quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Bunker de afetos



O meu trabalho é um trabalho sério. Já sou das Finanças há 13 anos mas hoje em dia, com as voltas que o país deu, pertenço à Autoridade Tributária que congregou a Direção Geral das Contribuições e Impostos com as Alfândegas. Resumindo, trabalho para a Autoridade e nessa linha de pensamento, posso-me considerar uma. Sem uniforme, sem crachat, mas uma. Num país em que a populaça tem dificuldades em compreender a importância de contribuir para o bem de todos, em que fugir ao fisco era um desporto nacional, sou uma autoridade pouco considerada, mas ainda assim, um elemento da autoridade. Tributar para o país avançar e funcionar.

Consegui-o com muito esforço, muito trabalho. Hoje sou feliz. Sinto-me realizado a fazer o que faço, a trabalhar no meu concelho. Se no dia em que terminei o curso de Comunicação Social e deixei o Palácio Burnay a sonhar que iria ser jornalista e correr mundo, me dissessem que ia acabar por trabalhar num gabinete fechado como mangas de alpaca, ter-me-ia atirado para baixo do primeiro eléctrico que passava ali na Rua da Junqueira, tal era a desilusão. Mas as certezas de hoje são voláteis e as possíveis incertezas de amanhã. A vida dá muitas voltas. Sabendo que não há certezas, tem de saber surfar a onda que só se conhece depois de formada. A dimensão e a força dela são as variáveis que a nossa vontade tem de saber domar.   

A minha secretária está sempre limpa e arrumada como é meu apanágio. Entre o computador e os dossiers tenho, longe dos olhos do público que acorre ao serviço, um “bunker” de afetos que me dá o conforto e o calor que me sabe bem ir reencontrando com os olhos ao longo do dia (e da noite, agora que saímos de noite cerrada, depois das 18h).


O talento da Leonor vem de muito pequenina, de andar sempre a rabiscar. Foi de sua iniciativa esta ilustração que me ofereceu do Circo Cardinas. Olhá-lo faz-me sempre recordar esse momento absolutamente mágico de um grupo de amigos que vibrou e fez vibrar num Carnaval que ajudou a criar e agora está mais que morto e enterrado.




A Alice, não sei se por imitação da mana, dá-me muitas vezes papéis feitos por ela para “tu meteres lá nas finanças, pai”. Assim nasceu este retrato da irmã que adoro porque me faz recordar imenso os comics “Terrance and Philip” da saudosa série “South Park”. 


Leonor por Alice (3 anos e 10 meses)
Os originais

Também me deu um auto retrato feito no fim de semana com ajuda da irmã no pontilhismo.



E para terminar nesta galeria que ilustra os meus dias, um retrato da família feito pela pequena do alto dos seus 3 anos e meio. Ofereceu-mo e eu, armado no psiquiatra Daniel Sampaio com quem me dizem parecido, pensei: ela e a mana de uma cor, o pai e a mãe de outra; eu com os óculos na direita, a mãe como a mais alta apesar de já ser a 3ª na casa em tamanho… e uma série de outras ilações que ela desmontou de imediato quando me explicou o que tinha desenhado, a sua intenção como eu escrevi debaixo das figuras: ela e a mãe sendo as duas pequenas, eu o caixa de óculos e a Leonor a mais alta da família. A figura central. A Alice manda. E manda bem.


1 comentário:

Helena Barreta disse...

O desenho do circo está uma maravilha, o pormenor da miúda a fazer o pino nos pés do colega está demais. Tem artistas.

Bom fim de semana

Um abraço