segunda-feira, 26 de maio de 2014

As eleições da Europa ou os como os votos, os peixes e as sanitas têm tudo a ver (segundo Alice Lança Sobreiro)

 

Hoje escolhe-se quem são os homens e as mulheres que nos representam no parlamento europeu e a coisa tem extrema importância.

Ontem perguntei à Alice se queria ir votar comigo e a mãe depois de almoço (quando já não corrêssemos o risco de ser apanhados pelas câmaras de Televisão à espera do Passos e do Seguro).
A resposta era esperada e foi inevitável: “o que é isso de votar?”
“Alice, votar é escolher quem queremos que mande nas coisas. Votamos para escolher quem queremos na Junta de Freguesia, na Câmara Municipal, para mandar nas coisas importantes do país e na Europa também. Para a Europa é a votação amanhã. Votar é escolher. É muito importante
Diz-me lá tu agora o que é votar? (apenas segundos depois)”
“Não sei, já não me lembro”

Hoje antes de sairmos para o café e o gelado prometido, sentei-a no muro e voltei à carga: “Ó menina, ainda te lembras do que vamos fazer agora?”
Um óbvio claro que não.

“Vamos votar para as eleições europeias. Se a Europa fosse um bairro, Portugal era uma casinha muito pequenina numa ponta, num bairro onde há casas muito grandes e poderosas como a Alemanha, a Finlândia, a Itália ou a Suécia. Nessa casa pequenina acabou-se o dinheiro porque se gastava mais do que se produzia e teve de se pedir emprestado a esses ricos. (Podia dizer-lhe que um homem que mandava muito no governo em Portugal quando entrámos para a CEE, ajudou a destruir a agricultura e as pescas, porque defendia que a Europa produzia e nós tínhamos de deitar fora, mas se dissesse isso à Alice tinha de lhe dizer que esse homem é o que hoje manda mais no país mas… se isso me faz confusão a mim que tenho 40, a ela também não deveria fazer nada bem pelo que me calei.   


E disse-lhe mais, com calma, “vamos votar que é uma coisa muito importante que podemos fazer no nosso país. Sabes que há países onde as pessoas não podem escolher quem manda. Quem manda, manda à força e obriga as pessoas a fazerem aquilo que ela quer. Aqui em Portugal durante muitos anos mandou um homem muito mau que obrigava os jovens a irem para a guerra; a dizerem, a lerem e a ouvirem só aquilo que ele deixava; permitia que as pessoas passassem fome e não aprendessem…”. Durante esse tempo não se podia votar e escolher quem se queria para mandar.”
- “E quem é que matou esse velho?”
(Entra a Mana mais velha que começou a ouvir a conversa) “Ninguém o matou. Ele morreu porque caiu da cadeira. Na altura quem mandava era o Marcello Caetano!”
- “Não foi preciso morrer, Alice", disse eu. Os militares juntaram-se, zangaram-se e fizeram que começasse a democracia na revolução do 25 de Abril, deixando que as pessoas escolhessem quem manda. É assim até hoje.”
Para saber como é isto também poderíamos fazer uma votação cá em casa para saber quem queríamos que mandasse. Em quem é que tu votavas?”
- (Não sei se foi para ser politicamente correta) Na mana!
(Eu votava na mãe, Cristina Merkel que é quem realente veste as calças cá no burgo. E bem. Quando está bem, não se muda.)


É bom de perceber que a criança compreendeu tão bem a solenidade do acto que passando pelos baloiços depois do gelado, se desmarcou logo com o Zeca e a Carla para ir ver o gatinho da Matilde.



Episódio 1 do Diário de Alice de 24.05.2014 (ontem) narrado hoje de manhã pela mãe

Quando saí com amigos para ver a final da Liga dos Campeões, a mãe foi entregar e trocar alguns cactos com a vizinha Rosa, mesmo na casa frente. A embaixatriz Alice, assim que viu a porta aberta, entrou por ali adentro como sempre e como se fosse tudo dela. Conversa puxa conversa e um pouco de tempo entre duas mulheres parece sempre uma eternidade quando se tem 4 anos e isso dá tempo para quase tudo. Até para uma dor de barriga! Como a cachopa não se acanha por nada (não faço ideia a quem sairá), ainda chamou pela mãe diversas vezes.
- “Rosa, olha que ela está a chamar", disse a Cris.
- “Deixa-a à vontade, Cristina. Deve querer mexer nalguma coisa. Deixa-a à vontade.”. Mas ela não parava de chamar porque limpar o rabo sempre é mais difícil que subir para uma sanita. Mandam as boas maneiras que esse tipo de necessidades se façam em casa e não numa casa que se visita por 5 minutos, mas o que são as boas maneiras para uma rebelde com tantas causas quanto as que arranjar chamada Alice Lança Sobreiro? É que esta cachopa não é como o James Dean que era “Rebel without a cause” e causas arranjam-se sempre. Assim o pensou, melhor o fez.




Episódio 2 do Diário de Alice de 24.05.2014 

A mãe entreteve-se a jardinar lá atrás e deixou-a sozinha na sala. Erro crasso. Quando se deixa uma criança destas, com 4 anos cheios de personalidade a deitar fora pelos ouvidos sozinha em casa é como se se desse a chave de um bar aberto a um alcoólico. Uma sala e tudo à disposição! A menina Alice sabe que os peixinhos são dela e até gosta bastante deles. Quando sozinha, pensou e achou que a cozinha não é sítio para ter o aquário, que ideia a dos pais!!!

Estes são sobreviventes como eu e safaram-se antes da autópsia.
Uma casa de resistentes...

Ligeirinha, foi-se a ele cheia de vontade de imitar os pais que estiveram toda a manhã a lavar e a aspirar a casa. O aquário até era levezinho e levava-se bem nos bracinhos tão pequenitos mas e a porra do armário da televisão que era mesmo onde eles ficavam vistosos e luzidios e dariam tanto prazer a olhar que é alto como o catano?
E não é que aquela porcaria é frágil como o raio e escavacou-se logo à primeira, assim que caiu no chão feito pieguinhas? Chatice!
E depois não dava para solucionar só por ela mesmo que quisesse e queria, porque o raio dos peixes não paravam quietos e basta não terem a água para ficarem logo difíceis de apanhar como o raio!

Bem lá teve que ser: “Mãe!” (tranquila), mãe!, aconteceu um problema.”



Imagino o espanto da narradora quando viu a sala como se o Titanic tivesse batido contra a arrecadação. O que vale é que as gargalhadas que deu hoje de manhã ao contar quando me acordou fizeram tudo valer a pena.

Alice, o escriba postou. Quando cresceres vais gostar de ler. J

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