segunda-feira, 20 de março de 2017

Os livros que tu andas a ler...

O meu bairro sem esta rede de fios deveria ficar... supimpa!

Acordei e estava a dar os bons dias ao dia, quando ela chegou à varanda, com uns binóculos da ex—União Soviética.

— Experimenta lá, pai...

Mesmo de óculos, espreitei pelos buraquinhos.

— Eina... São fixes! Vê—se muita bem Marvão.

— Pois é!

— Onde é que os arranjaste?

— Encontrei—os no sótão.

Com estes, vê—se da porta do Tapas, o Putin a correr em tronco nú, no dorso de um cavalo, na Sibéria

Tenho ideia, não de os ter comprado, mas de ter sido um artefato qualquer que sobrou de uma limpeza à loja, ou à casa da Cali.

— São fines!, disse.

— Mas agora são meus!!!

Eu sorri para dentro e pensei... ahah

O mais certo é isso acontecer com a minha casa, que tanto me custa a pagar agora. Paizinho... tu vais bem é para a Santa Casa... Estão lá os teus amigos todos... Agora a casa é minha!

Mas... a tarde de ontem, tranquilizou—me. A Leonor, veio de visita a Marvão com os coleguinhas, e tive o prazer de conhecer e privar com um professor seu. Deu—me os parabéns. Porque é inteligente, dedicada, trabalhadora, muito boa colega e solidária.

A minha alma estava parva e o queixo, deveria estar quase a bater no chão.

— Então? (disse ele, estranhando)

— Ó professor, tirando o ter uma boa matriz, o ser boa e genuína, essa Leonor que me pinta é diametralmente oposta à que vive lá em casa, comigo.

— Não, mas fique seguro que é assim. É encantadora. Todos a adoram e eu também gosto muito dela.

Eu sei que as notas da Leonor têm sido boas, altas, fruto do seu trabalho. Isso tem sido uma agradável surpresa e certeza, para mim, que temia o choque com a cidade e o namorico madrugador.

Não tem vintes, nem dezoitos tanto assim, não se mata a estudar, mas leva a sua, na boa.

— Professor, obrigado, disse—lhe. Nem sabe como são importantes para mim, as suas palavras. Não as trocava por prémio algum. Sei que ela é inteligente, mas fico tão feliz por a saber trabalhadora, esforçada, e sobretudo, amiga dos demais e por eles respeitada, que até fico sem palavras. Bem haja por esta sua atitude, completamente inusitada.

Isto tudo será para ela. Como lhe digo sempre: até aos 22, fará a cama onde se irá deitar o resto da vida.

Tenho muito orgulho em ti, filha.

Tu és eu, numa versão mulher.

Os livros que andas a ler... isso! fui eu que os escrevi. ;)


Beijo do Papi.

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