quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Brincando a Ícaro



Anteontem, eu e a minha Cris deixámo-nos rir quando recordámos o episódio que nos tinha sucedido durante a noite anterior. Eu tinha acordado com vontade de ir verter águas, fazer xixi, vá. Quando regressava da casa-de-banho, reparei que a portada da janela do quarto para a varanda estava aberta e deixava entrar a luz do candeeiro da rua. Decidido a terminar com este incómodo, antes de entrar na cama, abri a portada da janela, pronto para a encerrar. Quando ela me viu a meio da noite abrir a janela do quarto, assustou-se e começou-me a chamar, sem saber muito bem o que iria sair dali. Eu, tranquilo, na minha, nada respondi sabendo que a situação estava controlada. Mas ela, mais uma vez, tinha razão. O mais certo era poder ter pensado que eu estava para ali a imaginar alguma, nunca sabendo o que poderia resultar. Imaginem que eu estava a sonhar que era o Ícaro ou um bicho voador qualquer e saia dali esvoaçando, batendo a asa pela noite fora… Mas não! Até era bem mais simples e passado aquele incómodo, pode-se descansar bem melhor, repousando no aconchego do escuro e no quentinho dos lençóis. Mas eu compreendo-a. Oh… se a compreendo. Imaginem vocês que eu há dias, numa saída de passagem pelo quarto-de-banho, passou-se-me qualquer coisa pela cabeça que eu não sei imaginar qual foi e regressei não ao meu lugar no quarto mas fui-me deitar na caminha junto à minha filha Leonor. Só acordámos pouco depois os dois quando demos pela Cris a chamar por mim. Realmente foi uma coisa estranha que eu ainda hoje não consigo explicar porquê. Nestes últimos meses foram muitos hospitais, muitos quartos, muita confusão e eu certamente me baralhei e fiquei com as voltas trocadas que me levaram a buscar hospedagem junto da herdeira quando a cama do rei ficava livre.


À luz deste facto, o mais certo era a minha “piquena” Cris ter imaginado, quando me viu avançar para a varanda, que eu iria ou saltar a pensar que estava num bombardeiro, ou sair planando pela noite fora, daí a razão do seu “apoquento”. Assim se explica a nossa risada e a nossa graça quando recordámos a cena.


Realmente, quando um tipo está assim na “mó de baixo” e tem de justificar quase tudo, até é bem provável que as pessoas que nos sejam próximas e estão junto de nós, façam perguntas e a nós nada nos resta senão responder a tudo depressa, com boas maneiras e tranquilidade para que o cenário de acalmia se instale.


A cena não se voltará a repetir. Se fosse hoje, antes teria o cuidado de dizer quais eram os meus objectivos e manteria todos os meus ao corrente do propósito porque as minhas intenções eram de facto as melhores como de resto se provou. Se as intenções eram boas e valeram o frio e o risco, o que faltou foi a forma certa de dizer as coisas e o timing!


Também, tudo se explica e é preciso ter calma como homem porque se se estão a habituar à sua nova situação, este episódio também foi todo novo para ele. Calma sempre foi uma palavra-chave, mas vai-o sendo cada vez mais.

1 comentário:

Helena Barreta disse...

Consigo imaginar a aflição da sua musa protectora.

O meu filho em criança teve alguns episódios de sonambulismo e num deles assustei-me a valer pois meteu também uma janela.

Bom fim de semana

Um abraço