quarta-feira, 27 de abril de 2016

O meu 25 de Abril

O Dias, a Adelaide, o Pires, a Susana, o Jorge, o Barradas, o Bugalhão, a Teresa, o Baltazar, o Sobreiro

Capitães de Abril em Marvão

A precisarem de ti, também
.
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Precisamos todos uns dos outros

A redação por Pedro Sabi, 42 anos.

 O 25 de Abril é isto que vou fazer a seguir. O 25 de Abril é poder falar livremente e não ter medo. É não ofender, não vilipendiar mas ser livre de expressar democraticamente a minha opinião. É certo que me sinto e sei que sou um ser que tem tido a benção de Deus para conseguir o meu lugar ao sol. Tenho consciência disso. Mas também sei que nunca assumi nada por garantido e tudo o que tenho neste mundo, tem sido fruto do meu trabalho, da minha força e perseverança.

Quem decidiu encostar o sonho de uma carreira no jornalismo, para assim poder voltar para a sua terra, para o pé dos seus e do amor da sua vida, que há distância percebeu que assim o era, para trabalhar naquilo que nunca imaginou; tem propriedade para falar assim.

Eu estou aqui e sou feliz. Não concordo, de todo, com quem está à frente do executivo camarário e isso é mais que público. Foi por essa discordância que decidi sair, pelo meu pé, por não querer mais do mesmo e estar farto. Desejoso de cumprir o mandato até ao fim mas contar os dias até que isso acabasse.  

Pensei nesse então e muitas vezes depois disso, que o meu envolvimento político tinha acabado, mas este impulso é mais forte que eu. O amor a esta terra que sempre pulsou dentro de mim, fala mais alto e o “Marvão para Todos”, este movimento cívico que une homens e mulheres de bem que pensam mais na sua terra que no seu interesse próprio, tem sido um porto seguro, um miradouro e uma guarita.

Decidimos entre todos, como sempre, trabalharmos em equipa e apresentarmo-nos na cerimónia do hastear da bandeira para comemorar os 42 anos da revolução do país, e para simbolicamente. darmos o sinal a quem lá está a mandar e pensa que em 2017 vai ter a barra livre para mais uma maioria absoluta.

Vive-se um fim de ciclo do atual presidente e, como é seu hábito, não preparou as coisas para uma sucessão natural. O vice-presidente, que bem conheço desde a escola primária é… o seu vice-presidente. E o outro vereador é… o outro vereador.

Equipa nunca houve. Planeamento, estratégica, espírito de grupo… zero!

E foi por isso que nós, capitães e capitãs de Abril, quisemos aparecer, quanto mais não seja à sua frente, para saber que estamos lá. Para saber que estamos cá.

Para isso e para os senhores compreendam que o nosso Luís Barradas, tem as costas quentes e quem o proteja. Desde que seja um profissional, à prova de bala, como sempre foi; e consiga desempenhar toda e qualquer tarefa que lhe seja proposta, como sempre fez; de forma humilde e abnegada, como é sua tarimba, não há quem lhe possa tocar.

Que graça me dá ouvir falar este senhor que manda agora, a dizer que antes do 25 de Abril quem não tinha as ideias iguais às de quem mandava, era perseguido. Caso lhe pudessem se feitas questões, perguntar-lhe-ia, que de tão estranho se passou para o Luís Barradas ter deixado de ser um polivalente todo o terreno, como o deixei quando estava sob a alçada dos meus pelouros, responsável por uma carrinha com a qual percorria o todo o concelho a ajudar quem precisasse; para passar a ser encostado e quase não ter serviços adstritos? Ao ponto de ter que utilizar os transportes que partilha com todos os seus colegas que não tinham funções desse género?

Mistério…

O que ele tem de saber é que vivemos numa sociedade justa, livre, igualitária, onde funciona a meritocracia, e onde todos, todos fazemos falta.

