Há
dias, porque a vida e os compromissos assim o propiciaram, almocei em Marvão. Comi
no café lounge do meu primo amigo Jorge e despachei-me rápido. Como tive tempo
livre de sobra nessa hora de almoço, decidi dar um passeio pelo castelo para
descobrir as novidades. Sabia que o castelo estava com utilização remodelada e já
se pagava na entrada. Quis saber mais. Pagava-se mas fui logo informado que os
naturais ou residentes do concelho entram de borla. Melhor.
O
jovem Américo que estava de plantão, recebia as pessoas numa estrutura moderna
do tipo aquário que tem todas as condições (para quem está e para quem chega).
Tem umas linhas arrojadas que não chocam com o que já existia ali. O que é
antigo, deve-se preservar mas o que é novo, novo deve ser. Deve parecer recente
com linhas modernas sem imitações do que estava. Aqui, apenas o bom gosto deve
reinar. Respeitar mas não imitar.
A
minha ideia revelou-se muito positiva e constituiu uma excelente surpresa para
mim. Sempre defendi o pagamento de entrada no castelo. Quando era vice-presidente
da câmara e vereador responsável pelo turismo, sempre me bati para que isso fosse
feito. A maior fonte de receitas de Marvão não era aproveitada e esse
sentimento derrotava-me. Sempre defendi o pagamento da entrada no castelo.
Como
sempre defendi que a maior parte dos visitantes que vinham a Marvão nunca
entravam no posto de turismo. O posto de turismo era deslocado do principal
percurso: entrada – castelo - saída. Ficava situado nos baixos do edifício da
câmara e muitos turistas iam direitos ao castelo e nem se davam ao trabalho de
o procurar. Entravam, viam o que há para ver e saiam. Sempre defendi que o
posto de turismo deveria ser na entrada da vila, onde está hoje. Eu já não
estava no executivo quando o inauguraram mas quem sabe a verdade do assunto,
sabe que o grande responsável pela localização do posto de turismo ali fui eu.
Eu. Sozinho fui a inúmeras reuniões com os mesários da Santa Casa da
Misericórdia. Reuni com os proprietários das duas garagens que ali estavam onde
hoje está o posto de turismo e convenci-os a aceitarem os espaços alternativos
que lhes propus. Consegui o triunfo mas foram outros, os que estão hoje lá em
cima que colheram os louros. Quando passo a deixar a minha mulher nesse posto
de turismo da entrada da vila onde trabalha e trabalhava já antes de ser
vereador (muitos anos antes!), sorrio sozinho. Um sorriso de vitória que
ninguém me tira. E olhem que vai de orelha a orelha.
Deu-se
um passo grande e agora deu-se outro com o começo da cobrança da entrada no
castelo. A cobrança da maior receita da vila que foi entregue… ao Centro
Cultural. A câmara entregou a maior receita ao centro cultural de Marvão!
Entregou
e o Centro Cultural tem aproveitado bem a oportunidade explorando aquilo que os
outros não têm capacidade para perceber. Realizou um folheto primoroso que é entregue
na entrada aos visitantes aquando cobram a entrada. O projeto de folheto que
conheci em embrião não mencionava quem são os obreiros da sua feitura. Nem os
autores dos textos, nem os autores do
design. Como isso não se pode admitir e é um trabalho que se não foi gracioso,
andou por lá perto, propus que seja o que for deve sempre conter o nome do
autor. Propus isso ao presidente do Centro Cultural de Marvão, o meu primo Jorge
Rosado que é um rapaz inteligente e desenrascado. Ele aceitou a proposta e agiu
em conformidade.
Quem
dantes vinha ao castelo ficava com a sensação que era bonito mas era terra de
ninguém. Era como se não tivesse dono. O desassombro era total. Reinava o
abandono.
Desta
última visita, fiquei agradavelmente surpreendido com o meu passeio. O castelo
está bonito, está bem recuperado e o dinheirinho que se paga, como refere no
folheto “reverte na totalidade para a conservação e manutenção do monumento. O
património é de todos, ajude-nos a conserva-lo.” Centro cultural de Marvão:
mais 1 ponto. Câmara Municipal de Marvão : 0. Bem… zero mais meio ponto. E meio
ponto porquê? Porque quando a gente não é capaz, dar lugar e dar oportunidade a
quem sabe e prova que é capaz tem de valer alguma coisa. Não chega a 1 ponto.
Mas vale meio ponto.
