terça-feira, 9 de abril de 2013

Rescaldo da (minha) revolução


Imagem do por do sol que captei na estrada do Valongo
Caminho que percorri a sós, pensando, falando comigo na tarde da minha revolução



O meu silêncio nestes últimos dias deve-se à dureza do meu 25 de Abril. A minha revolução foi dura. Não foi tão dura como a de Portugal, onde ainda houve tanques e militares na rua. Foi mais pacífica mas ainda assim, foi dura. Não que houvesse mortos ou feridos, mas houve mazelas que só foram superadas porque as pessoas são inteligentes. Usando o cérebro, souberam chegar ao consenso. Falando. Não discutindo. Usando a palavra.

Superadas as convulsões internas, as reações vindas do exterior foram as mais positivas que poderia imaginar. Melhores até que a melhor das hipóteses.

Acabei de escrever o texto perto da meia-noite. O meu 25 de Abril não foi madrugador. Foi noturno. Minutos depois de colocar a declaração no blogue e a divulgar no facebook, um amigo de infância, da escola primária, fez uma das apreciações que mais gostei. Já não me recordo bem qual foi a sua expressão mas o que queria dizer é que este era o Pedro Sobreiro como sempre o conheceu: recto e verdadeiro.

Depois as reações foram tantas que já não consigo recordar-me bem delas todas. Mas uma coisa é certa: ninguém ficou indiferente e já isso é a certeza que atingi o objetivo do meu 25 de Abril.

O meu blogue pode não valer nada. È apenas um blogue. Um blogue que muita gente não conhece. Um blogue do qual muita gente passa ao lado. Mas aquilo é o MEU blogue, o meu pedestal das novas tecnologias, o meu púlpito onde digo sempre tudo que me apetece. O blogue onde sou livre. O blogue onde digo sempre aquilo que quero com verdade, com rectidão, sem medos e sem mentiras. Nada do que digo ali é falso. O que digo pode ser contestado mas não pode ser recusado por ser mentira.

O meu blogue pode não dizer nada mas também pode dizer muito porque eu sei que muita gente leu, sei que quem eu também queria que lesse, leu de facto. As caras, os gestos, as reações são translúcidas e não enganam ninguém. Pelo menos, a mim não me enganam. Isso é uma vitória pessoal saborosa, que me dá muito prazer.

Pouco tempo após a publicação do texto, o principal visado entrou em contato comigo via correio eletrónico. A sua opinião, pessoal e privada, tocou-me também bem fundo dentro como a minha lhe tocou a ele.

Tive diversos contactos, todos sinceros. Uns elogiaram-me no blogue, outros via facebook, outros partilhando o texto, concordando com a mensagem e ao partilha-la, fazendo aquela a sua voz também. 
  
Na manhã seguinte, recebi diversas mensagens de telemóvel de apreço que muito estimei. Duas mensagens eram de pessoas por quem tenho a maior consideração. Uma era visada nas palavras, a dizer que acordou com um grito de revolta. A outra era da minha mãe Alzira, com quem eu aprendi a escrever. A mensagem dela dizia que era uma alegria ter “o seu” Pedro de volta. Ela, que sofreu muito com o meu sofrimento, que sabia que eu poderia ter regressado em estado vegetativo. Sabia que eu poderia regressado de forma a estar mas não estar. E é por saber isso que ficou tão feliz por ter o “seu” Pedro de volta. Ficou ela e fiquei eu, duplamente feliz.

Quem é que me haveria de dizer que o blogue era assim tão importante para mim, para a minha vida, para me dar alegria para viver? Realmente, este renascimento foi mesmo difícil. Lembrar-me que cheguei a colocar um termo no blogue... Há tanta coisa cuja importância só aprendi a dar valor depois de voltar à vida.

Fora do universo do mundo virtual, também tive reações de pessoas que admiro. Uns transmitindo-me a mensagem pessoalmente, dando-me um abraço pessoal; outros manifestando em conversa informal com amigos que me fizeram chegar os ecos dessas palavras.

Estremeceu.

Muito poucos criticaram mas houve um amigo pessoal que considero muito que me disse que na sua opinião, o que eu tinha vindo fazer na internet foi fazer o que o Sócrates fez na televisão: lavar a roupa suja com Cavaco. Falando educadamente entre nós os dois, expliquei-lhe as movimentações que tinha feito antes da publicação para evitar que ela não chegasse a acontecer. Contei-lhe com quem tinha falado, o que tinha dito… e não vendo que isso tinha surtido efeito algum, apesar das primeiras indicações serem nesse sentido, só então tinha decidido avançar com a minha declaração pública.

“Mas tu tiveste a coragem de dizer isso a essa pessoa?”, perguntou. “Disse! Disse cara a cara. Coragem, tenho muita. Sempre tive. Posso partir mas não torcer. Quando não merece a pena, não vergo!”. O riso dele, quando estávamos os dois a sós, certificou-me que tinha percebido as minhas palavras e eu tinha provado que não tinha querido lavar a roupa em público como o Sócrates fez com Cavaco. Apenas quis dizer a verdade.

Os silêncios de alguns também me transmitiram muito sobre as pessoas que são. Não me admiraram nada! que fique bem claro. Mas souberam-me bem. Soube que estava certo.

O meu presidente da república desse então deu-me uma das melhores reações ao meu texto ao convocar-me, no domingo, para um almoço em sua casa com bons amigos. Tal como eu, também ele decidiu não embarcar mais em andanças autárquicas e assumiu a sua postura. Decidiu afastar-se. Mais reservado, mais elitista, soube dizer o seu não com o nível que já nos habituou.

Não vou tornar o domínio privado em público. Mas não revelo muito se disser que entre os comensais estava o mestre Rui Miguel Pescada Ribeirinho Pinheiro, meu colega desde o Serviço de Finanças de Nisa, de quem eu gosto como se fosse meu irmão que cozinhou uma paella de ir às lágrimas, de boa que estava.

Momentos que me fazem sentir rico. Sem muito dinheiro no banco, ou muito dinheiro em casa, ou até na carteira para me sentir assim, mas com amizade no coração para me sentir rico. Na fasquia do milionário!

Assim sendo, viva o 25 de Abril! Viva a liberdade!




Observação: este texto está escrito sob o AOS. Siglas para definir o Acordo Ortográfico Sabi. Isto significa que o autor respeita por vezes o que se diz ser o novo acordo ortográfico, mas só às vezes. Ele sabe mais ou menos como é que funciona mas só utiliza o novo acordo quando sente que vale a pena. Quando acha que sim. Exemplo: deve-se escrever direto e não directo porque o c ali é uma porra. Não fica bem. É á antiga. È como escrever uma palavra que termina em oda com ph em vez de ser com f.


;) Tenho dito!

1 comentário:

Helena Barreta disse...

O que admiro neste blogue é o tom cordial e a correcção no trato, a visão pessoal sincera, verdadeira e corajosa e a abertura à contestação e ao contraditório.

Um abraço. Viva a liberdade.