Foi pois com enorme alegria e espírito aberto que todos estivemos ali reunidos. Para ouvir os discursos neste dia tão importante para a nossa sociedade e para dizermos, como o olhar, em silêncio, que estamos aqui e vamos a jogo. Ainda não sabemos bem quem e com quem mas… os caminhos fazem-se caminhando e há que ter muita calma, sensatez, muita firmeza e inteligência.

A banda chegou, os eleitos chegaram e os discursos começaram. Não sem antes terem havido diversos contratempos embaraçosos de pequenas falhas, graves para quem estava atento, bem reveladoras do desnorte que vai naquela casa.    

“Coisa pouca”, dirão alguns. “Coisa feia”, digo eu e não me considero mais esperto que ninguém. Tenho o meu quê.

Tocou o hino primeiro e falou-se depois. Certo. Bem.


Não me consigo recordar já bem qual a ordem mas sei que falou um representante do PSD, que anteriormente creio que esteve ligado ao CDS e faz sempre uns discursos de alto gabarito. Muito terra a terra, muito “Correio da Manhã”, por vezes muito eloquente, fazendo diversas citações mas sempre muito assertivo. Recordou o 25 de Abril e o tempo da peseta. Leu. Esteve bem.

O representante do Partido Socialista, o meu bom amigo Jaime Miranda, creio que marcou a sua estreia nestas andanças e elevou o nível qualitativo dos discursos neste âmbito municipal para um patamar nunca antes atingido. Leu um discurso muito bem redigido, ele que foi sempre um exímio escritor e homem de artes que se perdeu para ramo das economias, mas quanto a mim, eu que sempre fui um admirador da sua obra e trabalhos, porque deveria ter começado pelo final, onde terminou. Quando disse que “este discurso poderia ter começado por aqui…”, era precisamente por aí que deveria ter começado. E esse aí, eram as críticas que teriam de ser feitas a um executivo que não trabalha em equipa, nunca trabalhou dessa forma (nos quatro anos em que estive junto a eles não me lembro de ter preparado em conjunto sob a batuta do presidente, uma única reunião de câmara) e do pouco que fez, do muito que poderia ter feito, deixou muito por fazer. Tanta coisa….

Como lhe disse a ele, eu que digo sempre tudo aquilo que penso às pessoas, o seu discurso pela forma e pela análise que fez à sociedade portuguesa, algo puxada para a realidade do nosso concelho, poderia ter sido publicada num Expresso ou em qualquer outro órgão de comunicação de gabarito em Portugal. Mas para discurso do representante do maior partido da oposição…

Ele diz que a altura era desadequada por ser de festa e eu… faço por tentar compreender. Mas não compreendo.

Falou também o presidente a Assembleia Municipal, José Luís Catarino e a minha alma ficou algo espantada, confesso. Em primeiro lugar porque nunca tinha visto o homem numa destas comemorações da revolução de Abril e porque, segundo dizem as más línguas, ele é contra a coisa.

Antes de entrar no discurso em si, dizer que acho absolutamente fantástico que o senhor o tenha feito de boina e óculos escuros o que é uma coisa a todos os títulos, notável. Muito campestre e adequada.

A retórica foi livre e sem um guião para as palavras mas tendo nexo e sentido. Um sentido talvez um pouco citadino, muito centrado numa certa exposição patente na Assembleia da República, muito pouco centrado no nosso concelho, do qual preside um órgão importante, mas como é vulgo comum que circula pouco pela sua área, compreende-se.

Muita atenção também à parte histórica dos meses que se seguiram à revolução, até Novembro de 1975, mas com poucos putos da escola entre os presentes para aprenderem algo que a wikipédia lhes dá de borla. Onde há distância e aborrecimento, há algum tédio e desconforto mas nada que nos preparasse para o que se seguiu.


