segunda-feira, 10 de junho de 2013

A ternura dos 40



Completar 40 anos não é o mesmo que completar 30, ou 20, ou menos.

Completar 40 anos de vida é um marco e por isso reuni algumas das pessoas que mais amo no mundo para estarem nessa data junto a mim. Não estiveram todos mas essa era uma tarefa impossível de alcançar. Alguns não puderam estar presentes por motivos de distância ou porque trabalhavam nesse dia. E eu sabia muito bem que não podia convidar todos os amigos que queria. Eu queria que a prenda fosse a presença de todos mas sabia que não podia. Era grande demais! L

Os meus pais não me deixaram grande fortuna. Não ganhei muita riqueza material. Mas aprendi quase tudo com eles. A fortuna imaterial, a que se aprende, é tão valiosa que vale muito daquilo que sou hoje. Essa, tudo potencia. Os valores importantes da vida que me ajudaram a uma longa carreira como aluno e me fazem grande parte do homem que sou hoje, vieram deles. Voltando há ideia que aqui aprendi (e defendi) há dias com o Luís Represas que comparou a vida de um homem a uma casa; ontem comecei a construir um piso novo, o dos quarenta. Mas as fundações, os alicerces que são a infância são fortíssimos e de uma resistência anti sísmica, se é que me faço entender. O amor que senti dos pais, do meu irmão, das minhas tias, madrinha e avós na infância são valiosíssimos. Não há dinheiro que os pague.

Entre muitas coisas aprendi com os meus pais é que os amigos são irmãos não sanguíneos mas dos quais se gosta como se fossem do nosso sangue. Gostaria então de os ter no dia 8 de Junho, todos junto a mim. Sobretudo os que me telefonaram ou mandaram mensagem (vocês sabem quem são). Mas também os que me felicitaram aqui pela internet, pelo facebook. É óbvio que não tenho 900 amigos como os que tenho no facebook mas tenho lá alguns bons amigos.

Este 8 de Junho caiu num sábado e isso tornou-se perfeito. Fazer 40 anos num fim-de-semana tornou-se uma bênção e fiz tudo para saber agradecer. Foi bonito. Foi um dia muito feliz. MUITO feliz.

As pessoas que estavam junto a mim, tiveram de levar comigo e deixarem-me dizer algumas palavras. A ocasião merecia um discurso. Como queria dizer tanta coisa cometi a imprudência de não levar o discurso escrito. Escrito sai sempre melhor que dito. Sempre… quer dizer, nem sempre porque da última vez que levei um discurso escrito, rasguei-o na frente de toda a gente e não li nada. A cena passou-se no almoço de encerramento da campanha do PSD que nos daria a vitória nas eleições autárquicas de 2004. Já não me consigo lembrar muito bem porquê mas o homem que haveria de ser eleito presidente falou antes de mim. A sala estava repleta de pessoas que iriam votar em nós. Ainda assim, o homem que não tem DE TODO o dom da palavra, começou a falar. A falar muito baixinho, muito devagarinho, sem ideias fortes, sem força. Ora a sala estava cheia de pessoas que de certeza iriam votar em nós e que tinham muito pouca vontade de ouvir maçada depois de almoço. Com a barriguinha cheia e as gargantas bem molhadas começaram a dar cabeçadas, a deixarem-se dormir. Eu espreitava detrás do cortinado, fiquei em pânico a assistir áquilo. Só o homem que falava é que não percebia a sonolência geral que ia na sala. Assim, para solucionar a coisa cheguei ao micro quando foi a minha vez e falei. Em vez de ler, rasguei o discurso que me tinha levantado para escrever às 6 da manhã nesse dia. Quando rasguei o discurso, o pessoal acordou todo. Falei e fiz aquilo que tinha de fazer: mobilizei-os para espalharem a boa nova da mudança que eles queriam para o concelho aos vizinhos, amigos e familiares. A coisa correu bem e tenho ideia (não posso precisar porque já não me recordo bem) que quem veio do PSD a apoiar foi o Miguel Relvas (?!?!?). Fonte segura que esteve com ele junto ao carro avançou-me que ele disse que em Marvão se tinham enganado e quem deveria ser o candidato era o vice-presidente e não o atual presidente. Se isto foi realmente verdade, digamos que tive um apoio sentimental de um homem que pela história recente não abona lá muito a meu favor.

