segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Quando os galgos do café, vieram às Areias

Foto: Mila Mena / dESIGN: Tio Sabi
Eles marcaram creio que 3, e nós... já não me lembro 
Sei que tenho muito amigos, graças a Deus que me fez assim para os merecer. Dos poucos que cabem nos dedos das duas mãos, está o João Carlos Anselmo. Este texto, é dedicado a ele, e uma prova de amor, por uma que me deu há dias.

Comecemos… pelo princípio, o que sempre convém. Sempre amei o futebol, e sempre sofri de um mal enorme em relação a esta prática desportiva: achar que jogava muito mais, do que os outros achavam que fazia. Quando tu acreditas numa coisa, e o mundo inteiro está contra ti, é muito mais difícil convencê-lo a ele, do que te associares.

Desde treinadores de infantis que me expulsavam dos treinos, chamando-me “indivíduo”, porque estava sempre a fazer castelos com a terra do campo; a treinadores do GDA que me namoravam para participar, mas aos quais sempre fugi (desculpa Bugalhão) sempre refugiado na vida noturna, boémia, incompatível com jogos às 3 horas da tarde, para quem se deitava sempre às 5h e às 6h da matina, chegado da discoteca semanalmente, visivelmente… desgastado.

Onde joguei mais a sério foi nos Couve Rôxa, que ajudei a fundar com o Jaime Miranda, o Cláudio Gordo, o Fernando Lima e mais uma série de refugiados que nunca eram incluídos em mais nenhuma outra equipa, até que… fundámos a nossa própria e… o nome diz tudo! Dali fundimo-nos com os Volkswagen (uma equipa congénere da minha, com outro tipo de malta, que não os meus amigos da altura), dando origem aos Volkselvagem, tipo uma seleção dos piores do concelho.

Ou seja, jogar… nunca joguei. Mas ainda assim, a minha paixão pelo GDA sempre foi tanta, e me senti tão ligado a este clube, onde tantas horas passei, a jogar snooker, bilhar, setas, máquinas, moedas, cartas, onde ganhei o meu dinheirito a trabalhar no bar, onde tantas, e tantas horas, passei a dançar, a beijar, a namorar que… chegaram a convidar-me para jogar nas Velhas Guardas, há anos atrás, antes do acidente.

- Epá… jogar, eu jogava, mas… é que eu nuca joguei no clube e… ah… não faz mal?!? Então tá bem!

E assim joguei! E destaquei-me sobretudo, não pela arte no drible, pela visão de jogo, pela certeza no passe, mas porque… corria muito, lá na frente (que isso de correr era o meu forte. E ao correr… abria espaço para os colegas entrarem, ou fazia tabelinhas, ou… mexia!)

Depois… tive o tal acidente e… a bola ardeu pró tio Sabi.

Mas eis senão quando, na semana passada, o João Carlos me convoca para fazer um cartaz para o jogo a acontecer… 3 dias depois!!!, e me convida a participar. Este rapaz, que anda sempre num lufa-lufa, com 1000 afazeres, lançou-me assim este desafio… quase para ontem, como é habitual nele e eu, que nunca gosto de tratar mal, e faço sempre tudo a quem tudo sempre fez por mim, deitei-me já passava da 1 hora mas o cartaz saiu para as redes, logo nessa noite.

Se tinha cumprido metade do desafio, faltava a outra. E eu não gosto nada de falhar. Sábado de manhã, acordei com a cena de ir jogar à bola, e enquanto pensava nisso, na cama, a chuva caia copiosamente lá fora, o vento soprava e… eu só pensava PORQUÊÊÊÊÊÊÊÊ?!?!?!?!?!?!?!?!?!?

Vivi a manhã de temporal, com a corda no pescoço, a imaginar-me a chapinhar no relvado sintético, que ajudei a trazer para cá. A esposa foi trabalhar, as filhas, almoçar com a avó e o avô. E eu, um futebolista convicto, fiz um almoço frugal de sopinha, carne de perú grelhada, acompanhada de massa cozida, uma peça de fruta, ao meio-dia, bem antes da habitual 1 hora, para conseguir fazer a digestão até ao jogo.

A chuva passou e, às 15 horas, fui o 1º jogador a dar entrada na piscina municipal, onde nos iriamos equipar. O 1º porque o Artur Costa, e creio eu, o Peixe, estavam os dois a fazer tempo, no carro do primeiro.


Assim que nos começámos a equipar, as gargalhadas, e a boa disposição foi tanta, que dei logo a investida por muito bem dada. Aquele Artur é-me um prato… O que a gente se riu. Deram-nos os equipamentos, e eu tive a alegria de poder meter as chuteiras, e calçar as chuteiras, que tinha comprado antes do acidente, propositadamente para este fim. Pensava-as perdidas. Mas tive uma epifania, dias antes, e lembrei-me de ir ver delas ao sótão, onde nunca pensaria que estariam.

Calcei a 1ª e pensei… ah… está-me boa. É 43, tem de estar boa. Um número acima do que calço. Mas… um bocado apertada. Calcei a outra e… opá! Esta não dá mesmo! Mas… espera aí! Se é o mesmo número. Deixa cá descalça-la, meter a mão cá dentro para ver se tem cá alguma ce… Ops! Uma meia! Bem… Deve cá ter ficado da última vez que as calcei e… espera aí! Deixa cá descalçar a outra que já estava calçada par…e… mais um coelho da cartola!




