quinta-feira, 11 de abril de 2013

Ainda a política (que não me larga…)




Ainda a política. Sempre a política. Eu bem me quero afastar dela, mas não consigo…

Um amigo do peito pediu-me ontem de tarde que largasse o assunto. Não é só a opinião da minha Cristina. Também ele, bom amigo, me pediu que largasse a política de vez. Em conversa, pediu-me que me concentrasse na minha família, nas minhas filhas. Disse-lhe que sim. Mais… prometi-lhe que sim. Ontem assegurei-lhe que já mordi o que tinha a morder e que me ia afastar do assunto.

Mas não consigo. É mais forte que a minha vontade própria. Mal feitas as comparações, é como um homem que quer ir para padre e se tranca num convento para afastar o mal do amor que sente. Até que sai de lá e mal sai, foge com a mulher que ama.

Eu quero afastar-me da política mas dias depois de ter acontecido o meu 25 de Abril publicado aqui no blogue, recebo no telemóvel, na manhã de hoje, a mensagem de um amigo mais velho que pensava nada dedicado às novas tecnologias e à internet. No sms dizia que tinha lido o que eu tinha escrito e gostou muito. Disse-me que era o que esperava de mim.

A política é mais forte que eu. Persegue-me.

No telejornal, à hora de almoço, vi uma reportagem sobre as eleições na Venezuela. Para o meu cérebro foi inevitável fazer comparações. As eleições na Venezuela são já no domingo. As do concelho de Marvão são neste ano, mais lá para a frente. Mas a disputa é parecida. A outra escala, mas parecida.

Na Venezuela há um homem que caiu na graça do povo porque era amigo de Hugo Chávez, Nicolás Maduro, o segundo do presidente. Maduro sabe-se valer da morte deste, tirando proveito como ninguém, como se fosse um abutre. É um predador selecto. Caiu no goto da povoação que tudo lhe consente.  

Henrique Capriles pode significar uma abertura da Venezuela ao mundo. Pode significar uma libertação, o rasgar um novo horizonte.

Mas é esta é uma luta entre David e Golias. Um David muito pequenino, menor que um anão porque já perdeu nas anteriores eleições, porque gera desconfiança num povo que nem sequer lhe dá o benefício da dúvida. O Golias é muito poderoso e tem a população adormecida, tem o povo na sua mão. Um povo que não lê jornais, que não acede à internet, que só vê a televisão em que acredita, que está adormecido, cego.

Ali é uma luta entre o sagrado e o profano. Os homens de nada podem contra a vontade de Deus.

A escala no meu concelho é menor mas a crença da povoação em quem está no alto(ar) tolda-lhe a capacidade para acreditar em quem é diferente, em quem vem de fora. O meu concelho tem medo de mergulhar no desconhecido.

Uma população fechada não questiona e fica com o que se lhe dá. É submissa.

No meu concelho, a fé tem de ser de quem vem de fora e quer entrar na direção dos destinos. Aqui a fé tem de ser de quem chega, de quem o rodeia e acredita no projecto de todos. Todos têm de ter fé para acreditar que o milagre pode não se dar já neste ano, apesar do esforço e do trabalho, mas só daqui a 4 anos, quando for o fim de um ciclo, quando quem lá está não puder mais ir e acabar por secar.

Mesmo que o mar vermelho não se abra agora como no episódio bíblico, que Deus no dê fé para que nos mantenhamos unidos, íntegros nos princípios. Continuando a trabalhar logo após o escrutínio para que o êxito seja mais alcançável.

Como poderei ser eu o Sansão para esta gente da minha comunidade? Como poderei ajudar estas pessoas da minha terra, a terra que me viu nascer, que viu nascer as minhas filhas, onde tenho o meu pai e os meus entes queridos enterrados? Perguntas que eu faço a Deus. Em silêncio.

Como posso eu, se os marvanenses já acreditaram em mim e nada fiz, se pactuei com o que está e ajudei a estar, indo? Se me silenciei…

De que vale agora gritar a plenos pulmões na internet se ela não chega aos moradores que não só não têm computador como muitos nem sequer sabem ler e escrever. As ditaduras, a da política e a da vida difícil, muito mais difícil que esta austeridade que se respira agora, ceifaram os seus sonhos e os deixaram sós. Solidão que agora o isolamento das grandes urbes e dos centros de decisão querem matar de vez.

De que valem estes meus gritos? Para que servem?

Para já, para ficar em paz com a minha consciência, pessoal e cívica.

Isso, para mim, para já… é tudo.

2 comentários:

zira disse...

A tua alma de bom samaritano, de homem bom e justo não são suficientes para mudar o mundo e o teu concelho. Deixa o tempo passar. Deixa o tempo julgá-los.Deixa...Se incomodas muito...tenho medo. Mesmo sem fazeres percursos a pé sozinho.

Helena Barreta disse...

Nada melhor do que estarmos em paz connosco, com as nossas convicções e ideais.

Bom fim de semana

Um abraço