Ontem levei algumas notas orientando-me sobre o que queria dizer mas essas notas tiveram o mesmo destino das do discurso que tinha escrito na política. Desta vez não foi preciso rasgá-las porque nem sequer as tirei do bolso. Mas o que eu disse foi que na sala estavam muitas das pessoas que realmente amava no mundo. Não todas as que amava mas todas as que lá estavam eram amadas por mim (e estava certo que era mútuo). Tinha lá amigos que tinham vindo de propósito de longe, de Vendas Novas, de Santarém, que puderam e não quiseram deixar de estar presentes. Fui feliz. Comemos, bebemos, rimo-nos, conversámos… fizemos aquilo que chamo de verdadeira riqueza da vida: desfrutamos uns dos outros e do momento. Quando morrermos não levamos as casas, nem os terrenos, nem as riquezas terrenas. Vai só alma e fica cá a carcaça para os bichos comerem. O que nós levamos são estes momentos que já ninguém nos tira!
Eu pedi que não me levassem prendas. A prenda que queria era a presença de cada um. Ainda assim tive algumas prendas. Mais do que aquelas que queria. A prenda que mais gostei foi a da família Machado porque foi a mais inteligente: “Como não querias prendas, oferecemos uma em teu nome. Beijinhos de parabéns do Nuno, Catarina (+1), Isabel e Zé Pedro” com um donativo de 20 euros aos bombeiros voluntários de Marvão. Realmente, se não fossem os bombeiros voluntários de Marvão a socorrerem-me naquela noite do acidente, não estaria cá para celebrar o quadragésimo aniversário.

Outra prenda excelente a destacar foi a que recebi dos meus sogros que não me ofertaram dinheiro mas sim os ingredientes necessários para elaborar a festa. Aquilo basicamente foi uma festa que os meus sogros, os meus santos sogros como lhes costumo chamar, deram a todos em meu nome. Obrigado Dona Jacinta e Chefe João Manuel! Olha, como diz o outro: “que nunca vos doam as maõs!”. Eu sei que são só filhas e nunca tiveram um filho varão mas eu e meu santo cunhado somos tão bons rapazinhos, ó valha-me Deus.

Já a minha mãe e tias optaram pelo tradicional pilim que sabe sempre bem porque nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Recebi também prendas úteis como a dos meus amigos Escarameia e Cristina que me equiparam a bicicleta com alguns apetrechos que necessitava e sabendo ele dessa necessidade, aproveitaram. E bem. Recebi também imensos livros recentes de autores portugueses.

Foi como eu previa: muita alegria, muito comer (que sobrou como eu antevia) e bebida que nunca foi a mais para ninguém porque todos se comportaram do melhor.

E eu digo e penso: “graças a Deus. Graças a Deus estou vivo, faço anos e posso dar esta alegria a tantos que me amam que passariam um dia tão triste se eu tivesse acabado.”

Fiz o discurso que quis. Quando estava na câmara, o Hernâni e o Barradas, os meus braços direitos na organização dos eventos da cultura (o primeiro) e no terreno (o segundo) estavam sempre a pedir-me para não discursar. Começava a falar e sei que não era chato, não aborrecia, dizia o que queria depressa e com clareza, não era maçudo como o outro mas assim que falava, os dois começavam logo a fingir que estavam a abrir a boca e a apontar para o relógio. Desta vez eu sabia que tinha o direito de falar porque quem ali estava sabia que a festa era minha mas mesmo assim não me livrei do Pescada que de vez em quando interrompia a perguntar em alto se ainda não chegava, se queria falar mais e a ameaçar que ia para o restaurante o Sever onde tinha marcado mesa a pensar que a minha comida era pouca ou não prestava. Com amigos destes… quem é que precisa de inimigos?