Se a parte de nos vestirmos foi engraçada, imaginem lá… o treino de aquecimento, dado pelo professor Nuno Costa. Chorar, já não choro, mas tive de me parar sei lá quantas vezes, para ver se não me mijava de tanto rir! Aquele Artur… é demais! Tanta parvoíce debitada por minuto… Se eu acho que não cresci, o espírito deste companheiro, é tal e qual quando o conheci, segurem-se… há mais de 30 anos! Se isto não é amigos de toda a vida, é o quê?

Treinar, treinar, treinei só uns pontapés antes à baliza que… fica longe comó catano, numa bola que pesa com’acornos! Livra!

O mister deu a tática. Ia dando, e dizendo, o que deu sempre imenso jeito! Passas para ali, encostas ali, não deixes esse, junta mais, junta mais, e eu ia fazendo.

Foto: Artur Costa

Mas, o momento alto foi o meu primeiro contato com a bola. Algum da defesa adiantou para mim, e a minha ideia, dentro da cabeça, era parar a bola, virar-me, ver quem estava em condições de receber o passe, tocar-lhe, tudo como explica o Luís Freitas Lobo. Mas o que saiu na realidade, foi um pouco diferente. 1º toque, eu corri para a bola, para a receber, e de uma forma absolutamente inexplicável, que adoraria rever (se possível em câmara lenta), enrolei-me, atrapalhei-me, juntei as patas e caí redondo. Estilo uma cabra maluca peada, que se esbardalhou, e bateu com estrondo no chão.
Os gajos devem ter pensado assim: “OOOOOOOhhhh olha-me este! Bem… nem sequer metemos um a guardá-lo!”
Eu, caído, arrasado de espírito, com a auto-estima feita em fanicos, a necessitar alguns minutos para me recompor, e tentar perceber internamente o que me aconteceu, sou completamente arrasado pelas gargalhadas do meu vizinho Mário Guedelha, o carteiro, que dizia coisas tão engraçadas, que até a mim me faziam rir… de mim!

Só pensava “ai o sacana do homem! Logo este! Para ajudar a festa, a minha amiga Teresa Simão, que passou apenas de relance, mas ficou a gozar o prato, também se juntou ao coro, e viu  como eu, qual jogador sensação adiado, fui ficando, tentando fazer qualquer coisa que limpasse. Mas não limpou.

O que eu prometo? Treinar, e para a próxima fazer ainda mais e melhor. Pelo menos, a ver se não me esbardalho, assim à frente de todos.

O meu muitíssimo obrigado vai para o João Carlos Anselmo (sempre ele!) pelo desafio, tentando a inclusão, em vez de fazer daquilo um grupo fechado, elitista; ao capitão José (torre) Vaz, ao sub-capitão Manolo (aos dois, em nome dos braços abertos da equipa), ao mister Fernando Dias (por acreditar, e ao fazê-lo, convencer-me a mim também); e a todos os colegas da equipa que foram IMPECÁVEIS!




 Ao jogo, seguiu-se a parte mais esperada, um magnífico jantar no meu querido quinto JJ Videira, que nos recebeu com a qualidade excelsa a que nos habituou. Foi a bola que nos juntou, mas também foi a bola que roubou um bocadinho no convívio. Onde eram para haver apenas conversas, valores mais altos se levantaram, para verem um Benfica de gala, ganhar por 3 ao Braga, na pedreira mais temida.



Após o jogo disputado, e perdido com justiça, contra o Campomaiorense, deixo—vos o instante que capta, a feliz recém chegada fera, o polivalente talento magrebino Drocas Sabis Sabis, estrategicamente colocado, no jantar de gala realizado no nosso Jjvideira Videira, junto aos membros diretores das Velhas Guardas do Grupo Desportivo Arenense (da dirt. para a esq.), o capitão (altivo) José Vaz, o coach Mister Fernando Dias, o senhor diretor, excelentíssimo Joao Carlos Anselmo, e o sub—capitão, o nosso companheiro Manolo da Vila. Chamem—lhe lá parvo... sentar—se ao pé dos grandes... Foi besuntar os diretores até mais não! Assim vais a jogo, vais... pudera!   

No final do nosso jantar ainda, um momento muito bonito, com trocas de palavras entre os dirigentes das duas equipas, e um momento de muita força para o irmão do Paulinho, um jovem de Campo Maior, com muita família por aqui, para que se consiga restabelecer de pronto, e fugir à desgraça onde caiu, por uma falha de saúde, que poderia ter acontecido a qualquer um de nós, no sono, do nada, e é a prova mais que evidente, como tudo isto é tanto tão efémero.

Amigo, poder falar contigo, e saber que levaste o meu exemplo de vida, como alento, é algo que me enche o coração, que fica transbordante de alegria. Rezo por ele, para que consiga restabelecer-se pronto, junto de vós.

E para terminar digo as palavras do saudoso teclista dos Arenenses, Sr. Manuel Gavancha, tantas vezes recordadas pelo vocalista, meu santo sogro, João Manuel Lança: isto é tão bom, nunca deixem acabar isto!

E o Tio  Sabi reforça que : digam o que disserem, são dias magníficos como este, que valem mesmo a pena viver! Até parece que ficamos com a alma inchada!

VIVAM AS VELHAS GUARDAS DO GDA!


VIVA O GDA, SEMPRE! (E O BENFICA, TAMBÉM! ;) )






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