, acompanhada pelas suas virgens vestais, à procura de mais um motivo causador de ciúme ao seu marido, o centurião Cassius, sempre ausente e mais preocupado com o sucesso das campanhas em África do que com ela.

Mirou-me de alto a baixo, impressionada pela minha imponente musculatura ganha numa vida inteira de lutas e trabalho árduo e eu soube que o meu destino ia mudar. As extensas cicatrizes na minha couraça e o tom de pele bronzeado encarregaram-se de fechar o negócio pelo melhor valor possível, bem mais alto que o de mercado e o estimado no “Escravos hoje – o anuário de preços de escravos de todo o mundo”.

Depois levou-me para a sua “domicilliae” e enfiou-me numa “piscinae” onde me deu-me um banho de leite de cabra enquanto eu bebia taças de vinho e comia fruta fresca do “Pingo Doçae”. Levou-me para os seus aposentos e quando vi a fofa cama de 15x8m entrei em trepidação. Caí no colchão e quando as suas formas voluptuosas se preparavam para me abalroar… a minha filha Alice deu-me um pontapé no olho direito e acordei.