sábado, 19 de novembro de 2016

O demónio superstar


Comodamente sentado no meu sofá de casa, aconchegado por um edredão quentinho que faz esquecer a lareira, assisto à televisão.

Enquanto todas dormem já há muito nesta casa, observo, graças a essa maravilha tecnológica que nos faz esquecer que os tempos em antena são rígidos, como eu aprendi, e recupero, graças a ela, a gravação automática do programa “Sexta às 9h” de dia 11! Nele, a filha da inenarrável Fátima Felgueiras (quem é?), surfa no furo jornalístico do ano, que lhe caiu em sorte, ainda ela não sabe muito bem como.


Pedro Dias, o assassino de Aguiar da Beira, o homem mais procurado do país, incrivelmente escapado de um cerco de 28 dias da Guarda Nacional Republicana como eu não me lembro nunca de ter visto a alguém, com mais de 150 homens no seu encalce, fala agora em entrevista às câmaras da RTP1. Vejo-o assim, impávido e sereno, negar os 5 homicídios e os 10 crimes de que é acusado. Com uma frieza e uma clarividência perturbantes.


Agora aparece sempre com carinha de indefeso, de patinho feio, de quem só se pode gostar. Coitadinho... o grandessíssimo filho da puta!


Conseguiu uma advogada que foi lesta, que foi ardilosa e conseguiu elaborar um plano, com o apoio da comunicação social que o conseguiu… por incrível que pareça, salvar.


Ao ver isto, dentro de mim, sou abanado por um misto de raiva, revolta, impotência, desacreditação no sistema… luto. Bem sei que até terem sido encontradas provas que o incriminem, tem de ser considerado inocente, à luz do nosso estado de direito. Mas também sei que os indícios por demais evidentes, são impossíveis de descurar.

Acho absolutamente bizarra e calculista, a forma como o Big Brother que gere as nossas vidas hoje em dia, foi utilizado para proteger, quem não merecia cobertura alguma, quem agiu de uma forma bárbara, fria, calculista, e assim exterminou implacavelmente a vida de quem caiu aos pés da sua raiva desmesurada.

Que raio de país é este onde a televisão que nos informa e diverte, é instrumentalizada para defender quem não pode ter defesa alguma?!?!?!

Que sociedade é esta tão vazia que tão depressa chora “de braço dado” com quem perdeu os seus; como range os dentes de raiva e ódio, pedindo a uma saraivada de balas despejada num giestal qualquer que limpe o sarampo ao malfeitor de vez; como agora o vê falar, tão barbeado, bem vestido e calmo, e diz… afinal… o rapazinho pode ter… razão. Isto foi alguém que lhe montou uma cilada e… lá vem mais uma teoria da conspiração.

Falemos no abstrato, para não ofender ninguém, pessoalizando. A pessoa humana, o homem  e a mulher são por natureza, maus. São maus, poucachinhos, invejosos, mesquinhos, egoístas, falsos, influenciáveis. Tão depressa são capazes de invejar o cabrão do vizinho pelo carrão que comprou, onde é que ele foi ver de dinheiro para isto?!?!?! Deve ter sio emprestado pelo banco, de certezinha, porque não têm onde cair mortos… Como vai chorar para o quarto de hospital onde ele foi internado por ter tido um ameaço qualquer, de uma coisa grave fortuita. Derramando longas e largas lágrimas de crocodilo, onde se esvai de todas as frustrações pessoais que lhe roem por dentro.

É muito raro a pessoa sentir alegria por quem gosta, porque gosta, e só lhe desejar o bem.

Este Pedro Dias Superstar, é uma figura que mereceria um estudo aprofundado, porque depois deste caso, a nossa relação com os media e a justiça, nunca mais será a mesma.


Este caso, pela sua extensão e profundidade, mereceria, no entender de muitos, dos quais não me excluo, aquela sentença que aprendi nas cadeiras da faculdade, como sendo uma caraterística dos povos subdesenvolvidos: a lei de Talião, sobejamente conhecida como olho por olho, dente por dente. Mataste sem causa? Então, morrerás também. Não tens direito a estar vivo.

A intelligentsia ocidental opõe-se a esta medida primitiva porque em primeiro lugar, nos trata como animais, que somos, digo eu; mas também porque a pena de morte pode ser utilizada com fins dúbios e alimentar regimes políticos ditatoriais.

Mas a verdade é que para muitas situações, e esta é uma delas, viver enclausurado é sempre um mal menor. Preso, não lhe cai chuva em cima, nem passará fome. O individuo terá até direito a refeições que nós, os contribuintes, pagaremos, a vestir roupa, a tomar banho, a ler, a ouvir música, até fazer desporto, correr, se for como o Sócrates e ter a visita de uma namorada. Uma festa! Apenas ajustará os seus horários.

Para mim, era uma surra daquelas valentes que doem, todos os dias e trabalhos forçados, para ver se servia de exemplo aos demais meliantes, que assim não chegamos a lado nenhum.

A uma consulta de fertilidade...


Coisas que nenhum dos desgraçados que, ou no exercício das suas funções, ou na sua vida familiar, por azar, tiveram direito. Coisas que lhes foram roubadas quando este animal, a sangue frio, lhes despejou o tambor de uma pistola em cima, e lhe partiu os dentes e o crânio com balas.

A justiça… a justiça… a justiça é não haver justiça. É desgosto, é revolta, é raiva. Eu imagino como é que se sentirá o coração de uma mãe, de um pai, de um irmão, que viram este demónio roubar-lhe o seu querido. Por nada. Por coisa nenhuma que ainda não se conseguiu apurar porque é que o fez.




Enquanto aguardam… o tempo vai passando, a dor vai adormecendo e enturmando. Como é trágica a vida. Que Deus nos proteja.

Ainda ontem, fui a uma ação de formação de catequistas a Santiago da Urra, e na minha frente, na serra, ao alto da quinta nova, circulava um camião TIR que ia C O M P L E T A M E N T E fora de mão. As senhoras que me acompanhavam no carro testemunharam tudo tal e qual como eu. O homem ia em excesso de velocidade e entrava nas curvas completamente do outro lado. Uma cena impressionante. Parecia um filme do MAD MAX. Tratava-se de um camião cisterna que deveria conter um líquido que não deveria ser nada inofensivo mas que, apesar de tudo, circulava a todo o gás.

Não sei se ia sóbrio, não sei se ia com pressa mas não me apeteceu perder tempo com ele. Não tirei matrícula, não o segui, que eu não tinha saído de casa para isso, mas fiz-lhe sinais de luzes diversas vezes, como se o tivesse a chamar: “Tu tás bom, pá?!?!?” Nem tugiu, nem mugiu.

Só pensava, na vida… é preciso proteção para tudo, que não acredito nisso da sorte e do azar. Até comentei com as senhoras que iam comigo, que por sinal são da idade e amigas da minha mãe: “imaginem que era a D. Alzira (que tem imensas virtudes, mas que não a da condução L, e ela sabe-o) que vinha do lado de lá, descansadinha e se deparava com esta bizarma do inferno?!?!? Morria só do susto! A minha vontade era tirar fotografias, ir atrás do homem, pedir-lhe satisfações, e dali para a BT. Equacionaria fazer queixa dele. Há que agir, quanto mais não seja para proteger os outros. É o nosso dever cívico como cidadãos.

Aqueles pobres lá no norte, encontraram um camião desgovernado ainda maior. Veremos como tudo se resolve.

Que Deus os tenha em descanso, no esplendor da luz perpétua.

Pedirei por eles.

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