Tive de agradecer à minha mulher e à minha sogra que se fartaram de trabalhar para que eu pudesse ter a minha festa de anos. Na sexta-feira, eu e a Cris tivemos de tirar o dia de férias para ir fazer as compras para a festa em Portalegre. Fartamo-nos de correr, de gastar heróis (euros) e andámos todo o dia a rodar. Quando chegámos, encontrámos a minha sogra e a nossa amiga Maria Joaquina que tinham estado a tarde inteira a trabalhar, a fazer a sopa, a feijoada, o bacalhau com natas, os bolos e doces. Como eram quase 8 horas ainda tive de ir buscar um fogão a casa e uma panela gigante. Saí então para os anos do meu amigo Garraio que teve lugar na taberna da Dona Maria da Cruz na Escusa. Reparem que foi todo o dia a trabalhar e à noite estive fora. No dia dos anos mal vi a Cristina porque saiu logo às 7h da manhã para ir ao mercado (adivinhem? Isso mesmo: a fazer compras para a festa!) No dia em que fiz 40 anos tive de me despachar sozinho, de dar banho às duas pequenas e ir à Olga do Prado ver dos frangos assados antes do almoço. Durante a manhã, ainda em casa, a Alice perguntou-me como é que se lia, como é que se rezava e mais duas ou três das dela. Expliquei-lhe que era muito pequenina, que quando fosse para a escola aprenderia a ler e a rezar. Mas não! Ela queria era saber a Avé Maria. Lá tentei e lhe fui ensinando como podia. Ela que quer sempre saber tudo e é desenrascada que eu sei lá teimou que já sabia e avançou: “olha aqui como é pai: “AVÉ MARIA… GRAÇAS A DEUS”.

Isto reforçou a minha decisão: Esta seria a última festa de anos que organizaria. Tinha que o dizer e disse-o, apesar de a minha sogra ter gozado comigo e dito: “ai sim? A última? Isso já disseste tu no ano passado!” Eu tento explicar-lhe mas não consigo. A ver se por aqui a ler-me, a coisa vai. No ano passado eu tinha renascido e havia imensas pessoas a quem queria e tinha de agradecer, pessoas que me ajudaram imenso neste processo, que me emprestaram casa em Lisboa para ficar quando necessitava, pessoas que me tinham apoiado imenso nos hospitais quando estive internado e homens que me foram levar e buscar a Lisboa. A festa deste ano era a da ternura dos 40 anos e tinha de a fazer. 40 anos são um marco e é o momento ideal para virar uma página. A dos 40 é a última porque se Deus nos der saúde, já é o momento certo para me tornar egoísta, ou pelo menos mais egoísta.

Isto foi a dos 40 mas a dos 41, caso lá chegue, queria que fosse pequenina. Muito mais pequenina que esta que por mais pequena que a quisesse sempre meteu mais de 60 Adultos e 20 crianças. Para o ano eu queria ter mais tempo para mim e a minha família. 20, 20 e poucos no máximo. E como é que isso poderia ser possível? Simples: dividindo para reinar.

Ai mais isso fica mais caro! (isto é a fala da minha mulher se isto fosse um teatro).

(Agora é a minha fala!) E eu quero lá saber do dinheiro! Tenham calma, eu vou explicar. Eu ganho bem. O vencimento da minha mulher também é alto. Os dois ganhamos bem acima da média portuguesa onde há tanto desemprego. Mas também ganhamos acima da média porque temos um nível de escolaridade bem acima da média. Ela é doutora, licenciada em Turismo e Termalismo. Concorreu ao lugar na câmara municipal de Marvão e foi escolhida pelos seus conhecimentos históricos e geográficos do concelho, pelas suas capacidades e pela fluência em línguas. Ficou pelo seu mérito. Eu também fiquei pelo mérito mas não contou aqui a licenciatura em comunicação social e a pós-graduação em gestão autárquica. Concorri no maior concurso da função pública em Portugal sobre cultura geral (língua portuguesa, história, matemática, cultura, lógica) e dos mais de 80 mil a concurso fiquei classificado em 2053. Depois, durante os 3 anos de estágio tive de aprovar em Lisboa nos 3 exames específicos internos sobre os impostos. Aprovei e progredi sempre porque me esforcei imenso. Tenho subido sempre na carreira porque tenho sempre aprovado nos concursos a que tenho sido submetido. Estamos bem. Estamos com Deus, estamos bem. Mas quem gere o dinheiro e veste as calças é ela. Ela é que é a patroa!