O
espaço está do mais aprazível possível. Bonito mesmo. Vi visitantes a pintarem
nos locais que foram criados para contemplar a paisagem. Vi turistas a
admirarem os espaços envolventes e a vegetação. Vi fotógrafos a desfrutarem o
monumento muito bonito e bem cuidado. Tudo muito bom. Isto nem parece Marvão!
Parece que estamos no estrangeiro. (Onde o respeito pelo património de todos é
por demais evidente).
Eu
quero lá saber se essa estupidez que foi a eleição das 7 maravilhas de Portugal
não distinguiu Marvão. Essa história das 7 maravilhas não foi mais que a ideia duns
meninos espertos para ganharem muita massa. Como era votado por telefone ou
internet ou lá o que era, claro que os grandes centros populacionais elegeram
logo os que queriam e eram localizados na área. Os grandes centros votaram. Nós,
os pequeninos, os do interior, ficámos a perder. Agora os meninos das “7
qualquer coisa” viraram-se para as 7 praias de Portugal. É um filão que não tem
fim. Só quando os bornais das televisões perceberem que o rei vai nú é que
abrem os olhos. Um filão construído com muito merchandising, muita t-shirt,
muita caneca, muito autocolante, muito telefonema e as contas bancárias deles a
aumentarem muito.
Bom,
voltando ao castelo. Está bonito, está bom. Para utilizar a linguagem da minha
filha Alice, “dá orgulho a mim”.
Dá
orgulho e enfeirei logo num íman de uma rua para o frigorífico a dizer Marvão na
loja do meu amigo Garraio.
Dá
orgulho e quando estiver aberto o café na antiga casa do forno, com esplanada e
sombras que já está concessionado, creio que às Pousadas de Portugal, ainda
deve dar mais orgulho a mim.
Aceitem
o convite do meu blogue e venham conhecer melhor o novo castelo de Marvão. Não
é por 1 euro e pouco que ficam mais pobres. E garanto-vos que vão ficar mais ricos.
E de certeza mais felizes!
Olhando
o trabalho que fez o Jorge Rosado e o Centro Cultural de Marvão que deram uns
bigodes a quem de direito, lembro-me das palavras do presidente John Fitzgerald
Kennedy que já lá está na terra da verdade e não deve ter facebook. Ele disse
uma frase lapidar que adoro e pode ser aplicada a muita coisa na vida: “não
perguntes o que é que o teu país pode fazer por ti. Pergunta o que é que tu
podes fazer pelo teu país.” Centro Cultural de Marvão: “não perguntes o que é
que a câmara municipal de Marvão pode fazer pela tua terra, pelo teu concelho e
pelo teu castelo. Pergunta-te como te perguntaste e bem, o que é que o Centro
Cultural pode fazer pela sua terra, pelo seu concelho e pelo castelo de Marvão.”
No
facebook vou referenciar os visados no texto e vou colocar um texto a dizer:
Estas
palavras que devem agradar a:
Jorge
Rosado, presidente do Centro Cultural de Marvão; ao marvanense Jorge Alberto
cujo nome foi bem referenciado mas deveria conter uma nota de rodapé dizendo que
é um rapaz de Marvão licenciado em história que escreveu o texto; ao João Bucho
que tem um talento imenso e desenha primorosamente; aos Buchos todos (Isabel
Bucho e Domingos Bucho porque devem gostar de ler bem sobre a família), ao Posto
de turismo de Marvão que sei que tem facebook; ao meu amigo António Garraio,
proprietário da loja “Cá de Marvão” e à Mercearia de Marvão que é da minha amiga Catarina
Bucho. Estes Buchos metem-se em todas e isso é bom porque fazem tudo bem. Desta
gente é que a gente precisa. O patriarca Domingos Bucho foi chutado para fora
da candidatura a património mundial pelas eminências da câmara e esteve por
trás da candidatura de Elvas que foi considerada património mundial. Ele há
bofetadas que devem doer menos!
Palavras
que devem agradar a pessoas que não devem ter facebook: as jardineiras da
câmara: Maria do Céu, Maria João e Ana. Não devem ter facebook mas surgem na fotografia que fecha este texto e eu fiz questão de lhes dar os
parabéns pelo excelente trabalho em voz alta no jardim. Claro que ficaram todas
babadas porque devem mais levar pontapés que elogios. Como o facebook pode não
chegar lá, cheguei eu!
As
palavras não devem agradar lá muito porque são verdadeiras e isso é sempre
inconveniente: à Câmara Municipal de Marvão e ao Posto de Turismo de Marvão que
têm facebook.