quinta-feira, 15 de março de 2018

1986 - a Série





A estreia da série “1986” escrita por Nuno Markl, era o happening do momento. Toda gente estava à espera desse primeiro episódio, e até nisso, foi um reviver desse ido ano, há… 32 anos atrás! Deus… dito assim, até dói.


Markl é um dos homens, da nossa comunicação social, há já muito tempo atrás. Figura da rádio (quem nunca ouviu falar d’ “O homem que mordeu o cão”, não está vivo), da televisão (tem participado em diversa escrita criativa da área), do cinema (crítico em diversas publicações, e argumentista de outras obras), desenha maravilhosamente, é craque da net, e sem dúvida alguma, um Nome a ter em consideração, quando se fala de comunicação social nacional.


Puto da minha idade, com apenas mais dois anos que eu, parece que vive noutra galáxia, de tudo parecer que lhe corre bem… mesmo as coisas que aparentemente lhe correram mal (como o casamento com a “musa” Ana Galvão).



Começou na rádio pirata “Rádio Voz de Benfica”, e depois dali, tem sido sempre andar às cavalitas… do seu talento. Andou pela célebre “Correio da Manhã Rádio”, onde conheceu e se tornou amigo muito próximo do Sr. Rádio, Pedro Ribeiro, e dessa amizade/parceria, que não mais (o) deixou, a sua presença diária, primeiro na Antena 3, com o José Carlos Malato e a Ana Lamy; depois na Rádio Comercial; não deixaria de nos animar as manhãs, e os dias. Depois da rampa da rádio, foi notado e haveria de integrar as produções fictícias, do grande Nuno Artur Silva, onde passou a ser adotado pelos grandes nomes do talento humorístico português (leia-se Herman José, e afins), que passaram a ser padrinhos, porque também vivam dele.


Com the Whole bunch... o co-autor Filipe Homem Fonseca, acompanhado de Eduardo Madeira, dos Cebola Mole, em baixo à direita; Miguel Góis e Ricardo Araújo Pereira, dos Gato Fedorento, à esquerda e em cima; Nuno Artur Silva, ao centro, ao lado de quem tudo gravita; João Quadros, do lado esquerdo; e o portalegrense Rui Cardoso Martins, ao seu lado


O Markl é assim um homem… algo estranho, que mais parece um cartoon. Uma barba muito mal esgalhada, que dá o ar de quem não teve tempo para a fazer, uma enorme caixa de óculos, um risco ao meio adornado por cabelos brancos, e um corpinho… nada atlético. Tem, aquele ar de quem se safou de levar mais pancada dos colegas, porque sabia desenhar, e… tinha graça. Ele é, no fundo, uma criança a viver num corpo disforme de homem adulto. Sobretudo, é um amante de música, séries, e filmes, que adora viver no meio desse merchandising e parafernália diversa. E é por ser um tão grande conhecedor destes mundos, que o sucesso desta sua menina dos olhos de ouro, era mais que esperado.  



Para quem viveu esses anos, com a impressão que não foi assim há tanto tempo atrás, a série é… um mimo, uma delícia, um mergulho no passado. Tudo ali está… estrategicamente colocado, para resultar na perfeição:

- Os décors estão maravilhosos, onde não faltam os azulejos de então, os eletrodomésticos, os equipamentos (televisões e gira-discos, por exemplo), os sofás, os cortinados… tudo!)


- O guarda-roupa aprimorado à exaustão: dos sapatos, aos anoraks, das calças às camisas, dos óculos, aos relógios…



- As personagens estão todas muito bem desenhadas, tipificadas, esculpidas, com tiques, jeitos, e expressões que as definem muito bem. Ali não falta o pai comuna, crítico de cinema, ou os professores, desenhados ao ponto, onde não faltou a setôra boazona (quem não teve uma que desejou ardentemente?); ou os colegas, que parecem mesmo um que conhecemos, tal e qual: do heavy metal (alô meu amigo Bitch da Póvoa e Meadas!) à gótica (naquele então, os miúdos vivam muito mais em estanques; enquanto os de hoje são quase todos mainstream), passando pelos miúdos bonitões, mauzões, desportistas, que quase sempre nunca chegaram a lado nenhum na vida;



Neste video em baixo, apresentados,em direto, no programa "5 para a meia-noite"

- A envolvente mundial (pós guerra fria) e nacional, no tempo quente da corrida às presidenciais entre o Freitas e o Mário Soares. Nesse então… também eu puxava pelo professor (o facho! Isto visto por eles), muito pela influência da minha prima Mimi Carita, para fugir ao esquerdista (comuna?) Soares. A minha perspetiva era a inversa, à do protagonista.