Depois de alguns discursos com momentos altos para o nível a que estas coisas nos habituaram, o presidente do município surgiu de peito para falar sem qualquer suporte que o norteasse. Foi um discurso… que se inscreve na linha do que o senhor já nos habituou. Longo demais, disperso, vago e eu dei por mim a pensar no interessante que seria se tivéssemos um escriba a teclar cada palavra para que depois pudéssemos dissecar, frase por frase. Seria uma catarse! Hipnótica.

Foi de uma abrangência astronómica e com uma crispação latente verdadeiramente notável. Viu-se zangado, viu-se austero, viu-se crepitante. Ele bateu nas grandes cidades e no poder central que nos deixa condenados ao nosso infortúnio no interior; ele elogiou todo o seu vasto legado na câmara que encontrou como se tivesse sido um campo de batalha e agora é um autêntico jardim repleto de fabulosos regulamentos para tudo e para nada… olhe! E se pudéssemos fazer perguntas, eu só gostaria de fazer algumas muito simples porque estão perto da minha casinha.

Senhor Presidente, menino Pedro Sobreiro da Beirã, agora a viver em Santo António, no Bairro Manuel Pedro da Paz. Gostaria de lhe fazer perguntinhas. Posso?

Então com a sua licença...

Ó Senhor Presidente, eu já contruí a minha casinha há 12 anos e na altura, havia um prazo e regras para o fazer. Isto antes de o senhor chegar, atenção! Nós construímos as nossas casinhas, gostamos que esteja tudo bonito, arranjadinho e como é que o senhor que diz que há regras para tudo, deixa que existam lá lotes que ainda estejam com os alicerces de pé e de fora, desde então? Acha que é legítimo? Não acha que é um pouco… estranho? Muros ainda em tijolo a céu aberto… As entranhas do bairro a verem-se?

E já agora, como é que deixa que venha lá para o bairro uma Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Deficiente Mental de Portalegre, que eu votei a favor para que viesse porque traz desenvolvimento, emprego e tenha lá mesmo em frente uma estufa de plantas com um aspeto algo… estranho? É que eu tive de deixar uma distância para o terreno de trás… Aquilo pode estar ali? É que uns não podem ser filhos da mãe e nós, os outros, filhos da outra senhora… não é verdade?

Olhe, Senhor Presidente, e porque é que não cria lá algumas coisas que fazem falta às pessoas que vêem visitar os utentes ou trabalham lá? Do tipo zonas verdes e um estacionamento maior? E já ouviu falar em contentores do lixo e de reciclagem incrustados no chão? Limpos com maior regularidade? Eina pá... bestial!

Mas aquilo também não era para fazer perguntas. 

Um tédio…

Uma pessoa que tem dois dedos na testa sabe que quando está a falar em público e a malta começa a desviar o olhar, ou a deixar tremer e baixar os instrumentos (coitadinhos, os cachopos da banda...), ou a falarem entre si… se calhar, é porque está a a ser demais.

Quando fui vice-presidente dele, tive de mamar grandes estuchas e fazer o ar de quem está a gostar. Agora, cansei-me e fui fumar um cigarrinho para a muralha, onde tirei diversas fotografias. Eina pá! Que bom. Mesmo mal criado. Mesmo desalinhado.


Encostei-me a uma porcaria de um carro e aquela porra começou a tocar o alarme! Mas eu não fiz da prepósito! E estava lá a GNR... Que bonito seria se a minha senhora tivesse de ir buscar-me à prisa...

Mas nem assim acabou...

No beberete bebi dois copinhos de sumo de maçã (uma categoria!), fui tirar a foto com os meus camaradas de bem que queremos chegar a todos e de todos precisamos para que possam perceber que ele não dão nada deles! Dão o que é nosso! De todos! Bem público! E nós queremos o bem para a nossa terra!

E eu digo o viva que não deram:

Viva a liberdade!

Viva a revolução!

Viva quem quer o bem estar de todos!


Viva Marvão!


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