Nem sei ao certo quanto nós temos no banco. Não sei! Palavra. Isso é com a Cris. Mas desde que o dinheiro seja bem gerido como eu tenho a certeza absoluta que é, e não falte para o nível de vida que pretendo, estou bem. A prioridade é: as minhas filhas. Sempre elas em primeiro. Não pode faltar roupa, alimentação, um ou outro brinquedo, alguma guloseima (e eu ajudo a pedir à mãe). Desde que assim esteja, tá-se bem! Os meus carros estão bons. Dão para nos transportar onde nós queremos e chegam. A nossa casinha é o único empréstimo que temos e haveremos de a pagar nem que isso dure mais anos (já não são muitos…)

Como é que eu divido para reinar não dando trabalho quanto aos anos? Separando as águas. Por exemplo: no ano passado tive na minha festa de anos, todas as tertúlias a que pertenço. Neste ano já não convidei a tertúlia que me foi transferida pelo meu sogro que adoro e da qual fazem parte homens que têm idade para serem meus pais ou avós até! Vou organizar só para eles um almoço no restaurante da Olga do prado, como costumava fazer antes. A minha outra tertúlia que se chama tortulha porque começou com um petisco de tortulhos, foi também desta vez mas para o ano, para aliviar a barra, terá um petisco à parte. Perceberam? Dividir para reinar. Paga-se mais mas eu fico mais feliz porque não dou trabalho a quem amo e fico com mais tempo para mim e para os meus. Com mais tempo para desfrutar o aniversário.

Quando um gajo faz 40 deixa de ter idade para festas de aniversário grandes. Quem as fazia sempre enormes era o meu vizinho Zé Manuel Bonacho que já lá está na terra da verdade. Eram festas grandiosas, enormes porque os pais podiam e ele nunca casou, nunca teve filhos e assim acabou. Mas eu tenho é de dar prioridade às princesas. Festas grandes são para elas. Para mim, já nunca mais faço, mesmo que tenha saúde. Agora… com amigos destes...

Ontem já me disseram que mesmo que eu não organize uma festa de anos para o ano e passe o dia sozinho, vão organizar eles uma festa de anos em meu nome e talvez me convidem. Já viram isto?!?!? É demais! Olha… agora que penso nisso, até era engraçado e talvez aparecesse no Guiness: o homem que foi convidado para a sua festa de anos. Era bem. Colocavam lá uma foto minha de robe e chinelos como o Hugh Hefner. Se for com umas coelhinhas da mansão Playboy até que nem era mal pensado. Psssshhhiiiiuuuu… vem aí a Cris e já estou a escrever há muito tempo.

Este loooongo texto é dedicado a todos aqueles que me querem bem e me felicitaram: pessoalmente, por telefone, pelo facebook (sei que foram mesmo muitos), a todos. Mesmo todos! OBRIGADO!

O povo diz que “quem semeia ventos, colhe tempestades”. Aqui o vosso amigo  tio Sabi tem uma versão diferente que é um lema de vida: “quem semeia sorrisos e entreajuda, colhe amor, ternura e abraços.” Como o que vos mando a todos agora!

Agora que deixei os “…intes”, os “…intas” e entrei nos “entas”, faço votos de chegar aos cem. A gente quando pede tem de pedir à boca cheia e não estar com miudezas. Se é para pedir, ou é ou não é! Não acham?

PS: O Paco Bandeira também foi convidado para cantar “a ternura dos 40”. Era apropriado e bem. Já tinha convocado 2 seguranças à paisana para protegerem as senhoras caso ele quisesse casar com alguma ali e malhá-la na hora.









2 comentários:

zira disse...

AH!!! SOUBESTE DIZER TUDO O QUE TE VAI NA ALMA.e A TUA É TÃO GRANDE!!!

Helena Barreta disse...

Mando-lhe um abraço de parabéns, que continue feliz e que a vida lhe dê tudo o que merece.

Um abraço