- O argumento, que ainda está por descobrir, mas já vai dando laivos de uma visão crua e realista, daquilo que foi viver naquele período (a timidez, o abandono, a doença).

Ora todas estas peças, jogam bem e fazem parte de um quadro que resulta imponente, muito por ser solidificado por uma banda sonora absolutamente fabulosa, de mais de 100 temas cristalizados numa playlist do Spotify (“1986 – Canções para uma série”), com 128 canções, 9 horas e 54 minutos (Como dizem os brasileiros, “MASSA!”), que tenho estado a escutar, enquanto a prosa se desenvolve.


Como disse, esta série teve o mérito enorme, de hoje conseguir juntar a família, à volta daquele que era, naquele então, o centro tecnológico nevrálgico de uma casa: a televisão. A memória que tenho desse tempo, era eu, o meu irmão (o puto, 6 anos mais novo), o meu pai, e a minha mãe, todos a vermos o mesmo. Ele, deitado no sofá da sala (pai, era pai. Pai mandava!), estando eu e o meu irmão sentados, na outra ponta, aconchegados entre as pernas dele e a camila; enquanto a minha mãe, numa cadeira, fazia trabalhos manuais, tomava notas, ou fazia contabilidades, numa cadeira. O meu pai fumava e nós ríamos, a ver o “1,2,3” do famigerado Carlos Cruz; ou os “Jogos sem Fronteiras” apresentados pelo Eládio Clímaco. Programas para a família.


Na minha casa, hoje em dia, uma casa não abastada, mas da classe média, quando muito, cada um… vê o que gosta, quer e consegue. Temos o prazer de estarmos juntos, e sabermos que somos quem mais gostamos no mundo, mas neste tempo… eu não obrigo a Alice a ver as notícias, os documentários, ou os debates, que nada lhe dizem; como ela não me obriga a jogar os jogos da gata no tablet, ou a mãe não obriga a Leonor a costurar, ou a ver o CSI Las Vegas ou Miami, que ela adora, nos (escassos) tempos livres. A Leonor habitualmente, quando não está a estudar, está a descomprimir, ou a rir-se à gargalhada com os que segue no instagram ou outra rede qualquer.

Ontem, estávamos os dois, eu e Leonor, a ver a mesma coisa. A rirmo-nos das  mesmas coisas, sem confrontos de gerações. As mesmas piadas. Só não percebi, aquela tanta  piada, quando ele disse que "o outro ia perder os 3"...

? Dá ssim tanto que rir?!?

Enfim... esta série “1986” é um portento, quanto mais não seja porque mostra aos miúdos deste tempo, como as coisas eram no século passado, quando tínhamos a idade deles. Alguma vez tinham ouvido falar numa cassete, vulgo K-7? E já teriam imaginado que um videoclube (magistralmente recriado na série), era um sítio, e não um serviço do operador de Televisão? Conseguem imaginar o planeta, e a vida, sem telemóveis? Pois eu lembro-me perfeitamente deles aparecerem, em forma de tijolo, enormes! Agora, assistimos às notícias, no horário de trabalho, transmitidas num. Vejam-me bem a vertigem dos tempos. Esta série traça um quadro belíssimo, que vai ficar!

Markl, muitos parabéns. Eu não sei o que vocês estão a pensar fazer na próxima terça à noite. Mas eu, apesar de já saber, onde os episódios transmitidos irão ficar alojados, e de ter a série a gravar, vou ter os olhos colados no ecrã. À antiga!

Até então!


Da banda sonora, esta delícia, com a grande Lena D'Água


E esta magia, com a sempre brilhante Ana Bacalhau

Tiago, o alter-ego do próprio Markl
Marta, a bebé da escola

Sérgio, o heavy

Patrícia, a pequena vampira

Gonçalo, o bully betola. Odeio! Vontade de lhe dar uma pêra!

Eduardo, o pai histrónico

Fernando, o empresário visionário

Tó, o fixe tech




1º Episódio disponível no link abaixo:




http://visao.sapo.pt/actualidade/cultura/2018-03-13-Os-anos-80-segundo-Nuno-Markl

E o meu comentário ao Chefe

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